segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Em Defesa dos(as) Tímidos(as)

Tenho uma singela simpatia por pessoas que apresentam timidez. É uma identificação natural. Porque eu mesmo já fui muito tímido. Aliás, ainda sou. Não exatamente tímido, mas introvertido.

Existe um livro muito interessante cujo título é “O Poder dos Quietos”, escrita por uma mulher introvertida chamada Susan Cain que, ao se encontrar em sua introversão, decidiu realizar um estudo profundo que culminou com a publicação desse livro esclarecedor. Se lido com a devida atenção, é capaz de energizar os introvertidos e abrir a mente dos extrovertidos.

O livro de Susan Cain
A sociedade Ocidental sempre valorizou muito os indivíduos falantes, de “ação”, presentes (pelo menos em corpo), agressivos e sempre capazes de trabalharem em grupo – mas nunca ou raramente sozinhos. Enquanto quem escuta mais do que fala, lê mais do que vai a festas, se aprofunda ao invés de ser prático é considerado menos (importante e legal) e comumente é deixado de lado em estudos, trabalhos, times e coisas do tipo. E – ao contrário do que se imagina – quem perde mais nessa segregação insensata é o falante, incapaz de perceber as potencialidades de seu colega que lhe complementa.

É fácil chegar à conclusão que, para iniciar projetos, coordenar equipes, agilizar a comunicação e amenizar eventuais conflitos precisa-se de alguém extrovertido. No entanto, muita gente parece se esquecer do outro lado da moeda: para mantermos e melhorarmos esses mesmos projetos, para desenvolvermos ideias e para gerarmos estabilidade e sustentabilidade num ambiente precisamos da antítese: gente introvertida.

Algumas coisas precisam ficar claras antes de prosseguir. Primeiro: introvertidos não são mais inteligentes que extrovertidos (apesar de suas formas de atuação serem taxadas de “inteligentes” e /ou “estranhas”). Segundo: a meu ver, uma sociedade capaz de fomenar o desenvolvimento dos dois tipos de personalidade (extrovertido e introvertido) ao máximo e sem colocar uma em conflito com a outra (competição), e sim em cooperação, é aquela que podemos chamar de desenvolvida. E terceiro: extrovertidos não se comunicam necessariamente melhor que seus opostos. Eles simplesmente acreditam nisso porque tem a habilidade de atuação (muito) mais desenvolvida do que a sensitiva.

Quando alguém é incapaz de captar e compreender uma mensagem importante que lhe é direcionada objetivando o bem do receptor, esta se passa por inexistente ou ruim. Nesse caso a perda pode ser grande, ou mesmo catastrófica, para o receptor. Esse é um caso clássico de comunicação entre um introvertido (mensageiro) e um extrovertido (receptor).

Na sociedade Ocidental as escolas, as empresas e a maioria das famílias tendem a “corrigir” os “defeitos” das crianças e jovens introspectivos, moldando-os tendo como referência seus colegas falantes e sociáveis “bem-sucedidos”. No entanto, o contrário não é implementado. Como se a introversão fosse uma doença. Resultado: perda de boas ideias, preconceitos de ambas partes, retração dos quietos. Em suma, desgaste.

O que sou incapaz de compreender é a (falta de) razão que leva os indivíduos com poder de atuação a radicalizarem as coisas, buscando colocar todos no extremo extrovertido e – se e enquanto não forem capazes disso – submeterem os introvertidos a um tipo de exclusão. Um tipo de segregação sem sentido que infelizmente permeia grande parte da sociedade.

Por que não se ensina os falantes e atuantes a desenvolverem sua sensibilidade? Quem sabe assim eles poderiam captar muitas ideias boas que estão por aí à espera de alguém capaz de detectá-la.

Algo que me interessa na civilização Oriental é justamente essa carcterística de respeitar a introversão. E isso fica claro ao estudarmos os modos de fotografar: se alguém comparar fotografias tiradas por um ocidental e um oriental de suas pessoas, perceberá que o ocidental tende a preencher toda imagem com sua pessoa, centralizando tudo nele, ignorando o ambiente à sua volta, enquanto o oriental capta o ambiente ao redor, sendo ele uma pequena parte do todo. Ou seja, existe uma noção de conjunto.

E continuo insistindo: diferenças não são defeitos.

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