quinta-feira, 25 de maio de 2017

Dia 10

O curso vibra. Introduzi novos conceitos. Repassei sobre outros, trazendo-os à tona novamente. É tudo cumulativo, interdependente, simultâneo. Como fazer isso num mundo sequencial? Retomando e relembrando. Exemplificando e explicitando. 

Mostrei o que é evento, comportamento e estrutura. Revelei como os grandes meios de comunicação estão presos - ou melhor, prendem seu público, as pessoas - à lógica do raciocínio evento-evento. São as notícias que mostram eventos descontextualizados no tempo e no espaço, sem relação com outros fenômenos. São entrevistas direcionadas e de duração determinada (por quem?). São distorções de discursos retos e profundos, amplificações de miudezas, omissão de importâncias substanciais. Eis a mídia dominante, que se autointitula de "opinião pública" - maior piada ainda está prestes a ser lançada...

Antes disso mostrei as três características principais de Sistemas Complexos: resiliência, auto-organização e hierarquia. Vejamos pormenorizadamente do que se trata.

Resiliência:


Por mais adversas que sejam as condições, formas de
vida resiliente conseguem se perpetuar. Ou se
recuperar após um certo tipo de devastação.
É o ato de um sistema, uma vez perturbado por um agente externo, - seja físico, orgânico ou psíquico individual ou coletivo - ser capaz de retomar ao seu estado precedente, original, sem alterações profundas. É continuar sua trajetória sem desvios permanentes devido a esse impacto. 

Nas ciências físicas, temos os materiais, cujo comportamento sobre tração, compressão, flexão, torção, fadiga, fluência, entre outros tipos de cargas, podem ser variados, a depender de sua natureza. Se aplicamos uma força numa barra, dobrando-a, e essa, após deixarmos ela livre, voltar ao estado original, dizemos que ela possui uma resiliência dada pela sua capacidade de voltar ao estado original - ou algo próximo - mantendo sua estrutura interna intacta. Daí se vê que resiliência se relaciona com elasticidade. 

No mundo biológico podemos ver o mesmo fenômeno de forma mais elaborada. A vida apresenta seu grau de resiliência conforme é capaz de resistir a agentes invasores (vírus) e sabe conviver com certos organismos (bactérias, por exemplo), sem causar desvios gerais nos seus mecanismos de funcionamento. A lógica permanece intacta, o organismo permanece são em geral. 

No campo psíquico observamos o mesmo fenômeno. Uma pessoa é dita resiliente quando consegue retomar seu estado de humor ou força ou ânimo após sofrer um certo abalo, desde o mais miúdo (escorregar num dia de chuva, ouvir um xingamento no trânsito) até o mais impactante (perda de um parente, uma doença, uma demissão, uma separação). Quanto melhor suportar algo de maior intensidade, maior sua resiliência. 

Auto-organização:


O floco de neve constróis sua estrutura a partir de uma
lógica simples de auto-organização, por vezes baseada
em um algoritmo natural - e automático, portanto -
simples. 
É a capacidade que os sistemas possuem de se ordenarem de modo diverso ao qual vinha sendo reproduzido, criando um ambiente de maior heterogeneidade e - consequentemente, imprevisibilidade. Com isso as possibilidades começam a aumentar. A depender do tipo de variedade e incerteza, poderíamos calcular com certo grau de exatidão, qual o aumento das possibilidades. 

Com esse aumentam cria-se um campo em que podem surgir (não há garantia) novas estruturas que, se consolidando, irão apresentar comportamentos característicos, que se manifestam em eventos. 

A liberdade e experimentação, até um certo grau, são condições indispensáveis para se ter um ambiente que leve a essas novas estruturas. Vemos isso em larga quantidade na natureza, que já atingiu seu estado de perfeição há milhões de anos. Resta a nós, humanos, em jornada evolutiva, desenvolvermos essa capacidade. Nossas organizações refletem o que somos em sociedade e em família. E como indivíduos: negando a transformação. De que? De atitudes, de comportamentos, de regime alimentar, de visão de mundo, entre outras. Para melhor, claro. Transformar significa progredir para se aproximar de uma meta, tornando seu relativo mais resiliente devido à sua capacidade de ter se auto-organizado de forma inteligente. E após essa evolução substancial, deve-se reordenar a hierarquia do sistema.

Hierarquia:
Todo sistema se organiza em hierarquia. A humanidade,
com seu corpo social na infância (ainda), procura seguir
esse princípio. As demolições e reconstruções só revelam
que nossos sistemas hierárquicos estão longe de serem
justos - e portanto serem capazes de gerar paz e evolução
a todos sujeitos que compõem ele.

É a estrutura do Universo (e além). É como as coisas funcionam de modo eficiente. Está presente em tudo, desde os átomos até as galáxias. Desde os seres unicelulares até o ser humano. Desde as ideias mais simples até às teorias mais complexas. Desde as vilas mais primitivas até as megalópoles mais movimentadas e globalizadas.

A hierarquia surge com a especialização. Como a tendência do ser humano é se especializar cada vez mais, de acordo com suas qualidades intrínsecas, deve-se ordenar essas variedade enorme num sistema hierárquico que faça todos trabalharem da melhor forma possível em prol de um Todo. Que Todo? Eis a grande questão, que vos deixarei no vosso colo para que posteriormente possamos trabalhar isso mais à fundo. 

Outro tema retomado - de forma mais exemplificada - foi lineridade e não-linearidade. Basicamente um é o complemento do outro. Mas existem alguns pontos para que possamos deixar mais claro tudo.

As Jornadas de Junho (de 2013) são exemplo de um
fenômeno social, não-linear, cujos desdobramentos
não somos capazes de prever, por mais base
de dados que tenhamos em mãos, por mais instrução que
 tenhamos acumulado, por mais inteligente que sejamos.
Primeiro:
Levando em consideração de que todos fenômenos que ocorrem, se observados em sua integridade, - ou seja, com todas hipóteses desconsideradas - não apresentam um comportamento previsível, isto é, linear, chegamos à conclusão de que a linearidade é uma abstração da mente humana que visa sobretudo simplificar o universo fenomênico circunjacente de tal modo a viabilizar a compreensão de tudo que nos cerca exteriormente. E que possamos assim começar a construir, sistematicamente e minimamente orientados tecnologias e teorias e culturas, para ganharmos domínio sobre as intempéries.

Segundo:
Á medida que descemos de níveis, - passando das supremas ascensões humanas, campo em que o psiquismo leva o corpo físico à exaustão para construir em planos mais elevados, imateriais, em que o espírito anseia viver de forma contínua, para o nível biológico, com sua forma vida vegetal e animal a nível basicamente instintivo, descendo ao campo das ciências fisio-químicas, onde reina os elementos atmosféricos, oceânicos, geológicos e forças e fluxos de diversas espécies (gravitacionais, de contato, magnéticas, elétricas, térmicas, hidráulicas, etc) - vamos tornando as aproximações lineares mais fiéis à realidade não-linear. Vejam que essa descida é igualmente não-linear, ou seja, inexiste uma proporcionalidade à medida que estudamos fenômenos cada vez mais determinísticos. Com isso se explica o porquê de todo nosso arcabouço lógico e matemático, com sua simbologia e métodos, serem muito eficazes para descrever certos fenômenos - mas pobres para definir outros.

Mesmo a nível físico, percebe-se que a não-linearidade permeia os estudos. A única alternativa que resta é decompormos certo fenômeno a intervalos de tempo suficientemente curtos e/ou desacoplar-ignorar fenômenos (hipóteses), para viabilizar simulações.

Posteriormente pretendo descer cada vez mais nesse campo, desenvolvendo demonstrações analíticas que comprovem efetivamente essa visão.

Outro tema foram as fronteiras inexistentes:
Além disso, observando à fundo, iremos nos dar conta de que natura non facit saltus ("A Natureza não dá saltos", Leibnitz), uma afirmativa imponente que foi obtida empiricamente, através de observações infindáveis em todos campos das ciências físicas e biológicas. Ou seja, tudo que existe em nosso mundo real, seja tangível ou intangível, possui uma natureza de continuidade. Inexistem alterações que sejam instantâneas. De tal forma que a mente humana não é capaz de estabelecer fronteiras claras e definitivas entre fenômenos, áreas do saber, sexos, correntes filosóficas, sistemas políticos, noções de público e privado, etc. 

Chegamos a tangenciar camadas limites, que nada mais é do que a restrição imposta por um determinado agente, essencial para que um process ocorra, devido à sua carência. Isso é sentido quando observamos uma reação química de combustão (por exemplo), na qual a carência de combustível (diversos tipos de hidrocarbonetos) ou comburente (oxigênio) em relação ao seu elemento reativo irá restringir o quanto de energia será obtido como produto.

Isso também se vê nas receitas. Para fazer pão italiano é necessária uma quantidade x de farinha de trigo, y de fermento biológico, u de água morna e w de sal. Se temos carência de um destes elementos (x-n, y-n, u-n, w-n, com n<0), não teremos uma receita ideal. Eis que um único elemento faltante ou fora de equilíbrio com o conjunto prejudica o produto final de uma combinação. Seja ela uma receita, uma plantação, uma reação química, uma instituição, um movimento social, uma religião, uma escola, etc.

Resta na próxima aula comentar sobre Racionalidade Limitada e Atrasos Ubíquos.

A partir daí iniciar-se-á o aspecto mais místico-unitário do curso, culminando na  exibição de um dos grandes filmes do século XX, que retratou a gênese de um santo chamado Francisco.

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