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quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Mensagem de Natal

Quase 2016. Vejo as pessoas indo afoitamente no supermercado, no shopping, nas concessionárias,...Milhões de pessoas que tem algum dinheiro na conta gastando o que foi ganho à custa de muito tempo, saúde e energia para comprar perus, carnes, comidas, bebidas, presentes, e as mais diversas coisas. E os milhares daqueles que tem muito mais dinheiro, ganho com a exploração da natureza, das pessoas, das circunstâncias do mercado - em sua maioria - gastando em itens igualmente. Só que mais sofisticados e inacessíveis ao consumidor das classes médias para baixo.

Vejo os pobres usando os parcos recursos para comemorar também. Cada classe gastando compatível com sua realidade - mas sempre gastando.

Vejo os miseráveis na rua...uns nem sequer ligando para esse Natal, percebendo que nada muda - tanto na vida deles quanto na natureza humana. Outros criticando com profundidade, mostrando o que realmente importa nessa época...e em todas épocas, em todos dias. Mas ninguém os escuta: estão mal vestidos, sem tomar banho e na rua. Para a mentalidade do tipo biológico médio atual eles não existem. São "coisas", não pessoas.

Passamos ocasionalmente pelos bolsões de miséria e...apenas olhamos. No máximo olhamos. Mas não por muito tempo. Porque se começarmos a olhar os excluídos (excluídos por nós mesmos!) nos olhos...ver aquela criancinha que nasceu no completo abandono, que nunca poderá ter uma educação mínima, uma alimentação adequada, um lar, uma vestimenta, um tratamento digno, o amor de uma presença sincera...se começarmos a observar isso e absorver essa Realidade - criada por nós! indiretamente ao longo de séculos...- ficaremos loucos. Então ignoramos e fazemos piadas. Piadas do sofrimento alheio. Para não enlouquecermos...

Tudo pela nossa saúde mental e emocional...

Quem nos dará a água da vida quando o mundo nos
abandonar é aquele que desprezamos e ignoramos.
Na miséria se revela a face de Deus.
Mas essa Realidade que nos alopra - cada vez mais - se intensifica e se espalha. 

Parece que quanto mais apoiamos políticas de exclusão, (travestidas de progresso e "ajuda") mais cresce a miséria no entorno. E com isso vem a filha violência, que aciona a neta segurança, que começa a vigiar tudo que se move e não está vestido, alimentado de um certo modo. Todo ser que não possui é suspeito. Porque afinal de contas, quem não tem não é...Pelo menos é essa a lógica que constato nesse planeta.

Com a segurança vem um sintoma: as pessoas alopram. Todos tem medo de todos. Desconfiança. Medem-se as relações com base no que se pode obter de retorno, seja ele sexual, patrimonial, físico, social ou intelectual. Nada além disso. No fundo. Raros são os seres com algo a mais nas suas relações. E quando se percebe isso a atitude muda. As palhaçadas da vida - antes tidas como tarefas "importantes"...eventos "importantes"...cargos "importantes" - passam a ser vistas como tal. Apenas continuamos nelas num certo grau. O suficiente para que possamos atuar no mundo sem sofrer perseguições.

Mas como eu ia dizendo...a segurança desencadeia uma reação sem fim de desgaste emocional que culminará num completo aniquilamento da sociedade. A não ser que as pessoas comecem a despertar e perceber qual é a realidade exterior que elas estão criando à sua volta. E reconhecendo que a pior violência é aquela louvada, perseguida e propagandeada pelas pessoas. A (grande) mídia tem ajudado a nos desviar do caminho. Mas nós temos nossa parcela de culpa por nos deixarmos conduzir por ilusões.

Natal é (dizem) uma época de compartilhamento, união, comunhão dos seres entre si e com algo maior. Mas quando observo as pessoas correndo que nem loucas, falando e falando sobre o que comprar, o que usar, como falar...pensando se aquela pessoa atraente ou rica ou influente ou tudo isso junto vai estar naquela festa...gastando sem jamais saber o porquê...quando vejo isso me sinto abençoado e condenado ao mesmo tempo. Porque percebo o vazio interior daqueles que tem - e o vazio exterior daqueles que não tem. E sinto que esse vazio exterior acaba levando muitos a um vazio interior. Porque os que muito possuem e falam em amor são geralmente os que menos praticam.

Uma vida centrada no consumo de bens e serviços supérfluos é uma vida escrava.
Somos escravos de nossa ignorância. E com isso criamos ódio - em nós mesmos e nos outros. Um ciclo sem fim, que não vê nada além do crescimento econômico e da satisfação dos prazeres...

Estamos preparando uma grande Dor porque estamos sendo incapazes de lidar com os recursos, a energia, o tempo e as teorias. 

Meu Natal será simples - como é há muitos anos.
Pouca quantidade, muita qualidade.
Pouca quantidade porque o necessário é o ponto ótimo.
Muita qualidade no convívio, na sinceridade, na substância.
Reflexão.

Sem picos nem vales materiais - que nada fazem a não ser desgastar.
Porque cheio de picos e vales espirituais - que é o que conta.

Mas poucos sabem disso...
Poucos sentem isso...
E são justamente esses os que mais sofrem.

Usando o próximo como combustível a ser consumido - para manter nosso equilíbrio interior - preparamos uma avalanche. Um equilíbrio insustentável e sempre em vias de colapso. 

O Natal não importa.
O que importa é transformarmos o Natal das Compras estagnantes no Natal do Espírito evolutivo.

Para mim é falso e vazio desejar "feliz natal" a pessoas da minha classe social, meu meio e etc, sabendo que isso é uma mera formalidade. Sabendo que existem milhões e milhões privados de tudo - até mesmo nessa época. E que ninguém se importa com eles, por mais próximos que estejam. Porque eles são uma ameaça. Sempre uma ameaça...E assim alimentamos a Grande Dor que atingirá todo o globo em todas as frentes.

O Natal só será Feliz quando houver Paz entre tudo e todos.
Até lá tudo (ou quase) é uma ilusão - e das boas.

Temos de parar de seguir fórmulas engessadas.
Temos de parar e refletir.
Temos de ser mais corajosos em adotar uma postura de vida e idéia.
Devemos forçar o despertamento antes que seja tarde.

Vá, comemore, coma bem, dê presentes. Mas constate e reflita. Em silêncio...em intensidade. Dá pra começar por aí. Não é tão difícil...Não dói muito - talvez um pouco, no comecinho.

Assim, daqui a alguns séculos ou milênios, poderemos comemorar um Natal de Verdade.
Um Natal de Sinceridade, Paz, Liberdade, Amor, Integração, Abundância, Equilíbrio,...

O Natal que nunca houve,
Mas pode nascer...

Depende de todos nós.

Boa reflexão !

Sinta, viva e se transforme !



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