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quinta-feira, 21 de junho de 2018

Compressão das possibilidades - Intensificação da criatividade

É interessante. Existem coisas que podemos dizer sem sermos minimamente compreendidos. O único significado captado pelos outros será a forma da mensagem. Esse mecanismo humano, do ponto de vista de quem passa a mensagem, é uma redução brutal do simbolizado transmitido (essência) para se adaptar ao símbolo captado (forma). 

Nada que exceda o grau de consciência, incluindo a capacidade de vislumbre (intuir), será transmitido com eficácia. Dessa forma começa-se a perceber que muitos conceitos e percepções profundas da vida somente poderão ser compartilhados por um círculo muito restrito de amigos. Uma fraternidade minúscula numericamente falando. Mas muito diversa em termos de sensibilidade. Trata-se de uma questão de sensibilidade. Poucas pessoas ainda tem desenvolvido esse sentido interior.

Por mim, como professor, já passaram centenas de almas
jovens (alunos). Apenas uma entrou em ressonância com
o meu ser. A conversa durou 2 horas - mas pareceu
instantânea. Nesses momentos atinge-se a eternidade,
superando o tempo.
Quando me deparei com a Obra de Pietro Ubaldi senti ter encontrado alguém capaz de sintetizar meus dramas humanos - incompreendidos - e me tornei uma pessoa mais orientada na vida. Percebi que não valia a pena dar atenção a determinados tipos de pessoas. Percebi que muitos fazem promessas repetidamente e não consumam as promessas. Percebi que diversos dizeres são inacessíveis aos corações e às mentes que, entretidas pelo torvelinho das sensações e o tormento das obrigações mundanas, gozam o máximo que podem, desde as formas mais baixas até as mais elevadas. Mas tudo é no fundo gozo, distração, superfluidade. Percebi que sofrer uma vida inteira com um propósito sincero e ardente é dificílimo na prática, mas pode significar uma paz invencível nos momentos titânicos pré-morte, quando o abandono deste mundo é um alívio porque dele se fez uso adequado. Nem abuso nem recusa. Apenas uso consciente.

Meu destino preestabelecido foi abandonado em busca de um maior sentido para minha existência individual. Minha profissão fatal era e seria a de engenheiro. Mudei os rumos do meu carma, não desviando dele, mas compreendendo-o e superando-o. O milagre ocorreu e eis me aqui. No entanto, como o místico moderno da Umbria, o ambiente está muito longe do ideal. Mas a rotina diferenciada, com mais e maiores graus de liberdade, permite que a alma se expanda de forma mais sadia. Essa alma tem muito a dar - eu o sinto. Uma missão a realizar. Uma tarefa a executar. Um destino mais nobre a ser escrito no mármore da História.

Estou forjando meu ser com a dor da incompreensão e da solidão. Tenho a (persistente) sensação de telefinalismo da vida terrena. Esta é apenas um característica transitória de uma vivência mais profunda, com poderes de percepção além do concebível. Falar desses assuntos é raríssimo hoje em dia. Se esses temas emergem no cotidiano vazio e estúpido humano, ele é encarado como tópico de lazer, visando gerar assunto na horizontalidade social, de forma a preencher as lacunas que sobram das repetições enfastiantes de temas formais, desnecessários, engessados e repetitivos - em sua larga maioria. Isso causa desespero agudo às alma ardentes por significados mais plenos. Tão agudo que o desespero domina tanto o espírito quanto o corpo, se traduzindo em gestos de perturbação, falta de concentração e fatal estreitamento dos portais de atuação e sentidos. Porque percebe-se que a atuação praticada tem efeito mínimo - por vezes deletério, prejudicando a vida do ser. Essa é a chaga do julgamento sem conhecimento de causa. Deve-se criar o ambiente que poderá atrair certos tipos de seres. O autor busca fazê-lo em termos reais (oficialmente) e virtuais (aqui). Num o público é pequeno mas a vivência é mais íntima. Noutro o público se expande, com os tentáculos conceituais se estendendo pelo mundo todo - mas a vivência é menos intensa.

Compreender o místico é compreender a vida.
Alinhar sua vontade à vontade de Deus pode levar à fogueira.
Giordano Bruno (acima) cumpriu seu destino. Não apenas
adentrou na História - ascendeu a planos superiores.
Hora tensa a atual, em que as possibilidades de sucesso parecem se esvair. Os auxílios são frouxos e se dissipam, como as nuvens após a tempestade voraz que deturpa as almas menos prevenidas. Mas simultaneamente vai-se percebendo que o mundo pouco pode auxiliar. Está preso num torvelinho de sensações, repetições e formalismos que sugam energia e arrastam os instintos no breve tempo da existência. Mantêm eles atuantes, mantendo sua posição consolidada, que na menor possibilidade de ameaça, se lança contra impulsos anti-repetitivos que visem a formação de novos automatismos. Essa força de atração é tão forte que o efeito de escritos como o de Ubaldi ou de Rohden são nulos - tamanho o grau de insensibilidade do tipo médio atual. Isso pode parecer desejo de ofensa e desafogamento de frustrações, mas garanto que se trata de uma simples constatação de uma realidade tão profunda que ignoramos sua existência e seu poder de conduzir nossas vidas.

Agora mesmo me encontro em sala, auxiliando uma colega a aplicar prova. Há necessidade de controle rígido, terror e ameaças, para conseguir certo nível de comportamento. Mas a imensa maioria só permanece enquadrada por astúcia. O tipo médio é o mesmo, seja ele aluno ou professor.

Buscamos o caminho mais fácil na vida. Qualquer atividade que demande um esforço sem compensação proporcional é visto como inútil. Alguns até se interessam ao ver seu semelhante fazendo esse tipo de epopéia, persistentemente, ao longo dos anos. Assim tem um assunto para falar, alguém para caçoar, uma lacuna a preencher - de seu imenso vazio interior. Simplesmente assistem de longe. Outros acham bonito, mas jamais fariam algo parecido. É uma bela teoria a ser contemplada para satisfação do ego. Quando essa teoria - que para quem a implementa é uma vivência intensa -  é esmagada ou sofre ataques cruéis, logo a admiração some. Ajuda, nem se fala. E assim o ser se vê diante da incompreensão humana.

"Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem" 
Jesus, o Cristo

Os trechos do Evangelho que pareciam apenas belas frases soltas começam a se fundir com todos aqueles sentimentos de perdição, angústia e busca alucinada daquele que não aceita uma realidade tão falsa. Assim essas palavras assumem aspecto mais translúcido. Elas são mais vívidas a cada leitura. Adentram nas entranhas espirituais para serem elaboradas. Assim o ser é cada vez mais impelido à prática. Ganha-se potência e coragem. Persiste-se.

O místico não estuda o fenômeno. Vive em sinceridade consigo e em harmonia com os aspectos fundamentais da vida (cinco A's). Faz disso o seu reino e assim se torna um fenômeno. Há ainda aqueles que possuem um germe de genialidade e conseguem, a partir de sínteses, formular obras fantásticas que vão sendo compreendidas gradativamente.

Safatle me agrada, confesso. Não porque é
filósofo nem de esquerda. Nem por ser acadêmico.
Simplesmente porque está, como eu, tentando
transmitir o monismo que coordena o nosso universo
dualista. Isso está muito além da filosofia e do ensino.
A aula que mais me agrada dar é aquela que menos atrai gente, menos mantém gente, menos se difunde. É um momento oficial, mas desconhecido. Diversas visões são apresentadas. Tópicos esmiuçados. Usa-se o que se aprendeu para explicar fenômenos inerentes à vida, de forma diversa, fazendo uso de vídeos, músicas, imagens, discursos, atividades, sistematizações e conversas. Traçam-se as diretrizes para que o aluno possa se tornar sujeito atuante, diferenciado, não-corrompível no sentido mais lato do termo, e assim possa concluir - mesmo que de forma incompleta - um processo em que lhe foi apresentado o verdadeiramente diferente. Um campo de possibilidades. Um rasgo de luz que torna os mistérios que fazem recuar todos, fracos e fortes do mundo, mais acessíveis e apaixonantes. Um ímpeto de paixão guiado pelo bom senso. Um salto de fé que conhece as artimanhas e maldades do mundo, até seu último grau. E mesmo assim se consuma. Porque nada mais de útil há a se fazer, e o mundo abre inconscientemente brechas de vácuo. Esses vazios desoladores são preenchidos de alguma forma por aqueles que desejam ardentemente conquistar um sentido para a vida. 

Para quem conquistou certa sensibilidade, uma vida sem sentido é mais dolorosa do que todas as ameaças e prazeres do mundo - pois as duas coisas, no fundo, partem da mesma essência (ilusão) e colimam no mesmo fim (dor). Gozo e prazer se complementam no magnetismo que deixa a humanidade ancorada no lodaçal do isolamento. As aproximações são tímidas e lentas. Os partidarismos se revelam de forma clara. Os adiamentos acabam deixando o ser cada vez mais determinado: deve fazer tudo de per si. A iniciativa deve partir dele, pois o mundo está perdido anseia difusamente pela meta - a evolução.

Sentir-se leve permanentemente é possível apenas após
uma passagem turbulenta. A zona que separa o regime
subsônico do supersônico é de tremor e incertezas. Quem
persiste e arde na dor, emitindo um grito de beleza singela,
 expande seus limites para níveis inimagináveis. Passa-se a
saber que Deus É. 
Essa compressão das possibilidades é desoladora para o sensível. Quem vive de forma orientada num mundo desorientado se choca constantemente com barreiras. Tem as energias drenadas e os recursos limitados. Mas mesmo assim consegue cumprir o que sente ser seu dever. Isso ocorre porque duas vontades estão alinhadas: a da vida e a do ser.

Quando comprimimos algo as possibilidades de escape desenfreado são múltiplas. Quanto mais intensa essa compressão, mais desesperador. No entanto, é a determinação no sentido dessa dor (pressão das circunstâncias) que possibilita o alargamento do campo das possibilidades. Assim a criatividade eclode e logo permeia todos os cantos. O ser cria uma conexão com os fenômenos e vê o significado dos atos. Vê a mentalidade que forja a atitude. Vê os longos horizontes de tempo e de espaço, percebendo que por mais que se expanda um finito, o infinito domina e coordena. Quando o aperto é tão grande e é inexorável a expulsão do ser do campo de forças que o comprime, ele já sabe para onde vai: para cima. Pois se moldou de forma adequada, de modo a permitir a manifestação da dor até sua exaustão. Mas esta, focada apenas nas agressão, não controla o que dela fazemos. A nossa reação à dor é o que definirá nosso estofo espiritual.  

Esses textos não param. Nem mesmo em períodos de grande desolação e tensão. Isso é o que o autor é incapaz de explicar. A lógica existe mas está fora do campo da racionalidade cerebral. Eles fluem como ímpeto. Jorram pela desolação.

Se soubermos viver de forma sincera e plena, gerando ideias
e formas de vida vetorizadas para ascensões, teremos um
dia-a-dia assim, belo, natural e cheio de inspiração.
Seguir conselhos é garantia de reprodução. Pode ser confortável e socialmente interessante. Mas a solução está em conectar-se com forças imponderáveis através da maturação evolutiva. Autores já apontam para isso de forma cada vez mais clara [1]. É impressionante como as visões de mundo que venho esboçando se tornam cada vez mais claras e justificadas.

Adquirir sensibilidade para reconhecer os milagres que se operam na natureza é poeticamente iluminado. Mas forjar um destino capaz de acionar as engrenagens da Lei e superar seu atavismo é arrebatador. O caminho se transmuda.

O místico busca a solidão para compreender melhor como lidar com os fatos da vida. Não se isola por medo, por ódio ou por desprezo. Isola-se apenas porque o respeito pelo próximo aumenta. Porque compreende-se a impossibilidade de uma vida mais conectada, que pode mais causar problemas do que compreensões. A escalada rumo ao misticismo é a trajetória do evoluído. O retorno do místico ao mundo é a santificação do ser, cuja natureza se plasma, adquirindo magnetismo fora do comum que está preparado para ascender. 

Referências:
[1] https://medium.com/swlh/why-you-shouldnt-take-advice-from-almost-anyone-2961b8d9fb8

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