quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Mensagem de Ano Novo

As convenções pouco dizem. Melhor: dizem muito por pouco significarem. Os rituais e formas se tornaram uma obsessão do ser humano para adiar o que está sendo martelado cada vez mais intensamente. Martelado no íntimo. No espírito. É o anseio pela evolução.

A crise do sistema que impera no planeta - e nas mentes - é manifestada no campo social, político e econômico. Mas tem origem no universo interior: na mentalidade, nas lógicas, nos conceitos. Conceitos formulados numa época em que as necessidades consideravam um horizonte limitado em termos evolutivos. Conceitos para um mundo focado no materialismo, na ciência e na tecnologia - e nada mais. Conceitos em que a Terra era vista como algo dominável e inferior, a ser melhorado por nós. Uma relação unidirecional, com crescimento material ilimitado, para satisfazer necessidades materiais sem fim e carências afetivas crescentes. Não é preciso ter diploma superior para perceber que isso não se sustenta...

Mas como mudar - o mundo e a gente?

A Bhagavad Gita resolve os problemas últimos da vida. Síntese máxima ao lado do Evangelho e do Tao Te Ching. Mas com um detalhamento ímpar. Cada pensamento expresso num parágrafo ou linha contém uma potência capaz de arrefecer os espíritos mais atormentados - se compreendida. Cada trecho revela o que importa e porque importa. Sua linguagem é universal, abraçando todas esferas com sínteses máximas. Ela é a Canção Sublime.

A palavra equilíbrio traz em si muitos segredos. Ela considera os dois pólos de operação da alma humana: espírito e matéria. Entre esses pólos temos uma gradação infinita. E, além de considerá-los, mostra que devemos operar orientados no sentido matéria-espírito, e equidistantes dos extremos. Isso parece simples, mas trata-se de uma vivência extremamente difícil.

Muitos creem estar vivendo de forma equilibrada porque estão em paz. Mas essa paz é meramente aparente. É uma "paz" que depende do esforço de outros. É uma "paz" calcada em ilusões que insistimos alimentar. É uma "paz" de gozo sem sentido, de esforço desorientado, de exclusão.

Krishna orienta Arjuna. Este está numa batalha contra seu ego
luciférico. Se vencer conseguirá submetê-lo ao seu Logos
crístico. 
Apenas atingindo a íntima substância do ser pode-se começar a compreender a realidade individual - e consequentemente coletiva - de nosso planeta. Após essa compreensão, que pode se tornar uma verdadeira catarse mística, abre-se a porta da assimilação dos valores reais (não os pseudo-valores). Esse processo não tem duração nem modo de ocorrência definidos e pode variar de acordo com a personalidade. Trata-se de algo subjetivo, íntimo, único, ímpar, situado no campo do imponderável, que dificilmente pode ser dito em meios sociais ou familiares. É o que torna o trabalho de maturação um grande desafio.

Segue-se com a mudança de atitude, que se traduz em reformulação de conceitos. A natureza é superada, atingindo-se um novo patamar espiritual. Vê-se de outra forma, atua-se de outra forma. Chega-se ao fim da longa jornada da expansão inconsciente para se iniciar a poderosa vida pautada pela seletividade consciente. Isso não significa que as coisas serão fáceis. Muito pelo contrário, pois quem enxerga mais sente o peso do mundo que afasta o ser do trabalho real. E vislumbra-se horizontes vastos. E que chegar lá exigirá um esforço titânico. E que esse esforço é tão mais titânico quanto menos se dão conta disso. Como poucos ainda acordaram - e não se pode forçar alguém a despertar, pois a consciência se abre a partir de dentro - resta o trabalho de viver de acordo com seus ideais. Eis a Grande Batalha.

De onde viemos? Para onde vamos? Por que? Como? Qual o sentido disso e daquilo? O que é realmente importante na vida? Porque tudo muda a todo momento?...São perguntas que não saem da moda. Porque elas superam todas nossas análises e teorias e inventos. Elas podem nos orientar. Basta respeitarmos o que está aquém das premissas e além das finalidades deste mundo. Um mundo que não se salvará por si só...

O Ano Novo está chegando. Promessas, festejos e rituais. Mas nos esquecemos que as mudanças ocorrem sem que a gente estabeleça datas ou elabore rituais. Elas vem e pronto. Naturalmente. Isso é o que importa. Isso é o que sempre importou.

Descobrir a si mesmo. Superar a nossa natureza. Dilatar a consciência. Evoluir...

Despertar é a melhor coisa que pode acontecer a uma pessoa.

E é o único meio de nossa Salvação.


Bom Ano Novo !



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