quarta-feira, 24 de junho de 2015

REFORMA ÍNTIMA INTEGRAL

Pode parecer contraditório para muita gente o termo "psicologia-social". Não pelo fato da sociologia ou psicologia serem antagônicas por definição*, e sim porque ao longo das últimas décadas a aplicação de cada uma dessas ciências vêm revelando um caráter exclusivista - e não inclusivista, como deveria ser. Logo, não posso deixar de perceber uma postura dualista estática incorporada pela maior parte da sociedade ao adotar uma filosofia de vida.

Após ler, refletir, sentir e (em pequena dose) vivenciar as obras de Ubaldi e Rohden, me tornei incapaz de não perceber a Unidade do princípio e do fim nas Diversidades dos meios. No momento em que leio um artigo começo a pensar e repensar sobre o assunto, relacionando com outros temas e vivências próprias. Vou a fundo e sinto o transformismo que rege o psiquismo humano e os fenômenos infra-humanos. Enquadro tudo numa ordem universal. Eis a gênese de uma idéia.

Muitas pessoas afirmam e defendem com unhas e dentes a reforma íntima. E sem dúvida trata-se de uma grande verdade que, se conscientizada em experiência mística (auto-conhecimento), e posteriormente experimentada em vivência ética (auto-realização), libertaria a humanidade de seus erros. Mas esse não é o cerne da questão aqui. Isto é, a reforma íntima possui dois lados que devem ser vividos para que essa reforma seja vívida e efetiva.


Reforma íntima é transformação.
Transformação deve ser integral, unindo experiência
mística individual com atuação ética social.
Quando nossa vida vai mal tendemos a procurar culpa no outros, seja família, sociedade, sistema, fenômenos naturais ou qualquer circunstância - que é externa. Sem dúvida essas externalidades influem e podem ser empecilho grande para o nosso progresso. E também pode se tratar de sistemas ou comportamentos que devem ser superados e alterados - respectivamente.

Mas, primeiro: raros são os indivíduos que conseguem formar um diagnóstico sintético e profundo, após realizarem profunda autocrítica para não caírem em autoengano. Portanto aí está o porquê de muitos debates coletivos serem mal vistos por muita gente - as pessoas não estão prontas para lidar com a sua substância, se transformando intimamente para conseguir transformar o entorno.

E segundo: muita gente, percebendo a ineficácia do passado e se prendendo às aparências dos sentidos e às armadilhas do concebível humano, ignoram a conscientização intuitiva. Com isso elas adotam uma postura que conduz a uma reforma íntima unilateral, acreditando que jogar todos os males para si e evitar a todo custo questões sociais seja o caminho integral para o progresso. Isso é um erro e explicarei o porquê.

Aqueles que seguem a filosofia do segundo ponto adotam uma visão e - consequentemente - vivência unilateral, se esquecendo de que grandes iluminados eram atuantes no âmbito social. Mas o eram de forma sábia**.

Se uma pessoa sofre um mal e procura ver a sua postura para compreender a causa daquele mal - que pode ser sua interpretação errônea de um bem - ela estará a meio caminho da iluminação. A questão é: do mesmo modo, quando essa pessoa vê uma calamidade pública, a miséria de outros ou a falta de liberdade (religiosa, política, econômica ou em emitir opiniões acerca de administração, ciência ou temas afins), ela se vê responsável - e portanto relacionada - com aquilo; ou simplesmente adota uma postura que joga um discurso pré-moldado dizendo: "eles devem se esforçar. eu não fiz nada para que fosse assim e nada posso fazer."?

Percebam que somos unidirecionais em aplicar um princípio que é, por excelência, bidirecional.

Eu me sinto responsável por muitos males que ocorrem no mundo - mesmo que indiretamente. Porque a simples postura que adotamos ao falar com as pessoas, ao difundir verdades, ao adotar um modo de vida, ao escrever um artigo, ao atuar por meio de uma profissão, ao buscar nosso Ser, ao ver determinados filmes, ler livros,... todas essas posturas pessoais causam efeitos coletivos, que se alastram subterraneamente, sustentando uma forma mental, que leva a manter um sistema operando. E assim hábitos e conceitos são mantidos. É claro que há casos - e cada vez mais - em que existem atuações conscientes que combatem a inércia espiritual de um mundo dinamicamente material-mental, e causam menos males em sentido coletivo (a longo prazo).

Muitas pessoas que encontraram a solução só viram uma faceta dela. Apenas metade do caminho foi percorrido nesse Drama Milenar que assola a humanidade há muitas Eras.

Devo ter autocrítica ao receber algo indesejável do meio externo antes de questionar.
Devo me responsabilizar pelas mazelas do meio externo que não me afetam antes de lavar as mãos. 

A reforma íntima envolve autocrítica e responsabilidade.

A primeira leva a uma incubação em forma de experiência mística interior.
A segunda conduz a uma eclosão de atuação ética destrutiva-construtiva exterior.

Destroem-se os conceitos saturados - e cada vez mais degradantes - para se construir conceitos novos, mais abrangentes, baseados em visão mais vasta e experiências mais profundas. A atuação se adensa.

Fala-se menos, diz-se mais.
A tensão psíquica é dedicada a causas universais.
O espírito gera e domina as tempestades mentais, que conduzem a ações materiais. 

Não é possível continuar crendo que a simples não-intromissão - ou a não atuação completa no meio social - irá gerar o novo mundo. Isso é se eximir da responsabilidade em apontar contradições a serem superadas por um novo modo de pensar. Um novo modo de conceber a Vida e as relações. Um novo modo de fazer ciência e debater idéias. Um novo modo de fazer política. Um novo modo de conceber o Além.

Renascer pelo corpo é um fenômeno natural, cada vez mais comprovado pela nossa ciência, e mecânico, devido ao nosso aprisionamento conceptual no plano da matéria e dos sentidos e mente.

Renascer pelo espírito é mudar sua concepção do mundo e vivenciar isso. Seja nessa existência presente, seja em estágios entre existências, seja em outras existências.

A questão é que a Vida não morre, pois ela é essência e portanto infinita em suas capacidades expansivas conceptuais e eterna em sua propagação.

Renascer pelo espírito em vida é a manifestação do maior dos milagres***.

A Reforma Íntima não exclui atuação ética no mundo.

Devemos unir o questionamento à auto-crítica.

Devemos englobar as antíteses para formar uma Grande Síntese.


Observações
*https://pt.wikipedia.org/wiki/Psicologia
  https://pt.wikipedia.org/wiki/Sociologia
** Sócrates, Cristo, Pascal, Spinoza.
*** a palavra milagre, em sua acepção original, significa "coisa admirável".

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