sábado, 26 de outubro de 2013

Um Sonho de Liberdade

Tenho de admitir que não gosto de filmes ambientados na prisão. Ainda mais se são do gênero drama (mas drama em geral eu gosto). Mas ao assistir pela primeira vez o filme "Um Sonho de Liberdade" acabei por abrir uma exceção. Talvez porque não se trate de um filme de prisão, e sim de um filme ambientado na prisão. O seu tema é universal: o desejo de liberdade do ser humano, independentemente do tipo de prisão em que este se encontre - e, acredite, todos nós estamos em nossa prisão nesse mundo, queiramos ou não.

"Um Sonho de Liberdade" (1994)
As primeiras cenas mostram o prisioneiro Andy Dufresne (interpretado de modo convincente por um Tim Robbins ainda jovem) chegando á prisão de Shawshank. Aí começa a história trágica, e ao mesmo tempo inspiradora, de um homem condenado por um crime que não cometeu.

As primeiras semanas da chegada do prisioneiro Andy Dufresne são narradas do ponto de vista de um velho detento, "Red" (Morgan Freeman), que o observa cuidadosamente desde o primeiro dia. Sua descrição aguça a curiosidade do espectador. Sua fala é simples e sincera. Ele, ao contrário do novo "criminoso", é um detento comum, condenado por um crime comum. Nada mais, nada menos. No entanto, essa descrição um tanto minuciosa revela por trás um personagem dotado de uma curiosidade pouco convencional.

As semanas se passam e vemos o novo prisioneiro passar por dificuldades. Sofre assédios de um grupo, fica desorientado com a nova realidade que se apresenta diante dele. Num certo ponto chegamos a imaginar que Andy decidiu se suicidar. Mas após perceber as sutilezas de seus atos, nos damos conta de que isso não condiz com sua natureza.

A amizade vai se tecendo lentamente entre um grupo de detentos tendo como Andy o elemento de identificação e união do grupo. Mas isso não transparece. Inclusive ele se recusa a assumir qualquer posição de destaque no grupo, se preocupando mais em criar um universo diferente para ele e seus colegas, única forma de se manter vivo. Ou seja, edificando esperanças.

O protagonista dessa história é um homem estranho. Ele destoa (enormemente) da média. Seu modo de pensar é muito peculiar. Sua resolução, discreta e firme. Mas às vezes é ousado.

Andy e "Red" refletindo.
A cena mais poética do filme ocorre justamente num desses momentos de "loucura" de Andy quando, na sala do diretor da prisão, sozinho, ele decide colocar um disco de ópera. Duas sopranos cantam numa língua que os detentos nem imaginam qual seja (francês). De repente o pátio da prisão paralisa. Ninguém nunca tinha ouvido vozes como aquelas, dentro ou fora da prisão. Vozes suaves, angelicais. Vozes que atestavam a existência de outro mundo. Que de certa forma provavam que havia algo a mais neste universo aparentemente sem graça. Dessa forma Andy estava cumprindo uma espécie missão - de trazer a beleza da música para almas endurecidas e sem perspectivas. Mesmo que por um breve intervalo.

Todos nós deveríamos nos espelhar no personagem de Tim Robbins. Ás vezes precisamos de 2, 5, 10, 20 anos para conseguirmos nossa liberdade - de um relacionamento ruim, de uma condição social, profissional, etc. Mas só a conseguiremos tendo um sonho e edificando-o aos poucos. Dia após dia. Discretamente. E vivendo o presente da melhor forma possível. Como ele fez no filme.

Não é à toa que "Um Sonho de Liberdade" está classificado como um dos melhores filmes no IMDb ("Internet Movie Database"). Seu tema é tão universal e profundo que fará até as mentes mais conservadoras saírem de seu modo de pensar acomodado e/ou conformado.

A "tagline" não poderia ser melhor,

"Fear can hold you prisoner. Hope can set you free."

(O Medo pode te tornar prisioneiro. A Esperança pode te libertar.)

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