Tudo é justo se compreendermos a essência da vida. Os fenômenos, à medida que são assimilados definitivamente pela mente (razão / consciente) e enraizados na natureza humana (instintos / subconsciente), passam a influir em nossos gestos, olhares, decisões e atitudes cotidianas. Essa consolidação íntima, que pode ser atingida por vários caminhos, se desdobra numa vida mais autônoma. Autônoma porque consciente. Consciente porque orientada. Conhece-se melhor a dinâmica do Universo. Sente-se mais intensamente as palavras proferidas pelos Místicos, Profetas, Heróis e Gênios de outrora - e de agora, ainda não reconhecidos. Busca-se de forma mais orientada aquilo que realmente interessa.
Existem vários caminhos para superar a natureza inferior. Cada um trilha o seu. Mas todos, se percorridos e assimilados, levam ao mesmo destino supremo. É aí, nesse ponto, vértice da sinceridade e da seriedade, que atinge-se a felicidade permanente, não-fragmentada, não-degradável. Blindada pela couraça mais forte. Desconhecida pelo intelecto humano. Dinâmica espiritualmente. Verdadeira. Mas sua busca inicia-se não por fora, mas por dentro, reino de sentimentos e pensamentos desconhecidos e indomados...
"A Vida dos Outros" (2007). Impressionante. Cada cena, cada plano possui um significado. Desperdício zero - emoção máxima. |
Quanto maior o grau de seletividade atingido, melhor. Mas antes de se chegar nesse estado, é preciso ter visto muito - por vezes coisas ruins, que pouco dizem mas muito perturbam (os sentidos) e desviam (a mente) do que realmente interessa. Elevar-se através da experiência cinematográfica não é simplesmente ser um cinéfilo. É capturar a essência mística. Já falei disso de forma explosiva alhures [1]. Não se repassa. Transmite-se de forma própria, intensa, a mensagem subliminar da obra. Seu misticismo, que por vezes nem sequer o realizador percebeu enquanto materializava a película - mas os Grandes cineastas sempre sabem o que estão fazendo, e porque o fazem.
Minha vida deve muito à Sétima Arte. Ouso afirmar que poucos fizeram um uso tão potente de algo tão abstrato para forjar um destino tão diverso. Quando a pessoa aprende a "ler" naturalmente as nuances dos fenômenos, é tocada pelo significado mais profundo de cada acontecimento. O simbolizado se revela mais em sua luminosidade intensa. O símbolo se torna mais transparente, desnecessário. O resultado prático é que perde-se menos tempo com o que antes nos prendia. Vamos direto à essência das coisas, não nos atendo à multiplicidade dos fatos e suas embromações, mas captando, num relance, a substância daquilo, universalizando significados.
Esse aspecto do meu caminhar (cinema) se enquadra num plano geral, inicialmente desconhecido, que vai se revelando à medida que a vida avança, com os acontecimentos se desdobrando de forma cada vez mais lógica, com um sentido que antes era inexistente. Aos 13~14 anos comecei a assistir filmes com outro enfoque. Algo havia despertado em mim. Aquilo simplesmente me agradava. Muito (é claro) se deveu à influência familiar. Especialmente a paterna. E assim fui progredindo. Inicialmente eu era um espectador cult, normal, que percebia aspectos identificáveis a qualquer cinéfilo. Mas isso estava destinado a se tornar algo a mais.
Á medida que a minha personalidade progredia, não apenas em maturação física-intelectual (exterior), mas sobretudo espiritual (interior), o que antes era um refugio agradável passou a ser um meio de sutilização do espírito, através de experiências sensoriais que traziam em si um significado muito mais forte do que sensações. Tratava-se de uma manifestação do infinito por meio de um finito. O não-dito, oculto através do dito, passou a ser percebido. Cada vez mais rapidamente. Facilmente. Naturalmente. Assim entrei numa nova fase, na qual a seletividade passou a predominar sobre minhas escolhas. E não apenas uma seleção qualquer, mas uma com orientação. Isso apenas é percebido após o período de transformação ter se consumado, deixando um rastro em seu passado, revelando a diferença enorme entre o antes e o depois. A substância se sutilizou....
Sendo assim, a Arte vale apenas na medida em que ela pode transformar o ser humano, tornando-o melhor para si - e para os outros, incluindo todo ecossistema. Ela possui uma função suprema, poética e sublime, que todo grande artista, seja cineasta, pintor, escritor, músico, arquiteto, dramaturgo ou escultor, deve ter em seu coração e exprimir através de suas mãos e voz.
Matrix (1999). Filme que revela a Grande Batalha metafísica que se passa entre os conscientes e os poderosos. Evangelho e Gita evidente e presente em cada cena - se vista com olhar espiritual. |
Á medida que a minha personalidade progredia, não apenas em maturação física-intelectual (exterior), mas sobretudo espiritual (interior), o que antes era um refugio agradável passou a ser um meio de sutilização do espírito, através de experiências sensoriais que traziam em si um significado muito mais forte do que sensações. Tratava-se de uma manifestação do infinito por meio de um finito. O não-dito, oculto através do dito, passou a ser percebido. Cada vez mais rapidamente. Facilmente. Naturalmente. Assim entrei numa nova fase, na qual a seletividade passou a predominar sobre minhas escolhas. E não apenas uma seleção qualquer, mas uma com orientação. Isso apenas é percebido após o período de transformação ter se consumado, deixando um rastro em seu passado, revelando a diferença enorme entre o antes e o depois. A substância se sutilizou....
Sendo assim, a Arte vale apenas na medida em que ela pode transformar o ser humano, tornando-o melhor para si - e para os outros, incluindo todo ecossistema. Ela possui uma função suprema, poética e sublime, que todo grande artista, seja cineasta, pintor, escritor, músico, arquiteto, dramaturgo ou escultor, deve ter em seu coração e exprimir através de suas mãos e voz.
Referências e observações
[1] Para compreender (e talvez sentir) o que quero transmitir, recomendo a leitura e reflexão profunda dos seguintes ensaios:
- http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2015/06/matrix-uma-visao-mistico-cosmica.html
- http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2015/10/v-em-busca-da-verdadeira-unidade.html
- http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2014/10/quando-vida-dos-outros-muda-sua-vida-e.html
- http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2014/09/a-felicidade-nao-se-compra.html
- http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2017/07/os-miseraveis-queda-e-salvacao.html
- http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2017/04/o-melhor-da-juventude-la-meglio-gioventu.html
- http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2016/08/ben-hur-e-natureza-cristica-subjacente.html
- http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2016/01/enigma-o-jogo-da-imitacao.html
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