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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Manifestações Presentes das Visões Recentes

O fenômeno evolutivo arrasta a todos nós de forma sutil e discreta. Dos Napoleões aos mais comuns. É imperceptível em seus pormenores, sempre encoberto por uma miríade de fatos. Por estar além das finalidades e aquém dos axiomas humanos, engloba-os com maestria e humildade, conduzindo a humanidade para objetivos sempre mais altos, livrando-se de suas formas mentais mais miseráveis e ineficientes. Assim constrói-se o edifício do espírito em cada ser humano - que se manifesta externamente de forma lenta e segura, afirmando cada vez mais um universo infinito, além do tempo e do espaço. Atitudes internas se plasmam em atos externos cada vez mais seguros, vetorizados e inteligentes, de forma a despertar número crescente de pessoas. 

Ubaldi sempre falou do porvir em sua Obra. Grandes Mensagens, iniciada no Natal de 1931, foi a primeira revelação. Textos altamente inspirados que atraíram a atenção de especialistas de todos ramos ao redor do mundo. Da sociedade teosófica aos cientistas; dos religiosos aos espiritas; dos artistas aos estadistas; de norte a sul. Inúmero pontos do mundo abriram os olhos, a mente e o coração para o que um modesto professor de liceu da Umbria estava produzindo. Eram mensagens altamente inspiradas, que só poderiam ter origem numa fonte super-humana, em outro plano evolutivo. Isso diziam dezenas de especialistas no tema. E para aqueles que não colocavam o pé no universo do espírito e da intuição, se aferrando à segurança da matéria e da lógica humana, os textos não deixavam de inspirar e fazer renascer aquela utopia que brota nas almas das crianças nos primeiros anos da vida.

Esse diagrama demonstra o caráter oscilante,
cíclico e ascendente da evolução da
substância. Cada camada se relaciona a uma
dimensão evolutiva.
Foram necessários mais de vinte anos de preparo para se chegar a tal grau de maturação evolutiva. Muitos creem que se trata de um treino sistemático da mente, através de alta erudição, estudo dos ramos da ciência, das religiões, das filosofias. Vias infindáveis que levam ao dédalo da análise, aos píncaros da especialização, ao empirismo dos sentidos, à lógica racional. No entanto todas essas externalidades do intelecto e dos sentidos eram apenas ferramentas úteis para o autor conseguir transcrever alguns conceitos místicos de forma aceitável pelo mundo hodierno, calcado na ciência e no utilitarismo. 

Desde que se formou em Direito, em 1911, Ubaldi buscou desordenadamente resolver o problema do conhecimento: o porquê da vida, da evolução, a fenomenologia dos milagres, o além e aquém-vida, a lei suprema que engloba todas leis, do físico passando ao biológico, depois pelo humano e para o espírito e além deste. Já um jovem muito culto (falava 5 idiomas, tocava piano, conhecia literatura, e com título universitário), fisicamente saudável e mentalmente talentoso (além de riquíssimo), seus pais decidiram que ele deveria se casar. Foi o que obedientemente fez. Teve três filhos, dois dos quais morreram cedo (um na guerra e outra na infância). Agnese acompanhou-o até o fim de sua vida terrena.

Mas o que muitos apontam como o zênite da vida, outros nada vêem a não ser uma âncora pesada que os prende ao plano humano, que pode na melhor das hipóteses ser uma ferramenta para ascensão. Foi isso que o jovem de Foligno sentiu ao iniciar sua vida adulta. Restava a ele gozar a vida e cuidar da administração de suas 12 fazendas e fortunas. Toda lógica do mundo demandava isso. Família, sociedade, instituições, normas civis e sociais. Mas seu espírito estava inquieto e infeliz. Não conheço pormenores de sua vida, mas através do mergulho em sua obra sinto que esses anos foram de intenso sofrimento. Não à toa ele define o segundo quarto da sua vida (dos 25 aos 45 anos) como o período de dores e maturação interior*. Viver uma vida que arrasta sua alma para um ponto diametralmente oposto ao qual ela deseja estar é sofrer imensamente. Para sair dessa situação deve-se vencer a realidade circunjacente, fazendo uso de toda sua força interior (fé) para forjar, ao longo de anos e anos de sofrimento intenso, que se apresenta das mais variadas formas e níveis. Forjar a alma. Ser queimado espiritualmente, e ter o martelo da vida batendo incessantemente na alma, alterando não apenas o ser humano mas despertando sua natureza mais íntima, fazendo-o ver claramente o que ele tanto deseja ver. Vinte anos...

Ubaldi nos primeiros anos de vida. Na
sua fase material, ainda não era clara a
sua missão. Mas tudo estava sendo
elaborado minuciosamente.
Foi assim que Ubaldi começou a se preparar para a sua grande missão: trazer ao mundo os conceitos mais elevados já captados por alguma antena humana. O sofrimento em si não traz evolução, ele percebeu. Mas fazer uso das dores para despertar qualidades adormecidas é a maior arma para combater um mundo mergulhado em ilusão. É preciso ter estofo espiritual para seguir tal caminho. As construções elaboradas pelo ser são abstratas para o mundo. Imperceptíveis e portanto insignificantes. Foi assim que o mundo, ao perceber o caminho que o jovem da Umbria estava tomando, começou a estranhá-lo. Antes era visto como um esperto, que estava fazendo cena apenas para parecer alguém bom e assim ganhar uma posição na sociedade. Conseguir fama. E muitos astutos, invejosos, sondavam para perceber qual era o plano. Não encontrando nada além de sinceridade, formaram a imagem de um louco, um imbecil, que merecia ser escamoteado pelo meio. Rejeições e escárnios do mundo externo - choques apocalípticos interiores. Tratava-se de um ser culto, sensível e sincero. 

O clímax de sua ascensão ocorre em 1927, quando decide abdicar de sua herança por direito. Abandona tudo sem jamais ter voltado atrás na decisão. De forma convicta e sincera, se lança numa trajetória por ele próprio desconhecida. Mas não via sentido nas leis e convenções humanas quando elas não estivessem de acordo com um sentimento interior - de uma lei maior. Decidira viver de seu próprio trabalho. Ganharia o sustento como as pessoas o fazem. 

Em vias de empobrecimento, visto como um inerme por muitos membros próximos, decide prestar concurso para professor ginasial. Passa em primeiro lugar e logo se vê transferido para Módica, Sicília, onde fica um ano. É na solitária e simples vila do sul da Itália que esse ser, preenchido dores e vetorizado para o alto, começa a captar intuitivamente mensagens do mais alto grau. A primeira manifestação é a palavra dirigida ao coração, para os homens de boa vontade, que não precisam da erudição da ciência para crer. Assim nasce Grandes Mensagens

Em Gúbio, transcrevendo A Grande Síntese.
Em 1932 Ubaldi consegue se transferir para uma escola de Gubio, mais próxima de sua família. Nas férias escolares desse ano ele começa a receber A Grande Síntese de uma entidade que se auto intitula Sua Voz. Em quatro verões, de 1932 a 1935, o (já) místico da Umbria despeja no papel, a jato, 400 páginas. Sem nenhuma preparação científica ou metodológica anterior, põe-se a transcrever um tratado ímpar, que delineia os caminhos para a solução suprema dos últimos problemas da humanidade. Resolução dos problemas da Ciência e dos Espírito. São 100 capítulos, que partem de premissas profundas e universais, para iniciar uma caminhada desde a estequiogênse (nascimento da matéria), passando pela formação do dinamismo (energia), e desta à vida (germe do espírito), ascendendo continuamente, encantando, envolvendo e sistematizando a jornada infinita num universo finito: a da evolução do espírito.

As almas sinceras e com sede de algo a mais, realmente substancial, que convença o intelecto e comova o coração, encontrarão em A Grande Síntese um tratado da fenomenologia universal, poeticamente cientifico e cientificamente poético. Uma fusão das filosofias numa única diretriz que aponta para o telefinalismo. Conduzindo a humanidade para Deus através dos próprios métodos da Ciência, vence-se uma grande barreira e é possível fazer um marco inicial na humanidade, que se propagará por séculos e milênios. 

A partir daí a divulgação no mundo se iniciou, e uma obra após a outra só foram possível graças à vivência de seu autor, que com bom senso dizia que o que ele escrevia não era produto de erudição profunda, mas sim de maturação interior e vivência. Para Ubaldi interessava descobrir a aplicação prática e integral do Evangelho, de forma a confirmar que a Lei de Deus existe e é atuante neste mundo, para todos, a todo momento, da forma mais humilde e sutil (como tudo que é grande). Que a Lei é o que, por dores ou por milagres, conduz os seres a cumprir seu destino, seja ele expiação ou missão. 

A vida tem me mostrado que o pré-requisito para a realização de milagres é acumular e elaborar positivamente uma miríade de dores, forjando a alma, aceitando o que vier e jamais deixando de ser sincero para com os outros e (especialmente) consigo mesmo. Manter a orientação nos momentos mais desorientadores. Fazer o que o coração lhe diz, mesmo que no instante, para a mente racional, seja loucura e suicídio. Assim o diz quem uma vez foi jogado de um abismo e estava prestes a ser reduzido a um farrapo humano, solitário, pobre, excluído, sem ocupação - mas com uma fé inabalável. Somente passando por uma batalha interior titânica, de proporções que fariam muitos esmorecer e prontamente recorrer às "alegrias" e "alívios" do mundo, eram acionadas as engrenagens e alavancas invisíveis, que abririam portas humanas através do qual eu inexoravelmente iria passar, bastando apenas continuar com aquela fé original. 

A obra de Ubaldi assim passou a ter um significado profundo na minha vida. Trouxe paz sem precedentes e orientação em cada ato cotidiano. Os planos pessoais passam a ser enquadrados numa ordem superior, que deve ser prioridade suprema. Dessa forma não interessa o cansaço, contanto que o sentimento de crescimento espiritual estiver presente. Todas as barreiras humanas nada significam perante uma alma sincera, convicta e já ciente do grande mecanismo que conduz as humanidades e civilizações e universos. 

Seres mais conscientes começam a se manifestar. Um deles é Russell Brand, um comediante, ator, escritor e apresentador inglês que passou por um mar de ilusões para chegar a resultados pífios: riqueza, sexo, drogas e fama. Uma experiência pessoal levou-o a dar orientação diversa à sua vida. E começa a usar seus finitos humanos (fama, dinheiro, tempo livre e dinamismo de fala) para espalhar sua ideia e buscar melhorar sua percepção da vida e de seus fenômenos mais profundos. É sem dúvida um daqueles tipos prenunciados por grandes místicos e santos. 

Todos nós podemos fazer algo grande. Independente de nossa posição. Sejamos famosos, professores, cientistas, estudantes, artistas, mães, cuidadores, sempre é possível atuar em prol de uma verdade que supere a realidade limitada que o mundo nos apresenta. Basta despertar o sentimento interior. Assim as manifestações presentes das visões recentes de grandes espíritos como Huberto Rohden e Pietro Ubaldi - dentre outros - se dão. O progresso é lento, mas se dá a passo firme. Eduardo Marinho é um servo da Lei através do caminho da vida com os pobres; Leonardo Boff é outro servo que atua no caminho do ensino da ecologia e da espiritualidade; Noam Chomsky através do metódico trabalho intelectual. E por aí podemos elencar uma cadeia de seres que se aproximam cada vez mais conceitualmente, que devem chegar a uma comunhão, formando uma síntese que dê continuidade à Obra, antes compreendendo-a (fase dos próximos séculos) até que surja um ser suficientemente evoluído para dar continuidade a essa suprema onda que arrematará toda a civilização à sua meta suprema, acabando com a utopia no sentido mais positivo do termo, tornando-a uma realidade concreta e natural - e assim forjando utopias inimagináveis, que farão as nossas de hoje parecer produtos de um passado evoluído.

Essa é a grandeza da evolução a ser atingida.



Observações:
* Ubaldi divide sua vida em 4 fases: a primeira, dos 5 aos 25 anos, foi sua formação física e intelectual; a segunda, dos 25 aos 45 anos, foi permeada de dores e maturação interior profunda; a terceira, dos 45 aos 65 anos, de explosão conceptual (1ª fase da obra, na Itália); e a última, dos 65 aos 85 anos, de aplicações dos conceitos (2ª fase da obra, no Brasil).

Links:
https://www.youtube.com/watch?v=9l__WLzzR7E
https://www.youtube.com/watch?v=L8K2n2Yf8jk&spfreload=5
https://www.youtube.com/watch?v=6PYpHFwcITI
https://www.youtube.com/watch?v=en9yNEkU5kU
https://www.youtube.com/watch?v=LRgu3V6Ex_A
https://www.youtube.com/watch?v=P6hP8FTzFC8
https://www.youtube.com/watch?v=frQXgHrqDOE

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Unidade ou fragmentação

O despertar da razão nasce na espécie mais complexa do planeta (o homem). A configuração orgânica chega ao auge com o homo sapiens. Seu sistema digestivo, respiratório, muscular, seus ossos, seu cérebro e neurônios,...tudo aponta para um grau de sofisticação nunca atingido por outra espécie. O humano não é o mais forte, nem mais rápido, tampouco mais resistente às intempéries. Mas seu intelecto é capaz de associar fatos externos entre si, construindo a ideia de causalidade. Relações entre os fenômenos passa a ser recurso para criar a técnica - e assim começam a surgir as ferramentas. 

A esbeltez do espírito deve refletir na esbeltez da mente,
das emoções e do corpo. 
A economia é uma extensão da biologia. Melhor dizendo: trata-se de uma continuação da evolução externa (material) num nível radicalmente diverso. Nossa espécie passou a operar predominantemente no nível exossomático. Não apenas construímos máquinas, mas também máquinas que constroem outras máquinas - sempre baseado em princípios ditados por nós. Isso possibilitou o domínio relativo sobre a natureza. 

Da revolução neolítica (10.000 a.C.) até o Iluminismo (século XVIII) a humanidade manteve um padrão de vida considerado baixo. É claro que foram criadas formas de organização como os Estados antigos do Egito, da Índia, da Grécia e Roma. E a base religiosa do mundo (cujos troncos principais foram o Budismo e o Cristianismo) teve sua gênese devido à inúmeros avanços, cujo primordial foi a escrita. Além dos fundamentos das filosofias - e posteriormente o desenvolvimento das ciências. Percorrendo essa formidável trajetória multimilenar, regada de sofrimentos, conquistas, esquemas, repetições, superstições e superações, sentimos a preparação do terreno da civilização para uma etapa muito potente, de transição profunda, que será breve e terá como função capital alavancar a nossa espécie para um nível de conforto nunca visto - este é o meio. E com suas consequências fazer despertar em nós, de forma muito sutil porém intensa, um senso de evolução que vá além das exterioridades tecnológicas e físicas, apontando para o espírito - a finalidade.

Tudo que surge na humanidade é apoiado em uma ou mais conquistas anteriores. Conquistas estas que foram antes se consolidando através de assimilações, repetições, de forma a incorporar no corpo coletivo uma nova cultura. Aquela da moral talvez seja a que aponte para as maiores alturas. E a partir dela, os indivíduos mais adiantados na jornada evolutiva poderão usá-la para chegar a um patamar inimaginável para a imensa maioria: tornar prática cotidiana, natural, instintiva, aquilo que apenas é apontado como ideal - mas jamais aplicado na vida íntima. 

Vicente de Paulo. Após mais de 50 anos, desenterraram seu
corpo para a exumação. Encontraram-no intacto, incorruptível.
Assim é o organismo ocupado por grandes espíritos.
Muitos acreditam que o mundo não mudou em milhares de anos. Mas essa visão superficial denota uma sensibilidade de superfície, presa à forma, que apresenta incontáveis versões fragmentadas, apresentadas de modo contraditório. Observando à fundo nota-se. Recorrendo ao Cinema, com dois filmes excelentes: Spartacus e Padre Vicente de Paulo [2] (cujo título exato não me recordo, mas é sobre o dito cujo). Há cenas que demonstram o comportamento das mulheres da alta sociedade tanto na Roma antiga (70 a.C.) quanto na frança absolutista (Séc. XVII). Vejamos o primeiro filme - antes da vinda de Cristo - que se passa numa sociedade politeísta: nos duelos entre os gladiadores deseja-se (pede-se) a morte do outro para pura satisfação pessoal. O outro é uma mera distração. A vida de um escravo não tinha valor e a morte de centenas para divertir uma classe era fato normal, cuja repetição não suscitava nenhum tipo de indignação - nem por parte dos condenados. No segundo (Pde. Vicente) as damas da aristocracia, após verem o Padre (depois Santo) Vicente levar uma vida de dedicação, dando tudo ao seu alcance (suas reservas, energia, saúde, conhecimento e amor) para aliviar o sofrimento daqueles que se vêem jogados num mundo atrasado e desesperançoso, começam a se organizar para auxiliá-lo. É fato que existe outra coisa por trás: elas sentem na sua vida de abundância uma reprodução de um modo de ser e (consequentemente) fazer cada vez mais afastado do espírito cristão - que elas tanto seguem formalmente, nas missas e falatórios. Uma vida sem sentido na abundância da matéria e das gargalhadas. O Padre, rodeado pela pobreza, abraça-a e aponta para cima. Sente asco pelo que poderia ter pelos seus conhecimentos e posição. A consciência fala mais alto. Em suma: as damas, apesar de longe de um despertamento efetivo, se preocupam em ajudar o pobre - mesmo que sem grandes sacrifícios pessoais. Antes (Roma politeísta) o prazer puro. Depois (Ocidente cristão) uma beneficência deficiente. Dezesseis séculos após a vinda de Cristo percebe-se que no íntimo as coisas se alteram. Tudo dentro da medida do permitido pela ordem dominante claro. O mundo muda, mas lentamente. Muito lentamente...

A Era Moderna nos trouxe a maior conquista da civilização [1]: O Estado Moderno. A passagem do Teocentrismo medieval para o Antropocentrismo moderno permitiu o nascimento formal e efetivo da Ciência, - em todos seus aspectos, natural e humano - uma outra conquista formidável. Esses dois elementos (Estado e Ciência) permitiram a forja de uma sociedade completamente diferente de todas aquelas que haviam surgido e desaparecido. O conforto material finalmente chegara. 

J.M. Keynes: visionário. Suas previsões podem se
realizar. Isso depende apenas de nosso bom-senso.
Em 1930, numa conferência em Madrid, J.M. Keynes [3], economista inglês, esboçou uma possibilidade a ser vivenciada pelas próximas gerações, dentro de um século. Essa possibilidade seria a abolição global das misérias materiais que sempre afligiram a humanidade - tanto em sua fase pré-histórica das cavernas quanto aquela das civilizações históricas. Isso, conforme o próprio afirma, se deu graças ao acúmulo sem precedentes de capital, que possibilitou a Revolução Industrial e assim a produção de bens e serviços nunca vistos, em quantidades enormes. A Revolução Francesa abriu portas para a introdução dos conceitos de democracia e igualdade (ao menos teoricamente), que apontam para a liberdade. Esses conceitos de sociedade e organização política alimentaram os movimentos operários (séc. XIX até meados do XX) e sociais (séc. XX em diante), que através de lutas e persistências conseguiram certas conquistas, reconhecidas por parte dos poderes como imprescindível para o funcionamento do organismo coletivo chamado humanidade. No momento atual, em todo mundo, essas (poucas) conquistas estão sofrendo um processos de erosão. Mas o pior não é esse esfarelamento - a questão é edificar, transformando o conceito substancial de Estado em realidade concreta, criando um organismo que pode fazer frente à barbárie que se anuncia.

O mundo não pode avançar sem o Estado e a Ciência. Eliminar um ou ambos significaria um retrocesso de proporções inimagináveis. A questão é compreender qual o significado desses dois agentes coletivos, supra-humanos, nascidos da razão mas operantes de forma relativamente autônoma a partir de uma fase. Essa consciência falta ao grosso da humanidade, razão pela qual poucas pessoas participam de questões ligadas à política, economia e legislação - que controlam os processos de investimento em ciência, tecnologia, mídia, etc. O perigo se amplia à medida que se faz o jogo de se manter distraído na esperança de que tudo (crise) passe. Nesse aspecto reproduzimos os atos atávicos medievais, depositando nossa fé num sistema econômico que se desconectou da realidade ecológica e social. 

É verdade que houveram grandes males cometidos através do Estado no século XX. A Ciência igualmente serviu a interesses escusos. No entanto, tratam-se de ferramentas (meios), não de causas. Ademais, é preciso perceber a sutileza sistêmica presente nas ondas da História. O fascismo nasce num contexto de crise, quando aqueles que ascenderam e se tornaram proprietários com um tipo de trabalho mais intelectual/sofisticado (mas não melhor!), isto é, as classes médias, veem risco de queda e não podem correr nenhum risco. Quando a ameaça de conforto está à espreita, são os que estão no meio (eu diria aqueles entre o 19% de baixo dos 20% do topo, ou seja, o topo exceto a elite do 1%) que mais estão dispostos a apoiar regimes totalitários [4]. O nazismo nasceu assim. Trump vence as eleições pelos mesmos motivos basicamente. E essa erosão sempre teve como causa uma crise do sistema (capitalista). Trata-se de um sistema apoiado por uma lógica produtora de crises constantes. É crônico. É igualmente cômico perceber que muitos economistas ainda não estão dispostos a subordinar sua "ciência" a uma diretriz mais vasta: a ecologia. 

Ciência. Junto com o Estado Moderno, a maior conquista
da civilização antropocêntrica.
Essas questões nos levam a um aspecto mais profundo que reside dentro dos indivíduos, no íntimo da alma. Trata-se da fragmentação de nossa personalidade através das tecnologias recentes e do excesso de informação. 

É preocupante perceber que estamos vivendo uma época paradoxal: um máximo de possibilidades abortadas por uma maré de desperdício. Como isso ocorre? O fenômeno é complexo, mas pode ser sintetizado por um simples conceito. Estamos na era da informação. Mas sem conhecimento não há o desenvolvimento necessário. Este fica restrito a alguns - não necessariamente ricos, mas com uma vida razoavelmente decente, que permita a aquisição de boa instrução e exercícios de atividades úteis. Sem o conhecimento busca-se mais informação, repassa-se qualquer coisa e habitua-se a mente a buscar preenchimento quantitativo no vazio qualitativo. No entanto, nem mesmo o saber irá resolver a questão da fragmentação / desorientação. É necessário chegar ao Lógos - a razão crística segundo Rohden, ou intuição, segundo Ubaldi.

Tendo uma vida fragmentada no tempo e no espaço, nossas atividades tornam-se menos eficientes, e portanto mais desgastantes. O sofrimento continua porque os meios de superá-lo são travados pelos processos mentais circulares (repetitivos). As condições sistêmicas alimentam isso, dando as condições para que essa reprodução vazia se perpetue indefinidamente. São as distrações midiáticas (TV, rádio, jornais, revistas, internet) e sociais (fofocas, panelas, reações argumentativas); o consumo conspícuo (shoppings, baladas, bares e derivados); o trabalho alienado e alienante (horas infindáveis sem executar algo que desperte a consciência). Tudo contribui. E comprova a veracidade da teoria de Ubaldi do S e do AS [5]

O diagrama de Ubaldi explica de forma
geométrica o fenômeno evolutivo.
A reencarnação nada mais é do que fenômeno natural do universo decaído (AS), no qual a vida - que é una e portanto eterna - se torna fragmentada devido à queda das dimensões, implicando num ciclo de inúmeros nascimentos e mortes, com todas suas dolorosas consequências. A matéria se desagrega com o passar dos anos. Ela está sujeita à lei da entropia [6], que aponta para a desorganização de qualquer sistema termodinâmico. Assim ela "profetiza" o fim da matéria, com o fim do universo físico. Mas a vida é algo diverso daquilo que aprendemos na escola. Vimo-la em seu aspecto orgânico, no espaço-tempo, dependente de um substrato material, que nada mais é do que uma manifestação sua. No estágio atual depende ela desse substrato - devido ao nosso grau evolutivo. Mas a vida é fenômeno vasto e profundo, relacionado ao espírito, e pode sossegadamente progredir em universos extra-físicos, espirituais e mesmo conceptuais [7]. Pedro Orlando [8] desenvolveu de forma magistral essa ideia em seus anos finais de vida (vida utilíssima diga-se de passagem!).

Em existências terrenas estamos vivenciando o drama da fragmentação geral. E a sensação é de uma correria imensa com resultados cada vez mais efêmeros. Nunca fomos tão velozes. Jamais fizemos tão pouco em termos de substância. Caímos numa armadilha que só pode ser vencida se absorvida num esquema conceptual maior. Construí-lo exige estofo espiritual sem precedentes. Ousadia inteligente [9] pode ser um primeiro passo rumo a essa ruptura virtuosa com o paradigma passado.

Desde a década de 50 do século passado começamos a viver em "tempos sistêmicos". A interconexão entre fenômenos se torna mais clara. O que permitiu isso foi a Revolução Industrial. Desperta-se o cão feroz para nos proteger do mundo. Mas logo percebe-se que o cão cresce e se torna soberano. É necessário saber controlá-lo para que ele não nos devore e acabe consigo mesmo. O cão feroz é Lúcifer (intelecto). O controle se dá por Lógos (intuição). O primeiro é analítico. O segundo é sintético. Lógos guia Lúcifer - e não vice-versa. 

A intuição se dá quando o corpo e a mente "morrem".
Ela é a inteligência - que renasce num nível mais alto.
A ineficiência de nossos projetos de vida reflete a fragmentação interna a que nos submetemos em prol de uma suposta eficiência social-profissional. 

Se para despertar a humanidade for necessário uma catástrofe de proporções colossais, a Lei irá providenciá-la. A vida não quer gordos involuídos (conforto material pleno, nulidade espiritual). Ela visa forjar evoluídos, nem que para isso sejam magros (conscientes com pouco conforto material). Podemos ter ambos, se soubermos viver em equilíbrio, nos tornando esbeltos conscientes. Equilíbrio com nossas emoções; equilíbrio em nossas atividades; equilíbrio em nossa saúde; etc. Visando sempre um utilitarismo mais vasto. Alguns cineastas pressentem o nascimento dessa nova humanidade, e através de sua arte, verbalizam os valores vulcânicos da vontade velada [10].

Para atingir a unidade coletiva precisamos antes conquistar a unidade íntima. 

Nossas vidas devem ser vividas de acordo com nossos ideais mais puros. Devemos seguir o roteiro íntimo de forma firme, sem medo dos outros. Porque quem observa o íntimo (Deus) pode não dar a impressão de estar nos protegendo quando aqueles que só veem os atos (humanos) julgam. Mas os mais conscientes saberão que se trata de algo visando o bem de todos.

Devemos lutar para construir a cultura de concentração e reflexão profunda no íntimo, repetindo o que inicialmente pode desagradar, mas tendo fé nesse "método". Trata-se de processo contínuo, sem prazo, e visando uma transformação de atitude - não de ato. 

Sem um pouco dessa unidade interior jamais seria possível prosseguir com meu trabalho e doutorado, com este blog, com a elaboração de curso de extensão, com meu despertar - entre outras coisas. Todas construções sólidas da humanidade se dão num ambiente unitário. A história confirma. A vivência consolida.

Unidade corrigindo a fragmentação. Eis a solução geral.

Passemos para as especificidades. Cada qual com a sua - mas todos com a mesma orientação suprema.

Referências:
[1] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2018/01/a-maior-conquista-da-civilizacao.html
[2] https://pt.wikipedia.org/wiki/Vicente_de_Paulo
[3] http://www.geocities.ws/luso_america/KeynesPO.pdf
[4] https://eand.co/the-downwardly-mobile-society-b3d538b6dd27
[5] Sistema (S) e Anti-Sistema (AS). Para saber mais, ler Queda e Salvação, de P. Ubaldi. 
[6] https://pt.wikipedia.org/wiki/Entropia
[7] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2017/10/racionalismo-em-cheque.html
[8] http://monismo.net/indice1.html
[9] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2013/12/aconquista-de-aqaba-importancia-da.html
[10] http://leonardoleiteoliva.blogspot.com.br/2015/10/v-em-busca-da-verdadeira-unidade.html

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

A Lógica Emborcada

Nós temos imensa dificuldade em fazer auto-crítica. Tão grande é essa dificuldade que passamos a ser muito mais brandos em nossas críticas dirigidas para o exterior - de modo a não sermos forçados a lidar com a provável reação, em sentido contrário e de intensidade igual ou maior, que aponta nossos defeitos. Ao fazermos avaliações profundas e intermitentes de fatos externos somos compelidos a expor nossa realidade interior (nossas atitudes e atos, nossas visões de mundos) para o mundo, que irá avaliá-la de modo tão ou mais incisivo. A questão aí não reside necessariamente em deixar de fazer questionamentos e assumir postura crítica, mas de estar (muito) melhor preparado, intelectualmente, emocionalmente, fisicamente e (mais importante) espiritualmente para lidar com as investidas que o meio apresentar.
O emborcamento de um navio. Quando temos algo que não
caminha de forma correta (casco para baixo), estamos num
caminhar emborcado. A humanidade possui uma lógica
emborcada, ou seja, que não é usada de forma consciente.
Todas as coisas que não estão diretamente relacionadas à nossa vida são alvos relativamente fáceis. Quem possui o intelecto luciférico altamente desenvolvido percebe isso, e se aproveita dessa característica humana para atingir seus interesses. Isso não é apenas verdade no campo da política, mas em todas instituições humanas: corporações, mídias, nações, religiões, famílias, etnias, áreas do saber, profissões, grupos etários, sexos, gêneros, classes sociais. Ataca-se no outro o defeito que em nós é pequeno. Esconde-se o defeito alheio - que em nós é grande. Aparentemente defende-se o outro por bem. Mas tudo me indica que, - lá no fundo, no remoto fundo da alma - quando estamos investindo na crítica, usando os métodos do mundo (que é o nosso, em maior ou menor grau), sempre há uma astúcia por trás do aparente bem. E no mal, sempre há uma redução de efeito visível de nossos ataques violentos, de forma a torná-los mais apresentáveis e "humanos", mais toleráveis pela sociedade "do bem" e dos "bons costumes", garantindo assim a perpetuidade dos métodos. Estamos diante das maiores profundidades da vida humana. 

Essa forma mental é a que nos aprisiona nesse (triste) plano evolutivo. Usando os métodos do mundo para questioná-lo, estamos diante de uma reação de igual intensidade. Essa reação é diversa a depender do biótipo. Para a imensa maioria (o homem médio, situado no plano racional-analítico que serve os instintos), ela será difícil de ser lidada, pois tende a cercar o ser com espelhos metafísicos, forçando-o a explicar ao mundo se ele, de fato, tem autoridade para fazer apontamentos tão ousados. O fato é que não o tem, pois ele não é o que espera do mundo, e dessa forma acaba reagindo de forma idêntica, lançando esses mesmos espelhos ao redor daquele que faz as críticas diversas, para expô-lo. Como nessa batalha não há desejo de abrir sua alma para realizar autocrítica - o que poderia estimular o grupo a elevar o debate para outro nível, mais profundo e realmente transformador - perpetuam-se rebatimentos externos. Reações mais intensas, às vezes mais elegantes / elaboradas, que apresentam maior complexidade. Chega-se num ponto em que o intuitivo sente que os nós dados em torno de tema tão simples começam a exigir tamanho esforço que a eficiência cai a um nível absurdamente baixo. E a partir desse ponto abandona-se o tema, ora voltando a ele, sempre da mesma forma, com os mesmos métodos e resultados...

Francisco de Assis percebeu a
brutalidade de permanecer na
alta posição social. Egoísmo puro
não era com ele...
Existem outras formas de lidar com isso. Uma delas é simplesmente não tratar do tema. Reduz-se o nível de (postura) crítica, ousadia (inteligente) e sinceridade (vulcânica) a quase zero. Como resposta o mundo, a sociedade, a mídia (os instintos!) deixarão o ser em paz, podendo seguir sua vida sem golpes fortes - a não ser daqueles que nosso mundo presenteia abundantemente a todos(as). Esse é o caminho fácil, em que se foge de algo e simultaneamente acredita-se estar melhorando interiormente, - por causa da ausência de conflitos externos e camuflagem dos conflitos internos via ruídos exteriores como trabalho alienado, consumo conspícuo e dependência midiática. No entanto o problema permanece na alma e se manifesta na forma de uma dependência cada vez maior de ruídos externos. Isso é a ânsia por novidades, a necessidade enorme de exibir o seu histórico, títulos, posição (seja ela social, acadêmica, física, financeira,...todas quantidades), o ato mecânico de sempre deixar seu entorno cheio de ruídos - sejam eles humanos ou eletrônicos - e a criação de metanarrativas* a respeito de grupos específicos, formas mentais e acontecimentos históricos para satisfazer certas tendências psíquicas fortemente enraizadas. O produto dessa combinação é uma repetição cotidiana. Uma aprendizagem lentíssima, que se dá através da fixação da personalidade num patamar. Não se transforma, não se abre para o mais da qualidade que ilumina e acelera, sempre preferindo-se o menos da quantidade que inunda e engessa. Alterar esse rumo implica em alterar a si mesmo, num nível nunca antes experimentado. Deve-se estar pronto para o que vier. Mas igualmente isso só pode ser feito para quem estiver suficientemente preparado, com o estofo espiritual mínimo para iniciar a jornada. Estofo sem o qual pode-se cair numa espiral de desespero por não saber lidar com a substância interior. O que nos leva ao outro método, que nada mais é do que adquirir a capacidade de ser sinceramente consciente e ousadamente inteligente. 

Albert Schweitzer (1875-1965), teólogo, músico,
filósofo e médico alemão. Saiu da Alsácia onde o
sucesso lhe convinha para viver 54 anos na Àfrica,
onde construiu um hospital e ajudou os mais miseráveis.
Rohden chamou-o "Profeta das Selvas".
Quando conquistamos a habilidade de trabalhar com esses reflexos vindos de fora, absorvendo o que retorna para emitirmos algo diferente, mais elevado, menos contraditório - seja em ideias, atitudes ou ações - melhoramos o mundo externo, pois ele deve trabalhar num terreno mais sofisticado para continuar no jogo. A quantidade de Lúcifer cede um pouco de espaço à qualidade de Lógos. Começa-se a inverter o rumo de nossa nave. E com isso vem o trabalho jubiloso, muito acima do alienado. E a reflexão brota, redefinindo o conceito de necessário, e assim rejeitando o consumo alienado por melhor focar no consumo consciente. Essa força que brota de uma profunda convicção interior é o melhor modo de transformar o mundo. Mudar a forma mental. Ela inicia uma mudança em cadeia, que cresce como uma onda. Forma mental estimula a reorientação da ciência e do pensamento filosófico que plasma instituições, que forjam as bases para superar o sistema hodierno - calcado em acúmulo indefinido e segregação entre saberes. Parte-se da crença, passa-se pela fé e chega-se à experiência direta [1]. Passar de um nível a outro é tarefa titânica mas compensadora. Libertar-se da escravidão das necessidades supérfluas (luxo-lixo) é a maior potência para acabar com o que não mais serve a uma nova humanidade. Essa atitude é inexpugnável. 

Mas nada de novo falei até aqui que não tenha sido dito, explicado, exemplificado, teorizado ou prosado. Agora verso o ponto diferencial.

Existe um aspecto que temos dentro de nós que contribui (e muito) para o mundo não progredir. E trata-se de algo aparentemente inocente, não-causador de males. É o nosso ato de querer ir para o local bom (de lá) que (geralmente) sustenta o ruim daqui (e do mundo), simplesmente para termos uma vida mais plena. O nosso desejo de morar num país de alta qualidade de vida é natural. Quem não gostaria disso? (eu certamente aceitaria uma boa proposta). Mas andei refletindo muito a respeito disso. Observando o porquê de eu, de você, de todos nós ansiarmos sempre por ir para um lugar melhor, e comecei a perceber um aspecto muito sombrio nisso tudo. Um aspecto que, feita a soma do conjunto dos desejos e vontades, mantem as coisas como estão e reforça a lógica do mundo, garantindo o domínio do forte sobre o fraco. 

Se eu quero ir para um lugar de boa qualidade de vida porque aí posso melhor me desenvolver, sou uma pessoa sensata. Isto é o que o senso comum diz. Quero viver num meio em que possa viver melhor e me desenvolver mais. Mas ao fazer isso estou abandonando o meio que é pior (onde vivo), e que portanto mais precisaria de gente capaz para auxiliar, e parto para um meio em que já é bom e devo dar minha contribuição para ficar melhor ainda. Sinto nisso uma reprodução da lógica de concentração - de renda, oportunidades, etc. É como se todo ser humano estivesse reforçando (justificando) a política de assalto praticada pelo sistema financeiro. Na essência percebo uma semelhança assustadora. Vejamos mais a fundo.

No Butão o governo estabeleceu prioridades diferentes. Há
contradições, mas muitos aspectos são bons para serem
incorporados na sociedade.
Todos seres que passaram por esse planeta e foram reconhecidos como aqueles que ajudaram a elevar o nível médio da humanidade, foram justamente aqueles que fizeram o avesso do que nós ansiamos. Partiram dos melhores meios para caírem nas situações menos favorecidas. Cristo é o máximo dos máximos dos exemplos. Francisco de Assis, Pietro Ubaldi e Albert Schweitzer [2] (o Profeta das Selvas) são exemplos supremos. Se todos ou apenas uma boa parte de nossa espécie fizesse algo minimamente parecido com o que estes exemplares raríssimos fizeram, o mundo seria um paraíso. Porque não é saindo dos lugares pobres e feios, usando toda astúcia, para entrar nos lugares ricos e bonitos, que o mundo se tornará melhor. Especialmente porque esses lugares ricos e bonitos, em larga medida, historicamente contribuíram para o empobrecimento de certas regiões; e igualmente se beneficiam de determinadas conjunturas globais para manterem seus altos padrões de vidas. Quantas empresas europeias não se encontram em lugares remotos do mundo tendo um lucro enorme à custa de populações? Isso tudo deve ser inserido num balanço global. 

A Islândia (seu povo) é outro exemplo de como poderíamos
nos conscientizar e controlar nossas vidas de forma mais
sincera e plena. Sua revolução - não coberta pela mídia -
tirou-os da crise.
Quem é verdadeiramente rico não o ficou às custas do desequilíbrio do meio ambiente, da exploração de outros povos, nem da perpetuação e consolidação de sua posição (obtida pelas suas explorações passadas). Logo, até o presente momento, posso afirmar com segurança que nunca vi uma nação verdadeiramente rica. Algumas estão tentando caminhos diversos, com modos de desenvolvimento alternativo, como o Butão [3]. Outros se dão a nível menor, mas de forma mais complexa, através de ecovilas, como a comunidade de Tamera em Portugal [4], [5]. São novos aspectos brotando no mundo de forma ordenada, consciente  e orientada. O desafio é perceber a profunda realidade e criar a partir de onde estamos, percebendo que o mundo não é um migrar unidirecional alienado, mas um transformar multidirecional virtuoso, visando a conquista de dimensões superiores. Criar o país rico aqui, verdadeiramente rico, não às custas de outros corpos, culturas, riquezas e massacres históricos, mas por meio de uma nova atitude, que brota de uma diversa concepção de vida. 

Podemos fazer isso de onde estamos. Comecemos abrindo-nos para conceitos novos e experiências mais profundas. 

Vencendo a lógica emborcada que construiu nosso passado e governa nosso presente estaremos adquirindo a "lógica mais lógica", não emborcada, que enriquecerá nosso passado e construirá nosso futuro. Um futuro completamente diferente.

Referências:
[1] https://osegredo.com.br/2018/01/entendendo-as-3-etapas-do-desdobramento-espiritual/
[2] https://pt.wikipedia.org/wiki/Albert_Schweitzer
[3] https://pt.wikipedia.org/wiki/But%C3%A3o
[4] https://en.wikipedia.org/wiki/Tamera
[5] https://www.youtube.com/watch?v=IryCO3MvAiQ

Observações:
Metanarrativa (também conhecida como meta-narrativa e grande narrativa; do francêsmétarécit) é um termo literário e filosófico que significa simplificadamente a narrativa contida dentro ou além da própria narrativa. É um termo que tomou o centro dos debates ao final do século XX pelo filósofo francês Jean-François Lyotard (1924-1998), pois este considerava que se estabeleceria o fim das grandes narrativas. Um exemplo das grandes narrativas presentes nos discursos, segundo Lyotard seriam o iluminismo, o idealismo e o marxismo. O prefixo met(a)- tem sentido de "além de; no meio de, entre; atrás, em seguida, depois". [Wikipedia]