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quarta-feira, 15 de outubro de 2014

REFLEXÕES SOBRE TEMAS (2)


"O seu mau humor não modifica a vida" [N2]

O mau humor está relacionado com a percepção que a gente tem da vida.

Sempre iremos receber saraivadas de estímulos externos. Desde que nascemos. E antes. E depois (da morte). E serão de várias espécies.

Ao longo dos anos desenvolvi uma capacidade que consiste em não me deixar influenciar por assuntos ou acontecimentos pouco importantes na minha vida - apesar de muitos verem como prioritários e interessantíssimos. E a perceber e valorizar fenômenos e pessoas e ambientes que passam pela vida de milhões e milhões despercebidos. Isso me ajudou a manter o bom humor em momentos tensos. Mas igualmente aumentou minha indignação diante das injustiças.

É difícil não ficar de mau humor. Especialmente se ele é causado por uma injustiça social, cultural ou afetiva. Mas creio que a irritação - mesmo que prejudicial para o corpo e a mente - já é uma espécie de progresso. Porque trata-se de uma revolta contra um problema mais profundo (afetividade) e universal (cultura e sociedade).

Acredito que continuarei sendo inconformado com muitas das coisas que compões a realidade deste mundo. Talvez pela capacidade de vislumbrar como muitas coisas poderiam ser. E sabendo de que forma isso poderia ser feito. Mas a forma mental progride muito lentamente e é muito resistente a mudanças na substância. Por outro lado, não vejo uma relação direta entre inconformação e mau humor. É possível estar em desacordo com o mundo e conviver nele. Isso é a verdadeira arte da vida, a meu ver.

Existe uma diferença abissal entre adaptação e conformação. Quem não se adapta - a si mesmo, à sua natureza divina - e se conforma - com os absurdos ocultos e visíveis do mundo - pode ser aparentemente bem humorado. Apenas por fora claro. Porque por dentro existe um choque constante entre o que queremos ser e dizer e o que de fato dizemos e somos. Apenas para agradar a sociedade e garantirmos uma imagem boa. Não deixa de ser um egoísmo travestido de boa aparência e educação e pacifismo. A intenção nunca esteve tão disfarçada. Mas isso já é um progresso.

Por outro lado quem se adapta ao seu Ser e é inconformado com o funcionamento do mundo tende a desenvolver hábitos construtivos para denunciar, criticar e amenizar os impactos negativos. É um questionador. Muitos não percebem essa diferença substancial entre quem reclama e quem questiona. Ambos assumem uma postura perante o mundo, mas enquanto o primeiro não filtra a negatividade, deixando-a permear sua personalidade, o segundo filtra tudo nocivo ao seu desenvolvimento e não gasta energias em campos muito distantes de sua realidade. O primeiro busca o segundo atrai.

Quem tem mau humor reclama.
Quem tem bom humor questiona.
Devemos questionar incessantemente. Tudo e todos. Principalmente nós mesmos.

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