segunda-feira, 30 de março de 2015

REPETIÇÃO DE DISCURSO

Sim. Observando em aspectos gerais somos seres que repetem discursos. A filósofa Márcia Tiburi reforça essa tese na entrevista concedida à Revista Cult [1]

"As pessoas repetem discursos porque nós somos seres humanos e seres humanos são seres que imitam uns aos outros."

Mas eu iria mais longe, afirmando que seremos realmente autônomos num futuro distante, já que a própria filósofa é capaz de se conscientizar de uma realidade mais real, mais profunda e portanto mais influente e poderosa do que aquela vista por bilhões; e dizendo que em nosso estágio atual, a grande (imensa) maioria de seres de nossa espécie, quando deve expor sua opinião "pessoal", reproduz o discurso vigente ou de algum grupo que sente mais afinidade. Me refiro à essência do discurso. Pode-se dizer que a opinião deste ou daquela é puramente pessoal, mas quando você realizar uma dissecção, removendo todas as formas que a destacam das demais, começará a perceber que (quase) todas opiniões são iguais em sua essência.

Ubaldi afirma frequentemente em diversos volumes de sua Obra o seguinte: o conhecimento nos torna preconceituosos. É fácil compreender isso. Quando adquirimos um saber, uma habilidade, tendemos a nos sentir melhores em relação ao entorno e nosso ego pede por uma recompensa por essa conquista. Normalmente não corremos atrás do saber por amor, mas sim por um instinto de sobrevivência ou desejo de nos sentirmos mais do que os outros. Se adquirimos esse saber ou habilidade, faremos uso errôneo dele, nos satisfazendo com os ganhos proporcionados muito além da medida, e às vezes nos prendendo a ele como se fossemos para uma batalha.

Queremos superar os outros enquanto na verdade deveríamos nos superar.

O resultado é a estagnação. Grupos se formam, compartilhando sua visão relativa, parcial e portanto egoísta. Se ajudam, como uma seita. Isso se dá em todas esferas: corporativa, estatal, religiosa. Cada uma delas se baseia num sistema de valores com normas de conduta e princípios éticos relativos. Formas díspares, essência idêntica. Cada uma reclama superioridade e pureza em relação às outras, vendendo sua imagem de agente de progresso ao povo. E para se fixarem e fortalecerem seus tentáculos, impõem aos seus membros (e a eles mesmos) uma concepção estática do mundo. E tentam aliciar outros poderes, inclusive formando alianças paradoxais.

Márcia Tiburi. Está perto de chegar nas concepções
apresentadas por Ubaldi e Rohden. Mulher crítica,
capaz de transcender o lugar-comum e se manter fiel
a si mesmo- para um dia conhecer a verdade...verdade
que libertará...
Quem vê o nosso universo como um corpo dinâmico dotado de transformismo em diferentes planos dificilmente consegue permanecer muito tempo fiel a um grupo desses. A própria natureza do ser torna o gigante estático econômico-político-religioso refratário a esse pequeno ser físico de grandeza mística. 

Dois desses grupos possuem inúmeros exemplos famosos de "desertores": criaturas que ousaram ir além, semeando em tempos e solos árduos sementes poderosas que num futuro distante se tornaram - ou hão de se tornar - esplendorosas árvores. Teorias, idéias, obras de todos tipos,...E assim, com a determinação férrea de uma elite, a humanidade progride, assimilando os ideais aos poucos. Ensaiando implementações, ora bruscas, ora tímidas. Ajustando, criticando, assimilando, descrendo, voltando a crer,...

O outro gigante estático, jovem e vigoroso, ainda não é encaixado no grupo a que pertence de fato porque muitos veem nele a solução última de todos problemas. Apesar de amplos setores alertarem e diversas evidências virem à tona - cada vez mais - a forma mental humana média sintoniza com esse tipo de ordem e portanto não é capaz sequer de criticá-lá abertamente. Além disso, a autoridade exercida é mais inteligente, induzindo e repetindo (verdades incompletas), iludindo (todos) e tirando liberdades sem exibir tentáculos perceptíveis à média. Privar alguém de um recurso essencial para a vida orgânica somente porque se disse uma verdade construtiva é pior que o pior dos crimes apresentados na televisão. Eis o golias de nossos tempos. Um gigante alçado por um sistema que está se saturando lentamente. E fazendo o psicológico-afetivo de bilhões sangrarem desnecessariamente. É um gigante que enxerga apenas balanços no campo material, pouco se importando com a real necessidade das ascensões humanas. Família, cultura, saúde e sociedade são apenas propagandas. O senhor lucro aprova ou não a inserção dessas preocupações, apenas com o intuito de não sofrer críticas que impeçam o seu funcionamento.

Daqui a mil, dois mil ou mais anos, quem sabe, a realidade dolorosa percebida pelos poucos anormais de hoje se torne um consenso universal.

A dificuldade está em provar a insanidade. Justamente porque chegamos a um grau em que para continuar evoluindo as provas pouco valem. Demonstrações abundam cada vez mais. Nos saturamos de intelectualismo a tal ponto de organizarmos orgias mentais, sem saber a real finalidade desse tipo de habilidade.

Homem bicentenário: o desejo de se tornar humano,
A compreensão suplanta tudo que o mundo atual concebe e conhece, mas tem pouca voz. E ela deve ser atingida individualmente, por conta própria. Eis o problema e a solução.

Por meio do discurso íntimo e dos gestos e exemplos podemos ajudar alguém a caminhar para a porta da consciência. Mas só uma pessoa poderá atravessá-la: a própria pessoa.

Nossa camada mais científica sociedade, do mercado, da tecnologia, vê nos robôs uma superioridade. Não me espanta tal comportamento: os próprios admiradores dos robôs começam a adotar um modo de pensar robótico, algorítmico. Por maior que seja a capacidade de calcular, por maior que seja a performance, por maior que seja a velocidade de repetição e processamento, inexiste o transformismo que carateriza o humano.

Um humano pode ser imperfeito mas é fascinantemente evoluível.
Um robô pode ser brutalmente eficiente mas jamais será algo além do que é.

Mas nós ainda repetimos discursos...

Nos sentimos sozinhos porque não temos a experiência intuitiva de Deus.

Recorremos à aprovação social, aos benefícios materiais do emprego e às compensações sexuais, da mesa, dos vícios e violências para nos sentirmos minimamente decentes.

Por não conceber mais somos incapazes de declarar independência de tudo isso.

Transcender é ser mais amanhã do que ontem. É sentir a tensa emoção do desconforto e viver a intensa alegria de descobrir novos mundos metafísicos - nesse mesmo mundo físico.

É seguir sua consciência e sozinho, baseado em suas experiências e no seu Ser, se lançar em empreitadas tão incertas quanto fascinantes.

Não repitam discursos, não atrasem a sua verdadeira razão-de-ser...
Em troca de algum pedaço de carne humana, de papel com números, de dispositivos e máquinas e aprovações.

No filme Homem Bicentenário [2] o maior sonho de Andrew (o robô) é se tornar humano.

Morrer para poder viver ao máximo...
Deixar as maquinações para viver as idéias...
E um dia - quem sabe - amar.
De verdade...


[1] https://www.youtube.com/watch?v=M75vy0dZ9KA
[2] https://www.youtube.com/watch?v=d0o1etRplPE

sábado, 28 de março de 2015

SISTEMATIZAÇÃO DO PROCESSO EVOLUTIVO (parte 3)

Chegamos ao final dessa primeira aproximação sistemática do processo evolutivo que rege o ser humano, seja deste planeta ou de outras humanidades. Essa abordagem é ainda muito geral e provavelmente incompleta, podendo existir variações específicas.

Um detalhe importante para evitar confusões é: o diagrama não é em função do tempo.
Ele apenas mostra o conhecimento em função da consciência (e vice-versa, como expliquei no início).

Isso significa que enquanto um ser pode concluir as mesmas Fases 1 e 2 - ao longo de milênios e milênios, absolutamente, ou ao longo da vida, relativamente - num período menor do que outros. O porquê disso sou incapaz de explicar. Nem sequer me vem algo à mente no momento. Isso pode ser um tema de investigação futura.

Outro ponto: apesar de termos um ponto inicial comum (ignorância inocente), atingiremos perfeições relativas diferentes, inerentes ao nosso potencial divino individual. Por que? Porque a perfeição absoluta pertence a uma única entidade, mais conhecida como Deus. E nem poderia ser diferente se vivemos num monismo*, isto é, um Universo em que a ordem e a unidade governa as multiplicidades em constante transição. 

O mundo é mudança. A vida é transição, metamorfose, saída da posição de conforto, e portanto dor. Ás vezes diminuta, outras intensa. Intensa a tal ponto de gerar uma maturação da alma só percebida após um longo período. Ganha-se uma sabedoria profunda. Uma sensibilidade psíquico-nervosa que nenhuma escola ou universidade ou instituto - de qualquer área - deste mundo é capaz de fornecer. É tão assustador quanto fascinante. Depende da concepção do ser do seu universo metafísico interno - e do universo físico externo. 

Outra questão que talvez sonde a mente de alguma mentes investigativas: chegaremos um dia no nosso máximo? e chegando lá, acabou tudo?...isto é, a vida se torna perfeitamente estática? Ubaldi responde** que quando chegamos no infinito a evolução continua (indefinidamente). É estática para nós que ainda não o atingimos, mas magnificamente dinâmica para os que estão na perfeição (relativas ao nosso universo com espaço e tempo). O "local" conceptual em que tempo e espaço inexistem é extremamente difícil de conceber (eu não consigo), e portanto não ouso avançar nesse ponto - nem sequer Ubaldi detalhou. talvez por falta de tempo e forças...

Encorajo os anormais (para o supra-normais) a criticarem, detalharem, opinarem e, se possível, incrementarem essa ponte. E os normais a encontrarem alguma incoerência. Não negarem com base nos métodos do mundo, que só concebe o passado e o presente, mas tentar perceber o íntimo de toda a realidade que hoje pode (pode...pode...) se encaixar como uma peça nesse gigante mosaico dinâmico que rege a vida, os fenômenos e o destino de todo sujeito e objeto.  

Receber sem preconceito, estudar o fenômeno se tornando o fenômeno, amando-o.

Quando afirmamos a verdade do outro e mostramos uma verdade maior, que engloba aquela do outro, sem a negar, encaixando-a com maestria numa ordem universal permeada de transformismo e orientada para um fim comum, podemos nos declarar mais conscientes, independente de nossa bagagem intelectual. Isso nos torna mais humildes e calmos - jamais o contrário.

Repare o seguinte: as áreas em que conseguimos dar o máximo de nós são aquelas em que temos muita facilidade. Aquelas cujo saber é óbvio (para nós). Porque sentimos uma afinidade com aquele tema específico. Gostamos daquilo, amamos o estudo de tal tema, ou fazer tal atividade.

Mas tão logo saturamos e chegamos ao nível do conhecido fronteiriço daquilo, geralmente abandonamos e perdemos o gosto pela vida. Aquilo que nos interessava foi desvendado "por completo", enquanto o resto pouco nos interessa. Mas será que foi todo desvendado? E será que as outras coisas não tem um quê de profundamente interessante, que talvez só venha a despertar nosso interesse com as marteladas da vida e as circunstâncias adequadas?

Imagine aquele momento em que você está sozinho e não tenha nada de útil para fazer. Nada segundo seus valores. Nada realmente interessante. E que a rotina já esteja tão saturante em alguns setores que abandonar algumas coisas para se adentrar em outras - pessoais, suas...só suas - já seja uma possibilidade. Se você percebe alguma verdade em tudo que foi escrito e dito e concebido e sistematizado ao longo deste trabalho, encorajo você a começar um trabalho de observação, sem compromissos ou expectativas. Mas a fundo e intensamente. Há muito mais a ser melhorado e infinitamente mais a ser feito. Para ti e seu entorno. 

Esse blog (acredito) é o mais universal e imparcial possível. Os temas podem parecer elucubrações, mas eu andei 30 anos (e continuo andando) pelo mundo, na padaria, no trabalho, nas escolas, nas ruas, na família, entre amigos,...ouvindo os mais diferentes comentários e sonhos e etc das pessoas dos mais variados "backgrounds", e percebo que no fundo existe um fio condutor permeando as atitudes e sentimentos de cada ser. Um desejo ardente, mais consciente a cada ano, mais claro a cada existência. Uma linha comum em sua essência, e uma capacidade desejosa por se materializar nas atitudes do dia-a-dia. Isso me estimula a continuar este trabalho. 

Prefiro o sofrimento feliz ao gozo infeliz. 

E agora, neste momento, me sinto satisfeito, com sensação de dever cumprido. Algo que até hoje apenas uma curta experiência de 10 meses foi capaz de me dar em plenitude. 

Quando uma parcela expressiva do mundo atravessar a linha de amplitude intelectual máxima tudo isto ficará mais claro.

Assim espero, assim será...


Comentários
* http://www.monismo.com.br/TrechosGranSintese.html
** Queda e Salvação, capítulos finais

SISTEMATIZAÇÃO DO PROCESSO EVOLUTIVO (parte 2.5)

Me escapou à mente dois casos ainda possíveis: 1.c e 1.d.

Para aqueles que se interessaram e chegaram até aqui não há problema. O que foi dito foi dito. Somente peço que considerem a parte 2.1 com 8 casos (já corrigi o diagrama e texto).

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Caso 1.c

Conscientização precoce com uma potenciação intelectual assombrosa. Trata-se de gênios da ciência ou arte (ou ambas). Biótipos cuja humildade é tão assombrosa quanto sua grandeza e capacidade de unificar idéias em campos díspares e abstratos. 

Figura 10: Caso dos gênios.

Eles conseguiram ir além do que o mundo conseguiu sistematizar concretamente até o momento, antes buscando e depois criando mais. Sua criação é bem orientada precocemente e altamente potenciada. O mundo percebe sua grandeza e importância mas não assimila rapidamente as suas criações de conceitos e invenções e obras de arte. Nem compreende o que motiva-os a criarem febrilmente (sua doação pela humanidade). Não há ganância, só amor.

Leonardo da Vinci, Blaise Pascal, Isaac Newton são exemplos clássicos.

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Caso 1.d

Nessa situação chega-se ao cume após, mas a demora para se transitar de fase é compensada pelo "plus" de conhecimento intelectual adquirido. Mas essas descobertas, apesar de interessantes, já não são efetivamente úteis para o mundo. No entanto, como no caso 3.b, pode-se auxiliar aqueles que ainda não atingiram a noção da importância do espírito.

Figura 11: Semelhante a 3.b, mas com mais delta
intelectual.
(continua)

SISTEMATIZAÇÃO DO PROCESSO EVOLUTIVO (parte 2.4)

Caso 3.a

Semelhante ao Caso 1.a, exceto pelo fato da amplitude atingida se igualar à média do meio. O que isso diz? Pela minha interpretação significa que foi necessário um alargamento na horizontal - aprofundamento intelectual - para se atingir seu ponto de seletividade consciente. 

Figura 8: Semelhante ao Caso 1.a, com algumas
diferenças.

São pessoa mais práticas no estudo que atingem o nível visto como ideal pelo mundo rapidamente, e tão logo chegam aí se são conta do que realmente importa, passando a priorizar a essência e unificando idéias gradativamente, num passo suave, pouco abrupto, solidificando conceitos e orientando tudo que está ao alcance de seu domínio.

Por terem atingido o cume antes são prestativos.

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Caso 3.b

Semelhante ao Caso 1.b, exceto pela maior amplitude. Nesse caso a trajetória para se atingir o ponto de inversão é lento. Caminham vagarosamente e chegam até o ponto em julgam necessário, que coincide com o do mundo, antes de iniciarem a seletividade consciente. 


Figura 9: Semelhante ao Caso 1.b, com algumas diferenças.
Devido à amplitude atingida ser maior e o delta consciencial os deixar inconscientes em relação ao meio, vê-se que enquanto a sociedade já sintetiza, o ser ainda trabalha na análise minuciosa. O problema desse biótipo é o seguinte: sua consciência estará sempre atrás das (digamos) tendências e idéias do mundo, sendo seu campo de atuação adequado especificamente para auxiliar criaturas de grau consciencial menor - ou que em que esta esteja ainda latente (fase 1).

(continua)

SISTEMATIZAÇÃO DO PROCESSO EVOLUTIVO (parte 2.3)

Caso 2.a

Quando alguém chega ao zênite intelectual portando um grau de consciência igual ao biótipo médio, mas com menor bagagem cultural, existe um menor desequilíbrio. As quantidades (intelectualidade, informações, sensações) a serem conduzidas e administradas pela qualidade (espírito) são menos, e portanto o trabalho consciencial é facilitado. Isso pode ser bom ou ruim.


Figura 6: seres pouco visíveis neste mundo. Equidistantes
dos sábios humildes e gênios equilibrados.
Bom porque o esforço ascensional fica mais claro e os esforços mais orientados. Ruim pelo motivo que a amplitude de influência é menor. Ou seja, você progride substancialmente na mística vertical (interior) mas sua capacidade de influência horizontal via ética (exterior) é reduzida. Poque sabe-se menos sobre áreas visíveis, sentidas e reconhecidas pelo mundo - digamos que há menos "links" entre o ser e o mundo. 

Seres equidistantes dos sábios humildes e racionais equilibrados. Ou nem tão sábios quanto pessoas simplesmente boas, nem tão intelectualizados quanto gênios da arte ou ciência. Compreendem esses dois biótipos supra-normais, sendo capazes de reconhecê-los e captar o porquê de seus atos e pensamentos. Mas não possuem classificação que os destaque, pois toda sua jornada se assemelha à média, não havendo um delta consciencial* que permita perceber claramente sua natureza. 

São humildes num mundo competitivo.
São despercebidos num mundo falante e exibicionista.
São um sucesso na vida pessoal e uns simplórios na vida pública.

Exemplos são mais difíceis justamente por suas características. Cabe ao leitor reconhecê-los em sua vida após ler e compreender os conceitos aqui apresentados.

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Caso 2.b

O caso derivado contrário é quando a amplitude intelectual atinge graus ainda maiores no mesmo ponto. É como se o ponto de saturação desse biótipo fosse acima do limite médio. Trata-se de uma pessoa capaz de percorrer uma vastidão de campos do saber de nosso mundo . A figura é só uma exemplificação, mas a diferença entre amplitudes pode ser tremendamente maior (4:1, 10:1, 20:1,...). Isso gera uma potência maior de contribuição para o mundo em seu nível. 


Figura 7: seres visíveis neste mundo. Equidistantes
dos sábios humildes e gênios equilibrados. Se desgastam.
Isso revela um ser (digamos) com mais potencial de atuação no mundo presente, englobando mais intelectualidade e erudição que a média, mas cuja ascensão individual é desacelerada (reparem nas setas menores) justamente por se dedicar - na 2a fase - mais ao bem comum do que a si mesmo. Isso é bom efetivamente e ruim aparentemente. Porque se doar em prol dos outros, sacrificando sua saúde e tempo por algo maior, unificando conceitos, é uma forma de amor.

No entanto, assim como em 2.a, esses seres são equidistantes dos 1.a e 1.b. Ou seja, vibram em harmonia com o mundo na vertical mística, mas tem mais potencial de aliciamento na horizontal ética.

Se doam num mundo competitivo.
São percebidos mais por sua erudição do que pela sua vontade de unificação.
Podem ser um sucesso na vida pública mas poucas forças tem para a vida pessoal.

Um exemplo que me vêm à mente é o professor Clóvis de Barros Filho, da USP.

(continua)


* Ver figuras 4 e 5. Chamo "delta consciencial" a diferença entre as amplitudes intelectuais    
 atingidas entre um e outro biótipo. 

sexta-feira, 27 de março de 2015

SISTEMATIZAÇÃO DO PROCESSO EVOLUTIVO (parte 2.2)

Caso 1.a

Quando atinge-se um apogeu intelectual menor do que a sociedade / o seu meio vê como importante para o sucesso pessoal, podem haver várias críticas por parte dos amigos, familiares, colegas do trabalho e desconhecidos. A pessoa é vista como pouco ambiciosa por parte do mundo - e portanto menos passível de ser realizada. Tudo isso segundo os padrões vigentes. Você já deve ter ouvido falar de alguém assim na sua árvore genealógica, ou entre seus colegas, ou simplesmente viu ou leu uma história desse tipo em algum lugar: a pessoa que é "menos" para ser mais e fazer mais.


Figura 4: antecipação consciencial sem necessidade de grande
conhecimento. Humildes sábios.
Mas a questão é: o que leva alguém a (por exemplo) deixar a faculdade para se dedicar ao artesanato? Ou deixar de ser um empresário bem sucedido e remunerado para cursar letras ou música ou filosofia (sei lá)? E guinadas do tipo...

Será que essas pessoas encontraram a si mesmas enquanto cumpriam as obrigações que o mundo passado estabeleceu e o mundo presente perpetua? E com isso (esse grande encontro) se descobriram, sendo capazes de orientar suas vidas de acordo com valores íntimos, subjetivos - mas ainda assim usando recursos do mundo.

Essas pessoas provavelmente tem muitos motivos para abandonarem o certo e iniciarem uma jornada incerta. E quanto maior a reflexão pré-abandono e a sinceridade e gosto com que executam suas novas tarefas na sua nova rotina, maiores as chances de terem sucesso e ficarem futuramente conhecidas como aqueles que ousaram abrir caminhos verticais e ascender por eles para iniciar uma vivência em novas horizontalidades, criando condições - antes pessoais e depois, por consequência - para futuros bandeirantes.

Bom, o que ocorre?

O aprofundamento da consciência aliado à ampliação dos horizontes vislumbrados leva o indivíduo a captar a essência dos fenômenos com mais facilidade. Ele consegue intuir como um fenômeno tende a se desenvolver (gênese do profetismo), pois vê com maior profundidade. As causas são menos nebulosas e mais rastreáveis e isso tende a lhe aguçar o gosto pela investigação de si mesmo e dos outros. As relações passam a ser mais intensas e mais sinceras. O uso de recursos mais eficiente, sendo o supérfluo identificado com maior facilidade e o gosto pelo mesmo reduzido cada vez mais. É profunda maturação interior que o exterior nada capta.

Com uma diminuição do conhecimento e um aprofundamento da consciência o progresso se dá mais rápido: concentração gerando potência ascensional. Isso é simbolizado pelas setas vermelhas, que simbolizam velocidade ascensional - inversamente proporcional à amplitude intelectual horizontal.

No caso "normal", a potência ascensional ainda estaria desacelerando e seria menor, até chegar ao ponto máximo, onde as setas verdes representam uma taxa de conscientização menor devido ao gasto de energia maior com as externalidades do mundo (sensitivo-intelectual).

Dessa forma, enquanto o trajeto azul atinge seu zênite intelectual e passa a ser guiado pela consciência, o trajeto laranja está ardendo por ascensões, altamente potenciado e cada vez mais realizado, se lançando a empreitadas evolutivas ousadas.

Quem segue esse trajeto se concentra mais em si do que no mundo, mas justamente por isso é quem mais pode ajudar o mundo. O pouco estudo que tem é suficiente para mover alavancas, pois é um pouco material sustentado por um intenso espiritual.

Ou, como Huberto Rohden disse:

Nada pode esperar o mundo do homem que algo espera do mundo.
Tudo pode o mundo esperar do homem que nada espera do mundo.

Nesse caso, quando um pequeno y e pouco x já causa o início do processo de seletividade consciente, tem-se uma criatura de enorme humildade e simplicidade, voltada para o interior, capaz das maiores descobertas sem as ferramentas e métodos do mundo. É o caso dos santos e místicos.


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Caso 1.b

Esse caso seria idêntico ao anterior, exceto pelo fato de ter seu zênite atingido após a referência (normal).

Trata-se de pessoas menos preocupadas em aumentar sua taxa de conhecimento, estudando lentamente, conhecendo o meio e os fenômenos lentamente, racionalmente, sem muito desgaste, de forma a não perder o equilíbrio comum a muitos nesse mundo à beira do colapso psíquico-nervoso.

Figura 5: caminhar vagarosa pela intelectualidade
ao passo que consciência cresce. Racionais equilibrados.
Caminhar devagar na assimilação do mundo e no desenvolvimento da técnica indica maior introspecção e menor extroversão. Ser menos competitivo e que no entanto, por mais tempo, se desenvolve no universo intelectual. Minha idéia é que nesse caso devem haver muitos ateus porque a sua consciência elevada ainda não foi assimilada pelo concentrado intelecto, e portanto, apesar de bons e operários do progresso, não estão compreenderam o aspecto místico-unitário do Universo e de cada vida. Mas isso não lhes impede de serem criaturas que agem de forma mais sensata do que muitos "crentes" e "sapientes".

Quando pessoas desse tipo atingem o máximo intelectual, o saber externo deixa de ser prioridade - apesar de ainda ser útil e interessante - e sua alta consciência lhes permite potenciar enormemente sua jornada ascensional. É um grau no qual a busca por novas idéias e a aquisição de concepções é tremendamente veloz. Pura emoção. Pura energia convertida em iluminação interna e (depois) externa.

(continua)

SISTEMATIZAÇÃO DO PROCESSO EVOLUTIVO (parte 2.1)

Já comentei sobre os absolutos (fixos) do nosso diagrama e o inexorável caminho transformista que permeia a vida de todos seres humanos. Agora quero comentar sobre os modos - ou possibilidades - de seguir esse caminho. Ou seja, as formas de se atingir o mesmo fim individual.

Quero lembrar mais uma coisa: cada estágio máximo individual difere do outro. Faço isso para que tanto a concepção de Ubaldi quanto a de Rohden estejam de acordo com minha idéia, e principalmente porque acredito nelas. Isso significa que quando atingirmos o ápice da nossa espiritualidade estaremos ocupando uma hierarquia específica no Sistema*.

Primeiro ponto
Através do diagrama da Figura 2 (parte 1) observa-se que existem duas variáveis que podem ser alteradas em relação ao diagrama-referência (azul): a amplitude horizontal máxima (x) e o estágio (y) em que ela ocorre.

Note que uma vez cientes do máximo conhecimento x, sabemos qual é a consciência y.
Ou seja, uma variável está em função da outra.

Aliás, em todo diagrama elas se relacionam. E essa relação pode ser vista por dois pontos de vista:

y = f(x)     -->  Consciência em função do Conhecimento                                 (I)

e

x = f(y)    --> Conhecimento em função da Consciência                                   (II)

Eu sei que entrar com a matemática e termos desse tipo pode parecer uma tentativa de elucubração desnecessária, mas peço paciência. Logo adiante ficará claro o porquê de eu estar recorrendo aos conceitos lógico-matemáticos.

Por que eu optei por representar uma mesma relação de duas formas?
Oras, se sempre se fala aqui na importância de reduzir tudo à sua essência, isso só pode indicar a necessidade de ter uma visão Onilateral** (Rohden) das coisas.

Repare: quando algo está em função de outra considera-se que uma (ou múltiplas) variável(eis) dependente(s) se alteram em função de uma (ou múltiplas) variável(eis) independente(s).

Ou seja,

v.dependente = f(v.independente)

Por isso uma está em função da outra.

Ou seja, quando na mesma relação eu inverto o papel que acada variável cumpre, altero as prioridades sem negar uma ou outra necessariamente. 

Traduzindo para o português: mudo o ponto de vista: da vida, das relações, dos amores, dos amigos, do dinheiro, do trabalho, do estudo,...

A minha visão é a seguinte: na primeira fase da evolução humana o conhecimento irá guiar a consciência. Ou seja, o menos (intelecto) inconscientemente irá guiar o mais (espírito). Na segunda fase (ponto de epifania) o mais passa a guiar o menos - como deve ser.

Dessa forma a relação (I) predomina na Fase 1, enquanto a (II) lidera a Fase 2.

Creio que a humanidade esteja caminhando para o ponto em que haverá essa inversão de prioridades. A própria inteligência (inconscientemente) está nos levando a isso (graças a Deus!).

Como Rohden brilhantemente sintetizou:

Lúcifer guiando Lógos é Satan.
Lógos guiando Lúcifer é Angelos.


Segundo ponto
Visto que o máximo de x e a altura em que ele ocorre podem variar, conclui-se que existem três casos subdivididos em oito:

1. Diferenças em amplitudes (x) e pontos de máximo (y) - para mais ou para menos (4X).

2. Diferença em amplitudes (x) e mesmo máximo - para mais ou para menos (2X).

3. Diferença de pontos de máximo (y) e mesmas amplitudes - para baixo ou para cima (2X).

O 1o caso tem o dobro de situações que os outros porque as duas grandezas são tomadas como variáveis.

Separei-os e nomeei-os, conforme a Figura 3 mostra.


Figura 3: casos a serem explicados e exemplificados.


Decido deixar os casos para o próximo texto a fim de não cansar aquele que chegou até aqui - com muita paciência.

(continua)


Observações
* Para compreender a essência do vocábulo recomendo a leitura dos volumes O Sistema: gênese e estrutura do Universo e Queda e Salvação. De forma geral podemos traduzir "Sistema" por "Paraíso" e "Anti-Sistema" por "Nosso mundo interior atual", podendo ser um "inferno" ou "purgatório".
** Onilateral = de todos os lados

quinta-feira, 26 de março de 2015

SISTEMATIZAÇÃO DO PROCESSO EVOLUTIVO (parte 1)

A realidade se torna mais clara à medida que vivenciamos períodos de incertezas e dores. Os conceitos fundamentais trabalhados no passado se tornam uma plataforma para o desenvolvimento e sustentação de idéias mais elaboradas. E assim se dá a evolução.

Nunca me planejo para escrever um texto. Nem defino quando farei isso. Já comentei sobre a dinâmica do processo interno que me leva a esboçar conceitos [1]. É algo simples e complexo ao mesmo tempo. Simples porque não exige uma dolorosa sistematização ou estudo de um tema que minha vontade não sente atração; e complexo porque um método (aparentemente) desorganizado, partindo apenas de conceitos fundamentais, - tão básicos que qualquer ser humano seja capaz de se interessar - leva à elaboração de ensaios, críticas e poesias que tangenciam todas esferas do saber e sentimento humano, orientando uma infinidade de protagonistas harmonicamente em torno de um eixo diretor central. Eixo orientado num sentido para um único e indefinível destino: o infinito.

Há algumas semanas apresentei uma visão do processo evolutivo do ser humano tendo como ponto de partida o ato de leitura [2], usando-o como exemplo para definir como se dá esse processo nos - em seu aspecto mais amplo e substancial. Para sintetizar tudo me veio à mente duas pirâmides que se interfaceiam em sua base. E projetei-as num espaço bidimensional, obtendo dois triângulos*. Com isso entro com os conceitos de expansão inconsciente e seletividade consciente.

A finalidade era demonstrar que nós (eu, você, seu vizinho, colega de trabalho, parceiro, parceira, pai, mãe, filho, etc), de forma geral, adotamos duas posturas (fases) rumo à sapiência máxima: a primeira é o desenvolvimento do intelecto, pautado pela busca incessante do conhecimento e elaboração de conexões entre fenômenos e acontecimentos. O foco é no mundo externo; a segunda consiste num mergulho interior, pautado na descoberta de uma natureza substancial e íntima do ser. Nela o conhecimento é meio para o aperfeiçoamento do ser, que por sua vez passa a sentir um princípio diretor (antes irresistivelmente inconsciente, depois seguramente consciente), e caminha em direção a ele focando mais a qualidade do que a quantidade. O foco é o mundo interno.

Quando me refiro à qualidade não faço referência àquela qualidade que os "mais refinados" ou "diplomados", ou "vividos", ou "sofisticados" possuem e gostam de exibir - nos momentos seguros, para o público "adequado". A qualidade concebida aqui é aquela na qual se prioriza o Ser em detrimento do Ter.


Enquanto a qualidade do mundo é um Ter ou Agir mais elaborado que os outros Teres e Agires,
a qualidade concebida aqui é um Ser mais auto-realizado do que era antes, e portanto menos dependente dos Teres ou Agires - "sofisticados" ou não. 

Dito isso podemos continuar.

A pessoa que leu (ou releu) o texto em questão [2] deve sentir a importância do transformismo no processo evolutivo individual. É essa consciência que levará a pessoa a reconhecer ter chegado ao zênite do intelecto - ou ter previsto que existe um limite para o desenvolvimento do mesmo. E logo, a partir de um ponto, deve começar a desenvolver uma nova "inteligência", localizada em outro plano, que no nosso mundo pouco se assemelha com a primeira: trata-se da intuição ou consciência. Essa noção é tratada em outro momento, aqui neste espaço [3].

O indivíduo que leu e sentiu a realidade manifestada nas três referências poderá compreender melhor o raciocínio prestes a ser esboçado aqui.

Uma boa dose de vivência profunda (dor) e uma postura filosófica também ajudarão. Quem possuir isso está apto a corrigir, questionar, melhorar, ou tudo isso, o esboço prestes a ser apresentado.

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A título de facilitar a compreensão optei por dividir este ensaio em três partes.

1.  A primeira faz uma revisão de conceitos e introduz o porquê do tema, além de explicar os  
fundamentos do diagrama-mor, base de todos os outros;

2.   A segunda percorre cada caso, explicando e exemplificando, de forma a encaixar o abstração vista
aqui nas particularidades da vida de cada pessoa, independentemente de sexo, crença, ideologia, classe       social, desejos, orientação sexual, grau de instrução, idade, saúde ou qualquer outra característica que
nos diferencia pela forma;

3.  A terceira apresenta possibilidades de extensões, e incentiva idéias para tornar essa visão útil para a
realidade que nos cerca, podendo servir de base para projetos e estudos em áreas de conhecimento
como a pedagogia, a psicanálise, a filosofia, as ciências sociais, a economia e talvez até as ciências
naturais.

Dessa forma a leitura ficará menos entediante e a assimilação mais efetiva. Faço uso de várias figuras que sintetizam os conceitos, sendo a base de todas figuras (Fig.1) o esboço já apresentado anteriormente [2].

Figura 1: diagrama original. A idéia partiu daqui. 
Uso o caminho expansivo-contrativo (azul) de referência e insiro um outro (laranja degradé**).
Este segundo caminho irá variar em forma à medida que explico as possíveis situações. Ele representa as possibilidades evolutivas características a cada ser.

É importante ressaltar o seguinte: cada "pirâmide" deve ser aplicada a um indivíduo, pois o progresso do ser é individual - só você pode fazer algo efetivamente por você. os outros podem ajudar, mostrando o caminho e dando dicas. mas a conquista, a travessia, é única e exclusivamente sua.

Cada processo evolutivo (azul e laranja) tem sua dinâmica própria.

O que ambas (e todas) jornadas tem em comum é o fato de partirem da ignorância inocente e terem como destino (realizável ou não***) a sabedoria cósmica. 

Esses percursos, ao invés de serem considerados numa trajetória individual absoluta, podem ser considerados em termos relativos. Ou seja, a sapiência máxima pode ser encarada como o máximo grau de sabedoria adquirida em vida. Ou seja, mede-se sapiência relativa e intelectualidade (expansão máxima) relativa. Os possíveis empecilhos ao fazer essa projeção são: podem haver pessoas que sequer atingiram o zênite da intelectualidade, e portanto sua avaliação será incompleta.


Quero ressaltar: 1) que os diagramas são universais, aplicáveis a todos seres passíveis de conscientização (nós humanos e outras humanidades), e 2) que eles devem ser vistos sob um prisma telefinalístico e individual, não servindo de base para comparações entre seres - finalidade contraproducente para nosso estágio evolutivo, altamente egoístico, incluindo aquele do autor.

Figura 2: desenvolvimento da idéia. 
Falei sobre os pontos de partida e chegada comuns (ignorância inocente e sabedoria cósmica).

Outro ponto em comum é que ambas possuem duas fases: expansiva-contrativa. Consequentemente, existe um zênite também.

E finalmente: ambas (todas) são guiadas por um eixo-diretor central, que conecta diretamente pontos de chegada e partida.

Essas invariâncias representam absolutos, e portanto são a espinha dorsal que guia nossas vidas. Logo, são ideais, perfeitos e invariáveis para nós.

O ponto de partida é a ignorância e inocência. Pode ser vista como o período em que estávamos nas cavernas e mal nos diferenciávamos dos mamíferos. Era a época do animal-homem. Já o ponto final é a nossa meta longínqua. É a auto-realização. A utopia individual. A paz. 

As fases se referem à natureza de cada processo. Ou melhor, o tipo de mentalidade que impera em cada um. Na expansiva ganhamos em conhecimento, aumentando o saber intelectual, a erudição, o raciocínio racional-analítico. Em suma, alargamos nosso campo, mas com isso dispendemos energia para administrar todo esse saber. Nessa fase não temos ainda noção do eixo diretor que está nos guiando - majestosamente - apesar de sentirmos uma necessidade de orientação global. Esse eixo puxa os extremos e nos faz perceber que o mais do nosso mundo é o menos do mundo futuro, e o menos desse mundo é o mais no mundo futuro. Inicia-se a segunda fase, na qual o foco será o caminhar para frente, sintetizando todo o saber adquirido. Mais vivência, menos discurso. Mais aplicação, menos teoria. Mais eficiência, menos desperdício.

O ideal seria partirmos do início e caminharmos diretamente ao final, numa linha reta, sem expansões - e consequentes contrações. Mas a natureza involuída inicial torna essa possibilidade irrealizável, e portanto essa reta representaria o ideal absoluto de evolução: nenhum desgaste, toda velocidade.

Você já deve ter visto (ou ouvido falar de) pessoas com pouco estudo e que vivem em meios menos favorecidos possuidoras de uma concepção de mundo muito à frente da média "educada" (professores universitários, dirigentes empresariais, sacerdotes ou pessoas "estudadas" como nós). Mesmo sem usar jargões específicos ou mesmo palavras do nosso universo "relativamente culto", elas conduzem suas vidas de maneira sábia - ou muito mais sabiamente do que muitos "à frente". Pois bem, essas pessoas aparentemente não necessitaram passar por um processo de instrução escolar intenso e sistemático para assimilarem as verdades essenciais da vida. Ou pelo menos não precisaram ir tão longe quanto alguns para chegarem às mesmas conclusões - ou algumas melhores ainda. Esses seres atingiram o (seu) zênite intelectual antes de outros, e iniciaram um processo de evolução em outro campo, pois perceberam que aquilo que realmente conta é SER bom - o resto vem como consequência na medida do necessário. Na figura, eles iniciaram a segunda fase (B) enquanto outros estão na primeira e longe de iniciarem a sua própria (B).

Quais as implicações disso?

Bom, enquanto o azul se expande, estudando mais o universo exterior, o laranja se contrai, se preocupando com o universo interior. O segundo se desgasta menos em sua jornada porque o tempo e energia e pensamento e emoções que gasta com o universo externo é menor do que o primeiro, sobrando energia para intensificar sua ascese mística.

No entanto não tenho o intuito de desqualificar o estudo. Digo apenas que os caminhos para a sapiência - e consequente felicidade do ser e seu entorno...os outros seres - vão além da mente sensitiva-intelectual. Os métodos intuitivos-sintéticos são atualmente menos sistematizáveis e portanto analisáveis. A mente do presente é incapaz de aceitar o que não consegue conceber. A mente do futuro saberá por vivência. Caminhará orientada e consciente. Não negará o hoje mas superá-lo-á graciosamente. 

O eixo diretor é o que liga a imanência de Deus (nosso interior) com Sua transcendência (o centro de tudo, nossa finalidade). É um eixo energético que puxa, ora amorosamente, ora violentamente, nós seres decaídos em busca da perfeição perdida. 

Conforme será visto, existem vantagens e desvantagens em expandir a intelectualidade antes de se iniciar a espiritualidade. 

Podemos considerar a largura horizontal (o conhecimento, x) como a matéria-prima para evolução interior (vertical) e a posição vertical (espiritualidade, y) como o grau de conscientização. Isso significa que a consciência já se inicia na fase 1. No entanto, ela não é suficientemente forte para guiar a si mesma, e portanto o Ser sofre mais influências do mundo externo por desconhecer o seu Eu interno (potência divina) do que é capaz de guiar a si mesmo.

Como essa incapacidade inicial (y=0) é natural pode-se afirmar que é necessária; e igualmente é natural (e necessário) a expansão lateral inicial (x crescente). Eis o porquê da impossibilidade lógica de ascendermos em linha reta.

Reparem que x parte da nulidade, chega ao zênite e volta a nulidade. Isso não significa que toda essa jornada foi em vão, pois o que importa é ter recuperado a sapiência cósmica, representado pelo maior valor de y. O intelectual serve o espiritual. Apenas a partir de um patamar tomamos consciência disso e passamos a dar valor real às coisas efetivamente importantes.

Minha crença é que as formas de vida infra-humanas possuem uma ascensão destituída de evolução psíquica-nervosa como a humana, sem expansões-contrações, e portanto sendo caracterizadas por um ponto localizado na parte inferior de nosso diagrama.

É claro que em termos de evolução darwiniana (orgânica) os animais e plantas evolvem. Ou seja, o mundo sensório pode se tornar mais refinado, mas essas criaturas são destituídas de livre-arbítrio.

Todas essas idéias, se corretas, não justifica nenhum mal-trato a outras formas de vida. Querer se impor aos outros (humanos ou infra-humanos) apenas para satisfazer o ego ou instintos baixos não é sábio.

No próximo texto pretendo iniciar a exemplificação e detalhamento dos casos que irei apresentar.

(continua)


Referências:

[1] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2014/09/impulsos-virtuosos.html
[2] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2014/11/um-ciclo-duas-fases-piramide-expansiva.html
[3] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2015/03/nocao-de-transformismo.html

Observações:

*      Utilizei uma imagem 2D para evitar complicações e assim apresentar a idéia da forma mais atraente
         e clara possível. Futuramente talvez me venha um motivo que leve a utilizar um diagrama 3D.
**    Degradé é uma gradação de cores, na qual o que é intenso vai se enfraquecendo...frescura de      
         linguagem da minha parte... ;)
***  Huberto Rohden ressalta o caso da imortalidade. "O ser humano é imortalizável mas não é            
        necessariamente imortal". Isso significa que somos capazes de tornarmos nossa alma imortal, mas
        para isso devemos atingir alto grau de consciência antes que nosso corpo astral (entre o orgânico e o         espírito) se desgaste. Isto é, o nosso corpo orgânico se desfaz mas o corpo energético (mente)  
        novamente forma outro (orgânico); ao longo de milhares e milhares de anos esse processo continua,
        mas o corpo energético também se degrada - a uma taxa muito mais lenta que o orgânico. Logo, este
        segundo corpo deve formar o último (espiritual, este sim imortal) se deseja se imortalizar. Para mais         detalhes recomendo o estudo das obras de Rohden. E muita vivência.


quarta-feira, 25 de março de 2015

ENTRE DUAS HIERARQUIAS, UM ÚNICO CAMINHO: DEMOCRACIA

Existe um (aparentemente) eterno embate entre aqueles que creem num sistema de hierarquias e aqueles que defendem um sistema democrático. Digo creem para um grupo e defendem para o outro porque usualmente os primeiros se apoiam em ensinamentos religiosos enquanto os últimos fazem uso de argumentos e se apoiam nos progressos humanos em todos os campos. Duas formas diferentes de lutar por uma concepção de mundo. Parto desse ponto.

Onde quero chegar? Onde queremos chegar? Onde devemos chegar?

Se cada um há de querer uma finalidade última diferente das demais, o alinhamento entre os diferentes não será realizável, e o embate será eterno...

Se cada um se sacrificar inconscientemente por uma pseudo-finalidade última, igualando forçosamente seus objetivos com uma (imposta) meta comum, chegar-se-á a um alinhamento frouxo que logo se desmaterializa...

No primeiro caso temos democracia pura que ignora o porquê de sua finalidade; enquanto no segundo caso temos hierarquização pura que ignora a imperfeição humana presente e portanto o transformismo que rege o mundo humano.

Existem duas hierarquias: a Divina e a humana. Imaginamos e sonhamos pela primeira, mas somos incapazes de elaborá-la aqui na Terra em seus menores detalhes. Esforços titânicos de mentes iluminadas foram feitas para nos aproximarmos um pouco (só um pouco) de um sistema de ordem ideal, justo, pacífico, harmônico. Portanto, não podemos afirmar que as hierarquias que organizamos aqui chegam ao nível de excelsitude da ordem celestial. No entanto, a hierarquia última (a justa, a divina) serve como referência.

Uma pessoa sapiente vê e sente a Ordem do Universo infra-humano, mas percebe desordem no universo humano. O físico opera com perfeição, o metafísico com problemas.

Mas ocasionalmente chegamos num ponto da história em que aparentemente chegamos ao sistema perfeito - relação perfeita, profissão perfeita, sucesso material definitivo, conhecimento máximo, etc. Mas o correr do tempo revela a insustentabilidade de nossa "perfeição" e o que era "absoluto" se desagrega. Ilusão por falta de visão...

Ora, se devemos alcançar hierarquias cada vez melhores, mais justas, menos passíveis de criarem dissensões e ignorância, deve-se ter a sensatez de admitir que os sistemas e instituições mudam com o passar do tempo. Se metamorfoseiam de acordo com as necessidades humanas e sua capacidade intrínseca em elevar a realidade a um nível mais próximo do ideal. É aí que entra a democracia.

O advento da democracia é uma das maiores conquistas humanas. Ela serve de plataforma para alcançarmos regimes colaborativos cada vez mais perfeitos.

Vale aqui uma observação:

A democracia não é um sistema político-econômico em si. Ela pode estar inserida no mesmo e ser usada para transformar esse mesmo sistema, abrindo portas para outras possibilidades. No entanto as forças sociais sempre estão presentes (e cada vez mais) no processo democrático. Isso significa que numa democracia, teoricamente, as forças sociais são o carro-chefe da transformação social e consequentemente dos sistemas político e econômicos.

FORÇAS SOCIAIS --> SISTEMA (POLÍTICO-ECONÔMICO)

Alguns podem estar se perguntando: "mas a democracia não envolve política?"
Claro. Mas a política deve ser ferramenta para a manifestação e organização social, servindo aos interesses coletivos. Da mesma forma, o poder econômico (capital) tem sua função revista de acordo com as necessidades dos seres, que compões a sociedade.

Vale ressaltar que a transformação efetiva se dá no próprio ser. Um trabalho interior psíquico-nervoso-consciencial intenso é o primeiro passo antes que sejam dados passos no mundo externo, da atuação inter-seres (social). Isto é, o social deve ser trabalhado à medida que desenvolvemos o nosso indivíduo.

A Islândia dá os primeiros passos rumo a um modelo
verdadeiramente democrático: poder do povo para servir o povo.
Povo composto por seres. O Ser é a finalidade. O
mercado é o escravo do Ser. 
Dito isso percebe-se que uma sociedade sem democracia tende a se sentir insatisfeita. Mas ao mesmo tempo uma falta de hierarquia total tende a desorientar a evolução. Mas ambos são importantes. O que fazer então?

A questão é simples quando nos tornamos conscientes da realidade profunda e a telefinalidade da vida.

Montamos hierarquias (sistemas e instituições) para consolidarmos o que períodos de dinamicidade* nos trouxeram. A questão é: enquanto essas hierarquias se mantém estáticas - e portanto são porto-seguros para os biótipos médios, a imensa maioria - o indivíduo evolui. Seu intelecto se dilata lentamente. Sua consciência igualmente, a uma taxa muito mais lenta. E com isso o que era ideal e bonito e adequado às suas necessidades se torna uma ameaça à evolução. Logo, novas revoluções, novos embates, novas empreitadas...

Mas certos seres chegam a um estado elevado rápido, transcendendo a si mesmos, sendo antecipações biológicas em plena realidade concreta (o poeta místico de Assis, o místico da Umbria, o Nazareno, o filósofo da metrópole, o cientista da província...). E eis que lançam-se as bases para ulteriores ascensões humanas.

Vivem na Terra com o Céu dentro deles.

Outros seres, muito iluminados, mas não ao nível místico-profético, realizam ensaios arriscados, mesmo sem saber o porquê de o fazerem às vezes. Eles concebem mais, mas no entanto são incapazes de transmitir bem a sua visão e sentimento em palavras ou teorias ou tratados. Eles sentem o outro mundo e encontram soluções gerais para este. Ás vezes até conseguiriam operar para a transformação, mas faltam as adequadas instituições para lhes garantir a sua atuação.

Vivem entre o Céu e a Terra dolorosamente.

A democracia é concebida por nós para servir de meio para chegarmos a um estado orgânico ideal (fim). Mas esse fim está longe, muito longe. E portanto o exercício da democracia deve ser cada vez mais intenso, abrangente, sincero e pautado numa visão telefinalística da vida e suas relações.

Entre o infinito da hierarquia humana, cheia de defeitos, e a hierarquia divina, justa, está a democracia.

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Hierarquia humana (-) --> Democracia --> Hierarquia humana (+)

Ser (-) --> Ser (+)

Hierarquia humana (+) --> Democracia --> Hierarquia humana (++)
...
Hierarquia humana quase-perfeita --> (nenhuma organização externa) --> Hierarquia Divina
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Que grande abismo separa as duas hierarquias!

Que homérico trabalho para a Democracia...

No entanto ela é O caminho laborioso que nos levará a organizações cada vez melhores. Para tudo e todos.

Revolução Francesa: dor necessária para ascender.

A democracia, para funcionar bem, deve cada vez mais, deve se aproximar daquele conceito teorizado pelos gregos. Ela deve ser expandida e consciente. Deve ter orientação teológica sem se prender a religião. Deve aceitar e conversar sobre insurreições. Deve levar o poder social (o povo) ao controle pleno dos aparatos políticos (estados) e econômicos (capital).

Porque tudo nasce do Ser e volta ao Ser...
Sendo o progresso e felicidade deste o fim que nos levará ao Grande fim - que quando estivermos lá revelará mais finalidades...

Eis a grande síntese a ser apreendida pelas antíteses.

Em milênios e milênios chegar-se-á num ponto em que nem sequer teremos as formas de organização presentes.

As Leis não serão necessárias para que cumpramos a Grande Lei.
Lei  que estará visível a todos e sentida por todos.
Lei inscrita no Ser desde o princípio, revelada à medida que as dores martelam a alma, impiedosamente mas justamente.

Hierarquia Cósmica: a nossa será bela como dos astros, mas
melhor porque atingida via livre-arbítrio.

* essa dinamicidade muda sua forma de atuação com o tempo: no passado fazíamos guerras para evoluir; depois passamos para a era das revoluções físicas; agora estamos na era do debate plural e expandido (democrático), que tenta assumir formas cada vez próximas ao ideal republicano concebido por Platão; e por aí iremos...

terça-feira, 24 de março de 2015

SOBRE SEGUIR SUA CONSCIÊNCIA E NOVOS SISTEMAS

Existem pessoas que acreditam que não entrar na onda da (quase) unanimidade de pensamento que domina numa determinada época e/ou local significa ser diametralmente antagonista a essa onda. Ou seja, negar tudo que afirma e desejar combater seus componentes. Observação muito superficial para aqueles que transcenderam o intelecto.

"Ou você é 100% A ou 100% B."

Mas no fundo tanto o A quanto o B tem sua parcela de verdade (e ignorância). E ambos estão perdidos num vasto oceano onde só existem (ou melhor, são reconhecidas) provas, análises e erudição intelectual.

Não aderir a certos movimentos cegamente por considerar que estes são - em sua essência - apenas massa de manobra arquitetada por agentes econômicos poderosos é sinal de sapiência. Significa não seguir a onda da forma mental dominante. Significa perceber o jogo de forças agindo silenciosamente no subterrâneo - jogo que na superfície assume as formas mais belas e aceitáveis, e portanto capaz de aliciar os mais diversos membros. Não me refiro a não seguir simplesmente por ser "do contra" ou por ter alguma relação egoísta relacionada ao alvo do momento, e sim por sentir um quê de vazio em participar de algo que o fundo da alma rejeita.

Para quem deseja compreender melhor do que estou falando recomendo que leiam o último artigo do Mino Carta [1].

Anne Frank: disse tudo!
Que fique claro: Não se trata de apoiar ou descreditar nenhum grupo, e sim de revelar a dificuldade de expandir nosso campo conceitual e abandonar a forma mental que formamos (ou que nos é imposta, discretamente). O texto que recomendo pode ser visto como uma exemplificação dos conceitos apresentados aqui. Esta referência ajudará a compreender o texto abstrato, enquanto este dará uma visão telefinalista para aquele.

BLOG --> TEXTO     (SÍNTESE --> ANÁLISE)

TEXTO --> BLOG     (ANÁLISE --> SÍNTESE)

Na análise - como se sabe - trata-se de temas específicos. Portanto o exemplo que peguei se encaixa perfeitamente na síntese, que é universal e imparcial; assim como qualquer tema. Mas sob a ótica de uma análise (uma área do conhecimento, por exemplo, as ciências térmicas), é impossível englobar o Todo.

Eu particularmente não pretendo me enveredar pelos caminhos da ciência política ou econômica. Este blog (creio eu) é mais universal - e portanto poderoso - do que isso. O que não implica que a política e a economia estejam desvinculados dos grandes temas aqui tratados. A diferença é que os temas lidam com a essência, a síntese, trabalhando com o universo intuitivo; ao passo que as especificidades de nosso mundo lidam com os teoremas, a análise racional, trabalhando com o universo intelectual. Ambas são importantes. Mas o nosso mundo está dando sinais de saturamento intelectual, clamando inconscientemente por algo a mais: a consciência.

De acordo com Ubaldi existem diversos níveis evolutivos:

SENSÓRIO --> INTELECTUAL --> CONSCIENCIAL --> MÍSTICO -->...

Em seu terceiro livro, Ascese Mística, ele não soube conceber o que havia além do nível místico-unitário, mas afirma a possibilidade de haverem níveis além de sua visão.

Nós estamos no segundo nível. Depois de tantos séculos e milênios...Eis como a evolução efetiva se dá a passos de tartaruga.

Lentos mas firmes...

Os diferentes finitos orbitando em torno do infinito.
Orientados por ele, agindo por conta própria.
Quando muitos afirmam que uma pessoa é "burra" não sabem o que dizem. Essa pode ser uma visão relativa ao que ela viu no outro, ao que disseram do outro, ao que os métodos atuais de avaliação extraíram - e diagnosticaram - do outro. Além disso, incorre-se ao erro de considerar o outro ser como uma entidade estática, cujas aptidões e sensibilidade são invariáveis no tempo. E o ser que afirma (ou pensa) a "burrice" de uma classe ou pessoa ou povo ou etc na verdade nada mais faz do que revelar a sua própria.

Muitos são inteligentes. Sabem explicar e provar e argumentar. Tão sedutor é o campo mental que muitos entram no campo de batalha armados de intelectualidade para vencer os outros (igualmente armados dela).

Quem entrou no campo consciencial pode não ter a mesma potência intelectual de seus vizinhos terrestres. Portanto, é incapaz de provar ou argumentar com a mesma elegância e eloquência algo que é uma verdade universal. Logo, esses seres partem para o refúgio e interagem com o mundo na medida do necessário, garantindo seu sustento físico. São pessoas calmas e serenas que não tomam posição e pouco interagem com o mundo que acontece.

Ser consciente e não ter o intelecto desenvolvido como o dos leões do mundo demanda resignação.

Ser intelectualmente rico e inconsciente arrasta o ser para a luta competitiva.

Ser consciente e intelectualmente alinhado - mesmo que em pequeno grau - impulsiona o ser a desejar construir pontes entre os dois mundos.

 A consciência permeia o intelecto. Início de uma ascensão humana integral.

Nem isolamento consciencial-resignado passivo,
O livro desmistifica o que o mundo
tenta consolidar. O perigo do livro: ser
 interpretado erroneamente por introduzir
conceitos universais.
Nem luta intelectual-destrutiva ativa.

E sim consciência trabalhando no mundo via intelecto, guiando-o.

Voltando ao tema...

O momento atual é polarização. O problema: achar que cortar um elemento ou grupo resolverá o problema substancial. Não. A forma mental continua a mesma, e com isso o sistema que opera segundo ela e a estrutura que o sustenta continuam iguais. Muda-se a forma. Apenas.

Outro ponto: o ódio é comumente manifestado de maneira a parecer desejoso pelos mais altos ideais. Não quero dizer com isso que as afirmativas belas sejam inválidas, e sim que elas podem ser usadas para manter tudo como está.

O problema de alguns leitores está em querer usar o parágrafo anterior para desqualificar EM SUA ESSÊNCIA ideais que tentaram ser implantados no século XX. Igualam a substância à forma. E com isso se prendem à sua forma mental.

Vale lembrar que os seres não são estáticos, e consequentemente os sistemas que os governam. Uma idéia acima no nível biológico dos seres que a implementam levará facilmente a uma catástrofe. O biótipo  presente não consegue criar e viver em tal sistema, mas apenas idealizá-lo.

Quando ideais começam a ser concretizados existem sinais de que o sistema atual inicia o seu saturamento. Mas como a consciência se dilata lentamente e a mídia, - órgão em sua maioria engessado e liberalmente autoritário contribui para frear o despertar espiritual, julga-se (precipitadamente) que os ideais do passado (passado ou presente?) devem ser esquecidos. Conformismo. Falta de vontade de trabalhar de fato. Fugir ao verdadeiro desafio: trabalhar criativamente no campo social, psicológico, filosófico.

O ideal é sempre ideal.
A implementação do mesmo muda com o tempo.
Ontem desastrosa, hoje repensada, amanhã concretizada.

Escravismo, Feudalismo, Capitalismo, Socialismo,...

O homem sempre desejou mais bem-estar e felicidade em seu íntimo. O escravismo, o feudalismo e o capitalismo foram capazes de propiciar isso.

Mas vejam: eu afirmo isso e muitos vão achar absurdo que a escravidão e o feudalismo foram bons. Mas foi justamente do feudalismo que chegou-se ao capitalismo (por pior que muitos julguem a Idade Média). A questão é que o ser humano sempre irá fazer aquilo compatível com seu nível biológico.

Não se deve culpar a fera por ser fera.
Quem está acima não julga ou culpa. Pode no máximo constatar.

Da mesma forma que na época julgava-se o feudalismo o melhor tipo de organização, amanhã pode ser que o capitalismo seja uma forma primitiva de conceber as relações (ou falta de...).

A questão é a seguinte: É fácil afirmar o que está em voga e parece inexorável e insubstituível; Difícil é conceber novos patamares, pautados por novas relações e prioridades, sem ignorar as coisas boas do mundo presente, e trabalhar para o mundo perceber isso.

Arrisco afirmar que o socialismo, em sua essência até hoje não praticada - mas cada vez mais assimilável e praticável - será o próximo sistema político-econômico. Um socialismo corrigido, englobando não apenas a sociedade, mas toda a fauna e flora e fenômenos físicos. E não será o último. Apenas mais um grande passo rumo à perfeição.

(Obs: Neste ponto, antes de causar divergências, recomendo fortemente a leitura de obras de Bertrand Russell e Noam Chomsky [2].)

Muito além deixarão de haver organizações e tudo funcionará sem leis.

Somente a Lei de Deus, revelada em cada Ser, bastará.

Ela é Tudo e é Simples para aqueles que atingiram sapiência...

Como eu disse em outro ensaio, o TER deve servir o SER. Mas - como se vê - isso não implica na eliminação do velho.

Quando a humanidade incorporar em sua alma essa noção de transformismo, a verdadeira revolução terá início. A revolução consciencial que demarcará a fronteira entre os futuros saltos pacíficos e os passados saltos violentos.

Nós somos mais do que sabemos.
Nós podemos mais do que queremos.
Nós seremos mais do que somos.

Estamos em transformação rumo à fonte Infinita.


Referências
[1] http://www.cartacapital.com.br/revista/842/o-brasil-explica-a-si-mesmo-8290.html
[2] De Russell, Elogio do Ócio; de Chomsky, Notas Sobre o Anarquismo - nada de
      radicalismo ou apologia ao nada-fazer...creiam em mim.