Nossa ânsia em competir parece não ter limites. Esse é um comportamento
que sempre fez parte da grande maioria da humanidade. Mas apenas nas
últimas décadas, com o (suposto) fim das ideologias
– e incremento de um poder invisível, propagando por grandes grupos que
possuem um forte controle sobre decisões que deveriam ser teoricamente
populares – é que a competição foi elevada ao status de religião.
Quando digo “elevada ao status de religião” me refiro a algo imposto,
sem relação alguma com espiritualidade e moral. Trata-se de um culto. A
inserção num altar de um modo específico de sentir, pensar e agir.
Parece contagiante. Por toda parte, os meios de comunicação, os
governos, as corporações e a sociedade parecem dizer em uníssono que
essa tal de competição é o único modo de atingir a felicidade. Poucos
são aqueles que ousam questionar esse modo de pensar. E para seus
questionamentos logo se contrapõem INÚMEROS exemplos de pessoas bem
sucedidas que atingiram reconhecimento e sucesso que agiram justamente
sendo extremamente competitivos. Com tantos exemplos visíveis, a questão
parece resolvida. Mas...
Mas não é possível deixar de
perguntar se esse sucesso não é efêmero. Se ele não é algo que exige de
nós, em nossa busca por aceitação nos grandes grupos, – nas altas rodas,
nos grupos “legais”, “bonitos”, etc – uma renúncia. Uma renúncia a
princípios íntimos que fazem parte de todos nós, como o desejo de sermos
verdadeiramente felizes (não maquiadamente felizes...).
Pietro
Ubaldi sempre tangencia a questão do sucesso e do fracasso em suas
obras. Quem vibra de acordo com a média obterá sucesso. Mas aqueles que
vislumbram e procuram por algo diferente, que percebem que atitudes que
hoje são aceitáveis ou glorificáveis mas amanhã serão absurdos e
barbaridades, serão perseguidos e mal-vistos e humilhados, na grande
maioria dos casos. Apenas aqueles que sabem e se calam – ou se
manifestam timidamente – podem garantir relativo sossego (mas não
sucesso) em suas vidas num mundo cuja fase evolutiva é primária.
A meu ver, falta a todos nós uma clara noção de UNIDADE que permeia o
Universo. Com essa noção consolidada em nossas almas, notaremos cada vez
mais que a competição nada mais é que uma auto-mutilação, e a COOPERAÇÃO
uma garantia de sobrevivência e evolução.
Conforme eu escrevi
anteriormente em outro artigo (do DNA social), o funcionamento do nosso
corpo depende da cooperação de todas suas células, por mais diferentes
que elas sejam, para que sobrevivam e permitam a evolução do nosso ser.
Nossa família, comunidade, cidade, planeta, galáxia e universo, também
funcionam da mesma forma. E se somos as células do planeta, devemos agir
de acordo com nossas células internas. Nos inspirar nelas.
Bio-inspiração para atingirmos um sistema político, econômico e social
mais justo. Mas isso (eu confesso) é difícil de ser percebido.
Precisaremos errar muito antes de tomarmos o rumo certo. Parece
inerente ao ser humano. Mas os efeitos da competição são efêmeros, e a
solidão de hoje de alguns será a comprovação de sua evolução num futuro
(distante para os mais à frente, não tão distante para aqueles um pouco à
frente).
Portanto, cuidado com os slogans corporativos
sedutores induzindo hordas de seres rumo à competição. Essa pode parecer
a solução final, mas definitivamente não está gerando efeitos que
comprovem isso.
Talvez devêssemos escutar um pouco mais nós
mesmos, ou aqueles estudiosos ou “vagabundos” estão tentando ver e fazer
diferente. Claro, alguns podem estar errados. Mas não devemos jamais
excluir sem antes PENSAR.
E é por causa de não pensar que hoje estamos engolindo muita coisa desnecessária.
Ubuntu!*
[*http://www.significados.com.br/ubuntu/]
Um blog que é tudo e nada. Poesia científica. Fé raciocinada. Ciência orientada para a unidade. Vários assuntos esmiuçados tendo por base o sentimento nas profundezas da alma e possibilidades do futuro. Deste sentimento chega-se às análises do mundo cotidiano, sentido e valorizado. A mensagem verdadeiramente importante deve anular quem a transmite, que nada mais é do que uma ferramenta de ideias.
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terça-feira, 29 de abril de 2014
quarta-feira, 9 de abril de 2014
A BUSCA DE UM DNA SOCIAL
Uma das características
mais interessantes do estudo está no fato de que as áreas do
conhecimento - por mais diversas que sejam – revelam estar cada
vez mais relacionadas à medida que nos aprofundamos nelas.
A relação entre
diferentes saberes é uma ponte que se revela cada vez mais forte à
medida que nos aprofundamos na ciência, na filosofia, na teologia ou
na arte. E essa característica, essa unidade, é, a meu ver, o laço
unificador que é responsável por aproximar diferentes pessoas
preocupadas em diferentes saberes - isto é, se elas forem capazes de
perceber essa ponte.
Porém, existe uma
outra vantagem nessa unidade: podemos usar uma ciência para apoiar
(ou inspirar) outra. E é justamente isso que pretendo fazer nas
próximas linhas.
Sou uma pessoa muito
preocupada com a questão social. É um assunto que permeia minha
mente há alguns anos. Antes de forma superficial – o que me fez
chegar a conclusões equivocadas. Agora, de forma mais profunda. E me
dei conta de que essa questão, o nosso eterno problema de injustiça
social, talvez (talvez) possa começar a ser solucionado se nos
inspirarmos na biologia. Sim. Exatamente. Na ciência que estuda a
vida orgânica.
Essa ideia de estudar a
sociedade como organismo biológico não é nova. Durkheim [1] talvez
tenha sido um dos primeiros pensadores a estabelecer essa abordagem.
E o raciocínio central é o seguinte: o indivíduo está para a
sociedade como a célula está para o organismo. Trata-se de uma
analogia muito interessante, que tende a aumentar – ou criar –
interfaces entre essas duas ciências.
Dessa forma podemos
estabelecer a seguinte relação de similaridade:
CÉLULA →TECIDO →
ÓRGÃO → ORGANISMO [BIOLOGIA]
INDIVÍDUO →
COMUNIDADE → NAÇÃO → PLANETA [SOCIOLOGIA]
Muito bem. Sabe-se que
existem vários tipos de células: neurônios, embrionárias, do
sangue, tronco,...Com cada tipo especializada numa função
específica, que leva ao funcionamento do sistema (circulatório,
respiratório, nervoso, hormonal,muscular,...), que por sua vez
interage com outro sistema, e estes, em COOPERAÇÃO, possibilitam
que o organismo opere adequadamente, com suas máximas
potencialidades – internamente e no nível material. Assim temos um
organismo sadio.
Quando um grupo de
células de um tipo não opera de acordo com sua natureza os órgãos,
e consequentemente o sistema, tende a não funcionar adequadamente –
por exemplo, o sistema circulatório, caso falhe, não poderá
alimentar as células do organismo, mesmo que o seu vizinho, o
sistema respiratório, opere a 100%. Consequentemente a pessoa adoece
e morre. Podemos experimentar essa situação para qualquer grupo de
células e o resultado final será o mesmo: falência dos órgãos e
morte do organismo.
Agora vamos assumir que
o nosso planeta seja um grande organismo e que cada um de nós, seres
vivos, somos as células.
Cada um de nós possui
uma individualidade. E pessoas diferentes, mas com semelhanças em
suas funções, – digamos, profissões – podem ser vistos como
operários aptos a edificarem o conhecimento de uma determinada
forma. E assim com cada grupo de pessoas com função específica.
Dessa forma temos coletores de lixo, engenheiros, arquitetos,
jardineiros, professores, médicos, cientistas, filósofos, artistas,
entre outros. Todos trabalhando a seu modo e (teoricamente) em prol
de um ideal comum: o progresso da sociedade. Ou melhor, do planeta
como um todo. Pelo menos assim deveria ser, se nos inspirássemos na
biologia.
Somos diferentes. No
entanto, devemos ter um ideal comum se desejamos progredir. Pois
estamos todos INTERCONECTADOS. Diversos estudos de diversas áreas
demonstram essas conexões, seja esse o seu objetivo ou não. É cada
vez mais difícil negar essa (bela e consoladora) relação.
A sobrevivência do
planeta significa a nossa sobrevivência. Nós dependemos desse
grande organismo vivo. Aliás, nós somos constituintes desse imenso
organismo! Tijolos de uma grande casa.
Segundo os físicos a
Terra “nasceu” há 4 bilhões de anos.
Nós, como espécie, há
4 milhões.
Ela (a Mãe Terra) é
1.000 vezes mais antiga do que nós.
E sempre se virou muito
bem sem nossa espécie.
Nós, por outro lado,
sempre dependemos dela e nos aproveitamos de seus recursos – por
isso MÃE Terra. No entanto, dada nossa capacidade de criar, temos a
possibilidade de crescer com ela e mantê-la saudável. E ela nos
retribuirá se agirmos de acordo com o bom senso. Mas para cumprirmos
essa tarefa é necessário que saibamos antes ser COOPERATIVOS entre
nós mesmos.
Nossas DIFERENÇAS são
naturais.
Não devemos COMPETIR
devido a elas mas COOPERAR por causa delas.
Por que?
Porque quando viramos
para o lado e lutamos entre nós estamos reduzindo a possibilidade de
trabalharmos por um grande ideal comum (a sustentabilidade, um
sistema econômico mais humano, a democratização, etc). Matamos a
nós mesmos e – consequentemente – o SER que nos sustenta:
Terra.
Quando tomarmos
consciência de que precisamos de um ideal social (e depois ecológico
e espiritual),
de que devemos ter um
sistema que propicie liberdade para cada indivíduo exercer ao máximo
suas capacidades intelecto-morais;
de que devemos ter um
sistema que não permita uma pessoa ou grupo de pessoas explorarem
outro grupo;
de que devemos ter um
sistema que seja capaz de escutar TODOS, até que cada um tenha
revelado todas suas ideias, sonhos e pensamentos, e que saiba fazer
uso inteligente dessa riqueza;
de que devemos ter um
sistema que não negue o básico a ninguém, isto é, que opere com
base a Lei da Caridade,
Quando isso ocorrer
teremos um DNA social.
E assim poderemos dar o
próximo passo rumo à Evolução.
[1]
http://sociologiass-unesp.blogspot.com.br/2012/05/durkheim-sociedade-como-organismo.html