segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Por que eu vejo Chaplin como Cristão

Muitas pessoas mostram as verdades e ajudam as pessoas de diversas formas. Independente de sua crença (ou não-crença). Artistas, cientistas, teólogos, filósofos, donas de casa, jardineiros, pedreiros, entre outros tantos profissionais. Todos tem a possibilidade de trazer luz à sociedade através de seu métier. E – acima de tudo e mais notável – essa capacidade de praticar o bem da forma mais eficaz e elegante independe de qualquer atributo que tendemos a enxergar e (infelizmente) valorizar nas pessoas: classe, sexo, credo, etnia, etc. O que define um ser humano evoluído de um involuído é seu caráter. E dentre os seres com caráter, Charles Spencer Chaplin é um deles.

Cena final de "O Grande Ditador" (1940)
É fato que Chaplin fez fortuna com o Cinema. É fato também que ele fez uso de parte da fortuna para ele mesmo. E é igualmente fato que ele não era exemplo de pessoa estável em termos de relacionamentos – teve vários casamentos durante a vida. No entanto, existe o outro lado da moeda que, a meu ver, supera em muito esse primeiro, se fizermos um balanço geral de sua pessoa.

Primeiro ponto: grande parte do dinheiro arrecadado com seus filmes foi reinvestido para filmar outros filmes; Segundo: todos seus filmes tratam de temas universais e são elevados tanto do ponto de vista artístico quanto humanitário; Terceiro: ele nunca se deixou levar por modismos da classe a qual ele passou a pertencer, sempre agindo de acordo com sua consciência, o que lhe valeu críticas infundadas contra sua pessoa e sua expulsão dos EUA. Mas o ponto principal que gostaria de ressaltar é um de seus mais belos discursos.

Quem assistiu “O Grande Ditador” não pode deixar de relembrar a cena final, quando o Barbeiro judeu, confundido com o Ditador Hynkel, fala para a maior multidão jamais reunida na História. O discurso, que deveria ser uma afirmação da força, massificação e indiferença, se revela altamente pacífico, inteligente, ponderado e – por que não – revolucionário. Um simples barbeiro fez a verdadeira revolução moral ao se ver diante de um microfone conectado aos ouvidos e mentes de bilhões de seres humanos prontos para tomarem como verdade universal qualquer som proferido através do mesmo. E nunca vi tanto poder ser usado com tanta sabedoria.

A meu ver, o discurso de Chaplin de “O Grande Ditador” já retribui para a humanidade – e todo meio ambiente – todo dinheiro ganho por ele com a Sétima Arte.

Revendo o discurso a emoção nunca diminui. Só aumenta. A música de entrada – maravilhosos violinos que transmitem humildade e uma leve chama de esperança – já revelam quem é a pessoa que irá falar. O rosto, plasticamente de um ditador, se mostra sereno e determinado. A verdade não está no rosto. Está nos olhos. É pura emoção. É puro Chaplin. É pura moral em forma cinematográfica. É o discurso mais cristão já proferido na História do Cinema – de todos que já ouvi até hoje.

O mais incrível é que todo aquele texto brotou do próprio Carlitos. É seu roteiro e seu discurso. E...seu sentimento! Palavras de imensa força moral que foram organizadas de modo a aumentar ao máximo seu efeito propagador benévolo. Nele vemos um homem simples que não quer conquistar nem governar ninguém, mas sim – se possível – ajudar a todos. Qualquer um(a). E diz que “queremos viver da felicidade dos outros, não do sofrimento.” E cita, trechos da Bíblia (!). Sim. Um declarado ateu traz à tona citações bíblicas para promover a união entre seres humanos. Para construir pontes e destruir muros. Sim, um ateu mais Cristão – no verdadeiro sentido da palavra – que diversas pessoas que se travestem de bondosas e pouco fizeram e fazem para merecer tal classificação.

Charles Chaplin prova através de seu discurso ousado – na época foi taxado de comunista e radical pela sociedade norte-americana – que sua Arte tinha uma função que ia além da simples promoção de diversão e cultura. Ele já anteviu, como outros grandes nomes, a conexão existente entre as diversas áreas. E tratou de inciar essa conexão. De uma forma brilhante.

Não deixemos que esse discurso seja enterrado jamais.
Seu sepultamento será o nosso sepultamento como civilização.

As grandes ações das grandes personalidades devem ecoar pela eternidade.

Discurso completo em:

(P.S: o mérito desse texto – se existe algum – se deve em grande parte a Chaplin, que me inspira a escrever com tanto prazer e vontade.)

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