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terça-feira, 2 de abril de 2019

Incômodo interior - tranquilidade exterior

O que é ser bom?
O que é estar bem?

Por que ser bom? 
Ser bom implica em querer estar bem?

Como sair da inércia emocional, mental e física? 
Não conseguimos ascender a uma forma de vida superior (mais livre) porque nos aprisionamos numa vivência limitada. Nos prendemos às quantidades e essas apontam para a superficialidade agradável. Momentos tão agradáveis quanto efêmeros. Conquistas sem grandes riscos, mas pequeníssimas conquistas efetivas. Diálogos formais, sem conflitos, sem chamas ardentes que incomodem os sentimentos nem abalem os conceitos dominantes no subconsciente. Diálogos formatados, esteticamente ordenados, fáceis de assimilar - mas interiormente frouxos, prontos a desmoronarem diante de qualquer situação de conflito ou argumentação mais elaborada.

Apenas olhar a natureza com olhar contemplativo já
serve de alimento - de alguma forma.
É aí que reside o segredo para embelezar a natureza humana -
em vias de transformação psíquica profunda. 
Quem segue os métodos do mundo terá as consequências previstas pelo conhecimento do mundo. Quem não segue, idem. Mas nessa categoria existem os porquês de negação e os porquês de superação. Os primeiros se enclausuram em castelos limitados de egoísmo. Os segundos sentem fome de uma vivência superior, capaz de resolver os problemas cada vez mais agudos da existência. Eles esboçam pensamentos que ousam romper o férreo círculo, com métodos e caminhos sugeridos. Imaginam além para compreender, de alguma forma, o aqui. Estudam o passado com espírito de evolução. Observam o devenir histórico no presente, sendo construído, e moldando o passado. Sentem o passado como parte imanente do presente - vislumbram o futuro como transcendência do modelo vigente. E assim, interiorizando o que foi em seu hoje, se projetam para o que pode ser - e será, em algum momento, para tudo e todos. 

Existem momentos em que um incômodo invade a alma. Apesar de tudo à volta estar bem, algum trovejar silencioso deixa a criatura quieta, pensativa, levemente preocupada. Suas atividades cotidianas andam mais em círculos do que em linhas retas, tronando-as momentaneamente lentas. Atrasando coisas do mundo. Retardando o pensamento racional e a fala. 'Maturações sem sentido' alguns diriam...

Quando se atinge um ponto da existência em que o mundo diz: "veja! você já conseguiu bastante. desfrute e goze suas conquistas. abuse dos recursos que o acaso e seu esforço pessoal lhe deram!". E alguns percebem isso mas são incapazes de ver sentido. Para esses tipos é uma infelicidade entrar nessa seara de sensações e ruídos. É doloroso. Exige a anulação de certos atributos ocultos. Demanda a prostração de certos valores. Uma reverência a um modo de vida ineficaz, chamativo mas oco, que pode até ser agradável - mas sempre incompleto. Então o ser diz, respeitosamente: "não! tem algo estranho que me incomoda. quero algo diferente."

O milagre está quando um finito se alinha completamente ao
Infinito, para finalidades superiores.
Não se trata de uma característica restrita a um povo -
é algo universal e imparcial, que brota com a fusão da
força e da fé.
Inicia-se o processo. O holofote passa a ser o incômodo interior. A tranquilidade externa é deixada de lado, como algo de pouco ou nenhum valor. E assim essa última começa a diminuir...

Mas a contrapartida não é percebida: continua-se a ter aquela insatisfação interior. O desespero toma conta de muitos. Os acontecimentos de desdobram, inexoravelmente. As leis do mundo são cumpridas à ferro e fogo. Quanto mais se persiste, menos alternativas restam para retomar a posição "privilegiada" original. Aí muitos desistem - outros perecem. Mas aqui deseja-se tratar das exceções, não dos casos comuns.

Os atritos, indiferenças e pseudo-soluções do mundo começam a abalar o interior da criatura, sensível e inquieta. Criatura de psiquismo profundo, orientada não pela satisfação dos instintos, mas pela superação dos mesmos. Criatura em busca de uma conquista que a livre definitivamente da dependência de objetos externos - porque descoberto a acionado o sujeito interno. 

Quando alguém se lança ao mar por não suportar o clima da embarcação, certamente se lança à morte lenta e desesperadora. Poucos o fazem por perceber a loucura. Desses poucos, muitos perecem e servem de contra-exemplo para o mundo. 

São Francisco é o modelo para o futuro.
Há muito ele já plantou as bases
da ecologia. Ecologia e espiritualidade
serão as bases da civilização futura.
A mentalidade atual, dos argumentos e garantias, da sociabilidade e encenação, é manual de segurança para o tipo biológico do presente. Mas ao mesmo tempo essa segurança restringe a liberdade. Todos movimentos "livres" passam a ser circunscritos a um plano. Não se é permitido ascender a outras dimensões - apenas fazer variações naquela em que se está. Quem ousa é incompreendido. Se consegue trazer uma novidade e permear mentes e corações com algo mais vasto e libertador, é logo eliminado por aqueles que se refestelam nos prazeres da mentalidade dominante. Assim é a fenomenologia da evolução em seu aspecto psicológico. No entanto, as ameaças e dificuldades jamais impedirão o florescer daquilo que - no fundo - ressoa em todas almas. Sempre haverão casos fantásticos e atos formidáveis - a História no-la demonstra. 

Os tempos atuais são de gratidão e insatisfação. Gratidão para com a natureza, as conquistas das grandes mentes, os impulsos dos santos e todo ato de coragem. Insatisfação com o quão pouco foi feito no vetor moral, gerando um terreno sem regulação, para abuso do vetor material. Essa regulação deve vir de dentro. Porque de fora, através de uma legislação ou de um sistema, dificilmente terá força para se manter. 

Antes de forjar o novo sistema devemos forjar o novo ser, que gerará naturalmente novas instituições. 

Apontar para os defeitos do que temos pode ser um ponto inicial. Mas deve-se ir além, percebendo o que podemos arriscar em prol de conquistas efetivas. 

Todos esperam ansiosamente por um milagre - pouquíssimos criam condições para sua manifestação.

Muitos são bons no querer e frouxos no agir - 
porque não são o que devem ser.

Pouquíssimos são bons no querer e firmes no agir - 
porque buscam ser explicitamente o que são implicitamente.

É essa barreira que caracteriza a transição entre uma humanidade pobremente dualista de outra inicialmente monista.

Se incomodar com os limites da mente, com a superficialidade dos sentimentos e com a deficiência do agir é o primeiro passo para combater a mentalidade pulverizadora que prevalece em nosso imo, trazendo como consequência a obediência a modelos mentais incoerentes com nossos sonhos mais elevados. 

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