sexta-feira, 31 de outubro de 2014

SABER VIVER NO MUNDO SEM SER DO MUNDO


Queremos estar em paz conosco, mesmo que não reconheçamos isso. Muitos querem estar em paz com o mundo. Mas para isso é necessário antes de mais nada estar em paz consigo mesmo. Muitos querem fazer algo pelo mundo. Mas antes disso é preciso saber o que o mundo quer de fato - e que a pessoa faz parte dele. Muitos querem muitas coisas - todos na verdade. Mas poucos conhecem o ambiente em que vivem, nem fazem questão de conhecê-lo (dá muito trabalho...).

As pessoas ganham maturidade à medida que vivem e fazem uso consciente de suas experiências de vida. A sapiência independe de qualquer vantagem material-orgânica. Uma pessoa pobre do terceiro mundo, com baixa escolaridade e deficiente pode se revelar mais sábia do que um diplomado saudável do primeiro mundo. Mesmo que o mundo não perceba isso. E se percebe, dificilmente reconhecerá. E se reconhecer, dificilmente fará algo para que essa pessoa ocupe uma posição jus à sua mentalidade. Porque o mundo é (ainda) assim: aparência e conveniência. Mudar a forma mental dá muito trabalho...

Quando nossa mentalidade se expande, abrangendo mais pontos de vista, parece que o mundo fica menor. A vida parece mais restrita, as possibilidades de crescimento na horizontalidade da realidade se enxugam, as conexões afrouxam com a difusão da nova visão, e com isso nos desorientamos. Sentimos um retrocesso por fora, mas não somos capazes de retroceder nem um passo interiormente. Tamanha é a fascinação com o novo universo individual. Nesse ponto a pessoa sente que ganhou algo intangível, indescritível e sublime. Um novo estado de consciência. O modo de ver e sentir tudo à sua volta é completamente diverso - e portanto incompreendido. A pessoa passa a não ser do mundo e a não saber viver nele. Dor com duração indefinida.

Quem descobriu (ou redescobriu) o potencial espiritual em vida orgânica entra em desacordo com o mundo sem o querer. Quanto mais intensa a sensação do novo, maior é a tensão entre a pessoa e a sociedade. O caso extremo é o místico e o santo, seres que atingiram um estado crístico integral. Seres indiferentes a vaias ou a aplausos. Seres quase completamente desconectados do mundo material por sentir um compromisso ascensional na verticalidade espiritual. Estes no entanto não sabem viver no mundo, apesar de não o condenarem.

Quando não temos capacidade de viver integralmente uma vida de místico e ao mesmo tempo o mundo é - em sua maioria - incompatível com a nossa mentalidade, nos vemos diante de um limbo, que nos preenche de assombro à medida que percebemos o quão inseridos estamos nele. "E agora?", nos indagamos cotidianamente. Nos supersaturamos de questionamentos. Depois, pavor por não encontrar uma resposta definitiva.

Inicia-se um novo processo, desta vez de descida ao mundo. Mas não se trata do inverso da ascensão espiritual (iso é, um simples abandonar dos valores), e sim de uma adaptação ao meio externo mantendo o universo interno intacto. O maior dos desafios a ser superado. Como lidarmos com o mundo, sermos aceitos, termos voz e direitos na sociedade, e ao mesmo tempo sentirmos e vivermos uma realidade diversa, incompreendida e estigmatizada? Como conduzir essa batalha colossal travada em nossa mente? Compreensão, visão de futuro e simplicidade parece ser a trindade para a manutenção da vida.

Compreender a limitação da forma mental predominante ajuda o ser a ter a paciência necessária para não se descontrolar.

Ter a visão das possibilidades futuras, do vir-a-ser de cada criatura, ajuda a formar na mente um campo magnético virtuoso que o suportará nos momentos de insegurança.

Simplicidade é a postura que evitará o dispêndio de dinheiro e energia desnecessariamente.

O equilíbrio dos dois extremos é uma arte. 

Chiara "Luce" Badano. Tipo biológico do porvir.
A pessoa prestes a ter uma mudança substancial chega na saturação do materialismo que nega o além. Todos métodos do mundo não a satisfazem mais. Ela encontra o ideal via sentimento e se identifica. Via exaustão. E tenta vivê-lo um pouco. Mas até essa micro-vivência em todas esferas da vida a desgasta. O mundo não quer saber de métodos de longo prazo; não quer saber de mudança de comportamento; não quer promessas vazias que exigem fé; não quer idealismos; não quer ter os instintos reprimidos. Quer resultados concretos. Desiludido, o ser tenta encontrar alternativas, mas percebe que da mesma forma que é doloroso seguir adiante, é inadmissível retroceder. Um impulso foi iniciado, e seus efeitos irão se manifestar até sua completa exaustão.

Repensa-se a vida. O passado é interpretado com outros olhos. Os métodos rápidos tem pouco valor. A observação paciente leva ao escutar pleno. As palavras são pensadas antes de serem expelidas. Dias, meses, anos...Dores e aparentes erros. Mas não se consegue adotar métodos diferentes. Sobretudo quando o mundo é incapaz de apontar algo de maléfico, afirmando ocasionalmente que trata-se de uma postura sem resultados práticos. Nada mais. Mas este mesmo mundo anseia por um conceito que o abale. Uma descida do ideal de forma suficientemente assimilável e praticável. Ele constantemente a rejeita por não ser capaz de abraçá-la, mas sempre - em seus meios mais evolvidos - está disposto a receber novas visões da mesma realidade.

Sente-se que está no caminho certo através da atmosfera rarefeita dos sublimes e sutis gestos e olhares. Gestos discretos que demonstram muito sem no entanto aparecerem. Medo? Dúvida? Impressão? Falsidade? Pode ser. Mas a forma mental se plasma, de alguma forma, microscopicamente. É tão sutil a diferença, a mudança, a transformação, que apenas uma sensibilidade nervosa-cerebral muito apurada é capaz de sentir a satisfação da aprovação.

O maior milagre está nessa sutil transformação do pensamento humano.

Vencer a si mesmo uma vez para alçar patamares superiores.
E sofrer com isso.
Vencer a si mesmo outra vez para evitar a morte.
E assim alcançar a plenitude da vida.

ROMPENDO A “BARREIRA DO SOM” ESPIRITUAL


Existem fases da vida que só são devidamente compreendidas e reconhecidas por nós mesmos como transformadoras após ocorrer um certo distanciamento no tempo entre nosso ser e os acontecimentos. No meio da tempestade, sob trovões e incertezas e riscos, o navegante concentra todas suas energias na sobrevivência e nenhuma na reflexão do porquê decidiu adentrar no desconhecido. Ele pode perecer ou continuar sua trajetória neste mundo. O que ditará o resultado de sua atitude inicial será: o grau de determinação em enfrentar suas consequências (coragem, fé e habilidades práticas); e o porquê de sua decisão em tomá-lá (sentimento e reflexão profundos). Apenas uma determinação férrea conduzida por um porquê profundo serão capazes de mobilizar forças interiores desconhecidas. E fazer uma ajuda do Alto – discreta, lenta e persistente – proteger por completo o frágil fio que mantém a integridade física, psíquica e moral do navegante.


Existem barrerias e barrerias que superamos na vida. A maioria de nós, mergulhados num estado de sonolência espiritual, julga ter feito grandes conquistas pelo fato do mundo as reconhecer socialmente ou economicamente. Trata-se de um julgamento que considera única e exclusivamente aquilo sentido pela grande maioria como importante. Um consenso do que é grandioso ou não. Ditado pela média dominante. E geralmente tratam-se de ganhos econômicos, metas produtivas alcançadas, promoções conquistadas, conversões de mentes, aquisição de produtos ou vitórias verbais. Nada disso se sustenta na vastidão da eternidade. Nada disso transforma o ser. Nada disso desperta as faculdades latentes do espírito. Faculdades estas cujo poder é desconhecido justamente por carecermos de sensibilidade.



Gostaria de falar sobre um tipo de superação completamente diversa daquela que estamos acostumados a ver como tal. Um aflorar de consciência que Francisco de Assis e Pietro Ubaldi passaram. E pela qual todos iremos passar algum dia.


Depois do choque: se descobrir.
 Quando nos lançamos numa empreitada devemos saber suas consequências. De modo que, ao nos lançarmos numa trajetória diferente daquela tentada pela grande maioria, contra todos os conselhos “sábios”, contra todas as possibilidades, contra todas as possíveis ajudas, precisamos ter enraizado em nossa mente a crença de que existe um novo estágio a ser atingido, que pode demorar anos ou décadas ou existências para ser sentido em sua plenitude. Formas de pensar, sentir e agir que o mundo só conhece pelas fábulas e ficções e narrativas incríveis, distantes de nós não pelo tempo ou pelo espaço, e sim pela diferença entre a nossa forma mental e aquela de seus personagens. Pessoas que no íntimo admiramos profundamente, mas nos sentimos completamente impotentes em seguir seus caminhos. Mesmo que a nosso modo. Mesmo em grau reduzidíssimo. Eis a grandeza de Franciso e Ubaldi, seres que admiro profundamente.



Experiências micro existem em quantidade cada vez mais crescente e podem ser vistas como o prelúdio de algo grandioso. Elas se dão silenciosamente, nas ruas, nas escolas, nos postos de trabalho, nas famílias, nos grupos, entre amigos,...em qualquer lugar com um mínimo de receptividade ao semeio de novas idéias.



O processo é interessante. Ele possui uma mecânica característica que pode ser sentida conscientemente por aqueles que já reconhecem a nova ciência do espírito. Eis um esboço geral do fenômeno.


As primeiras atitudes são movidas apenas após uma intensa observação do mundo, que pode durar anos. O processo todo é imperceptível e silencioso. Nesse estágio se dá a constatação dos fenômenos da vida. E as dores por não compreendê-los. O mundo fala sobre os caminhos da felicidade e não os aplica, sempre inventando problemas urgentes e infindáveis.
Receber os golpes sem desespero.


O ser, cheio de dúvidas, e sem sucesso ao lidar com o mundo que o rodeia, busca compreendê-lo. Para isso recorre aos estudos intensivos. Só que, tratando-se do campo moral, a intuição guiará a racionalidade. Assim é buscado o conhecimento, que será despido de preconceitos. As causas fundamentais dos males são o objeto de interesse, que conduzirá o ser a sondar diversos campos e absorver diferentemente experiências sonoras, visuais, gestuais, históricas, afetivas e sociais.


Num dado ponto da existência, já maduro, o ser, após ter observado exaustivamente os problemas e escutado (também exaustivamente) as soluções que nada solucionam definitivamente, decide iniciar um caminho próprio, diferente de todos. Mas respeitando as instituições, a liberdade de seus semelhantes, as correntes de pensamento e todas formas de vida.


Esse agir – encabeçado pelo binômio pensar-sentir – começará a trazer ataques nas mais variadas formas. É a primeira prova de convicção. O estranhamento tomará conta dos olhares das pessoas que convivem próximo. Após isso, a conjuntura social se plasma. Muitas conexões acabam sofrendo cisão sem nenhum motivo aparente (preconceito por desconhecimento?). Ao mesmo tempo, não há nada de efetivamente criminoso nas atitudes do ser estranho. Logo, condená-lo soa um tanto doloroso para a própria consciência da média. O resultado é que, apesar das cisões, o ser persiste e o meio se vê incapaz de lidar com um tipo biológico tão dissonante. Dissonante na horizontalidade material. Mas harmonizante com alguma entidade ou mundo desconhecido...
    
Após assaltos contínuos, é possível que alguns elementos do entorno, mais exaustos (por dedicar energias em atacar) do que o ser que recebeu os golpes, se virem para si mesmos e se questionem se não há algo de profundo naquela loucura. E assim inicia-se uma reversão. Freia-se um pouco o disco da materialidade, e como consequência acelera-se um pouco o disco formidável da espiritualidade. Um milagre sentido por raríssimas pessoas conscientemente, mas por algumas inconscientemente. 

Libertação, salvação.
 

A travessia por esse período turbulento torna o ser mais convicto de suas atitudes e crenças. Ao mesmo tempo, com uma alteração do meio, o ser passa a reforçar suas crenças e se dedica em compreender a realidade de hoje (barbárie de amanhã). E procura meios criativos de estabelecer uma ponte entre o que seu entorno tem por utopia (a realidade de amanhã) e o que é a realidade. A crença nas pessoas preenche a pequena criatura de Amor, que tão logo se sente na necessidade de repassar ao mundo (escutando, sorrindo, repensando, estudando, trabalhando, compreendo, aceitando tudo).


Essa superação é análoga à passagem da barreira do som na aerodinâmica. A proximidade cada vez maior do Mach 1 (velocidade do som) altera o regime de voo. Do subsônico chega-se ao transônico. Aquele é marcado pela suavidade, agradável a todos. Este é marcado por turbulências cada vez maiores, que assustam e levam a crer num iminente colapso. A continuidade da aceleração conduz ao Mach1. Uma explosão para todos que estão em regimes inferiores, e uma superação para quem atingiu a berreira. Este não escuta o que os outros escutam. Ele faz parte do fenômeno. Após isso o voo é suave. Atinge-se o regime supersônico.


São Francisco de Assis e Pietro Ubaldi são alguns dos seres que romperam essa barreira. E nós, para resgatarmos nossa perfeição perdida, iremos rompê-la um dia.

IMPRESSÕES DE "HISTÓRIA DE UM HOMEM"



É tranquilizante e revelador se dar conta de que existiram seres que passaram por este planeta e causaram um abalo profundo na sociedade em que estavam inseridos. Um abalo ofensivo para os que estavam perto do fenômeno em sua gênese, e não souberam reconhecer a transformação que estava se dando no ser que a causou; admirável para os perdidos, que já tentaram todas alternativas para chegar à felicidade (e não conseguiram), mas não estão dispostos a seguir o exemplo; e reveladora para aqueles que, ainda perdidos, já vinham descobrindo e experimentando em escala reduzida os métodos do autor.

O livro História de um Homem já alerta nas primeiras páginas: o relato será realista, descrevendo o árduo caminho seguido pelo autor antes de começar seu verdadeiro trabalho. Uma tarefa de informar o mundo, fazendo uso de todo conhecimento de todos os campos, o seu estado atual, as suas possibilidades e o seu destino. Uma síntese nunca antes feita, integradora e reveladora, partindo dos métodos e ferramentas deste mundo para se atingir uma visão ímpar dos fenômenos do Universo micro e macro; espiritual e material, e assim alçar os seres e induzi-los a uma elevação. Naturalmente, seus primeiros anos já prenunciavam o seu destino: uma infância e adolescência em que o sentimento de deslocamento se tornava mais evidente à medida que os anos passavam; e uma juventude calcada pela busca do sentido de sua vida e do porquê das pessoas tanto pregarem e exigirem o Evangelho dos outros, mas não o praticarem nem sequer no menor grau. Isso levou o autor a fazer uso da escola e universidade como instrumentos dessa busca incessante por respostas. Daí todas áreas do conhecimento foram varridas e assimiladas, sem no entanto fornecerem uma resposta convincente e definitiva. Deus estava além disso.

Ubaldi. Fase de sentir e se descobrir.

Enquanto o mundo colocava à frente o problema econômico como prioridade, o protagonista, após a universidade, priorizou a busca pelo conhecimento. Era esse o início da caminhada que o aproximaria da verdade universal. Mas o saber do mundo continuava não sábio. Após estudar e compreender a fundo a religião, a filosofia e a ciência, e de observar o mundo nos detalhes mais íntimos, concluiu que ele nada sabia. E pior: os sábios igualmente nada sabiam...

Interrogou calmamente os cientistas, que diagnosticavam e davam respostas baseados em suas especializações. Estas consideravam o tangível apenas. Buscou a fé da época. As afirmações, inicialmente convincentes, se depreciavam à medida que os padres revelavam a contradição entre a sua postura e vontades e aquelas pregadas convincentemente. E grande parte dos filósofos, com toda sua potencialidade, eram comummente vítimas de elucubrações acadêmicas que visavam mais enaltecer o próprio ego do que clarear as relações e unir as almas. Eis que, após tentar aplicar o método do mundo para atingir fins mais elevados, o autor percebeu que estava sozinho em sua busca. A batalha estava prestes a começar.

Com o passar dos anos o protagonista iniciou a implementação de um plano diretor, reservado após todos os métodos do mundo dito normal se provarem ineficientes. Para levar à frente esse plano era sabido que não seria possível se despojar das riquezas de súbito, sem causar abalos fortes e repressão impiedosa de tudo e de todos. Assim iniciou-se um processo de transferência de bens e riquezas, que colimou em sua completa expulsão do seio familiar e nenhuma herança. A partir daí ele viveria e sustentaria sua família com seu próprio trabalho. Pela primeira vez surge um homem com família, e portanto responsabilidades além de seu corpo, mente e espírito, com potencial de Santo.

À primeira vista os familiares mais distantes e o meio aristocrático viram sua atitude como uma tentativa de se passar por santo e ganhar vantagens futuras. Mas o tempo mostrou que mo caminho iniciado era o caminho de fato, sem mentiras ou aparências. Era o primeiro passo para aplicar o Evangelho na íntegra. De colocá-lo à prova usando sua existência. Era um passo que requereria uma personalidade fortíssima, um organismo sadio e uma crença profunda e íntima numa lei diretora acima de qualquer lei humana. 

Ubaldi. Fase madura.

 
Desprezo, maledicências, julgamentos, expulsão, rejeição e toda sorte de posturas visando aniquilar o ser que nascia foram adotadas pelos familiares, pelos colegas e pela sociedade que o rodeava. Uma atitude justa do ponto de vista do plano evolutivo contemporâneo, dificilmente questionável pelas pessoas. A sucessão de eventos só piorava a situação do protagonista. Pela sua personalidade espiritual, as rejeições e ataques psicológicos constantes o abalavam, pois espíritos intuitivos levavam em alta conta a fraternidade. Mas o sentimento interior era mais forte do que qualquer ataque externo.

História de um Homem” revela um Ubaldi amadurecido pela dor. Um idealista que se remodelou espiritual e psiquicamente após entrar em choque com um mundo contraditório. Um mundo que foge da travessia das fronteiras espirituais – cada vez mais tangíveis – e condena aqueles que tentam o feito e se esforçam em passar suas valiosas vivências.

Como Ubaldi diz, trata-se, de certa forma, da história de todos nós, já que um dia passaremos pelo mesmo processo, ganhando as mesmas percepções e desejando a mesma evolução. A única – e mais profunda – diferença é que ele foi pioneiro, se mutilando no mundo da matéria (conscientemente e inteligentemente) para ganhar em espírito e assim adentrar na fenda luminosa irradiadora de luz que é a causa e destino de cada ser vivo. Cada um a seu modo. Cada um a seu tempo.

Ninguém foi tão longe quanto Ubaldi em desmistificar os mistérios do todo universal e aproximar todas as verdades relativas que hoje se digladiam. Verdades que se fundirão numa única e absoluta.

domingo, 26 de outubro de 2014

A VERDADE NA SARJETA

Quanto mais por baixo na pirâmide econômica e social uma pessoa, maior a chance de que a verdade se lhe apresente de forma clara. Ou melhor, maior sua sensibilidade para os reais problemas da vida - de todos [1].

Existe um rapaz que toma conta de carros em frente a um parque que frequento. Ele é jovem, saudável e - mais interessante - está lendo a maioria do tempo. Também compõe músicas. Hoje mesmo, ao lhe entregar um livro sobre uma beata italiana [2], tive a oportunidade de ouvir algo que ele fez. A letra diz muitas coisas. Consegue unir religião (em seu mais amplo aspecto) com a vida quotidiana. É um rap dinâmico. E muito profundo. A combinação ideal para crianças (com essa inclinação musical) ouvirem. É um esforço de salvação feita por uma pessoa em busca da própria. Como todos nós - apesar de muitos não admitirem por se julgarem perfeitos ou fazerem isso apenas nas aparências.

Parei, nos cumprimentamos e começamos a conversar. Ele começou a falar sobre a vida de um modo muito sincero. É fácil perceber quando uma pessoa está sendo ela mesma. As palavras saem automaticamente, sem medo. E sem esperar uma aprovação ou reprovação. São simplesmente sentimentos. E os do rapaz diziam muitas verdades profundas.

A salvação pode estar aqui.
 Novamente Ubaldi ressoou na minha alma. Cada pensamento daquele rapaz aparentemente insignificante para a sociedade ao seu redor - uma sociedade com carros e casas e jardinas e títulos e "amigos" e prazeres e diversões e ocupações nobres e etc - batia com todas as ideias do místico da Umbria. De forma mais simples, claro. Mas o que interessa é a ESSÊNCIA. E a dele era potente.

"A gente precisa tomar muita martelada pra melhorar."

A dor como escola. A dor como meio de redenção. A dor como único professor realmente efetivo, que fará com que nunca mais sigamos aquele caminho que nada nos acrescenta. E ela pode vir em forma de ilusões que se desmancham de um dia pro outro.

As pessoas com maior capacidade para falar dos problemas mais urgentes parecem estar nos lugares menos atrativos (as calçadas). E o rapaz falava de forma CONSTRUTIVA, revelando detalhes e vontades e esboçando caminhos e métodos. Basta parar e escutar. "Perder tempo". Algo que muita gente bonita, simpática, instruída e que se vê como boa não se dispõe a fazer de fato. 

Estamos presos às nossas conchas mentais. Somos educados demais. Educados demais porque temos tanto medo de nos humilharmos, que deixamos nosso orgulho falar mais alto e não arriscamos convidar alguém para sair, nem revelamos nossos sentimentos e etc. Nem um milímetro. Só com uma boa dose de garantias. Por um lado, diante de tantos afastamentos e más-interpretações, é compreensível. Por outro, a segurança que adquirimos nos engessou de tal forma que hoje se tornou MUITO doloroso qualquer tentativa de estabelecer uma relação sincera e construtiva.

Ouvir a verdade de pessoas numa situação desvantajosa renova as energias. Quem sabe um dia eu arrisque algo. Quem sabe um dia eu perca um pouco desse medo excessivo. Esse medo paralizante, que cristaliza a vida e a evolução.

Chiara "Luce" Badano. Uma vida curta e exemplar.


Existem pessoas que gostam muito de uma pessoa mas não sabem demonstrar isso a ela. E são levadas a desenvolver um balé de sondagens periféricas na expectativa de descobrir o outro. Mas de nada adiantará esse balé se nenhum dos dois souber mergulhar na substância do outro E (além disso) souber receber o outro na sua. Desejamos mas nos indispomos ao VERDADEIRO ATO DE DESCOBERTA.

Por não estarmos preparados para lidar com (conversar sobre) nossos defeitos, ocultamos todos eles num mar de aparências. Provavelmente por um medo causado por experiências passadas, que podem tornar a se repetir. Mas os seres humanos são diferentes. Mesmo que na forma um se assemelhe a outro, a vivência demonstra que a substância apresenta ligeiras variações.  Cada um tem sua história e vive em seu ambiente e tem uma personalidade. Muitas variações para as mesmas e velhas tentativas.

Por não estarmos preparados para sondar a substância dos outros - com medo de sermos mal educados - ficamos estáticos na investigação da espiritualidade vertical. E esse engessamento gera a necessidade de buscarmos freneticamente uma dinamicidade na horizontalidade material. Uma realidade ilusória constituída de saídas com colegas, festas, modas, sensações (fumo, álcool, sexo, drogas,...), encenações, falsas promessas e tudo do tipo.

Nos dedicamos àquilo que está fácil. Acreditamos que com isso teremos o que queremos. E seremos felizes.

Tudo que nossa mente consegue conceber é aceito de forma amorosamente ilusória se apresentado de forma a estar alinhado com nossas crenças e valores.

Tudo que nossa mente consegue conceber é rejeitado odiosamente se apresentado de forma oposta às nossas crenças e valores.

Tudo que nossa mente não consegue conceber se torna objeto de santificação. Queremos estar perto porque sentimos que lá está o futuro e a salvação. Mas ao mesmo tempo jamais conseguimos nos fundir (envolver) com essa ideia (ou pessoa), por não estarmos preparados a adentrar nessa nova esfera que a vida nos apresenta. Uma esfera com horizontes mais vastos e trabalhos mais profundos.

Esse é o martírio daqueles que sentem e desejam por um mundo melhor, permeado de relações sinceras: devem ter PACIÊNCIA INFINITA para com os seres ao redor. Essa paciência pode variar de um mínimo até aquela do Cristo.

A verdade surigirá de onde menos se espera.
As vias da felicidade serão traçadas pelos mais desprezados.

A super-humanidade orgânica do futuro possui suas pequenas sementes em diferentes classes, raças, crenças, ideologias, idades, países e famílias.EM pequenas quantidades, mas espelhadas.

A separação definitiva e substancial será entre os justos e os injustos.

Eu tento correr atrás de meus defeitos e dialogo com minhas más tendências. Dói muito. Não há ninguém que pode ajudar exceto eu mesmo. Eu e Deus - para orientar.
Só espero ter forças suficientes para não me perder nesse caminho de sublimação - mesmo que esta seja em escala reduzida.

Por medo do nosso Eu divino decidimos virar nossa atenção para o mundo exterior, ignorando nosso mais precioso bem. Criamos teorias e inventamos sistemas para justificar nossas mais baixas inclinações instintivas.

Antes de travarmos apocalípticas batalhas exteriores devemos travar a mais épica de todas as batalhas, que é a interior.

Isso e nada mais.



Links

[1] http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/05/maioria-da-populacao-de-rua-nao-bebe-nem-se-droga-aponta-estudo.html

[2] Se trata da breve vida de Chiara "Luce" Badano, verdadeiro exemplo se superação.   http://pt.wikipedia.org/wiki/Chiara_Badano




sábado, 25 de outubro de 2014

SUBLIMAÇÃO


Estou lendo meu 16o livro de Ubaldi. Com sua finalização completo 2/3 de sua Obra (são 24 volumes). E cada parágrafo lido traz em si um conjunto de palavras reveladoras. Associando cada momento – bom e ruim – de minha vida posso sentir a mais profunda verdade expressa de forma sublime.



São páginas e páginas. Aparentemente repetitivas à primeira vista. Mas o autor justifica numa de suas obras. Escreve daquela forma de propósito. Apenas quem estiver preparado para suas palavras chegarão até o seu real significado. Isso é aparentemente arrogante e elitista. Mas quantos casos há de gente mal-intencionada que se apropriou de bela prosa usando uma experiência vivida intensamente para criar uma seita visando escravizar ao invés de libertar?



Nosso mundo ainda não está preparado para conversar à fundo sobre questões tão delicadas. Essa é uma verdade que só se intensifica à medida que os anos passam. Cada fragmento de conversa que ouço ao caminhar confirma algo. O conjunto forma um moscaico da sociedade. Um quadro que mesmo sem investigar as minúcias analíticas revela uma visão sintética. E quanto maior a percepção, maior a decepção. Mas ao mesmo tempo, a paciência com o mundo aumenta. Compreende-se o estágio evolutivo atual e aceita-se a realidade. Qualquer problema, qualquer mal, qualquer sentimento sufocante que invada minha mente é cada vez menos extravasado. A paciência com o mundo aumenta, mas inicia-se uma batalha contra seu egoísmo e vaidade.



Existem problemas que só nós podemos resolver. Como dizem, é nosso problema. Eu descobri que tenho muitos defeitos a resolver. Mais interessante: a Lei aplica seus golpes em nossos pontos mais fracos, para que melhoremos nosso calcanhar de Aquiles. Por isso a vida é dor. Mas é justo. Nossa maior vulnerabilidade reside em nossas fraquezas morais. O que dói hoje abranda amanhã. 



A dor bem aceita e bem trabalhada de hoje pode se tornar a alegria celestial de amanhã. Uma alegria cada vez menos dependente da escravidão horizontal na qual nós nos encontramos – até o pescoço...

Mas o caminho é longo e árduo. As pessoas ainda tem dificuldade em compreender que “o tempo que você gosta de perder não é tempo perdido”. Tudo deve ter uma vantagem utilitária. No entanto, o utilitarismo tem banda larga. Traduzindo: quanto mais SENTIRMOS e PERCEBEMOS a riqueza de pessoas, assuntos e atividades “insossas”, mais facilidade teremos para ascender (e acender!).



Em nosso mundo veloz, utilitário e com pouco tempo para assuntos (aparentemente) vazios e distantes, nenhuma pessoa vê sentido em dedicar horas e horas em algo tão incerto. É lógico de acordo com as leis da vida, que necessita se ater às férreas necessidades do mundo, que bombardeia constantemente com propagandas e exigências e ameaças e coisas do tipo. O problema é estarmos excessivamente mergulhados numa realidade que em si nada oferece.



Quando um ciclo se exaure deve-se começar outro. É Lei biológica. Vale para a sociedade. Vale para o indivíduo.



Tentamos realizar ascensões em alguns aspectos de nossa vida. Tomamos decisões e atitudes ousadas. Somos bombardeados e incompreendidos. Sofremos. Depois repomos as energias. Continuamos, persistindo. Nos desgastamos diariamente numa tentativa romântica de mostrar que tudo pode ser melhor. De várias formas. No agir, no pensar e no expressar. Fracassamos. Continuamos. Fracassamos. Mas percebendo a vacuidade de todos outros caminhos já tentados ou em tentativa, continuamos. E a reação é semelhante...Mas nesse percurso percebemos que algumas coisas começam a mudar. Não sabemos o porquê. Podem haver várias razões, mas sentimos que algo começa a parecer diferente. Mudanças pequenas. Mudanças discretas. Mudanças substanciais. Eis o mais incrível! O tratamento, os olhares, mesmo que envergonhados, revelam algo de muito profundo. Ganha-se espaço em certas conversas. O respeito que parecia impossível emerge. O olhar do outro é mais atento. Você passa a ter voz.



Eis que tudo melhora na substância. Muito pouco, mas definitivamente. Mas a evolução é eterna. A felicidade dura enquanto o novo estado estiver se consolidando. Depois, um novo golpe. Mais duro, mais inesperado.



Antes de nos voltarmos para o mundo devemos nos voltarmos para nosso Eu. Questioná-lo incessantemente até seu esgotamento. Só depois podemos partir para a atuação. Devemos estar íntegros para dialogarmos com a vida exterior. Caso contrário estaremos prejudicando a nós mesmos e (pior) aos outros por não termos nada a lhes demonstrar e nenhuma alternativa para os problemas atuais.



Uma ascensão oscilante composta de dores e alegrias. É assim que caminha a humanidade. O regime estacionário dura o necessário para nos recompormos e nos prepararmos.



Aquilo que julgamos inútil na tranquilidade pode ser o único meio de ascensão. Cada um deve buscar os seus meios para lidar com o mundo.



Essa é a busca dolorosa e eterna.



Dor-alegria-dor-alegria-....



Uma cadeia que ascende.



Dores cada vez mais refinadas e alegrias cada vez mais independentes.



Devemos nos esgotar antes de lançarmos qualquer palavra contra o outro.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

REFLEXÕES SOBRE TEMAS (4)

"Discuta com serenidade; o opositor tem direitos iguais aos seus"

É curioso como certos temas - como este - surgem em momentos oportunos. Isto é, às vezes a oportunidade de refletir sobre um assunto surge logo após a vivência do tema em questão. Essa oportunidade forma ,a meu ver, a circunstância ideal para extrair o máximo das regiões mais profundas do inconsciente.

Até o presente momento tive duas ou três grandes discussões com colegas de trabalho (agora estão mais para amigos). E ao contrário do que é usual, esses conflitos de idéias e visões destruíram (alguns) muros e edificaram (algumas) pontes entre nós. E - muito engraçado - parece que tudo transcorreu desse jeito simplesmente porque o objetivo de todos envolvidos era (e é) a busca pela verdade. Cada um a seu modo. Todos com um ideal comum. Um ideal abstrato nas aparências e se revelando cada vez mais concreto, à medida que nos sensibilizamos para o desconhecido.

Grandes temas como política, economia, sexo, sociedade, cultura, arte, ciência discutidos à luz da razão e sem conceitos pré-concebidos tendem a iluminar os envolvidos. Cada um perceberá as igualdades universais (como os direitos) e as diferenças individuais (como as experiências) e assim será possível conduzir discussões de modo cada vez mais enérgico e estável, mantendo um estado de fusão entre as pessoas por maior tempo. Temas tido como polêmicos serão vistos à luz de uma fé raciocinada. As visões abrangerão mais pontos de vista (universalidade) Pura emoção. Não serão feitos ataques à vida dos outros e sim reflexões sobre idéias variadas. A unificação terá prioridade.

Como atingir um estado ao mesmo tempo de alta dinamicidade e estabilidade em conversas com temas que tocam pontos nevrálgicos? Primeiro deve-se admitir que não somos anjos - ou melhor, somos em nossa essência, mas ela está recoberta de materialidade. Estamos em busca de uma perfeição perdida. Depois, precisamos nos livrar dos preconceitos em relação às opiniões alheias. Muitas pessoas são aparentemente calmas, mas passam a vida se esquivando ou se mantendo neutras em assuntos delicados - que, apesar disso, são importantes e um dia esbarram nos afazeres cotidianos. Isso é bom até certo ponto. Mas a na vida chega-se um momento em que devemos adotar uma postura perante o mundo, e nesse momento a indiferença (essa fuga pacífica) será mais nocivo.

Quando alguém julga fútil um tema que o outro julga como sério - e vice-versa - a discussão tende à discórdia, e só produzirá afastamento entre os envolvidos, além de reforçar suas idéias originais, afastando-se mais um do outro. Cisão ao invés de unificação.

As pessoas são em sua maioria prisioneiras de uma forma mental. Abraçam poucos pontos de vista sobre a realidade que lhes bombardeia incessantemente. Logo, se revoltam por ter uma visão incompleta do Todo. Se isolam num relativismo que nada acrescenta, mesmo que façam isso de modo pacífico. Não entrar em conflito não significa ascensão evolutiva necessariamente.

É muito cômodo se prender a um aspecto da realidade, encontrar seus iguais e dizer que o mundo está errado. Usando argumentos pré-formatados, aparentemente irrefutáveis, é possível calar muitas vozes que, apesar de não se expressarem bem, sabem que aquele ponto final é vazio para uma mente verdadeiramente investigativa. Mas esta, mesmo se expressando bem, dificilmente fará suas idéias permearem o biótipo comum, que é incapaz de conceber modos de vida mais vastos e aspectos mais profundos.

Para resolver o problema da discussão destrutiva cada pessoa deveria se perguntar, fazendo uma auto-análise, se aquilo que ela julga sério (ou fútil) realmente o é. O fio condutor desse questionamento deve ser a finalidade da existência: evolução. A partir daí, é possível iniciar um longo processo de orientação. A discussão se torna construtiva. Ainda é confronto de idéias. Ainda é enérgica. Ainda é trabalhosa. Mas deixará todos mais esclarecidos ao terminar o debate. Essa é uma das artes da vida. Uma arte que assusta muitos, mas que é o caminho para a superação.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

TUDO PELO TEMPO, NADA PELA CONSCIÊNCIA. VAMOS INVERTER?

As mudanças vem de dentro para fora. Interior, exterior. Uma onda que se manifesta por sucessivas camadas. Passa de uma interna para outra externa, se consolida e segue dessa forma, até atingir o mundo tangível. Aquele que vemos, sentimos e consideramos. O “mundo real”, por assim dizer.

Eis que a Revolução Industrial se dá após o terreno estar preparado para as máquinas e o advento de um modo de vida diverso. A ciência utilitária substitui a fé cega. E a exploração iniciou um novo ciclo. Não mais uma exploração apoiada na ignorância das pessoas, mas na necessidade das mesmas em levar uma vida minimamente confortável. Numa primeira fase, a divindade passou a ser a produção. Hoje – 2a fase – ela passou a ser o consumo.

A humanidade evolve por ciclos. Cada qual com seu significado e ditado por suas regras. Cada ciclo, ou época, com sua ética, que melhor possibilita o desenvolvimento dos valores presentes. Mas cada ciclo chega à exaustão após um período – cuja duração pode variar de poucos anos a séculos ou milênios.

Um ciclo começa a se abalar quando as pessoas começam a vislumbrar outros. O abandono do velho só será definitivo quando o novo for aceito pelas mentes e todas bases de uma nova forma de vida (concebê-la) for reconhecida. O novo se apóia no velho. Só se destrói o que não é útil à vida. Não se destroem indivíduos. Abandona-se concepções ultrapassadas.

A manifestação do pensamento independe do tempo.
Suas ondas não são captáveis pelos nossos instrumentos (ainda).
Seu poder é incalculável, como tudo que reside no imponderável.
O novo quer nascer, mas o velho não quer morrer.

Os precursores de um novo mundo tem a árdua tarefa de se sacrificar por um ideal. São os santos, os gênios, os místicos. Cada um busca o progresso da humanidade à sua forma, usando seus métodos e suas ferramentas.

Nosso mundo científico-industrial já dá sinais de saturação. O binômio produção-consumo, gerado pelo trinômio descrença-ciência-tecnologia, tenta se apresentar como a finalidade definitiva da vida. O peso que antes estava na produção migrou para o conusmo. Este se intensificou. Depois se sofisticou. E encantou grande parte das pessoas que, sem vislumbrarem outras possibilidades, abraçaram a solução oferecida pelos “sábios”. Mas as crises são frequentes: depressão, crise financeira, fragmentação dos relacionamentos, busca por prazeres cada vez mais intensos que geram dependência.

Nossa vida atual é ditada pelo tempo. Nosso mundo moderno teve sua gênese no século XIX e ganhou forma nas últimas décadas do século passado. Tudo orbita em torno do tempo: velocidade, potência, desempenho, ascensão salarial, produção, produtividade,...Ele passou a ser o termômetro da saúde de uma pessoa ou povo. Seu salário depende de quantas horas você fica dentro do escritório; Sua imagem social depende de em quanto tempo você é capaz de satisfazer os pedidos de seus “amigos”; Sua fama (e possibilidade) nos relacionamentos depende de seu desempenho, ditado pelo tempo de manter tudo funcionando de acordo com o que o outro espera.

Quantidade, não qualidade. Isso é o que o mercado pede. Ele, uma entidade não individuável – e portanto não culpável – afirma que faz cada vez mais rápido – e dá cada vez mais – em intervalos cada vez mais curtos. E melhor. Melhor para quem? E...será que você quer mesmo esse “melhor”? Você precisa desse produto, desse serviço?

O melhor logo se torna pior (ou segundo melhor) assim que uma “novidade” surge. Eis o que (muitos) dizem ser a eterna busca por melhorar. Mas existe uma diferença abissal entre uma dinamicidade instável-destrutiva e uma dinamicidade estável-construtiva, apesar de ambas serem (aparentemente) iguais.

Por que o trabalho é mensurado e remunerado pela sua quantidade e não por sua qualidade?

Por que o número de horas estagnados num dado sítio espacial é MAIS VALORIZADO do que TUDO CONSTRUTIVO gerado por uma pessoa?

Por que as pessoas veem possibilidade de crise quando se cogita mudar a mentalidade, mas ao mesmo tempo sentem que muitos comportamentos “improdutivos” não afetam em nada o dia-a-dia. Pelo contrário, parecem tornar as coisas melhores.

Por que não consumimos menos e pensamos mais? Tornar-nos-íamos mais independentes e assim o mundo começaria a estabelecer as bases definitivas de uma revolução espiritual.

Com poucas necessidades materiais, o pensamento dominante se veria em constante conflito. Desesperado, atacaria por todos lados com propagandas e promessas, de forma muito mais agressiva e nociva do que os políticos – estes seriam meras marionetes nas mãos de grupos poderosos que sempre estão nos bastidores.

As pessoas passam a valorizar mais seu tempo. Abdicam de um modo de vida que nada lhes acrescentou exceto a experiência da desilusão. Foi útil sim, de qualquer forma. Mas acabará.

As pessoas abandonarão seus empregos e começarão o TRABALHO REAL. Este será um trabalho consciente, que mensura a qualidade do produto e considera as necessidades reais do ser.

O tempo aprisiona o inconsciente, porque o engloba.
O consciente aprisiona o tempo, porque o engloba.
Quantos conscientes temos em nosso mundo?
Trata-se de um trabalho que já pode ser visto em pequena escala, geralmente mal-remunerado e pouco valorizado socialmente. São os artistas criativos que alegram as pessoas nas ruas e através de suas músicas, representações, escritos e formas convidam pessoas a sentirem e pensarem de modo diferente; são os cientistas da natureza e da sociedade que pesquisam novas relações e tentam compreender o porquê disso e daquilo; são os pesquisadores dos institutos; são os escritores que despejam sentimento e sinceridade crua em suas páginas (ou telas); são os cineastas; são os estudantes; são os legisladores que trabalham incessantemente para aprovarem leis mais adequadas à personalidade do futuro; são os juízes que julgam mais pelas causas do que pelos efeitos; são até aqueles tidos como inúteis, mas nunca foram mensurados com outros instrumentos e considerando o eterno vir-a-ser da humanidade e dos cosmos. São os santos, exemplares fora de série, que viveram na íntegra o Evangelho, mostrando que um dia sentiremos a divindade e viveremos de acordo com nosso ser divino.

O trabalho presente é ditado pelo tempo e pelas aparências. O lucro é a desculpa dos gurus do mercado para sustentar a manutenção de um modelo que se defronta com crises cada vez mais frequentes e intensas (façam um apanhado histórico nos jornais...quantas vezes economistas, financistas e outros istas afirmaram veementemente que tais medidas resolveriam de uma vez todo problema da estabilidade econômica, e em pouco tempo um novo colapso, inesperado, se abateu). Eles negam as verdadeiras inovações, taxando-as de loucura. Se esquecem que os sucessos de hoje se consolidaram após sofrerem muitos fracassos.

Pessoas tentaram, erraram, sofreram e morreram para descobrir verdades. Se arriscaram. Fizeram o que sentiam que tinham de fazer.

Imagine se todo mundo ouvisse os conselhos de não tentar nada fora da fronteira.

A loucura se desvanece à medida que a fileira de seres extraordinários elevam idéias desejadas e irrealizáveis. Sangram, mas executam. Não ligam para isso.

A evolução TEMPO → CONSCIÊNCIA diz: “a vida deve ser ditada pela qualidade ao invés da quantidade”. “a quantidade teve sua função no desenvolvimento orgânico. Agora é vez de dar espaço ao desenvolvimento psiquico. Ele nos colocará em contato direto com a espiritualidade.”

O tempo nos aprisiona fisicamente e mentalmente. A consciência é a voz que nos liberta de uma forma mental. Muda a mentalidade, muda a atitude, mudam as possibilidades. Eis a mecânica dos milagres.

Espírito, energia, matéria.

Pensamento, vontade, ação.

A consciência clama por mais tempo livre. O prórpio nome já diz: LIVRE. Não é à toa. O mundo possui ainda em grau muito reduzido ocupações que dão a oportunidade da pessoa se desenvolver ao máximo, da melhor forma, primeiro para si mesma, depois para a sociedade, depois para todos os seres e o Universo.

O que digo pode parecer superfluidades de um romântico idealista. Mas convido os leitores a observarem seu cotidiano ao longo dos meses e anos. Observarem de verdade os mais íntimos detalhes e acontecimentos de suas vidas. Estudem o que as pessoas veem como problemas e como não solucionam os mesmos – pelo menos não definitivamente. Estudem História (individual e coletiva) e percebam. Tentem aos poucos verem coisas de outros pontos de vista. Saiam da rotina nem que por apenas 20 minutos. Gastem um tempo ouvindo aquele que vocês consideram chato ou idiota. Talvez vocês descubram algo. Mas ouçam DE VERDADE. Com a alma. Ouçam não apenas as ondas acústicas que se manifestam pelo ar, mas a graciosa harmonia de gestos e olhares que expressam com maior transparência a substância de cada criatura.

“O tempo que você gosta de perder não é tempo perdido.”

Hoje é terça-feira. Eu estou em casa. E graças a isso fiz um pouco de trabalho real.

Idéias são imateriais. Mas são elas que movem montanhas e planetas e pessoas.

Discretamente e elegantemente.  

Afinal de contas, Cristo tinha razão.

DUAS CONCEPÇÕES, DUAS ATUAÇÕES

Quem mais anseia por um mundo (um pouco) melhor, e compreende as contradições mascaradas deste, inicia uma busca infinita por respostas aos problemas mais elementares. Essas pessoas passam anos mergulhadas na realidade da realidade. Isto é, além de viverem num mundo inapropriado para receber suas idéias, agem de acordo com os métodos deste, reproduzindo o que se convencionou chamar ideal, bonito e aceitável. Mas as quedas vêm periodicamente. E com isso a necessidade de buscar alguma distração momentânea. É a sua natureza que é incapaz de sustentar um comportamento desse tipo. Continuamente. Mas não há com o que se preocupar: a teimosia sensata desses seres está sendo testada. Sua persistência no “erro” só atestará suas percepções de que há algo faltando para que tudo funcione de acordo com o desejo íntimo de todos, e os anos o tornarão muito mais seletivo nas relações e nas atividades diárias.

Os anos passam. As experiências acumulam. Reviravoltas incríveis. A pessoa passa a ter mais respeito por ela mesma. A calma começa a surgir. Observar o mundo - aparentemente feliz e bem sucedido - é cada vez mais interessante à medida que as teorias vem sendo confirmadas.

Que máscara vou usar hoje para garantir
meu salário que proverá minhas necessidades?
A perdição no qual se encontra o mundo é mascarada de infinitas formas, que orgulhoso teme por seus cargos, suas posses, sua imagem e suas possibilidades materiais. A inabilidade da sociedade em lidar com questões fundamentais (aborto, homossexualidade, sistema político-econômico, sistema educacional, relacionamentos, espiritualidade, religião, sexo, amor, ciência, etc) relega assuntos fascinantes, cujo poder prático é desconhecido, às celas escuras do silêncio e da ignorância. A isso deram o nome de polêmica.

Polêmico é todo aquele assunto que gera desentendimento, desagregando pessoas - ou tendo uma alta probabilidade de causar isso. Dessa forma, via experiências malsucedidas, convencionou-se, via gestos, comportamentos e olhares, a nos mantermos no terreno sólido das alegrias mundanas. Mas o ser inquieto, estranho e sensível já compreendeu que o único meio de encontrar uma felicidade sustentável e de substância é através da dor. Só a dor salva, por mais que isso soe estranho. Uma dor não buscada gratuitamente, mas lidada de forma criativa quando aparece. Uma dor-evolução, com significado e finalidade.

Os teatros realizados no cotidiano passam a ter uma explicação. É compreensível, mas não soluciona as grandes questões. Problemas que o mundo busca resolver sem desejar tocar nos pontos nevrálgicos ("disso não se fala mais", "isso é utópico", "qualquer um faz isso", "isso é só para santos e gênios",...) continuam insolúveis. As soluções são temporárias e só causam instabilidades. Dessa forma alternam-se políticas de vida na vida privada e pública, ora puxando para um extremo, ora para outro, gerando desgastes e dores que são encarados como males ao invés de alertas sábios. As diferenças são encaradas como antagonistas perpétuos ao invés de verdades complementares.

"A minha sinceridade não é compreendida." "Aliás,
sou criticada justamente por ser eu mesma e dizer
o que penso e sinto.Tentam arrancar uma suposta máscara
porque nunca viram uma pessoa sem."
O ser continua observando e estudando e sentindo. Observando a cada dia, em qualquer situação, desde o conversar das pessoas até os eventos sociais e reuniões e diálogos, e os gestos das pessoas nas ruas; os beijos de enamorados; as notícias; os problemas escutados de forma fragmentada enquanto anda pela rua. Estudando para perceber a quantidade de pontos comuns entre diversos assuntos, vendo complementaridade ao invés de antagonismo; e sentindo o real significado dos gestos daqueles próximos. Escuta mais, fala menos. Passa a abraçar essa nova atitude, percebendo que lhe traz mais soluções do que os métodos antigos.

A serenidade lhe clareia a vista e possibilita uma nova orientação na vida. A quantidade perde para a qualidade. As atitudes são pensadas, reduzindo o leque de atividades. Estas são insuficientes e insossas para a maioria. "Um desperdício de juventude" muitos diriam. Mas os fatos suplantam os dizeres. O ser transpira calma e conduz sua vida com uma segurança ímpar. Independência do mundo, alinhamento com o divino. As coisas mais simples passam a ter o valor de reinos. Seu poder é se sentir integrado a toda forma de vida e fenômeno. Suas fontes de alegrias são inesgotáveis, pois não perecem nem iludem. São simples e acessíveis. Não há competição porque raros são aqueles que buscam essa tranqüilidade.

Um ciclo se completa. Um ser aparentemente fadado ao fracasso ganha uma certa notoriedade. A fascinação é potente. O mundo mais próximo, que o conheceu - e julga conhecê-lo - e observou sua trajetória de ousadias, dores, sucessos (exteriores) admira no seu íntimo sua plenitude, sem no entanto compreendê-la. Mas é incapaz de declarar essa admiração. E não há culpa nisso, pois as próprias pessoas enterraram sua substância tão profundamente que relegaram esses tipos de acontecimento ao sobrenatural. Um farol surge.

A sinceridade toma a dianteira no comboio da vida. Ela (sinceridade), aliada à confiança e à sede pela verdade, formará um tripé virtuoso que guiará e alçará outras pessoas a uma trilha interior.

Quem é honesto para com os outros e consigo mesmo estará seguro de suas atitudes. Mesmo que seus atos sejam ousados, o ser persistirá na sua jornada. O único freio será sua consciência recém-desperta. Não há nada ou ninguém a quem prestar contas no mundo. Nenhum autoridade terrena tem influência diretora. Apenas uma Lei diretora. Que reside em cada criatura do Universo, e portanto em nossa consciência.

O Sistema não é um livro sobre uma
nova seita ou grupo ou ideologia. É
uma concepção místico-unitária-científica
do Todo. É a concepção de Criador
e Criação mais potente porque se apóia
em todo saber. É poderoso.
Ciência, filosofia e religião serão vistas de forma cooperativa. As relações sociais são remodeladas. A espera passa a ter sentido. Os motivos de ódio abrandam, cedendo lugar à compreensão, deixando a mente livre de impurezas e energizada para o conhecimento. Um novo conceito de vida floresce. Suficiente por si mesmo. Minimizador das necessidades materiais. Maximizador da busca espiritual. Não se defende mais uma ideologia, uma pessoa, um grupo, uma religião ou uma área do saber. Defende-se o bom senso. Uma idéia sem preconceitos. Uma verdade universal que abarca tudo e clama por espaço conceptual. Logo, quem chegou aí não calcula ganhos ou perdas em função do que vai dizer. Sua segurança está em sua convicção. Sua convicção foi adquirida ao longo da vida, observando diversas realidades primeiro, depois vivendo-as, e a seguir estudando-as, numa série de ciclos que os sábios foram incapazes de explicar satisfatoriamente. Fez-se necessário criar suas próprias idéias e sentir de forma diferente. 

Para esse ser existe a necessidade de fingir, como o mundo. Mas com finalidade diversa deste, que adota a vida de ator por medo de lidar com a substância e pela reputação da imagem; enquanto a exceção usa-a para não ser trucidada, condenada e isolada do mundo em que vive, usando os períodos solitários para intensificar seu contato com uma realidade mais vasta, e se questionar e organizar as idéias que germinam.

Trata-se de uma luta de árduo semeio e prazerosa colheita. Mas tudo que está sendo construído internamente terá grande utilidade prática. Num mundo que segue uma lei maior por convicção e não por imposição. É uma concepção diversa de mundo.

“Louco!”, vão dizer as mentes inteligentes, bem-sucedidas e sãs. Mas mesmo estas admitem: para ter sucesso deve-se trabalhar antes. Mesmo sem reconhecimento ou sucesso. Mas então, qual a diferença entre o realista e o idealista? O primeiro limita o tempo de esforço a poucos anos. Trabalha num horizonte de anos ou décadas, no máximo. Considera “sucesso” algo tangível aos seus sentidos – que pouco sentem. Considera “felicidade” a posse de bems externos. É eficiente em sua busca, mas falta-lhe orientação. Essa carência torna sua felicidade efêmera e ilusória. O segundo considera horizontes mais vastos e portanto trabalha com calma. Sente em profundidade abissal, enxergando os milagres cotidianos que a vida opera em torno dele. Glória e independência.

São duas concepções de mundo, que levam a dois modos de agir substancialmente diferentes. Apesar de – às vezes - na forma se aparentarem.