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quinta-feira, 26 de maio de 2016

Quando novos sujeitos políticos sobem à cena

Edição do Café Filosófico publicado no Youtube em 2 de abril de 2014.



Nesse convite à reflexão, Vladimir Safatle mergulha em temas que o establishment - a cultura média, a grande mídia (ainda hegemônica), os "especialistas", a sociedade de forma geral - já considera como resolvidos: chegamos ao único modelo político (democracia parlamentar representativa), com uma lógica econômica de crescimento ilimitado, que deve ser defendida à todo custo para que a humanidade possa continuar a existir.

A grande questão é: décadas de crescimento global, em ritmo exponencial de produtividade, parece ser causa de crises cada vez mais agudas, impactantes e - aparentemente - insolúveis. Insolúveis dentro da lógica que nós, humanidade, insistimos em defender e reproduzir. Por mais que se busquem soluções, elas serão pseudo-soluções. Remendos que favorecem um finito em detrimento de outro; ou que suprimem uma classe social inteira, ou grupo, ou área do saber, para garantir relativa tranquilidade - uma falsa tranquilidade. Remendos que ofuscam verdades mais amplas e profundas que a média, e exaltam outras verdades, menores, menos abrangentes - e portanto mais egoístas. Isso tudo é apresentado como se fosse "o único caminho possível". Crescimento econômico, desenvolvimento do intelecto...Quanto aos desafortunados, a explicação é: não se esforçaram para "vencer". E se mostrarmos seres que realizaram esforço titânico, e ainda assim nem um degrau subiram, enquanto muitos, com todas condições, fizeram mau uso e reproduzem os métodos do mundo, resistindo à transformação, o tipo comum diz: "má sorte". Eis a pobreza humana face aos fenômenos mais cruciais.

A mente humana tem grande facilidade em aceitar o que lhe é apresentado - diante da tela, das revistas, dos jornais, das rádios, das opiniões imperantes da sociedade ou da família, dos ambientes de trabalho, etc. Qualquer idéia própria que comece a sentir resistência externa logo se retraí e procura se conformar à realidade estabelecida, aceitando-a como a certa, independentemente da inquietação interior*. Criam-se narrativas individuais, cada uma com sua particularidade, para sustentar o modo de operar do mundo. E assim só resta o caminho da reprodução - com nada de transformação

O problema é global. Ver um povo (ou cultura) como atrasado e outro como adiantado é captar superficialmente, estaticamente. Não absorvemos o dinamismo que rege o caminhar da humanidade. Captamos os relativos que nos convêm, reproduzindo-os para nosso conforto. Reproduzimos palavras sagradas ao léu, mecanicamente, seja por imposição familiar-cultural, seja por vontade de nos sentirmos bem, parecermos boas pessoas - e só. Viver o Evangelho, o Bhagavad Gita ou o Tao-Te Ching é para loucos que perderam a razão. No entanto é para esses escritos que muitas das pessoas mais marteladas, humilhadas e ofendidas, recorrem e encontram algum conforto.

Existem aqueles que, sem necessariamente passarem por situações extremas, começam a sentir a manifestação do Infinito e Eterno em nosso mundo finito e transitório. E os conceitos sobre a vida começam a mudar. Com isso a atitude frente aos desafios se torna plástica, adaptando-se (mas jamais se conformando!) a certas situações, e buscando no mundo os meios para se defender das irracionalidades do racionalismo solteiro e doentio, e transformar a si mesmo, influenciando o entorno com o transbordamento de seu novo ser nascente. Recorre-se aos estudos, a saúde, a posição, a influência, as habilidades. Todos finitos se submetem a algo maior. Algo além de qualquer coisa sistematizável, admitida. 

A interconexão que conhecemos por globalização, foi restrita: unificou-se o capital financeiro, o acesso aos bens de consumo - muitos deles completamente supérfluos - para quem pode pagar algo; e a informação que, em sua maioria, mais desorienta do que orienta o Ser em busca da ascensão**.

Essa tríade de conexão sozinha se torna ferramenta daqueles que detêm o poder - ou a ambição de conquistá-lo, sejam pobres ou ricos. Sem a unificação de conceitos não obteremos o avanço vertical - que é o único que realmente interessa***. Deve-se globalizar os Direitos Humanos em sua integridade, submetendo a economia, os mercados e quaisquer interesses particulares a essa legislação fundamental, que o mundo tem plenas capacidades de cumprir.

Em termos materiais, energéticos, científicos, tecnológicos e de organização social, a humanidade pode organizar-se de modo a garantir a todos uma condição de vida decente, não só materialmente, mas também em termos de liberdade de livre manifestação e de desenvolvimento individual. O único empecilho a essa realização é a forma mental humana, cujo egoísmo é tão rígido e agressivo que inviabiliza qualquer tentativa de melhoria.  

Não precisamos ser santos para termos um mundo melhor. Basta desenvolver o equilíbrio, nos atendo ao necessário. Para isso é essencial que tenhamos a coragem de seguir nossa consciência, ao invés de sermos arrastados por tendências coletivas - algo que o neoliberalismo estimula anonimamente, discretamente e lentamente.

Safatle nos introduz possibilidades. Não apresenta soluções. Estas serão edificadas à medida que demonstremos coragem em transcender a realidade presente, cada vez mais deplorável. A rigidez do intelecto é a causa da ruína humanitária. Não devemos ceder à erudição sem orientação, por mais sedutora e fácil que seja. Sedutora intelectualmente ou materialmente...

A consciência diz que há algo além. A civilização da intuição sintética, pautada pela conexão integral, quer nascer. Mas os partos sempre são dolorosos e difíceis, e muitos defendem partes do velho, já apodrecendo, por medo. Medo vem da ignorância. Ignorância gera separatismo. Separatismo é causa da dor. E é daí que devemos buscar o início da ascensão: da dor. 

Sou professor e pesquisador. Busco esclarecer e me colocar na arena do mundo para esclarecerem meu ser. Estudo e aprendo. Me arrisco na medida das possibilidades, para assim criar terreno para a gênese de novas perspectivas, que possam garantir sustento para novos seres conscientes.

Esse trabalho pode ser feito por qualquer um, de várias formas.

Isso é o que conta: atuar conscientemente dentro de suas possibilidades. E seguir sua consciência!


Referências
* http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2013/10/adaptacao-versus-conformacao.html
** http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2014/11/um-ciclo-duas-fases-piramide-expansiva.html
*** http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2014/11/o-absoluto-englobando-o-relativo.html






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