Tudo dentro dos limites de nosso Universo é relativo, inclusive o próprio tempo e espaço. As concepções que temos da vida, do cosmos, do nosso mundo, é igualmente relativa. Matéria, Energia e Conceito (ou espírito) são três aspectos da mesma e única substância - eterna e íntegra. Daí por simples lógica racional podemos concluir que, sendo Deus por definição Absoluto, - e tudo que conhecemos, restrito ao nosso concebível, seja tangível ou intangível - há uma realidade que supera a nossa. E engloba-a, pois os relativos (plural) estão obrigatoriamente, por férrea lógica, enquadrados na ordem do Absoluto (singular). Esse princípio, simples e reto, se desdobrado gradativamente, por vias sinceras e orientadas, levar-nos-à a perceber o quão próxima de nossa vida cotidiana está o mundo abstrato. A essência divina anima a multiplicidade fenomênica de modo sublime. Com Amor, vértice da sabedoria. E assim tudo é direcionado a um ponto final, situado além do concebível. Cume da evolução, em que inexiste movimento tal qual o conhecemos, e onde os relativos o são de outra forma, fora de nosso concebível.
Sendo tudo relativo, podemos nos perguntar se esse fato não justifica a aceitação de todas ideias, atitudes e atos, contanto que o praticante seja inteligentemente capaz de convencer uma maioria (numérica ou de poder) de seus projetos e visões de mundo. O que implica que deveríamos observar todas formas de coerção de grupos, indivíduos e ideias como algo bom (sob um ponto de vista) e ruim (sob outro). Essa visão tende a ser absorvida pela mente imersa no relativo do pensamento racional, cuja própria natureza está condicionada a absorver de corpo e alma essa lógica. Trata-se de uma armadilha forjada por quem se sente (no momento) muito confortável no atual plano de existência, para garantir seu domínio sobre as demais mentes. Mas o problema é que a posição atual é volátil. A qualquer momento perde-se um cargo, uma confiança, um domínio, uma vida. Sendo assim a armadilha é para todos, inclusive para aquele que julga aplicá-la aos outros. A diferença é que ele só perceberá isso depois, num prazo maior, quando muito mal tiver sido lançado, - para outros. E por isso ter-se-á acumulado débitos incontáveis - para si mesmo.
A relatividade pode ser vista sob um prisma puramente racional. Nesse caso denomino-a como relatividade horizontal. O que isso quer dizer? Vejamos o raciocínio desenvolvido até aqui.
Se eu faço um mal a alguém visando obter um ganho imediato, esse ato tende a ser visto como um bem por mim. E do ponto de vista de quem o sofre, o mesmo ato foi algo mal. Logo o mesmo ato contém em si dois pontos de vista completamente diversos. Pois bem, isso para um instante de tempo, logo após a ocorrência do evento. Vamos estender o período de tempo em semanas, meses, anos e décadas, e observar como isso impactou o caminho de cada uma das partes, a depender de suas atitudes.
Aquele que sofreu o revés, profundamente abalado, está desolado. Sente uma chama interior que não para de queimar - e não tem ninguém para o comunicar. O outro, indiferente ao fato, insensível aos outros seres, nem sequer percebe como o outro foi afetado, continuando sua vida da forma como a concebe, julgando a como certa e definitiva. Ou seja, julga ser absoluto sua concepção de vida, e portanto estática, parada no tempo. No entanto, se existe tempo, obrigatoriamente existe um devenir (vir-a-ser), ao qual todas as criaturas do AS* devem obedecer, alinhando o fluxo de sua vida alinhado ao fluxo universal. As ideias começam a surgir enquanto escrevo. Não é possível planejar ou sistematizar. Os esquemas travam os canais da inspiração. O conforto adormece as capacidades psíquicas. A segurança ilude, se plasmando em insegurança abissal tão logo estejamos bem adormecidos e dependentes.
Diagrama gráfico que explica o fenômeno da Queda. |
O desenvolvimento dos personagens é ditado pelo modo como manejam a fatalidade passada que sofreram e carregam até sua exaustão. Durante esse ínterim, que pode durar anos, décadas ou mais, percebemos o drama de quem possui fé ardente. Sempre tentado a recorrer aos métodos convencionais, à todo vapor, na mínima brecha que surgir, o evoluído se debate interiormente, buscando no bem soluções para o que vê como insolúvel. Mas superado os tormentos pontuais e intermitentes, pode-se conduzir a vida de forma diversa, pautada por uma fé inabalável que supra o espírito nos momentos de desespero máximo. Com isso começa-se a aplicar o livre-arbítrio dentro das fronteiras férreas do momento. Os efeitos disso só serão visíveis e sentidos após um tempo.
O personagem que sofreu aprendeu (e muito) sobre a natureza humana. Isso o levou a novas criações. Essa forja de atitudes e produção de conceitos nunca antes imaginados o insere numa espiral diversa, não compreendida pelo mundo...Esse segredo, esse ímpeto interior, esse trabalho silencioso começa a tangenciar suas atividades do mundo concreto, influenciando o modo como o ser ensina, busca, pesquisa, escuta, enfrenta o mundo e se lança ao desafio do esforço contínuo. O passado se esvanece. O futuro se agiganta. A vida se expande. As possibilidades se multiplicam. A luz se irradia - silenciosamente...
E o outro? Continua sua trajetória, indiferente aos outros. Agindo igual, pela força, seja ela física, econômica ou psicológica. E assim vence as batalhas dos momentos. Temporárias e efêmeras. A insensibilidade continua. A personalidade se recusa a mudar, pavorosa de adquirir sensibilidade para com as outras vidas e os outros fenômenos. E assim muitos seguem, tornando-se fortes como aquele que praticou o método do esmagamento. O número de quem segue essa lógica aumenta e a intensidade e métodos se tornam mais sagazes, com ações mais maquiadas e golpes mais cirúrgicos. A vida transforma-se num inferno crescente para aqueles que vivem e adoram esse nível de existência. Estamos diante de verdadeiras armadilhas, vulcões que explodem impiedosamente e despejam suas lavas com precisão e intensidade. Afunda-se julgando safar-se.
Assim os dois personagens constroem seus destinos, com reação interior, positiva, de quem sofreu o golpe; e negativa de quem o aplica de formas variadas, insensível a tudo que não lhe diz respeito imediato.
No curto prazo, para fenômenos de superfície (eventos), reconhece-se apenas a relatividade horizontal. Isto é, uma relatividade de níveis evolutivos semelhantes. A diferença entre dois biótipos que operam na base do do ut des (dê me algo para que eu te dê algo) reside apenas na forma. Na essência pratica-se o mesmo mal. Observando assim ,percebemos que todas formas de organização humana estão na relatividade horizontal: há divisão de religiões, de partidos, de culturas, de nacionalidades, entre casais, de visões de mundo, de áreas do saber,...Geralmente eles se combatem. Se disputa-se algo em comum, quanto maior a proximidade, maior a ameaça, e portanto maior os esquemas de agressão. Terrenos não-comuns são ignorados. E propagandeia-se que não se agride por ser bondoso - mas no fundo apenas deixa-se em paz porque não há interesses envolvidos. Grandes esquemas esses da mente luciférica!
A relatividade vertical é algo diverso, apesar de também se tratar de algo diferente. Podemos diferenciá-la da outra em termos de dinamismo e orientação.
A relatividade horizontal (RH) é:
- Entre dois relativos estáticos, que se consideram absoluto - ou algo próximo a isso;
- Atacada de forma externa, usando os métodos consolidados no subconsciente da média;
- Vista como algo fixo, que sempre será desconectado de algumas realidades - e conectado a outras.
- Racional-instintiva
A relatividade vertical (RV) é:
- Dinâmica para quem está acima, mergulhando em si mesmo ao invés de atacar quem golpeia de baixo;
- Esperançosa, uma vez que revela que existe um telefinalismo global e local;
- Intuitiva-racional
A primeira (RH) diferencia ruidosamente (egoisticamente) com base na superfície. A segunda (RV) diferencia silenciosamente (reflexivamente) com base na substância. Assim o homem percebe que a fera está com plena razão em seu nível evolutivo, dilacerando suas vítimas para se satisfazer; e o super-homem (místico, gênio, santo, herói) percebe que o homem está com plena razão no seu nível evolutivo, desejando conforto e segurança, mesmo que tenha de deixar certos tesouros de longo prazo para depois. Há assim um continuum por todos níveis evolutivos. Estendo assim o conceito de relativismo para a verticalidade dinâmica da substância, tornando a horizontalidade estática da forma mais tolerável. E indicando que esta também muda, aos poucos, sem se dar conta do fenômeno.
Pode-se sentir o palpitar da vida em cada gota de sofrimento. Já sabemos aqui que a evolução se dá por avanços e recuos oscilantes, numa espiral que se abre gradativamente **. Se num período de queda geral (de valores e princípios) mantém-se orientado para o Alto, na qualidade, quando este vier o ser já estará corretamente orientado, sendo o impulso ascensional uma libertação. Para aqueles que seguiram a tendência geral (queda), se refugiando na quantidade, as forças da Lei que puxarão todos, indiferentemente, novamente para um novo ciclo de ascensão, serão sentidas dolorosamente, ao grau máximo. A retomada será lenta. A assimilação, sofrida. Eis o verdadeiro poder, situado no imponderável, expressado na forma de amor divino.
A partir daí as almas em evolução podem esboçar uma série de perguntas. Uma delas: alguém num nível acima em relação a um plano de existência (RV) será visto/enfrentado por outro no mesmo plano com base numa RH? Sim. No entanto, à medida que se sobe de plano, a RH é cada vez melhor compreendida, e assim suas limitações e armadilhas decorrentes são mais transparentes e aceitas - apesar de ainda existirem nas mentes. A vida vai se tornando mais clara. Tudo se orienta. Escuta-se o canto divino da vida através dos múltiplos acontecimentos. Percebe-se não apenas eventos, mas comportamentos. E não se para aí: vê-se a estrutura do todo. E com isso podemos começar a nos perguntar, sinceramente, qual é a gênese deste universo físico. Será ela a primeira e original?
Ou há uma criação diversa? Situada no inconcebível...
Referências e comentários
* AS: Anti-Sistema. Para mais detalhes estudar os volumes O Sistema, Deus e Universo e Queda e Salvação (P. Ubaldi)
**http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2017/08/emborcamento-do-rumo-natural.html
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