sexta-feira, 31 de março de 2017

Nulidades Raras - Raridades Nulas - Raridades Raras

O mundo possui nulidades e raridades. Mas elas não se apresentam sozinhas, desconexas. Elas se revelam relacionadas entre si. Como substantivo (sujeito) e adjetivo (atributo, qualidade do sujeito). Não apenas isso, mas essa relação pode ser de três tipos, a meu ver.

Elementos, interconexões, propósito (minha próxima aula). Este surge do tipo de combinação dos elementos. É o fator mais importante, cuja influência se estende nas vastidões oceânicas do tempo (energia), do espaço (matéria) e da consciência (psiquismo). Dos três atributos de sistemas, este (propósito) é aquele onde o trabalho de transformação possui o maior poder de alavancagem. Reside no campo conceptual, imaterial, em que se trabalha a prazos que se estendem - às vezes - além do horizonte da vida individual. E com manifestações carregadas de potência, que vencem as limitações do espaço, tornando essa alavancagem de substância (não de forma) global. É nesse campo que o verdadeiro trabalho é feito. Trabalho além do campo de compreensão do tipo biológico hodierno, que opera no campo da atuação, cujo dinamismo se dá apenas na forma - não na substância.

A moça observa a correnteza. Para onde ela vai?
Seguir a correnteza, nadar contra, ou simplesmente
observá-la? Para onde ela não vai? Existem outras?
Se sim, onde estarão?
Ai daquele que esboce algum ensaio de tentar aprofundar um assunto! Deverá estar preparado para as reações inexoráveis da psicologia hodierna, que no estágio atual se dão de forma elaborada e pouco perceptível. Eis que, mesmo se inteirando de um assunto, ouvindo, escutando, compreendendo e finalmente expondo, num lapso de tempo relativamente pequeno, uma fenda para algo que poderia iniciar uma pesquisa informal num campo desconhecido pela zona do consciente, os atropelamentos ocorrem. No entanto, não há culpas. Tudo é feito de forma inconsciente. Sente-se isso. 

A partir dum estágio de maturação psíquico-nervosa, o ser começa a perceber que transformar o inusitado em ódio - que tende a se plasmar em reações vingativas - é contraproducente. No entanto, há uma atitude que se traduz em mudança de postura ao longo do tempo (meses, anos, décadas,...). Percebe-se que, se há um incômodo profundo, deve-se perdoar, pois "eles não sabem o que fazem". Não há culpas no campo da inconsciência. A incapacidade de captar vibrações diversas apenas atesta que um certo grau de maturação interior não foi atingida. Há tempo para tudo.

Se não se transforma essa alta tensão (experiências) em amperagem (reações) canalizadas para resultados negativos, o que se faz? Trabalha-se a tensão de forma lenta, contínua e persistente. Isso exige nervos de aço e auxilio de alguma fonte superior ao indivíduo. Essa tensão é trabalhada ao longo de certo tempo, e depois convertida em amperagem direcionada para as linhas (canais) adequados, com distribuição inteligente, que não leve a queima das resistências físicas, emocionais e mentais. Ensaios, diagramas, poemas, melodias, trabalhos, estudos, pesquisa, mudanças graduais de comportamento. Mudanças pequenas, mas firmes. Expande-se o histórico de experiências assimilada. Conscientemente. Várias vezes. Até entrar na zona do inconsciente - os instintos. Tudo se relaciona. 

A partir disso perdoa-se mas não se esquece. Perdoar é não se perturbar com o fato. Não esquecer é registrar na memória, na alma, no espírito, de que não adianta introduzir novos elementos em sistemas sem capacidade de absorção destes. E a partir daí não tentar novas aproximações do tipo. Aprende-se a ficar quieto. Toda explicação do mundo, com eloquência oral e teorias lógicas e abrangentes, não mudam o comportamento de um ser de forma efetiva. 


Compreender o atual é fácil: basta seguir a lei da
alimentação (preservação individual) e a lei do amor
(preservação da espécie).
Compreender o que pode ser realizado exige
seguir uma terceira lei: a da evolução.
O erro do ser consiste em não perceber que o campo é inóspito à medida que se incrementa o número de sujeitos. Vivemos num mundo em que a quantidade dita o comportamento individual, com suas crenças, valores, atitudes e ações. E cada agente, ao ver-se diante da força do número (que para ele é força, é justiça, é o que é certo), segue a sintonia da grande onda. Não se trata de condenar, e sim de constatar. Isso já foi comentado no curso (Dia 1). E o discurso cativa, prende, fascina, justamente porque é uma externalização de uma série de experiências vividas, sofridas e compreendidas. Que geraram ao longo da vida uma explosão de eventos aparentemente inexplicáveis - o que as religiões chamam de milagre. Se transforma em blogs, em técnicas rudimentares de aprender instrumentos musicais, em vontade de estudar e pesquisar, em cursos, em segurança diante de situações diversas, em elegância e ordenação de discurso, em compreensão dos deveres supremos da vida. 

Nulidades existem aos montes no mundo. Nas ideias, nos discursos, no tempo (energia e informação) dispendido de forma pouco eficiente,...Agora, existem raridades, que se alçam a patamares da fama: as Raridades Nulas.Essas assumem a forma de fama e riqueza - que inexoravelmente, por sua natureza, tendem a acabar e deixar um rastro de frustrações. Pois quanto maior o gozo, maior a próxima dose, necessária para manter o gozo (e a estabilidade psíquica-física). Num mundo finito, cheio de delimitações e fronteiras, cheia de aparências e jogos de interesses, num jogo de forças que não perdoam porque não compreendem, há atritos imensos. Os métodos de superação operam em nível ineficiente. Infelizmente. Mas é adequado ao grau de compreensão atual. A pior coisa que existe é nascer numa condição favorável do ponto e vista do mundo: ser rico, belo, saudável e talentoso. O ser fica refém desses atributos (temporários!), esquecendo-se de usá-los como meio para trabalhar a única coisa que precisa realmente ser trabalhada: o espírito.

Por outro lado, existem nulidades que (obviamente) são despercebidas. No entanto, pode-se perceber que estas, ao perceberem o meio em que se encontram - e querendo progredir - prontamente procuram se posicionar de acordo com o meio, e se adaptam à mentalidade comum. Mas existem aquelas nulidades que acabam não fazendo isso. As Nulidades Raras. São poucas. Muito poucas - assim percebi ao longo da vida. Essas se inquietam, se indignam, querem levar temas inquietantes até a exaustão de suas forças intelectuais, sentimentais, e físicas. o organismo arde em dores. Frio que queima a alma. Fome que estufa a mente. No entanto, raríssimos são os ambientes coletivos onde essa espécie de trabalho é possível. Raríssimos. Oras, o ser deve recorrer à única solução que lhe resta - se desejar conviver em relativa paz neste mundo: a minimização das relações sociais.

É importante destacar: a causa dessas minimizações não é nem ódio, nem medo, nem arrogância.

Ódio é vontade de reagir de forma a destruir o outro.
Medo é temor de ter suas ideias confrontadas com outras.
Arrogância é acreditar que seus conceitos são melhores que outros.

Não se trata de um afastamento por nenhum dos motivos. Então, qual seria a causa desse comportamento que - infelizmente - leva outras almas a assumirem como causa uma ou uma combinação de duas ou três das causas do mundo

O desgaste desnecessário. O sofrimento inútil. 

Todo mundo que nasce nesse universo deve aprender algo. Logo, deve sofrer. A questão é que existem sofrimentos úteis e inúteis. 

Se, ao longo da vida, diversos ensaios são feitos para compreender o entorno, se adequar a ele, e mesmo assim, por maior que seja seu esforço, percebe-se que existem fronteiras intransponíveis, é sensato abandonar o campo. Livre de vínculos cármicos de ódio, medo ou arrogância. 


Hitchcock soube demonstrar esse fenômeno no Cinema.
Dizer muito às vezes exige falar pouco. Ao passo
que falar muito geralmente (mas não sempre) é
dizer pouco. Resta ao ser humano descobrir a potência
do trovejar do silêncio.
À medida que a Nulidade Rara atinge um nível de compreensão mais profundo, trazendo do campo consciente as memórias e sensações trabalhadas em vida, para o campo subconsciente, começa-se a imprimir em sua natureza novos elementos. Em doses homeopáticas. Doses infinitesimais. Mas ainda assim, doses. Inicia-se o que a Ciência hodierna não admite: altera-se conscientemente a natureza própria - para melhor. 

Não há nada que possa mudar a natureza humana a não ser a experiência intensa da dor trabalhada de forma completamente diversa. 

Disso a humanidade ainda não se deu conta.

Não existe desejo de escarafunchar os problemas mais substanciais, que levam aos desentendimentos mais ruidosos. Não se vê a relação entre um e outro. Deseja-se buscar uma solução que apazigue. Lançam-se ideias bonitas, interessantes. Translada-se o assunto. Tudo é feito com o intuito da fuga. Seja com o outro - e mesmo com você. No entanto, as nulidades raras se recusam a seguir esse caminho, ipsis literis. Apesar de compreenderem o porquê disso ser feito. E respeitarem o modo de agir do grosso da humanidade - justamente por compreenderem a natureza do ser humano.

E com uma vontade revigorada, que dilata essas fendas que levam à luz, novas criações brotam no íntimo. Maior capacidade de visão e síntese. Maior segurança. Maior valorização de si. E justamente, maios introspecção. Maior silêncio.

Deve-se semear em terreno propício.

Ao longo da vida, o ser que seguir com sinceridade séria e seriedade sincera o caminho que sua intuição lhe aponta, pode se tornar uma Raridade Rara.

Muitas Nulidades Raras possui o mundo - pouco são incomodadas ou incomodam.

Poucas Raridades Nulas existem no mundo - muito influem mas pouco oferecem.

Pouquíssimas Raridades Raras existem no mundo - são desprezadas, mas influem sobre todo sistema de valores ao longo de séculos, milênios e eternidades, abalando a estrutura para elevá-la. Mas sofrem em vida por esta lhes exigir paciência fora de série.


quinta-feira, 30 de março de 2017

Dia 2

O número de alunos caiu pela metade - de dez para cinco. Cinco alunas. Antes: 7 alunas, 3 alunos. Agora: 5 alunas. Mais um (bom) amigo que decidiu acompanhar de ouvinte o curso. Então podemos dizer que o total são seis. 

Por um lado é bom trabalhar com pouca gente. Será possível que todos emitam ideias e opiniões, tirem dúvidas e exponham observações relevantes. O aprofundamento se torna possível. A concentração é mais fácil de se obter. O trabalho terá apenas dois grupos. Com isso, no dia da apresentação, cada um terá mais tempo de explicar o que foi desenvolvido ao longo do curso. 

Dessa vez defini formalmente o que é sistema, modelo e simulação. 

Para aqueles que não sabem, vai uma breve definição da minha parte:

1) Sistema é um conjunto de elementos (vivos ou não-vivos), que possuem relações entre si (interdependência), e possuem um objetivo em comum (meta). Elementos, relações e objetivo.

2) Modelo é a representação de um sistema. Essa representação pode ser na forma de símbolos (diagramas, por ex.), equações, verbal (descrição), físico (maquetes), entre outras. É importante lembrar que o sistema é real e o modelo representa essa realidade. No entanto, um sistema pode ser real mas não ser tangível (ex: sistema de controle de um veículo, sistema operacional de computadores). Em suma: real não é sinônimo de material.

3) Simulação é o ato de fazer um modelo evoluir ao longo do tempo. Isto é, para simular o modelo deve estar num formato que permita obtermos variáveis ao longo de cada instante de tempo. Existem simulações virtuais, reais e híbridas (misto de real-virtual). 

Os conceitos são a pedra fundamental de qualquer trabalho. Logo, é importante definir com clareza para as construções que se apoiarão nessa pedra sejam sólidas e eficientes.

Á medida que o assunto fluía pude tangenciar alguns temas: falei um pouco sobre análise dimensional, com seu clássico Teorema dos Pi de Buckingham (modelos físicos, protótipos); comentei sobre o nível de complexidade crescente, e sua respectiva dificuldade de representação dentro do paradigma reducionista, com seu método racional-científico. Aí eu citei exemplos de trabalhos que envolveram a compreensão, a representação e a obtenção de comportamentos (variáveis) em vários domínios físicos para se chegar à causa riz de um problema na área espacial. 

Também falei sobre as três inteligências: 

a) Subconsciente (instintos);
b) Consciente (razão);
c) Superconsciente (intuição).

Todos nós possuímos as três. Em larga medida elas coincidem. Para casos raríssimos, excepcionais, passa-se a fazer uso da intuição de forma relativamente consciente, com um controle das visões obtidas. Isso só pode ser atingido através de profunda maturação biológica (UBALDI, P., As Noúres), que desperta o espírito a tal grau que este é capaz de influir com peso no organismo vivo. 

Fiquei contente ao perceber que todas(os) alunos se manifestaram, citando exemplos e comentando. Uma moça falou que fazia validação no trabalho, mas nunca teve a visão mais geral apresentada ontem; outra, quando citei Carl G. Jung, disse ter estudado suas ideias - que foram além das teorias de Freud. Isso me dá o sinal de que o curso está sendo útil (cumprindo sua função). 

Até mesmo meu amigo - e colega de trabalho - foi capaz (olhem que impressionante) relacionar uma atividade que desenvolvemos em grupo ao tema que ele vem desenvolvendo em seu mestrado. Eis o que me espanta: a partir da apresentação de conceitos simples, de forma intensa e criativa, para várias pessoas, cada uma com sua especialidade, é possível criar um certo estímulo ao estudo dos fenômenos. Nada de novo, tudo novo. Nada de novo no mundo analítico, descritivo; Tudo novo na visão, na vontade, na introspecção.

Finalizamos a 1ª parte da aula com uma atividade em grupo: o Dilema dos Dois Prisioneiros. 

Mas sobre isso comento depois. 






quarta-feira, 22 de março de 2017

Dia 1

Nessa nova empreitada, novos rostos, novas mentes, novos comportamentos. Melhores comportamentos. Turma pequena. Reduzida ao número - eu diria - ideal para o desenvolvimento e troca de ideias. 

O que descobri sobre mim ao iniciar esse curso de extensão? A primeira coisa: falo bastante quando tenho a liberdade de desenvolver um assunto que me agrade. Um assunto que englobe vários aspectos e exija um dinamismo. O tempo voou - para mim pelo menos. A turma parece ter se interessado pelo que apresentei. Mas reparei que a minha fala foi um pouco além. Na próxima semana pretendo dar atividades.

A segunda coisa interessante foi ter conhecido parte do corpo discente do curso de Licenciatura em Química do IFSP. São alunas e alunos muito interessados, concentrados e maduros - comparados às turmas que ensino, de modo geral. Isso me permite seguir uma linha de pensamento de forma construtiva, relacionando e exemplificando. Sem medo. Sem rupturas. Explicação integral. 

Me pergunto se o curso foi uma boa ideia. O fato é que gostei de falar para um público o assunto que julgo tão importante para uma humanidade desorientada. Mas mais impressionante é não ter feito brincadeiras. Elas não cabem nesse curso - a não ser que sejam muito construtivas. E acho bom. 

A maturidade das moças me deixa aliviado quanto ao andamento do curso. Acredito que não haverão problemas. Quem se matriculou deve estar interessado - pelo menos a princípio. A ideia agora é seguir um ritmo, divagando um pouco menos, e abrindo espaço para que todos façam atividades e exponham suas dúvidas e opiniões. 

Minha vontade de fazer algo útil (doutorado) também aumentou. No momento não há forças me auxiliando. As buscas e tentativas não estão sendo úteis. Navego sem rumo no mar da formação continuada. Busco a tempestade para me superar superando-a - mas não a encontro. Ela foge de mim. E assim nenhum projeto à vista. Eis um dos motivos de ter dispendido tantas forças na criação desse curso de extensão.

Todo ser humano quer ser mais. Expansão da consciência. O correr das areias da ampulheta do tempo se somam às dores das experiências intensas e das atividades diluídas na extensão dos desertos de repetições. Mas daí surgem as ideias, os conceitos, a vontade.

O espírito cria sempre. A todo momento. Mas especialmente na dor. Ele ordena a matéria, hierarquizando-a. Torna-a mais resiliente. E com isso pode vesti-la e transmitir seu modo de vida ao entorno.

Pela primeira vez desde que substituí, na emergência, um professor, estou novamente falando sobre um assunto que me interessa. Dessa vez de forma oficial, com quinze encontros, com um curso montado e esquematizado. Esse me parece o melhor momento para manifestar tudo que puder, da melhor forma possível, com máxima responsabilidade e criatividade

Foi um dia bom. Valeu a pena sair de noite para trabalhar. O espírito foi alimentado.