domingo, 30 de março de 2014

Trecho do livro "O Elogio ao Ócio"*, de Bertrand Russell**, páginas 29 a 31 - uma análise pessoal (parte 1)


JUSTIFICATIVA PARA ESSE MINI-TRABALHO
 
Pretendo aqui apenas revelar a uma parcela diminuta da população os pensamentos de um dos (a meu ver) maiores sábios do século XX, e dar uma interpretação particular dos mesmos. Farei isso baseado em minha vivência de 29 anos. Pouca mas intensa. Intensa porque nos últimos dez ou doze anos percebi que executei – inconscientemente – um trabalho de constatação. Agora é o momento de colocar alguns dos resultados obtidos.

Sou louco suficiente para falar o que penso e sinto. No entanto, não tenho medo ou vergonha de dizê-lo porque sinto do fundo de minha alma que a intenção é induzir a movimentos que visem o Progresso desse mundo.

Fazer as coisas de modo muito cuidadoso pode ser sensato. Na maioria das vezes é. Mas nem sempre podemos ser assim. Surgem momentos em que uma pessoa sente uma força interior MUITO FORTE, que não é produto de um simples instinto, e sim uma profunda intuição de como tudo poderia ser.
 
Espero que com essa pequena série de textos interpretados eu traga mais esclarecimento do que revolta. Mais convergência do que divergência. De todas pessoas, independente da classe social, escolaridade, etnia, crença, idade, ideologia ou ocupação.

Como permanecer neutro é não evoluir (ou consentir com o estado atual das coisas), decido ser atacado ferozmente no presente para ter paz no futuro, sabendo que fiz algo útil para o Universo.

Nisso eu acredito.

   
Parte 1
"A ideia de que os pobres devem ter direito ao lazer sempre chocou os ricos. Na Inglaterra do início do século XIX, a jornada de trabalho de um homem adulto tinha quinze horas de duração. Algumas crianças cumpriam, às vezes, essa jornada, e para outras a duração era de doze horas. Quando uns abelhudos intrometidos vieram afirmar que a jornada era longa demais, foi-lhes dito que o trabalho mantinha os adultos longe da bebida e as crianças afastadas do crime. Eu era ainda criança quando, pouco depois de os trabalhadores urbanos terem conquistado o direito de voto, e para a total indignação das classes superiores, os feriados públicos foram legalmente instituídos. Lembro-me de uma velha duquesa exclamando: 'O que querem os pobres com esses feriados? Eles deviam estar trabalhando.' Hoje em dia as pessoas são menos francas, mas o sentimento persiste, e é fonte de boa parte de nossa confusão econômica.

Não pretendo insistir no fato de que, em todas as sociedades modernas, fora a URSS, muita gente consegue escapar até mesmo de um mínimo de trabalho: os que vivem de herança e os que casam por dinheiro. Eu penso que o fato de se permitir que essas pessoas sejam ociosas não é nem de longe tão nocivo quanto o fato de se exigir dos assalariados que escolham entre o sobre-trabalho e a privação.”

Interpretação
"A ideia de que os pobres devem ter direito ao lazer sempre chocou os ricos.”

Sim. Vendo muitos documentários e filmes sérios, e ouvindo de vez em quando conversas de pessoas abastadas, pude perceber que as pessoas detentoras do capital sempre ficaram chocadas com o fato dos pobres que trabalham arduamente quisessem ter mais tempo para se dedicarem a outras vertentes da vida. No entanto, esses mesmos endinheirados nunca se olharam no espelho, medindo o seu nível de conforto (e oportunidades) e sua RESPONSABILIDADE pelo bem-estar daqueles economicamente abaixo deles na pirâmide social.

Quando uns abelhudos intrometidos vieram afirmar que a jornada era longa demais, foi-lhes dito que o trabalho mantinha os adultos longe da bebida e as crianças afastadas do crime.”

De fato, essa observação contêm alguma verdade. No entanto, ela foi proferida há quase um século, época em que a educação universal começava a ser instituída e o Estado de bem-estar social era inexistente.Outro ponto relevante: será que essa afirmativa não era uma desculpa para manter a ordem atual das coisas? Porque todos sabemos que um problema (bebida, prostituição) tem várias soluções. Manter crianças trancadas em fábricas para produzir é uma delas - a pior, a meu ver. 

Nos dias atuais a veracidade dessa afirmativa é muito menor. Primeiro porque existem INÚMERAS possibilidades de afastar as crianças e adultos das drogas, da bebida e da prostituição sem submetê-las a um regime que as vê como engrenagens. Bibliotecas públicas, SESC, SESI, mostras de cinema, de teatro, viradas culturais, concertos (gratuitos) ao ar livre, shows de jazz, folk, rock, blues, pop, etc, etc, cinemas alternativos, aulas gratuitas de ioga, meditação, cursos livres,...Existe estrutura, condições e capacidade administrativa para grande número de cidades desenvolverem espaços públicos com ênfases variadas e estimularem a instalação de unidades sócio-culturais – estes últimos no caso do Brasil. O resultado pode não ser aceito pelo mercado dominante, mas sem dúvida existem GANHOS INTANGÍVEIS para o SER, a SOCIEDADE, o MEIO-AMBIENTE. 
 
(continua...)

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