sábado, 8 de novembro de 2014

UM MERGULHO PROFUNDO (E OUSADO) NO CONCEITO DE EGOÍSMO

Eu venho observando o mundo. Por muito tempo. E eu aprendi a fazer associações dos dados coletados com teorias que me foram ensinadas (na escola e em família) e nos livros lidos. Em ciência, teologia, filosofia, arte. Essas associações o mundo não nos ensina a fazer. Ou por não saber fazê-las, ou por temê-las. Devemos buscá-las por conta própria.

As ideias novas nascem assim. Associações aliadas à noção de transformismo. Em todas esferas: ética, filosófica, religiosa, social, econômica, política, biológica, física, química. Do átomo ao santo existe uma cadeia evolutiva lógica guiada por uma férrea Lei. Essa Lei se manifesta de várias formas, cada qual evidente em relação ao nível evolutivo da substância que a analisa. À medida que a consciência floresce, mais aspectos desse conjunto de leis vão sendo revelados e aceitos. Partindo do físico da matéria chegamos ao dinamismo da energia que desemboca na organicidade da vida que abre as portas para o psiquismo: a última realidade (razoavelmente) aceita que interfaceia o mundo do espírito.

Essa evolução é lenta no início e é acelerada à medida que o Universo progride em seu aspecto estático, dinâmico e mecânico*. São infindáveis ciclos de vida-morte-..., destruição-construção-..., no qual nada substancial se perde no absoluto (só em nosso mundo).

Apenas no relativo a morte existe. Porque este tem uma visão limitada do Todo, enquanto o absoluto abarca tudo. Ou seja, o absoluto engloba todas realidades. Nele a dilatação de consciência é máxima, sendo esse estado capaz de avaliar todos fenômenos de modo a compreender o porquê de cada acontecimento, desde os fenômenos mais simples aos mais complexos.

Altruísmo: dilatação do egoísmo.
Quando nossa preocupação envolve o mundo,
com todos seus fenômenos, sistemas e seres.
O egoísmo é um dos emborcamentos irredutíveis de nosso Universo material. Ele é um dos elementos da revolta que provocou a queda**.

Do egoísmo podemos derivar uma série de comportamentos, ideias e atitudes que provocam cisão em nosso mundo. Essa tríade musical forma um acorde que opera contrariamente ao caminho ascensional. Mas devido à inconsciência essa manifestação do egoísmo dá uma falsa sensação de progresso.

A humanidade em seu estágio atual tem uma série de artimanhas para esconder atitudes egoístas. Uma delas consiste em manifestar apoio a um grupo ou ideia – coincidentemente acatado e louvado pelo establishment – de forma a ganhar a imagem de bom cidadão ou trabalhador. No entanto, quando se trata de levantar bandeira a favor de uma ideia relegada ao esquecimento ou que toca pontos nevrálgicos do establishment social, econômico, político ou ético (do presente), raríssimos são os seres atuantes. Será a ideia deles atrasada? Será egoísta ele insistir numa visão ultrapassada? Quem garante que essa visão seja ultrapassada?

Um conceito aplicado e fracassado no passado é o primeiro passo para garantir um possível sucesso no porvir. A internalização do erro cria experiência e amadurece as mentes que o almejam mais fervorosamente. Mentes cujo espírito é cada vez mais criativo em implantar um ideal rejeitado pelo tipo comum. Mentes que sentem uma contradição no mundo.

Prega-se uma liberdade relativa ao ponto de vista da pessoa ou do grupo. Prega-se uma liberdade relativa ao que é aceito pelo establishment, que fornece os empregos e status e possibilidades sociais e a garantia de que você não será preso nem molestado enquanto pensar “livremente”. Isto é, que suas idéias defendam o que é certo e não cause desestabilizações.

Ouvi um filósofo afirmar “democracia é barulho”. E é exatamente isso.

Quando os problemas substanciais, as causas mais profundas, os pontos de vista dos oprimidos e tímidos e segregados começam a vir à tona, encabeçados por uma mente iluminada capaz de dar voz aos anseios mais íntimos de uma humanidade subterrânea esquecida mas cheia de valores e ideias, o establishment aponta o dedo para esses seres e grita: Agitador! Louco!

Mas os mártires morrem e suas ideias renascem. Mais fortes, mais firmes, mais embasadas. Quem vê muito à frente deve pagar o preço de sofrer. Será incompreendido, atacado e terá suas possibilidades sociais podadas ao máximo. Mas igualmente terá um inexorável êxito na escalada evolutiva.

A democracia, quanto mais próxima de seu ideal, é barulho, é desordem, justamente porque ela revela todas as facetas e dá voz a todas elas. Quem não sabe trabalhar com isso se refugia na autoridade opressora. Aliás, ela é tanto mais desordem quanto maior a incapacidade daqueles que detém o poder (econômico, político, midiático) em aceitá-la e trabalhar com as diferenças.

A humanidade progride, se sensibiliza. Basta observar a história. Cada século traz novas possibilidades. Quedas aparentes podem revelar um estágio de transformação, na qual a oscilação em escala cósmica pode parecer uma queda num mundo avaliado a todo momento (semanas, meses, anos). Mas eu acredito que essa sensação apenas é o prelúdio de um novo ciclo, capaz de trazer novas possibilidades, e ampliar a concepção que temos da vida e sua finalidade.

Uma humanidade excluída (por dificuldades no comunicar, no influenciar, por não ter recursos, cultura, tempo, etc) que clama por voz e não a possui sempre estará disposta a usar os meios que tem para se manifestar. Tentam todas possibilidades antes de recorrerem ao grito desesperado. Um grito de vidas oprimidas por um sistema que se julga justo. E o é, do ponto de vista de quem só consegue concebê-lo.

Muitos esmagados gritam porque sentem que há algo errado, mas não sabem o que fazer após o mundo ouvi-los. Quem domina é tão prisoneiro quanto quem é dominado. Só que aquele tem uma responsabilidade maior quanto ao bem estar coletivo, enquanto este ainda está aprendendo.

Forte é quem tem condições de vencer no mundo presente e decide levar uma vida àrdua que conduzirá ao fracasso para vencer num mundo futuro.

Nosso mundo tem (na maioria) uma visão emborcada.

Quem escuta seu mais íntimo e defende um ideal, expondo-o e tentando explicá-lo de mil formas àqueles mais próximos de senti-lo, ao longo de anos e décadas, tempestade após tempestade, martelada após martelada (e sobrevivendo! cada vez mais forte e convicto), é mais altruísta que uma horda de seres que gritam em uníssono algo que vai na correnteza de pensamento do poder. Um poder aparentemente justo, invencível e eterno.

Não!, eu digo. Sigam sua consciência.
Não finjam segui-lá. Investiguem sua alma e descubram um pouco da verdade universal antes de proferirem palavras vazias e aparentemente bonitas.

Mas a esperança nasce igualmente do egoísmo: é a dilatação deste que gera o altruísmo. Do indivíduo à família, ao clã, à cidade, ao grupo, à nação, à raça, à humanidade, às espécies, aos fenômenos, às humanidades de humanidades e (finalmente) ao Universo. Sempre dizemos “Eu!”, sempre nos afirmamos. Mas nossa preocupação – sempre nossa – englobará cada vez mais.

Do ser ao infinito.
Do mais óbvio ao mais sublime.
Do átomo ao anjo.

Vivemos num mundo emborcado onde atos de coragem são covardia perante o eterno.

E atos de loucura podem ser o maior grito de ascensão...


Quando o herói morre por sua nação, o mártir pela humanidade, quando o gênio se desgasta pela ciência, seus egoísmos são tão amplos que não os concebeis mais. Nesse momento, eles podem dizer: eu sou a nação, eu sou a humanidade, a ciência, porque sua consciência unificou-se com isso.”
A Grande Síntese


Referências:

* Quem desejar se aporfundar recomendo a leitura do Capitulo 7 de A Grande Sìntese.
** Toda teoria a respeito se encontra detalhada nos volumes Queda e Salvação e O Sistema: Gênese e Estrutura do Universo.

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