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quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Incomunicabilidade

A humanidade possui vários problemas. Mas na essência, podemos sintetizá-los num único: ignorância. E aí começam a vir as perguntas, persistentes e insistentes, numa avalanche:

O que é ignorância? 
É um baixo grau de consciência.

Como ela "surge"?
Ela é produto da queda*.

Como se dá (ou se deu) essa "queda"?
Pela revolta das criaturas (nós...).

Mas eu não sou revoltoso!
Nesse caso, porque estás a negar algo? Pois negar é se revoltar...

Tudo que excede nossa capacidade de compreensão é rechaçado. Poucos organismos estão adaptados a absorver algo que aponte para uma superação a nível de natureza (instintos). Para qualquer ameaça recorre-se ao número. Nulificação. Distrações. Ocultamento. Qualquer coisa para não lidar com o ser diferenciado, que resplandece mais intensamente um novo modo de vida com a dor. Quanto mais intensa essa, maior a faísca de luz que se propaga. A maceração física, psicológica e espiritual eleva todo o organismo, que opera essa dor sem expeli-lá. Não há rejeição. Não há negação. Apenas assimilação

Não podemos depender de nada externo a nós.
Nenhuma circunstância pode nos desapontar.
O espírito deve tudo suportar.
O que devemos potenciar é o mundo interior, das
qualidades invioláveis, dos princípios e dos valores.
Como lidar com uma situação na qual poucos compreendem e ninguém irá auxiliar ou resolver? Nesses momentos não há nada no mundo capaz de fornecer uma solução definitiva, viável e substancial. Na ausência da intuição, na negação do infinito, resta desespero e melancolia. É nesse ponto que o ser, caso ainda não tenha percebido uma realidade mais profunda, se vê convidado a adentrar num novo universo. Um "local" que é a iniciação para superar as barreiras de espaço-tempo.

Os livros são uma tecnologia das mais fantásticas. Eles permitem uma comunicação ao longo de vastos trechos espaciais e temporais. Podemos nos deliciar com uma obra de Victor Hugo em qualquer lugar e tempo; sentir o drama dos personagens de Dostoiévski; refletir sobre os conceitos de Platão, Thoureau, Spinoza; assimilar as ideias de Leonardo da Vinci; absorver as teorias de Newton, de Galileu; vivenciar as atitudes do grandes profetas bíblicos como Isaías, Elias e Daniel; entre muitos outros e outras. Trata-se de uma forma simples de superar as barreiras desse universo. 

Os espíritos evoluídos começam a se conectar através da leitura. Os Cinema veio trazer isso de forma mais sensorial (audiovisual). Mas em poucos casos é capaz de superar os escritos, porque estes, com suas palavras penetrantes, não fixam imagens ou sons. Deixam um vácuo material a ser preenchido com uma substância espiritual, cujo alicerce é o imaginário místico e a especulação filosófica. Estão mais próximos ao real - essencialmente abstrato. Porque a realidade última é sem forma. 

Um dos maiores problemas da nossa espécie no estágio presente é a incomunicabilidade - já tratada por alguns cineastas como Antonioni. É nossa falta de vontade de se comunicar com o outro. De permanecermos no terreno seguro das nossas certezas, sem querer fazer esforços para compreender porque certas coisas acontecem, como elas se desenvolvem e quais as tendências. É preciso ver o germe das manifestações para não se surpreender com o futuro. As coisas mudam, e rápido. Rearranjos inimagináveis se dão. E nem percebemos que fomos nós quem favorecemos o surgimento destes. Nos eximimos da culpa por completo. 

Acredite: não há nada a temer se a consciência está tranquila.
Nada pode ser motivo para nos desestabilizar. Nada.
Enfrentar o mundo face a face, olhando nos olhos.
A sinceridade é algo muito perigoso num mundo acostumado a usá-la como objeto de propaganda, para servir interesses particulares. Ela não pode ser exercida plenamente. É mal-interpretada. Persegue-se, anula-se, lesa-se a criatura que encarna de modo mais fiel o ideal de sinceridade. É uma reação de revolta - característica do Anti-Sistema. Para evitar que o mundo se eleve. Que seja iniciado um processo diverso de todos que se deram até então. Um processo cujos primeiros passos são muito dolorosos e amargos de serem implementados. Um processo pautado por diretrizes intocadas pelo modus operandi das psiques. Quem dá inicio a essa comunicação mais profunda sofre. A incompreensão é predominante. 

Uma simples colocação, palavra. Ou o modo de falar com intensidade, pode ser confundido com uma colocação que arma um combate (dualismo). Não se deseja perceber o que aquilo pode querer dizer - simplesmente interpreta-se o dito do modo mais simples, amplificando e distorcendo a essência da atitude e mensagem em função do grau de esgotamento do ser. 

Vivemos num mundo doente que clama por cura. O sistema-Terra e o sistema-Vida estão reagindo a perturbações - causadas pela nossa espécie. O sistema-Humanidade se digladia em ideias de superfície ainda. Mas alguns começam a mergulhar na essência, procurando chegar ao ponto comum, algo que una tudo e todos num projeto de futuro que ofereça uma possibilidade. É preciso usar a letra em função dos altos conceitos - e jamais se prender à letra para tentar chegar a esses. Por esse motivo acredito que chegamos num ponto de expansão máxima (do conhecimento). E no meio do caminho evolutivo, no qual a a consciência (sob a forma de moral) será a grande conquista da humanidade vindoura. 

Precisamos dar mais atenção à reforma íntima do que às soluções exteriores, reféns dos instintos e tendências multimilenares. Percebo isso ao observar o mundo. E fico mais atento a mim. Devo cuidar muito mais de tudo que faço. Cada átimo deve ser aproveitado para evoluir. Transmitir os conceitos, viver o ideal, sentir a universalidade dos fenômenos. Não há descanso. A Lei e Deus demanda ascensão. Parar é estagnar e preparar a queda.  

O horizonte jamais deve ser perdido. Não há avanço
sem um mínimo de intuição do que podemos ser.
Ou melhor: do que seremos. Acompanhar o devenir
fenomênico é tarefa que exige mente e coração trabalhando
conjuntamente, a todo momento - para garantir paz interior
em meio à guerra externa.
Quanto mais avançado se está na na senda da evolução, maior as responsabilidades e maiores as dores. O espírito deve cantar com os choques do mundo. Ele resplandece efetivamente no porvir porque se destrói temporariamente no presente, arena na qual se deve espiritualizar a matéria. 

Todo o comboio de persistências e projetos que venho sustentando nos últimos anos estão começando a se concretizar. E os conceitos, antes completamente isolados, começam a ser conhecidos por mentes e corações muito selecionadas, que buscam se aproximar de tudo sendo edificado de forma intensa e persistente - sem auxílio, interesse ou reconhecimento - ao longo de anos de ridicularização silenciosa. É nesse momento que os choques do mundo são mais fortes e parece que tudo pode ser esfacelado. E é justamente graças a isso que o impulso-mor pode ocorrer. Deve-se continuar, apesar de tudo. Continuar, se transformando sempre, a cada dia, mês e ano.

Avançar no terreno desconhecido (do espírito) e desfavorável (da matéria). Avançar apesar do medo. Mas avançar, enfrentando face a face o próprio medo. Enfrentado a própria ignorância, dizendo "eu não te temo porque te superei". Sem ódio ou contra-ataques. Apenas oferecendo sinceridade e suportando as dores. 

Com o desdobrar dos acontecimento as máscaras caem. E quem construiu na tempestade, evitando cair nas distrações (e tentações), escapa das consequências atrozes do dilúvio. Quem é pouco ouvido passa a ser voz central, valorizada e buscada. Quem buscou sempre ir à fundo e deixar todas intenções às claras, acaba sendo recompensado pelo milagre. Milagre possibilitado por essa atitude firme e convicta. 

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