Eu me lembro das infindáveis noites e dias de estudo quando cursava faculdade. Sozinho ou com colegas. Várias eram as preocupações com conseguir o necessário (leia-se, as notas). Pouco era o interesse em saber o porquê de tudo aquilo. Mas isso era e é natural, já que desde nossa entrada neste mundo somos impelidos a agir conforme determinados padrões. E não adianta: por mais diversos que sejam em sua multiplicidade de formas, esses padrões continuam limitando os seres, reduzindo as possibilidades (de transcender a si mesmos) e maquiando as deformidades (amplificadas pela inércia produtivista-mercantilista).
Quem deseja saber o porquê de agirmos naturalmente de um jeito ou de outro? E quem se interessa em saber se algumas coisas sempre serão pensadas, concebidas e vivenciadas do mesmo jeito? Ou dentre um leque de opções. Opções não formuladas por nós, mas já apresentadas prontas, pré-formatadas. Às vezes aparentemente construídas individualmente, mas ao mesmo tempo tendo seu caminhar confinado em moldes invisíveis e influentes (a coletividade, a tradição, o conservadorismo, o medo). Seu desenvolvimento orientado segundo forças externas (sociedade). E assim julgamos ter gerado uma explicação verdadeiramente original. Mas isso não se deu efetivamente.
O sistema de ensino atual não está preparado para o novo tipo de ser - em gestação em cada um de nós. É um sistema voltado para atender exclusivamente necessidades mercadológicas, com foco no lucro e produção, para atender ao "sonho" de bilhões: o consumo.
Quando a ética é ignorada pela ciência, o ser se torna uma mera ferramenta das forças da natureza física e metafísica.
Recheamos nossas relações de formas com o intuito de enganarmos a nós mesmos - e com isso enganamos o outro e os outros. E vice-versa. Acreditamos que temos de satisfazer o outro em a, b e c; enquanto demandamos da outra parte por x, y e z. Fazemos isso discretamente, implicitamente. Mas explicitamente jamais declaramos tal realidade ou conversamos sobre ela. Por que? Por ser ela aparentemente parte de nossa natureza. Não visualizamos o porvir. Julgamos que são instintos que agem inexoravelmente, mecanicamente, e portanto são insuperáveis.
A grande maioria dos biótipos desta humanidade (presente) crê em uma realidade fixa, imutável, insuperável. E com isso perde-se a possibilidade de visualizar e sentir o transformismo histórico que permeia todas esferas da atividade humana. E como efeito subsequente nos é impossível realizarmos interiormente antecipações biológicas de eventos e fenômenos futuros. Nossa inércia espiritual, materialmente vibrante, trava nosso processo orgânico espiritual - materialmente estático. Isso se aplica a todas esferas humanas, desde a afetiva até aos grandes conglomerados.
Nos associamos a uma instituição porque acreditamos que a mesma está alinhada com nossos valores. Às vezes somos obrigados a fazer isso por necessidades. Mas quanto maior nosso conhecimento da Verdade universal, menores as nossas necessidades e - consequentemente - mais livre nos tornamos. Inicia-se aí um processo de desprendimento sem precedentes. Para seres cuja dilatação de consciência se dá a passos maiores do que a média, a tendência é uma ruptura natural, mesmo com instituições essenciais para a subsistência orgânica a longo prazo. Essa ruptura se dá por parte da (pequena) verdade do (ilusório) poder - que "vence" a Verdade do "pequeno" poder.
O livro sacro da China. Escrito num jato por um sábio chinês, cujo saber era tanto que todos ensinamentos foram transcritos como um relâmpago. |
Trata-se de medo por ignorância.
O mundo, por ser (ainda) incapaz de sentir e visualizar o porvir; por ser (ainda) incapaz perceber as associações e formas de vida realmente benéficas; por ser incapaz (ainda) de não sentir a interconexão de que tanto fala; esse mundo vê como ameaça aqueles dispostos a transcenderem a sua realidade, e com isso começarem a influenciar o meio. Por não admitir o trinômio fluídico direcionado instinto-intelecto-intuição, adota o binômio estático desorientado instinto-intelecto. Com essa atitude as possibilidades ficam restritas. Por maior que seja o conhecimento analítico-sistematizador, com sua formidável capacidade de calcular, projetar, discursar, armazenar e resolver, ele sempre estará preso às leis férreas do plano em que nasceu. Somente com a derrota do Ego (físico, intelectual, emocional) pelo Eu (espiritual, intuitivo) poderá se dar o próximo passo.
Repito: não se trata de negar ou aniquilar o menos (velho), e sim colocá-lo à serviço do mais (novo).
Lúcifer (intelecto) seguindo Lógos (intuição).
O ser cuja máxima concepção seja dualista é limitado frente ao ser monista. Aquele vê Deus versus diabo. Este vê Deus no diabo e o diabo em Deus - apesar de Deus ser muito mais do que o diabo.
Isso soa como heresia aos ouvidos surdos dos profanos, mas tem perfeita lógica quando assimilados pelos ouvidos sãos dos iniciados espiritualmente.
Mas parece que a humanidade ainda vagueia num imenso oceano. Navega sem rumo. Deseja algo a mais, mas não se esforça para consegui-lo. Julga que qualquer ruptura é violência. E toda violência é mal definitivo. E com isso cria um medo desmensurado à violência. Medo tão agudo que está disposto a praticar atos supra-violentos em prol do fim da violência. Atos que podem ser concretizados em ações aparentemente pacíficas aos olhos do profano, mas que atestam ignorância aos olhos do místico ou do intuitivo. São normas e movimentos serpentinos que oprimem vozes ignoradas e ofuscam luzes sinceras. Mas cada vez mais vozes são não ignoráveis; e cada vez mais luzes são inofuscáveis. Porque elas trazem verdade, sinceridade e vontade. Com essa tríade cultivada amorosamente alguns seres ensaiam movimentos que se traduzem em chamas concretas (intelecto, discursos, textos, etc). Sem necessariamente seguirem uma receita de bolo, vão buscando e buscando e buscando. E com isso aprendem e apreendem nas diversas esferas que o mundo conhece e (portanto) reconhece. Vivem aparentemente ao léu, mas seus feitos geram um misto de assombro e admiração. Porque chegam a um ponto diferente. Elevam os conceitos. Dilatam consciências. Tudo por processo natural. Livre convicção.
Sublime e completo. Unifica e esclarece. Poesia científica. Fé filosófica. Fala sobre Tudo e nada, dependendo de quem o interpreta - que nada mais faz do que interpretar a si mesmo. |
Como Rohden bem disse:
Nada pode o mundo esperar do homem que algo espera do mundo.
Tudo pode o mundo esperar do homem que nada espera do mundo.
Ainda é exigido grande sacrifício dos conscientes. A cegueira coletiva dos dirigentes das massas inibe o necessário impulso substancial a ser efetivado. Pietro Ubaldi percebeu isso e perseverou. Porque nada mais desejava a não ser realizar ao máximo seu Ser. E legou à humanidade uma Obra que dificilmente será superada nos próximos séculos, e jamais será ofuscada por malabarismos unicamente intelectuais. Eis a potência supra-humana de seus 24 volumes. Volumes captados do Alto. Não escritos pelo homem Ubaldi, mas sentidos, assimilados e transcritos magistralmente por sua divina essência crística.
Pietro Ubaldi era (e é) grande por sua sensibilidade psíquica-nervosa. Sua intuição, que atingiu as fronteiras do misticismo, brindou a humanidade desorientada com um livro Norteador (A Grande Síntese). Sua linguagem encanta e interessa. Suas conexões fascinam e estimulam. Sua vontade supera - o mundo.
Quanto mais o filme da vida de desenrola, mais clara é essa Realidade.
É infinitamente rico quem é infinitamente consciente.
Jesus, o Cristo, foi o Ser mais rico que jamais pisou nesse mundo, apesar de não ter uma pedra sobre a qual pudesse pousar sua cabeça. Porque ele conhecia a Verdade libertadora.
Coloquemos nossa ciência e técnicas e energia e tempo à serviço da Realidade suprema.
Para evitar mais sofrimento - desnecessário.
Compreenda-o quem o puder.
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