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sexta-feira, 1 de maio de 2015

O TRABALHO REAL

trabalho 
tra.ba.lho 
sm (baixo-lat tripaliu1 Ato ou efeito de trabalhar. 2 Exercício material ou intelectual para fazer ou conseguir alguma coisa; ocupação em alguma obra ou ministério. 3 Esforço, labutação, lida, luta. 4 Aplicação da atividade humana a qualquer exercício de caráter físico ou intelectual. Psicol Tipo de ação pelo qual o homem atua, de acordo com certas normas sociais, sobre uma matéria, a fim de transformá-la....


Quando se fala em "trabalho" o que vêm à sua mente? Para alguns, escritórios cheio de gente. Para outros, um homem construindo uma casa ou prédio ou ponte com o sol a pino. Para outro uma pessoa examinando outra. Para outro um artista se apresentando. Para outro uma moça atendendo um cliente na caixa do mercado. Para outro um militar invadindo um país em "defesa da democracia". Para outro um vendedor fazendo sua propaganda pelas ruas. E por aí vai. Cada um irá associar a palavra trabalho a algo relacionado à sua história (memória), a seus valores (conceptual-espiritual), seu meio (ambiente físico) e sua constituição genética (orgânica). O conceito de trabalho é, portanto, relativo a uma pessoa e grupo; e é temporário - já que a mentalidade muda, a ciência e tecnologia possibilitam novas rotinas e a próprias relações sociais e noções de riqueza mudam com o tempo (ou devo dizer, experiências).

Cristo: Trabalho pleno que gerou crucificação. O mundo hoje
se auto-crucifica por não estar compreendendo-o plenamente.
Não pecamos por matá-lo. Pecamos por atrasarmos nossa
ascensão...
Mas o cerne da questão é o seguinte: existe um consenso geral entre as pessoas em admitir que "trabalho" é aquela atividade dentro da lei (humana) cujos resultados é a remuneração. Ou seja, você exerce uma atividade legal - em termos jurídicos - e tem ao final do mês (ou da tarefa) um soldo que lhe permita meios de subsistência física. Parece interessante e justo. Mas quero mergulhar um pouco mais à fundo, me aproximando do universo cotidiano das pessoas.

Dizem que com o estudo conseguimos um bom trabalho. Ou melhor: quanto mais estudamos, melhor o trabalho que conseguiremos, e portanto melhor será nosso salário e consequentemente a condição de vida que poderemos ter e dar para nossa prole.

Mas - primeiro - o que é um "bom trabalho"?

Essa opinião converge harmonicamente quando se trata do consenso coletivo passivamente construído, que se encontra no subconsciente do grosso da humanidade. Isto é, um "bom trabalho" é aquele que pague bem e distraia a mente. Quanto mais soldo, melhor. Quanto mais distração, mais leve será o correr das horas.

Por quê queremos algo que pague bem e distraia a mente?

Bom, talvez porque nesse mundo presente, cuja forma mental predominante sustenta (consciente ou inconscientemente) um sistema que clame por quantidades visíveis, - sem no entanto exigir orientação das atividades produtivas, e sem perceber relações profundas (metafísicas) de causa e efeito - o dinheiro seja essencial para a subsistência e dignidade de qualquer ser humano. Mas ele ($) é essencial por sua própria natureza OU nós o transformamos numa entidade de suma importância? 

Vejamos.

1) Se dinheiro fosse essencial por natureza o sonho de bilhões de seres seria ganhar muito dinheiro e viver dele, e só dele: gozaríamos horrores ao ver números altos em nossas contas, faríamos castelos de moedas e barras de ouro; sentaríamos numa montanha de cédulas e seríamos felizes por causa disso. Sem dúvida, não nego que existem criaturas cujos sonhos se aproximem desse "ideal" - e talvez graças a essas criaturas tantos que se esforcem tanto tenham quase nada, enquanto poucos que fazem muitos nadas fiquem com excessos montanhosos.

2) Logo, conclui-se que nós, a humanidade, elevamos as finanças a um patamar que partiu do necessário até fins do século XVIII, subiu para o majestoso, no século XIX, e culminou no divino no final do século XX e início do XXI. É claro: sempre tivemos ganância, em menor ou maior grau, nos escravizando pela matéria. E a Antiguidade, Idade Média e Idade Moderna não apresentaram as mesmas possibilidades (boas e ruins) do nosso presente Contemporâneo. No entanto, é nos últimos decênios que vimos a consolidação de um modo de pensar que - se não explicitamente - implicitamente nos conduz a um culto desmensurado do dinheiro. De meio passou a ser fim.

A tecnificação da Ciência vem se tornando cada vez mais visível. A ciência está sendo vista como uma mera base para aplicações tecnológicas [1]. E a tecnologia por sua vez é cada vez mais subordinada a interesses econômicos desorientados. Mesmo que apoiados pela "maioria", trata-se de uma massa inconsciente e presa à "realidade". Uma "realidade" estática e portanto ideal (ou "ideal" e portanto estática), cabendo aos descontentes cessarem suas divagações filosóficas e aderirem docilmente às "leis da vida". Mas as crises vem e vão, e as soluções são impostas continuamente. Sempre a mesma abordagem - em sua essência. Corte de "gastos" para recuperação.

Pietro Ubaldi. Intuição e misticismo que
explicou 
o Monismo de forma poética, científica e filosófica.
Uma vida tão formidável quanto sua Obra.
Parece que os líderes do mundo não sabem diferenciar "investimento" de gasto".

É bom relembrar (grifos meus):

Gastos, sob a ótica contábil são sacrifícios financeiros (1) com os quais uma organização, uma pessoa ou um governo, têm que arcar a fim de atingir seus objetivos, sendo considerados esses ditos objetivos, a obtenção direta de um produto ou serviço qualquer (como uma matéria prima ou um serviço terceirizado dentro da organização), ou utilizados na obtenção de outros bens ou serviços a serem respectivamente fornecidos ou prestados (como, respectivamente, um processo sobre um conjunto de matérias primas visando obter determinado produto para venda ou um processo próprio terceirizado de uma etapa de produção).

Em economiainvestimento significa a aplicação de capital em meios de produção (2), visando ao aumento da capacidade produtiva (3) (instalações, máquinas, transporte, infraestrutura) ou seja, em bens de capital. O investimento produtivo se realiza quando a taxa de lucro sobre o capital supera ou é pelo menos igual à taxa de juros ou quando os lucros sejam maiores ou iguais ao capital investido.

Fonte: Wikipedia

A abordagem é econômico-tecnológica porque a esfera tecno-industrial apoderou-se dessa terminologia, associando qualquer "gasto" e "investimento" a algo que diga respeito a setores restritos. Porém uma pessoa de bom senso sabe que isso é meia verdade. Isto é, ela se aplica a outras esferas da vida.

Observemos por exemplo (1). "Sacrifício" (em "sacrifícios financeiros") remete a um desperdício necessário resultante de um processo. Em Termodinâmica isso seria traduzido por "calor". Isto é, todo processo termodinâmico que gere trabalho mecânico, para se efetivar, terá um desperdício de energia em forma de calor. Dessa forma, "sacrifício" seria o que precisa ser jogado fora (seja dinheiro ou energia ou matéria ou pensamento ou emoções) para o "espaço" para que um processo útil se efetue.

Sacrifício financeiro é uma modalidade de sacrifício. Como nosso sistema atual associa energia, conhecimento e bem-estar com dinheiro, esse termo ganhou um significado global, inquestionável.

De qualquer forma gasto é associado a sacrifício. Ele é consequência (inevitável) do que chamamos "investimento". Sendo inevitável, o máximo que podemos fazer é minimizá-lo, ou seja, torná-lo o menor possível em relação ao que foi investido.

Analisemos a sentença (2) do texto. Investimento é "aplicação de capital em meios de produção". O que se entende por "capital"? O que se entende por "meios de produção"?

Capital é todo recurso que possa ser aplicado para o progresso. Ele pode ser financeiro, de conhecimento, material ou energético. Progresso é, em seu mais amplo aspecto, evolução.

Meios de produção são todos recursos disponíveis no momento (conhecimento, dinheiro, matéria e energia) capazes de transformar. Transformar o que? Transformar seres (Educação, Cultura, Arte, Religião, Filosofia), matéria (Tecnologia de veículos, peças, materiais,...), energias (Tecnologia nuclear, química, eólica, hidrelétrica, solar,...), sociedades (Política, Economia). Uma transformação verdadeira e sustentável é aquela que respeita o ambiente natural (Ciências Naturais), fazendo uso consciente do mesmo, e agredindo-o apenas a curto prazo e na medida do grau consciencial do coletivo humano.

Noam Chomsky. Linguista e estudioso. Trabalha pelo
esclarecimento com muita paciência e fé. Fé é fidelidade.
Fidelidade a princípios imutáveis e universais. Logo,
orientado.
A partir da análise feita, percebe-se que quando chefes de estado, mídia (manipuladora em sua maioria) - e até mesmo alguns setores "de bem" da sociedade - falam em cortes de gastos e agem, estão em completa contradição consigo mesmos. É de ilogismo puro encarar Educação, Saúde, Cultura, Habitação, Segurança e Alimentação como gasto. Seria o mesmo que dizer que o povo deveria ser grato por ter esse mínimo (que no fundo nem merece). Pois são justamente essas áreas que são cortadas.

Por que?

Porque para resolvermos os problemas imediatos dessas crises, é muito mais fácil para o detentor de poder fazer o que sempre se fez e o que a média mental instintivamente apóia. Salva-se o sistema à custa do ser humano. Mas eis que crises se repetem, com a "solução" da anterior sendo a causa da próxima. Assumem facetas cada vez mais vastas e afetam vidas agudamente. E sempre as mesmas soluções. Eis a (i)lógica do neoliberalismo...

Bom fechado esse parênteses devo começar a fechar o próximo.

O dinheiro tem valor porque a ele damos valor. Se essa mentalidade impera de nada adianta criarmos novos sistemas. Não se trata de destruir o dinheiro, e sim colocá-lo à serviço do SER.

O processo revolucionário-evolutivo que se apresenta diante de nós é o seguinte:

1) Conscientizar-se da Realidade (autoconhecimento);
2) Viver de acordo com ela (autorrealização);
3) Demonstrar aos próximos (em contatos E afinidade) a Realidade, aceitando questionamentos e sugestões;
4) Persistir indefinidamente em 3), tornando isso um trabalho fora do "trabalho" - e se possível dentro do mesmo. Se 1) e 2) forem concretizados, e 3) seguido com cautela, a tendência será uma lenta e gradual mudança da mentalidade (forma mental);
5) Movimentação coletiva altamente consciente (e portanto invencível), que instaurará um debate político do mais alto nível, sendo guiado por um monismo universal e imparcial.
6) Corrosão acelerada do sistema presente, isto é, de todos seus mecanismos arcaicos e unilaterais, sem a necessidade do uso de força física.

Utopia? Não. Já vimos isso ocorrer num país (Índia), onde um povo de 400 milhões agiram em estreita unidade, praticando a desobediência civil, inspirados por um Ser que transcendeu todas as fronteiras e métodos do mundo: Gandhi. Um Mahatma, ou Grande Alma.

Conscientização -> Vivência -> Demonstração -> Persistência -> Movimentação coletiva -> Objetivo

Eis o caminho que se apresenta inconscientemente diante de uma humanidade no ápice de sua intelectualidade, sedenta por mais (intuição, síntese, unificação, monismo....).

Continuando o fechamento de parênteses...

Sabendo que o dinheiro não é essencial por sua natureza, além de sabermos como iniciar um processo de mudança, resta descobrir como nos tornarmos menos dependentes das circunstâncias externas. Mas isso também já sabemos: trata-se do autoconhecimento, proferido por todas culturas e grandes sábios da humanidade, desde a China e a Índia até a Grécia, a Palestina e as Américas.

Gandhi: primeiro místico-político
do mundo. Provou que é possível
vencer a ignorância com a força
do espírito - e não com o espírito
da força (do mercado ou das armas)
Quem conhece a mais profunda realidade (A Realidade. o Infinito, o Absoluto, Deus) se sente solto das facticidades materiais, dando cada vez menos valor àquilo que o mundo de hoje louva, consciente ou inconscientemente. Sua vida é Eficiência Universal, que se contrapõe a uma "eficiência material", ou pseudo-eficiência, que visa criar mais quantidades e ao mesmo temo tornar essas quantidades mais eficientes.

A Eficiência Universal percebe o que é e simplesmente adota uma atitude plena.
A eficiência relativa coloca remendos em criações efetivamente desnecessárias.

A Eficiência Universal trabalha o universo interior.
A eficiência relativa trabalha (e re-trabalha) o universo exterior.

A Eficiência Universal é Reta e Sincera, por isso sofre neste mundo.
A eficiência relativa é serpentina e esperta, por isso parece a solução neste mundo.

A Eficiência Universal é simples ao ver e ordenar as complexidades
A eficiência relativa é complexa ao não ver e bagunçar as simplicidades.

A Eficiência Universal é atingida no longo prazo mas traz soluções magníficas.
A eficiência relativa é atingida prontamente mas mantém a o ser preso ao plano que pertence.

O fato de termos de fazer um complicado e sagaz balanço entre o que realmente gostamos e o que paga é um claro sinal de que nossa sociedade está doente e precisa imediatamente de uma solução Universal.

O mundo é como é, mas pode ser mudado - temos conhecimentos e sábios e histórico.
O mundo é como é, mas deve ser mudado - as pessoas choram, sofrem, sangram e clamam por isso, de vários modos.
O mundo é como é, e se podemos e devemos, mas não realizarmos, pagaremos com um sofrimento que tende a ser intenso e longo.

Poder, dever, fazer...

Sem Dor não há Salvação.

O caminho doloroso "inútil" evitado hoje à todo custo, gerará a dor-mor inevitável de amanhã.
Muito pior, com cada vez menos alternativas de ascensão...

Quando o Trabalho coincidir com trabalho remunerado.

Quando "trabalho" preso ao tempo e ao espaço virar Trabalho orientado pela consciência, poderemos dizer que trabalho remunerado é Trabalho.

Pois hoje, na grande maioria do mundo, trabalho remunerado é um ínfimo do Trabalho.
Não tem a ver com escolaridade ou erudição ou geração de "riquezas".
Tem a ver com orientação e efeitos intangíveis. 
Tem a ver com solidez à longo prazo.
Tem a ver com Amor.
Tem a ver com Intensidade e Espontaneidade.

Milhões querem esse trabalho, inconscientemente.
Milhares o querem, conscientemente.

Poucos lutam para esclarecer,
Muitos vagabundeiam para encobrir.

Muitos que lutam são "loucos" e "vagabundos".
Muitos que vagabundeiam são "exemplares".

Mundo emborcado, vida emborcada.

Estamos diante do drama milenar do Cristo e do Anti-Cristo...


Referências
[1] Recomendo o livro "O Espírito de Porto Alegre", com artigos de diversos especialistas do mundo sobre temas relacionados à biologia (transgênicos, patentes, agrotóxicos,...), à governo (democratização), mídia (democratização dos meios de comunicação, propaganda) e outros assuntos de interesse global.



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