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segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Um artigo e uma entrevista

Antes de adentrar no livro de Gilson Freire, gostaria de compartilhar um artigo muito tocante escrito pelo Leonardo Boff, intitulado O misterioso destino de cada um:

https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Historias-do-Futuro/O-misterioso-destino-de-cada-um/48/42951

E recomendar uma entrevista do programa Voz Ativa, com Alysson Leandro Mascaro,


São essa classe de seres que começam a perceber a necessidade imperiosa de superarmos o atual paradigma, calcado no relativo e numa razão sem telefinalismo. A vida exige que adentremos numa nova forma de sentir e viver. É necessário remover os véus das verdades de superfície (des-cobrir) para que se nos apresente uma visão mais profunda da realidade, capaz de mobilizar o âmago dos seres.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

O Vértice da Sabedoria (até o momento)

A evolução não cessa jamais. Os últimos seis meses foram de atividade febril. De julho a dezembro o autor fez um pacto consigo mesmo, que consistiu em dedicar todos os interstícios de tempo e átimos de energia a realizar suas mais prementes obrigações do momento. Mentalizou-se uma hierarquia, fortemente inculcada na psique devido a um senso de dever, e assim foi possível seguir um roteiro pré-estabelecido, naturalizado em todo organismo bio-fisio-psíquico, dia após dia. Assim deu-se, após um tour de force de 170 dias, o que o mundo chama de sucesso. No fundo trata-se de uma ferramenta humana, que graças a esforços contínuos nos dois planos - mundo das medidas e reino do imponderável - está tendo seus caminhos abertos para realizar atividades de ordem mais elevada. 

Chegou-se ao topo. Mas essa posição de máximo é temporária.
Logo surgirão novos paradoxos, que demandarão novos
saltos de fé, cada vez mais inteligentes. Hora da razão
 que tanto escalou criar as asas da voo intuitivo.
A pergunta que paira no ar é: qual será o próximo tour de force

Mal inicia o ano e diversas ideias vêm à mente. A vontade impetuosa (de se realizar) e a assimilação dos fenômenos da realidade (estudada e vivenciada), ímpar em seus ritmos alucinantes, se aliam para  forjar um novo processo. O espírito fervilha num caldo de possibilidades que se lhe apresentam de forma muito sutil a cada dia que se passa. As condições são ideais. Há de se consumir o que se possui para alçar novos patamares. Quais serão eles? De que forma isso será feito? 

Para nos lançarmos numa empreitada íntima - que envolve as coisas do mundo, com suas ferramentas, métodos, opiniões e demandas - é mister sentirmos a presença do imponderável em tudo. Não se trata de uma alucinação mental de (e para) fracos, reconfortante àqueles que menos possuem habilidades e estacionaram no acostamento da preguiça. Não. É uma questão de perceber algo diferente no mundo que nos cerca, através de outro sentido. Esboçar hipóteses mais ousadas, para viabilizar novos avanços num terreno cada vez mais sedutor às mentes mais aguçadas e aos sentimentos mais anelantes. Para isso é preciso ter em mente de que a marcha da humanidade não cessa, jamais. Por quê? 

A Cosmologia e a Física quântica já comprovaram: o Universo é finito. Ele teve uma origem, distanciada 13,7 bilhões de anos de nosso presente - segundo a teoria do big bang. E sabe-se: tudo que nasce morre - e tudo que morre deve renascer. A primeira máxima é uma conclusão lógica do pensamento evolucionista do racionalismo mecanicista-cartesiano. A segunda, um imperativo lógico do evolucionismo espiritualista, que satisfaz toda alma humana, que em seu íntimo sente a presença de uma substância eterna além de tudo que se conhece. Em suma, o que se explicita no relativo deve desaparecer - nele ou com ele. 

Por terem uma particularidade em relação ao mundo físico (matéria e energia) [1], as múltiplas formas de vida estão em processo de morte e nascimento, cujo ritmo é muito diferenciado daquele das partículas e ondas. Os períodos são curtíssimos, muito limitados em termos siderais. No entanto, do ponto de vista criativo (inteligência), trata-se de um fenômeno ímpar, envolvente e apaixonante a todas as mentes e corações. A ciência materialista, em seu orgulho e impotência, a vê como um epifenômeno do cosmos. Coisa sem explicação lógica, e portanto não digna de ser investigada mais à fundo - justamente pelos fatos demandarem, imperiosamente, a edificação de uma hipótese negada nos últimos 3 séculos: Deus

O Sol é apenas um dos aspectos representativos da
grandiosidade de Deus. Tudo que conhecemos orbita em
torno de uma Lei, que rege desde o íntimo da matéria até
os espíritos mais avançados que conhecemos (anjos).
Isso nos leva à obra de Gilson Freire, um tour de force sem igual em termos de organização da linha de pensamento que mais interessa ao ser humano: a evolução, em seu sentido mais lato, e sua consequência última: a salvação. O livro se intitula Arquitetura Cósmica, obra de vastidão conceitual incomensurável, edificada com espírito de bondade ímpar, aliado a uma prosa do mais alto nível. A inspiração veio de um homem que resolveu - da forma mais completa até o momento - as enormes lacunas deixadas pelo teocentrismo aristotélico medieval, pelo evolucionismo espiritualista, e pelo neocriacionismo da Física quântica, da Cosmologia e da Biologia: Pietro Ubaldi.

Já são mais de sete anos de uma escalada evolutiva sem igual. Hoje percebo que o (meu) processo de desdobramento da consciência se iniciou há sete anos (2011), quando vieram os primeiros choques. Trata-se de impactos comuns ao mundo (permeado de dores), mas que, devido à sensibilidade do autor, se mostraram destrutivos. À época a impressão era a de que a vida findava. Tudo iria ruir: financeiramente, emocionalmente, intelectualmente, fisicamente, afetivamente. A noção do Espírito estava pouco firmada no coração. No entanto haviam todos os pré-requisitos para se iniciar algo muito inusitado...

A partir dos grandes eventos a trajetória tomou um rumo diverso do esperado. Os choques vieram de supetão, num átimo, sendo seguidos de outros, menores mas igualmente destrutivos. Mas quando o segundo veio (dez/2012), o autor já estava mergulhando em um universo, que o auxiliou nessa passagem dolorosa. Na mesma época findava seu mestrado.

Passados seis meses (jun/2013), inicia-se um processo de escrita sem planejamento algum. Essa explosão da alma se deu em paralelo a uma explosão coletiva, de indignação com o país e seus métodos, que se apresentava através de manifestações de intensidade assombrosa e envergadura capaz de chacoalhar o país, num amplexo de indignação sem precedentes, imprevisível a todos especialistas [3]. O ímpeto visava fazer uma iniciação, despejando questões muito profundas para uma abordagem verdadeiramente efetiva. Isso é o que se percebe olhando para a trajetória sendo construída. 
Uma viagem fantástica. Leitura útil
apenas para quem vivenciou a Lei.
Não basta ter erudição e condição:
é imperioso dispor de estofo
espiritual.
O frêmito do cotidiano indignou o autor, que estava sendo impulsionado para regiões desconhecidas. Sem jamais abandonar seus deveres, a criatura foi constatando a (triste) realidade do que ele já sentia ser verdade. Assim se deram manifestações fantásticas, traduzidas em conceitos e textos (2013-2014), além de (de brinde) uma aquisição de experiência profissional sem igual, recheando o currículo e dotando o autor de uma couraça que apenas um ambiente infernal poderia fornecer. Pois ficar dez horas por dia em ambiente insalubre, fechado, sem possibilidades de ser quem ele de fato era, constituía em tortura do espírito, somente sanável com uma manifestação inteligente e ousada - ousadamente inteligente. Assim maturou-se, inconscientemente, um novo ciclo, ao passo que se tratava de aproveitar tudo daquele que estava sendo (conscientemente) destruído. Eis a Lei de Deus em atuação para quem ardentemente a segue...

O fim do processo (nov/2014) lança a criatura-ferramenta numa espiral de reflexões. Nessa época a ânsia por ir além da doutrina consoladora [2] é muito ampla, e dessa forma se lhe apresenta algo incomensurável, que faria das recentes descobertas um simples astro orbitando em torno de um Sol intenso. Esse Sol é uma concepção de Deus e Universo jamais vista antes [4]. E assim tem-se o elemento principal do processo subsequente, que conduziria a pobre criatura a patamares de realização profissional, acadêmica, financeira afetiva inimagináveis, com a operacionalização do que a teologia medieval denomina milagre - e o que a ciência do espírito, prestes a nascer, denominará alinhamento com a Lei de Deus

Não irei pecar me repetindo sobre o que vem sendo exaustivamente - de vários modos - relatado de tempos em tempos neste 'espaço'. No entanto é premente enfatizar o aspecto substancial do fenômeno, demonstrando àqueles imersos no desespero de uma vida vazia e sem sentido, enfastiada de sensações cada vez mais angustiantes e engessantes, de que existe uma Lei que encapsula todas as outras, nas modalidades e níveis diversos, e que se "situa" fora do domínio espaço-tempo, local em que o relativo impera, ainda rejeitando violentamente (e impiedosamente) o que lhe excede: o absoluto. No entanto é este que tem o domínio daquele. E por isso não tem pressa, pois "seu reino não é deste mundo" [5]. Neste mundo, o espaço e o tempo findarão - como comprovam as teorias da Física quântica e a Lei da Entropia. No outro, esses finitos limitantes, com prazo de nascimento e morte, não lhe tocam nem no fio de cabelo...

Daí em diante a história é bem conhecida. Para aqueles que se interessarem pelos acontecimentos mundanos subsequentes recomenda-se a leitura e estudo dos textos que se dão a partir de (Nov/2014) [6]. 

Nos próximos ensaios tentarei transmitir a sensação de estar fazendo essa viagem no espaço, no tempo e no espírito, através da obra daquele que podemos chamar de continuador da obra ubaldiana, desfraldando ainda mais a nossa parca visão - visão de um espírito que anseia pelo absoluto...

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Notas e Referências:

[1] A vida consegue se contrapor à Lei da Entropia enquanto nasce, cresce e se desenvolve, viabilizando um desenvolvimento inteligente ímpar. 

[2] O espiritismo se apresentou como um consolo sem igual, servindo ao mesmo tempo para compreender os vários porquês da vida, sem negar o materialismo dos atomistas e o mecanicismo e cartesianismo.  

[3] As Jornadas de Junho, que se deram no Brasil em 2013, cujo catalisador foi ao aumento das passagens de ônibus nas capitais, capitaneada inicialmente pelo Movimento Passe Livre.

[4] Trata-se da arquitetura monista de Pietro Ubaldi.

[5] Jesus Cristo (João, 18:36).

[6] Alguns dos mais esclarecedores do processo que carateriza essa Lei suprema se encontram logo abaixo:

[6.1] Validar a Teoria 
         <http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2014/11/validar-teoria.html>
[6.2]  O Absoluto englobando o relativo 
         <http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2014/11/o-absoluto-englobando-o-relativo.html>
[6.3] Um ciclo, duas fases: pirâmide expansiva, pirâmide seletiva   <http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2014/11/um-ciclo-duas-fases-piramide-expansiva.html>
[6.4]  Fenomenologia dos Relacionamentos - parte 2 <http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2015/01/fenomenologia-dos-relacionamentos-parte.html>
[6.5]  Sistematização do Processo Evolutivo <http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2015/03/sistematizacao-do-processo-evolutivo.html>
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2015/03/sistematizacao-do-processo-evolutivo_27.html
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2015/03/sistematizacao-do-processo-evolutivo_81.html>
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2015/03/sistematizacao-do-processo-evolutivo_28.html>
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2015/03/sistematizacao-do-processo-evolutivo_9.html>
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2015/03/sistematizacao-do-processo-evolutivo_86.html>
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2015/03/sistematizacao-do-processo-evolutivo_40.html>
[6.6]  Era uma vez um escultor mágico e dois bloquinhos
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2015/04/era-uma-vez-um-escultor-magico-e-dois.html>
[6.7]  A necessidade da miséria (alheia*) para nos sentirmos bem - mas não sermos bons <http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2015/04/a-necessidade-da-miseria-para-nos.html>
[6.8]  Ascese mística traduzida em entretenimento 
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2015/04/a-ascese-mistica-traduzida-em.html>
[6.9]  Voltagem para amperagem 
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2015/05/voltagem-para-amperagem.html>
[6.10]  Matrix: uma visão místico-cósmica 
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2015/06/matrix-uma-visao-mistico-cosmica.html>
[6.11]  Reforma íntima integral 
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2015/06/reforma-intima-integral.html>
[6.12]  Busca infinita num mundo finito 
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2015/07/busca-infinita-num-mundo-finito.html>
[6.13]  A providência divina abraçando a previdência humana <http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2015/10/a-providencia-divina-abracando.html>
[6.14]  V: em busca da unidade das consciências 
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2015/10/v-em-busca-da-verdadeira-unidade.html>
[6.15]  A felicidade tranquiliza - a infelicidade inferniza <http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2015/11/a-felicidade-tranquiliza-infelicidade.html>
[6.16]  Ar-Água-Alimento-Abrigo-Afeto
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2015/11/ar-agua-alimento-abrigo-afeto.html>
[6.17]  A Lei de Deus
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2015/11/a-lei-de-deus.html>
[6.18]  Produção e Distribuição 
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2016/05/producao-e-distribuicao-parte-1.html>
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2016/05/producao-e-distribuicao-parte-2.html>
[6.19]  Ben-Hur e a natureza crística subjacente 
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2016/08/ben-hur-e-natureza-cristica-subjacente.html>
[6.20]  Gênese da sabedoria: a autoridade libertadora desatando os nós da liberdade autoritária <http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2017/04/genese-da-sabedoria-autoridade.html>
[6.21]  V's vituosos 
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2017/05/vs-virtuosos.html>
[6.22]  O advogado de Deus
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2017/06/o-advogado-de-deus.html>
[6.23]  Duas somas
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2017/07/duas-somas.html>
[6.24]  Os Miseráveis: queda e salvação 
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2017/07/os-miseraveis-queda-e-salvacao.html>
[6.25]  Emborcamento do rumo natural
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2017/08/emborcamento-do-rumo-natural.html>
[6.26] Ensaio sobre espaço, tempo e consciência (e seus desdobramentos)  <http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2017/09/ensaio-sobre-espaco-tempo-consciencia-e.html>
[6.27] Mecânica do milagre 
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2017/09/mecanica-do-milagre.html>
[6.28] Racionalismo em cheque 
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2017/10/racionalismo-em-cheque.html>
[6.27] Absoluto e relativo 
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2017/10/absoluto-e-relativo.html>
[6.28] O cineasta do evangelho 
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2017/12/o-cineasta-do-evangelho.html>
[6.27] Relatividade vertical, relatividade horizontal (RVRH)<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2017/12/relatividade-vertical-relatividade.html>
[6.28] Pensamento sistêmico: ponte entre técnica e misticismo <http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2018/03/pensamento-sistemico-ponte-entre.html>
[6.29] Estado de fluxo
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2018/04/estado-de-fluxo.html>
[6.30] Deus legisla, o Diabo executa, Cristo julga <http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2018/06/deus-legisla-o-diabo-executa-cristo.html>
[6.31] Vegetarianismo: questão de maturação evolutiva? <http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2018/06/vegetarianismo-questao-de-maturacao.html>
[6.32] Miracolo non ci aspetta - si crea 
<http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2018/07/miracolo-non-ci-aspetta-si-crea.html>

* essa correção pretendo fazer no título, de modo a ficar mais coerente com o fenômeno que se dá.

domingo, 6 de janeiro de 2019

Quanta dor é necessária?

Inicia-se o ano de 2019. O autor ascende em níveis materiais, intelecto-culturais e espirituais. Novas engrenagens (tangíveis e intangíveis) começam a girar. Outras são geradas conceptualmente. O estado de ânimo e saúde estão altos e estáveis. O currículo se avoluma. A personalidade se constrói. A comunicabilidade salta e a capacidade de enfrentamento aumenta. As ideias fervilham.

No momento, três grandes frentes: estudo (preparo) de um curso para engenharia e outro de extensão; elaboração de ideias e redação de textos; revisões da tese. Em paralelo, a leitura de uma obra espiritual-científica [1], às noites. Em breve iniciar-se-à a continuação do curso pedagógico. De restante, filmes alternativos visando despertar a consciência, vida em família, uma viagem simples, para repouso da mente, gastronomia, músicas elevadas, ginástica, e muita vontade de criar. Isso sem contar com as condições profissionais.

Figura 1: Universalidade e Imparcialidade.
O ordenado é satisfatório e constante - pois vive-se de forma simples. As condições, adequadas. A possibilidade de crescer na carreira, boa. Trata-se sem dúvida de uma vida abençoada. Todos esses fatores levam o autor a um estado de gratidão - que se manifesta na forma de intensidade espiritual - indescritível, em que a responsabilidade pesa tremendamente. Esta, aliada à vontade infinita em desenvolver-se, é o motor psíquico-orgânico que sustentará as formações subsequentes. A situação de dever só aumenta. Quando se percebe o desmoronamento iminente e  inexorável da sociedade contemporânea, em que tudo o que se conhece por decência está ruindo no mundo, o ímpeto domina. É imperativo fazer o que deve ser feito: alertar o mundo e apontar para os exemplos, desde Ubaldi e até Rohden; de Lammenais a Gilson Freire; de Francisco (de Assis) à Francisco (o Papa); de Boulos a Duvivier; de Dowbor a Safatle; de Tiburi a Manuela; e muitos outros(as). É no Brasil que essa forma mental (tamásik-rajásik) adquire a forma mais caricatural, violenta, hipócrita e ignorante.

A subida ao poder de uma série de criaturas desalinhadas com qualquer interesse de desenvolvimento cultural, artístico, científico, desenvolvimentista, social, humano, tributário, agrário, por moradia, etc, marca o esfacelamento do que se conhece por Nova República (1988-2016), pautada por conciliações de classes - e especialmente parlamentares - em todos governos eleitos após a Constituição de 1988 - também conhecida como Constituição Cidadã. Alguns delas foram piores que outros. Mas nenhum deles rompeu tão explicitamente com a onda de evolução (lenta e ineficiente, porém consistente) que vinha permitindo a inserção de certas camadas da população em ambientes antes só reservados a uma classe. O processo teve um grande defeito: criaram-se consumidores, não cidadãos [2].

Por outro lado, é difícil implementar-se um ideal no mundo concreto (leia-se, instituições de poder e cultura) sem sujar-se no lodaçal humano dos esquemas, vícios e violências [3]. Isso é tanto mais verídico quanto menor o número de indivíduos engajados em apoiar àqueles alinhados com sua visão, situados mais no topo da pirâmide do poder (influência) político-econômico. De tal forma que, se aquele grupo ou indivíduo se vê no poder sozinho - junto com grupos não-alinhados nos princípios -, sem o devido apoio, integral, constante, intenso e criativo, de uma boa parte da população (uma massa crítica), a tarefa é titânica e de difícil realização. Com o tempo ela tende a degradar. 

Quem crê na melhora, pautando-se nos movimentos inciais do novo governo, se ilude. Os motivos são vários. Vejamos alguns.

(a) Estar preso ao grande aparato midiático por muitos anos e/ou décadas, que (de)formou a capacidade de selecionar informações e (des)construir conhecimentos;

(b) Temer se destacar do meio em que se vive, optando pelas "garantias" do mundo, tão tangíveis quanto imediatas. Desse modo a consciência é sufocada em prol do bem-estar, seja este psicológico, material ou social;

(c) Estar aprisionado aos instintos em grau muito alto, construindo uma racionalidade argumentativa que oculte os vícios e justifique os engessamentos mentais, sejam eles de indivíduo ou de grupo;

(d) Ter se tornado refém da digitalização e dos aparatos eletroeletrônicos, hoje tão abundantes quanto chamativos, indispensáveis às operações mais obrigatórias da vida, como pagar contas, declarar imposto, arranjar empregos e oportunidades, entrar em círculos sociais, entre outros.

Figura 2: Partidos com mais fichas sujas.
Extraído de: Folha de S. Paulo.
A onda anti-corrupção é uma cortina de fumaça que engana os incautos - e estes são muitos. Existem dados que comprovam os graus de corrupção por partido (dos inúmeros) e por setor (público ou privado). Mas as coberturas do horário nobre focam determinados acontecimentos, envolvendo usualmente o mesmo personagem e grupo(s), geralmente relacionados de alguma forma. Estudos comprovam isso de forma cristalina, mostrando que a grande mídia é tendenciosa [4]. Mas afinal de contas, por que afirmo categoricamente que ela é tendenciosa?

Vamos considerar o número de políticos, por partido, barrados pela Lei da Ficha Limpa (Figura 2). Se observarmos os dez maiores (do PSDB ao PDT), cuja quantidade de membros destoa mas não de forma gritante, percebe-se que o PT possui 18, que é 1/3 do PSDB, primeiríssimo colocado, com 56. E que o PMDB, que sempre controlou o legislativo, vem na sequência, com 49. Em seguida PP, PR, PSB, PTB,...Isso leva o leitor mais ponderado a se perguntar o porquê da mídia (e de tanta gente, a reboque da mesma) dedicar uma quantidade de tempo tão grande em detalhar e repetir (exaustivamente) as mazelas e defeitos do PT - que existem sim e não são poucos - ao passo que deixam em paz todo o restante do espectro político do país. Não é preciso ser muito inteligente para perceber que existe uma manipulação sendo orquestrada. Nessa trama, não se sabe exatamente o porquê disso - sabe-se apenas que ela existe, tamanho o descalabro entre informações factuais e sugestões que colimam em condenações fanáticas.

Figura 3: Participação percentual de cada base de incidência
na receita tributária total, 2013. Fonte: OCDE.
Uma outra informação pode dar ideia das causas da desigualdade em nosso país (Figura 3). Nela observa-se que o Brasil destoa do mundo, taxando pesadamente bens e serviços, pouquíssimo patrimônio e pouco a renda - que ainda se dá de forma desigual, com poucas faixas e teto pequeno, com atesta a Figura 4. Isso significa que aqueles que menos recebem (os pobres) devem pagar mais impostos, ao passo que a classe média também é prejudicada, tendo que pagar o mesmo percentual daquele que ganha muito. POr exemplo, um engenheiro que ganha 5 mil/mês já paga o teto do IR; um juíz que ganha 30 mil/mês paga a mesma proporção; um CEO de uma multinacional que ganha 400 mil/mês idem, e por aí vai...Isso significa que acumula-se cada vez mais quanto mais se ganha. Quem ganha mais acaba viabilizando ganhos ainda maiores no futuro. Porque aplicações financeiras possuem tributação baixa e não demandam nenhum esforço - por não produzirem nem bens, nem serviços, sejam eles tangíveis (comida, geladeiras, casas) ou intangíveis (cultura, conhecimento).

Figura 4: Rendimentos isentos e não-tributáveis dos
declarantes do IRPF tendo como base o salário mínimo
de 2013. Fonte: Receita Federal do Brasil.
Me é muito desagradável dedicar tempo e energia em descer a nível de assuntos tão elementares (e polêmicos, considerando o grau de cegueira que domina boa parte da população brasileira). Mas é preciso fazer o esforço de acordar os bem-intencionados em sono profundo. Convocar mentes e corações ao bom senso não equivale a cooptá-las a seguirem suas ideias- ou melhor, fazer os outros  pensarem como você ou eu. É simplesmente torná-los aptos a pensar. Portanto há duas maneiras de encarar os (poucos) fatos e informações inseridos aqui: como um ataque do grupo A (dos maus) contra o grupo B (dos bons); ou como um convite à reflexão. Neste último caso, não se nega a verdade do outro, mas adicionam-se novas informações, igualmente consistentes, destacando o contexto e revelando as nuances da natureza humana. Eis a proposta do Blog.

Pietro Ubaldi, Huberto Rohden, Albert Einstein, Allan Kardec, Isaac Newton, Ludwig Van Beethoven, Victor Hugo, Benedito Spinoza, Blaise Pascal, Giordano Bruno, e muitos outros iluminados que os antecederam, começaram a busca por esse monismo, seja através da astronomia, da matemática, da física, da música, dos espíritos, da filosofia,... de Deus. Adiciono a estes uma alma muito bondosa e competente, difusor e assimilador da Obra de Ubaldi: Gilson Freire, espírito de grande capacidade de discernimento, como sua jornada de vida pode atestar [6]. Por que cito esses grandes?

Aqui tento, através das dores sofridas e de uma vivência intensa, permear todos os assuntos que afetam de alguma forma minha psique e espírito, visando forjar minha personalidade. E como consequência, é natural apontar para os verdadeiros vetores do progresso, recém-citados.

É importante se dar conta de que as dores da atualidade somente cessarão com um novo rumo. É preciso admitir as verdades relativas (todas) para haver diálogo e compreensão. 


Figura 5: discernimento é manifestado pelo olhar da pessoa.
Eles são a janela da alma.
No momento estou fazendo uma viagem fantástica, formidável e prazerosa. Uma viagem no espaço, no tempo e na consciência [1]. Todas as noites me deleito e revivo os dramas e glórias da ciência, da filosofia e da religião, encarnadas em criaturas de personalidade ímpar, cujos feitos assombram em termos de magnitude e determinação. Fico confortado ao saber que os espíritos atrasados serão expelidos desta orbe ao terminarem suas vidas, ao longo desse século, para habitarem mundos atrasados e assim dar condições para que as boas almas deste planeta Terra possam trabalhar em paz para o progresso do mundo. Essa realocação será natural e inexorável, obedecendo leis do intangível, superiores a todas que conhecemos até o momento. Aqueles que dominam o mundo (megacorporações e bancos) e ditam as regras do jogo para seus capatazes (governos) tem pouco tempo. Não estão fazendo o seu trabalho, optando por confundir e distorcer a realidade para extrair os meios de vida da humanidade, enaltecendo a ideologia mais nefasta e destrutiva que esse mundo já viveu: o neoliberalismo.

Essa sim, é a verdadeira corrente mental que deve ser combatida. E os meios de vencê-la terão de ir além dos convencionais, pautados na argumentação e no materialismo científico...

A intuição, o amor e a vivência querem despertar.

Quanta dor mais será necessária para acionar essas engrenagens superiores?

Referências:
[1] FREIRE, Gilson. Arquitetura Cósmica. Editora INEDE, 2006. 
[2] https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46624102
[3] UBALDI, P. A Descida dos Ideais. FUNDAPU. 1965. Disponível em: https://teilhardianos.files.wordpress.com/2012/06/a-descida-dos-ideais-pietro-ubaldi.pdf
[4] Lula e o Massacre do Jornal Nacional. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/politica/lula-e-o-massacre-do-jornal-nacional/
[5] O Ranking dos Fichas Sujas. Disponível em: http://domacedo.blogspot.com/2012/09/o-ranking-dos-fichas-sujas.html
[6] http://www.gilsonfreire.med.br/

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

O Caminho do Meio

O Príncipe Siddhartha Gautama, que ficou conhecido como Buda (desperto), legou à humanidade lições de valor inestimável. Sua busca pela iluminação se traduz em viver de acordo com princípios superiores, focando todos os pensamentos, atitudes e ações, no longo prazo. Isto é, na edificação da alma. Ao mesmo tempo, não se esqueceu do corpo e da mente - entidades abaixo da alma em termos de indestrutibilidade. Por que? 

Buda possui ensinamentos que podem potencializar
nossa vida cotidiana, sentida e vivida. Só precisamos
nos sensibilizar para eles...
O monismo é a primeiro nível de consciência que não vê matéria e espírito como entidades distintas, com origens diferentes. Ambos são formas de manifestação da substância (divina), una, indestrutível, íntegra e boa. O que distingue ambas é que o espírito é uma forma (muito) mais sutil da substância em relação à matéria, manifestação grosseira e capturável pelos nossos cinco sentidos. O liame que estabelece uma relação íntima entre essas duas aparentes antíteses multimilenares é a energia, traduzido pelo dinamismo do universo. Tudo é um vir-a-ser (divenire). 

Nossas obras são inacabadas. Nossas teses, cursos, carreiras, relacionamentos, textos, linhas de pensamento e demonstrações de sentimento...Os projetos de vida verdadeiramente significativos, permeados de valor e impulsionados por forças desconhecidas, jamais cessam. Sempre estão em curso, ressuscitando ideias em nome do ideal - jamais ultrapassado. Buda trouxe à luz esse grande aspecto da vida. Característica fundamental de nosso universo material. A transformação se dá em vários níveis e modalidades, que acaba assumindo escalas de tempo e formas diversas. Do reino físico-químico às formas de vida orgânicas simples e complexas; destas ao psiquismo rudimentar, que se manifesta pela primeira vez no homem como razão; desta para os saltos vertiginosos, alcançando a estratosfera do saber e da vivência, através dos gênios e santos; deste para além, demandando uma vida cada vez mais significativa, próxima a um princípio diretor que tudo engloba, tudo coordena, tudo ama: Deus. Neste estágio um amplexo abarca cada instante da vida do ser, tornando-o um espécime diferenciado ao grau mais alto.


Nosso jovem príncipe começou a se inquietar com a questão da vida e da morte, da dor, do sofrimento e da finitude humana desde cedo. Aos 19 anos começou e perquirir sobre o sentido de tudo isso. Por que existe a dor? Por que todos morrem? Por que essa finitude que delimita um destino fatal, a despeito de todos esforços humanos em eternizar a forma, o corpo, as teorias? Nascido na riqueza e vivendo na riqueza, com todas garantias e glórias terrenas, esse homem sentiu as limitações de tudo, e como processo natural começou a maturação interior sobre essas questões. Queria uma explicação - que o mundo não tinha formulado. Assim, aos 29 anos Siddhartha, príncipe bem casado, com uma bela esposa e filho recém-nascido, abandona seu palácio e se lança ao mundo. Por escolha própria se atirou ao desconhecido, sabendo apenas o que não queria. 

Podemos separar a vida do príncipe em duas partes antes de atingir a iluminação e se tornar um Buda.

A primeira delas foi a vida no palácio, de forma consciente (19 aos 29 anos). Aí ele, na flor da idade, dispõe de todos confortos e autoridade, toda beleza e garantias. A segunda ocorre após o abandono do lar, caracterizada pela vida ascética, negando tudo que o mundo oferecia, passando fome, dormindo ao relento e sem posse alguma, nem sequer vestimenta decente. Essa fase é mais curta, porém muito intensa e de grande valor (dos 29 aos 35 anos). Nela o (ex-)príncipe saboreia o outro pólo da vida, se tornando um pária, sem família, maltrapilho, sujo, fedido, esfomeado, recusando tudo que provêm do mundo, que é Maya (a grande ilusão) [1].

Em meios a tantas privações, meditação profunda. A dedicação para as coisas intangíveis era total. Em busca do imperecível, íntegro e infinito, Gautama se dedicava o máximo possível à entrar num estado de interiorização. Mas sempre era impedido de atingir o ponto máximo (nirvana).

"De acordo com os textos mais antigos,[40] após ter alcançado o estado meditativo de jhana, Gautama estava no caminho certo para a iluminação. Mas o seu ascetismo extremo não funcionou e Gautama descobriu o que os Budistas chamaram de o Caminho do Meio, o caminho para a moderação, afastado dos extremismos da autoindulgência e da automortificação. Em um famoso incidente, depois ter ficado extremamente fraco devido à fome, é dito que ele aceitou leite e pudim de arroz de uma garota chamada Sujata. Tal era a aparência pálida de Siddhārtha, que Sujata teria acreditado, erroneamente, que ele seria um espírito que lhe realizaria um desejo." [2] (grifos meus)

Aí ele solucionou o grande "x" da questão: os extremos não possuem a solução. Se ele pudesse traduzir o que viu, de relance, provavelmente afirmaria que estava tentando atingir o infinito e eterno através de um outro pólo do mundo. Essa é uma mentalidade separatista, negadora de todos aspectos de um grupo de finitos (ex: riqueza) - e adoradora total de todos aspectos de outro grupo de finitos (ex: miséria), caracterizado por um grau de consciência dualista. Não. Seria necessário transcender esse separatismo, abraçando o divino de tudo e todos, e rejeitando o mundano - de tudo e de todos. Eis o monismo!

Equilíbrio. Nem recusar (ascético) nem abusar (tipo médio).
Mas usar corretamente (evoluído).
Todo mundo possui uma verdade em seus discursos, ações, atitudes, valores. Até mesmo nossos piores inimigos possuem um ponto de vista a favor da vida (e vice-versa). Para ver isso é preciso se desprender do nosso Ego humano (binômio corpo-mente), colocando-nos em sintonia com o nosso Eu divino (binômio alma-espírito). Nada é mais difícil do que realizar esse salto. Mas o que é mais interessante: podemos caminhar para esse estado de consciência através dos trabalhos que realizamos no mundo. Isso inclui sociabilização, vida profissional, estudos, afetos, obrigações, etc. Perceber isso é começar a compreender o que é o Caminho do Meio [3].

Eu já li algumas obras a respeito dessa jornada. No entanto é preciso vivenciá-la. Para isso é mister observar sua vida (dobrar-se sobre si mesmo) e perceber que aspectos de sua conduta (intenções) estão em sintonia com o Nobre Caminho Óctuplo [4] - os meios para chegar a esse equilíbrio. 

Quais são esses meios?
  • Compreensão correta - compreender as coisas em sua intimidade, real significado.
  • Pensamento correto - evitar causar o mal tanto nas ações quanto no pensamento.
  • Fala correta - Pronunciar apenas o necessário, quando requisitado. Não fofocar nem mentir. Ter discurso construtivo e conciliador.
  • Ação correta - Evitar a destruição da vida em todos sentidos. Abster-se de conduta sexual imprópria. Não tomar o que não foi dado.
  • Meio de vida correto - Profissão e carreira em harmonia com os princípio de Buda. Sempre visar um trabalho construtivo, em prol da vida e evolução, seja qual meio usar.
  • Esforço correto - Abandonar estados (de mente) prejudiciais. Cultivar a serenidade da mente.
  • Consciência correta - percepção apurada do corpo, dos pensamentos, da fala. Se observar a partir dos outros.
  • Concentração correta - Foco mental. Não se abalar com as agitações da superfície. 
Usá-los irá nos redirecionar na vida. Precisamos estar sempre nos relembrando de tudo isso. Isso nos levará a ter uma aceitação melhor da realidade - por mais cruel que seja. E com isso poderemos agir de modo mais orientado, sem nos deixar abalar pelas inquietações adjacentes, pelas ameaças e pelas ofertas de recompensas. Estaremos trabalhando na profundidade do oceano, deixando o mundo perceber por si só a grande verdade: que desesperar-se na superfície das ondas durante as tempestades - e festejar a ausência das mesmas - é pura perda de tempo que drena energias para o que realmente interessa. Isso venho percebendo com a vida - e experimentando através de minha existência [5].

Meditar é um meio poderoso para seguir o caminho do meio.
Mas novamente: é preciso de dedicar a atividade.
Dedicar-se a algo implica em reconhecer seu valor.
Quando a pessoa começa a perquirir e experimentar esses preceitos sagrados, de forma séria, - como fazemos com nossas obrigações mundanas - os resultados começam a ficar evidentes. Cria-se um ciclo de realimentação positiva, que tende a nos dar uma segurança crescente no caminho seguido, oferecendo simultaneamente conselhos (implícitos) para redirecionarmos nossa busca, para que ela fique menos dolorosa. Mas não para por aí. Há outras vantagens interessantes no pacote oferecido por Buda.

Existem muitas personalidades brasileiras que admiro. Cito algumas elas com certa regularidade aqui neste espaço: V. Safatle, R. Requião, M. Tiburi, L. Boff, E. Marinho, J. Souza, E. Moreira, L. Dowbor, G. Boulos, G. Duvivier, J.P. Stédile,...Mas é importante nunca nos prendermos de forma absoluta a uma ou algumas delas. Concordar com 100% das visões, ideias e métodos de alguém pode indicar que atingimos um limite de discernimento. Por melhor que alguém seja, por mais incrível que seja seu esforço em melhorar o mundo e a si mesmo; por mais criatividade e ousadia inteligente que alguém transborde, é imprescindível percebermos as limitações dos mesmos para que o progresso jamais cesse. Porque aí reside a gênese dos cultos e rituais e repetições. 

Alguém como (por exemplo) Eduardo Marinho é um ser formidável em vários aspectos, cuja contribuição para a difusão de verdades (pouco exemplificadas e ditas diretamente) é dificilmente igualável. Trata-se sem dúvida de um ser que teve a sinceridade e seriedade de iniciar e manter sua busca pelo significado da vida. Me sintonizo com a maioria das ideias dele e admiro sua coragem em enfrentar a realidade a partir de uma posição que lhe seja mais sincera - consigo mesmo. No entanto existem pontos sensíveis em que não compartilho de sua visão. 

Vejamos alguns aspectos baseados numa síntese de sua trajetória íntima, apresentada numa bela entrevista (que recomendo a todos(as)!) [6], disponível logo abaixo.



Suas atitudes e percepções estão plenamente de acordo com o que sinto a respeito do mundo. No entanto, não concordo plenamente com ele quanto a se desvincular de todos os valores sociais, que seria condição sine qua non para atingir uma plena libertação de ser e agir.

Num trecho da entrevista ele relata a alegria dele e de sua companheira ao saberem da gravidez da mesma. Ambos saíram nas ruas para festejar, pulando de alegria. Não tinham moradia, nem plano de saúde, nem emprego fixo, nem reservas financeiras, nem nada. Ele admite a irresponsabilidade - mas justifica-se (afirmando o que eu explicitei no parágrafo anterior, entre aspas).

R. Requião é (era) senador da república. Tem posses, é bem remunerado, se veste e se alimenta decentemente. Estudou. No entanto, não o vejo como alguém que cedeu ao mundo e em troca acabou perdendo a sua capacidade de ser e agir de acordo com sua consciência - como demonstram seus discursos e seu exemplo de vida pública (e privada), de forma cristalina [7]. É claro que existem normas a serem seguidas. Ter de conviver mais perto de pessoas com intenções espúrias. Mas o seu poder de alcance é muito maior do que de E.Marinho. Tanto em termos de legislar em prol do desenvolvimento econômico, da justiça social e da cultura, quanto em fazer frente a políticas de retrocesso. Não podemos ignorar esse outro aspecto a vida.


Todas pessoas que sentem um ímpeto evolutivo realizam um trabalho edificante - seja qual seja sua forma. Essas pessoas podem ter vidas muito diferentes em termos de posses, renda, alimentação, raça, escolaridade, especialização, discurso, etc. Mas nenhuma dessas características são gritantes, isto é, constituem uma ofensa à humanidade. Requião tem quase 80 anos e não para de trabalhar. Ele faz jus a seu salário. E tem uma visão integradora. Assim como L. Dowbor, operando na frente acadêmica. E Florestan Fernandes Jr., no jornalismo. 

Boulos tem uma ação "pé no barro", combinando ideias coerentes entre si, ação social construtiva e engajada, e vivência sintonizada com o que fala. Podemos afirmar o mesmo de J.P. Stédile. E muitas outras lideranças quilombolas, indígenas, ecológicas, espiritualistas, etc. De modo que todo ser humano com envergadura espiritual realiza seu trabalho em prol do infinito, cada qual de modo adaptado à sua personalidade.

Isso é exatamente o que significa o Caminho do Meio. É reconhecer as potencialidades construtivas das múltiplas finitudes e relativos. Pessoas são diferentes na superfície. Mas se elas estiverem operando em prol de um princípio superior, que muitos às vezes nem reconhecem e (portanto nem) sabem descrever, precisamos valorizá-las e aprender com elas - mas ao mesmo tempo nos capacitar a discernir suas limitações, expô-las e procurar apresentar uma alternativa que supere essa limitação.

Não se trata aqui de limitar grandes personalidades, e sim de entrar no mesmo nível vibratória que as fizeram ser o que são: grandes almas a serviço da ascensão. 

Discernimento é a chave para atingirmos esse equilíbrio, que nos posicionará no seio do vórtice evolutivo, nos alçando a patamares inimagináveis - e assim nos capacitando a entrar na primeira fileira de operários do progresso.

Buda nos brindou com esse grandioso conceito de vida há mais de 25 séculos. 
É hora de assimilá-lo com toda intensidade. 
Os tempos exigem isso!

Referências:
[1] https://aframramatis.org/artigos/maya-a-grange-ilusao-mantida-pela-danca-de-shiva/
[2] https://pt.wikipedia.org/wiki/Sidarta_Gautama#Partida_e_vida_asc%C3%A9tica
[3] https://pt.wikipedia.org/wiki/Caminho_do_Meio
[4] https://pt.wikipedia.org/wiki/Nobre_Caminho_%C3%93ctuplo
[5] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com/2018/12/um-salto-de-fe.html
[6] https://www.youtube.com/watch?v=iqFOmq_9TR8
[7] https://www.youtube.com/watch?v=e8WNXYeQnSY

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Diferenciação e seus desdobramentos

O futuro da humanidade é a diferenciação. Em termos profissionais, fala-se em especialização. Mas não se muda o ponto, que consiste em criar uma heterogeneidade cada vez mais pronunciada com a evolução. A grande arte consiste em saber coordenar tamanha diversidade de modo a obter o máximo rendimento de cada elemento, colimando numa sociedade verdadeiramente civilizada.

Qual é a essência do fenômeno evolutivo? A vida me diz: se destacar cada vez mais da mediocridade do tipo médio, hoje predominante. Não se trata de uma avaliação de indivíduos, mas de níveis de consciência, que todos irão superar, cedo ou tarde, à força ou por boa vontade. Logo, aqui não há julgamentos - apenas constatações que levam a confirmações.

A natureza dá pistas se olharmos na essência.
Padrões, analogias e semelhanças.
Ser diferenciado leva a um afastamento da sociedade. A uma diminuição do discurso. A se pronunciar em raríssimos momentos, em ocasiões específicas, quando se é convocado a tal. A participação é em silêncio, com vistas a não chamar atenção de ninguém. A interação faz com que o mundo perceba a verdadeira natureza do ser. Isso o coloca numa posição de perigo, já que a incompreensão neste mundo toma formas muito obscuras. Logo, inconscientemente, o ser minimiza a possibilidade de encontros. Quem fizer isso com elegância e sapiência terá certo sossego ao longo da vida. Será um enigma, mas permanecerá em paz.

Aquele que se diferencia começa a perceber a urgência da igualdade jurídica e social. Isso significa garantir a todos as necessidades comuns à manifestação da vida humana em suas mais variadas formas: alimento, abrigo, água, higiene, vestimenta, saúde, educação, segurança, transporte, etc. E que todos terão o mesmo tipo de tratamento perante a lei, independentemente de seu patrimônio, cultura, intelecto, escolaridade, renda, raça, etnia, gênero, orientação (política, sexual, ideológica,...), idade e estado de saúde. Mas antes, - como pré-requisito - para perceber essa necessidade premente, é mister ter se destacado em termos de sensibilidade. Somente essa maturação é capaz de trazer visões mais profundas, do funcionamento íntimo do universo.

"Um princípio que guia a forma na ascensão evolutiva, oposto ao das unidades coletivas e da recomposição, é o da diferenciação, pelo qual a evolução ocorre passando do indistinto ao distinto; do genérico ao específico, ao particular; do homogêneo ao diferenciado. Essa tendência à multiplicação dos tipos, à subdivisão da unidade, encontra seu contra-impulso compensador, com o qual se reconstrói o equilíbrio, na tendência à reorganização e reunificação, devida ao princípio das unidades coletivas. Esse processo de reorganização implica uma progressão constante da complexidade. Tais princípios são forças-tendências, que se manifestam como um instinto, uma necessidade do devenir, no sentido de ser segundo esse próprio princípio. Muitas vezes eles se conjugam como contrários, balanceando-se assim em perfeito equilíbrio."
P. Ubaldi - A Grande Síntese, Cap. XL (grifos meus)

O processo evolutivo é constituído de ciclos. São etapas que, vistas numa escala de tempo limitada, com olhos materialistas, pode parecer sem sentido e desagregador. E por isso combatido - se se chegar ao ponto de se sentir ameaçado pelo mesmo. No entanto, trata-se de uma série de ciclos diferenciação-reorganização, ordenados em níveis macro e micros na escala de tempo.

A ascensão é o primeiro passo dado por raros espécimes. A seguir, esses pioneiros devem se consolidar em sua posição, erguendo novas formas de vidas, relendo ideias, gerando conceitos, inventando,...deixando uma obra que seja assimilável àqueles logo abaixo, ainda juntos à imensa maioria, mas cujos olhos estejam perscrutando os mistérios do imponderável. Cria-se um liame que garante a retomada da semente deixada. A gestação dolorosa nos tormentos das obrigações mundanas jamais deve ser em vão. Mas quem garante essa continuidade - apesar de todos empecilhos - são forças desconhecidas, operando de modo misterioso e majestoso. Tão sutil que ninguém se sente ameaçado por ela - tão íntima que se torna irresistível às ferramentas que as viabilizam. As etapas subsequentes estão já mais próximas ao nível humano. Os herdeiros deverão assimilar aquilo que lhes impactou outrora, revivendo em suas mentes e corações o significado do fenômeno ímpar, acionado por aquele que ascendeu a outro nível de percepção.

A busca por si leva à unificação com o outro.
A diferenciação edifica os caminhos da igualdade.
A "febre" se espalha e torna-se algo mais comum. Cria-se um circuito de ideias e conceitos. Uma corrente de pensamento nova paira na rede de informação do plano racional. Sua forma ainda revela traços incomuns, de envergadura delirante e com afirmativas por demais fortes. No entanto sente-se, intuitivamente, algo de novo, fascinante, por parte de alguns indivíduos já exaustos dos me´todos do mundo. Uma força nova, que pode finalmente pôr em marcha a inércia generalizada em que a espécie se encontra. Algo que ordene a desordem do sistema humano, através de uma revolução biológica, que convida o indivíduo a (antes de tudo) ser. Somente a partir daí é possível  fazer algo com teor substancial. Isso atrairá as reais necessidades. Chega-se ao significativo ter. Logo, esboça-se na minha mente o processo de difusão do novo na horizontalidade do mundo:

Ser => Fazer => Ter

É preciso antes de tudo transformar a essência da personalidade. Somente assim os atos serão verdadeiramente novos, sustentados por uma força (subconsciente novo, que superou em parte um instinto não mais dominante) irrefreável, que garante sua reprodução no mundo. Assim atinge-se o estado de autopoiesis [1], típico da vida orgânica - ainda em ensaio a nível psíquico. A realização verdadeiramente atraente é sustentada por uma essência.

Teilhard de Chardin mostra através de seus estudos que a biosfera já se consolidou. A noosfera [2], no entanto, está se formando. Trata-se de uma "atmosfera" de pensamentos. Correntes de conceitos que circulam no planeta. Fluxos de informação e conhecimento gerados pela espécie humana.

Fazer com intensidade e determinação atraí o que é necessário para a execução. Adquirir algo de modo seguro exige uma essência pura (natureza superior) aliada a uma execução fervorosa (no plano consciente). O resto é consequência natural do processo.

Assim temos, de modo sintético, o porquê da diferenciação do indivíduo, seus mecanismos íntimos, e quais as etapas subsequentes. Num dado momento, a humanidade será obrigada, por força de circunstância, a estabelecer diretrizes gerais de novos sistemas no que tange a aspectos éticos,  jurídicos, econômicos, políticos, normas sociais, natureza das religiões e orientação da ciência. De forma que podemos afirmar, com segurança, que a diferenciação é a gênese do processo que leva o sistema a se plasmar definitivamente, em nível evolutivo, para algo melhor. Ou seja, capaz de lidar com mais contradições internas - e portanto sobreviver.

Referências:
[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Autopoiese
[2] https://pt.wikipedia.org/wiki/Noosfera