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quinta-feira, 11 de abril de 2019

Progressão de escalas

Quando se sente a imanência divina nos recônditos da alma, as atividades mundanas passam a ser compreendidas sob uma ótica mais universal. Carregadas de sentido mais vasto, discurso mais incisivo, potência mais intensa e capacidade de penetração mais profunda, ao atos começam a revelar-se apenas meios para a manifestação de qualidades. Passa-se a fazer uso das coisas. Abandona-se o simples cumprir a obrigação para abraçar-se o intenso vivificar o dever. E assim, durante o preparo de aulas e explicações, chega-se a perceber um novo aspecto da divindade - através dos conhecimentos ensinados.

As escalas são um artifício muito utilizado em Desenho Técnico. Sua função é ampliar algo muito pequeno ou reduzir algo muito grande, com a finalidade de trazer esse microcomponente ou macrocomponente à nossa capacidade de percepção humana. Para isso estabelecemos uma proporção que nos revele o quanto aquele objeto está sendo diminuído/aumentado. O conceito é aplicável não apenas em cartografia (mapas), biologia (nanotecnologia), mecânica (peças), eletrônica (partes de circuitos), entre outros nichos. É de grande utilidade para o manuseio de informações. Permite não apenas a compreensão e visualização, como a representação adequada. Essa escala é do tipo espacial.

Se adentrarmos no terreno da engenharia, subárea de simulação e validação de sistemas, podemos nos deparar com outro tipo de escala: de tempo. Nesse caso a preocupação está em escolher um intervalo específico, reduzido ou grande. Isso irá depender do fenômeno sendo analisado. 

Adentrar no turbilhão do pensamento e da paixão é suicida
para muitos. Para alguns, é a única alternativa.
Imagem de Thor Alvis.
Se observarmos como se dá o processo de aquecimento de uma panela com água, perceber-se-á que o aumento de temperatura ocorre num período relativamente longo. Esse tempo - que chega a minutos - é chamado de constante de tempo. Aqueles de ordem térmica tem uma constante de tempo grande. Por outro lado, ao acionarmos um interruptor percebemos que a corrente elétrica passa de um valor nulo a outro não-nulo num intervalo de tempo curtíssimo (ordem de nanosegundos). Isso significa que sua constante de tempo é muito pequena: o fenômeno se dá rapidamente. Assim concluímos que fenômenos térmicos são mais lentos do que os elétricos. Os mecânicos se situam entre os dois. Os hidráulicos, idem, sendo ligeiramente mais lentos do que aquele. 

Quando vamos analisar a mudança de uma variável de um domínio, podemos estar interessados em perceber como essa mudança se dá. Para que possamos perceber essa variação devemos usar uma escala de tempo adequada. Mas antes, possuir o instrumento (sensor) capaz de detectar as mudanças na frequência desejada - ou um método numérico de simulação que seja adequado aos resultados a serem visualizados. Dessa forma percebe-se a tradução de processos muito rápidos e muito lentos numa escala que permita à mente humana visualizá-las e consequentemente assimilar o que está ocorrendo. 

A simulação de mudanças geológicas devem ser feitas numa escala de tempo reduzidíssima, isto é, "comprimir" períodos multimilenares em poucos segundos ou minutos. Giro de pás de turbinas hidráulicas deve ser analisada a partir de uma escala de tempo ampliadíssima, o que implica em "expandir" intervalos curtíssimos de fenômenos para que a mente humana possa compreendê-los. 

É muito interessante perceber esses tipos de necessidades. Essas criações artificiais apontam para a possibilidade de outros manuseios, que já aplicamos de forma intuitiva, porém desorientada - isto é, sem plena consciência do processo e destituída de sistematização. Esses trabalhos mentais são o uso da escala de consciência.

As balas somem quando nos damos conta da sua inexistência.
A realidade integral deve ser absorvida pela alma.
Esse processo é alcançado por vias que transcendem as
faculdades racionais...
Quando desejamos assimilar um conceito que extrapole a nossa capacidade de compreendê-lo, precisamos fazer algum tipo de "compressão" daquilo que estamos observando (ou sendo nos repassado). Por exemplo, alguém que nunca estudou química, ao se deparar com o conceito de reação química, deve estabelecer analogias com aquilo que já conhece: saber que se trata de uma transformação a nível molecular; que pode haver liberação ou absorção de energia; que serão formados "novos" elementos; etc. Deve-se igualmente saber o que são elementos químicos, sua constituição e como eles se relacionam. Saber que esses elementos se comportam de forma diferenciada em contextos (condições ambientais de temperatura, pressão, concentração, umidade, etc.) diversos. Em suma, são mobilizados os recursos disponíveis (conhecidos pela mente) para se construir um "novo recurso", ainda incompreendido - e portanto ignorado. Esse processo é feito sequencialmente, de forma lógica e ordenada. É a razão que se expande para compreender. 

Por outro lado, pode-se desejar passar um conteúdo para alguém que não tenha pleno domínio do mesmo. Esse é um dos desafios do docente, cuja missão é transmitir o novo conceito, técnica ou sensação ao aluno de forma assimilável ao seu nível de consciência. Para isso deverá ser feita uma "compressão" desse saber, tornando-o mais concreto (denso) para que o estudante saiba se apropriar do significado e manusear com o mesmo. 

Dessa forma vê-se que a escala de consciência também se dá em dois sentidos: simplificação (contração para transmissão) e expansão (mobilização para construção). E assim a humanidade é capaz de se comunicar entre si, repassando informações e conhecimentos entre gerações e povos, entre áreas do saber e entre nações. Isso possibilita o intercâmbio, fenômeno essencial ao processo evolutivo humano. 

Destacar-se das massas não é necessariamente arrogância.
É essencial não julgar - porque desconhecemos as intenções
que movem as pessoas. "Ler" o outro com olhares intuitivos.
No entanto, a marcha dimensional não cessa e a vida impõe novos desafios de tempos em tempos. 

Existem indivíduos que percebem de forma altamente diferenciada os fatos da vida. Sentem o devenir histórico, o transformismo das condições e o telefinalismo da existência, se apegando a coisas inexistentes para a mentalidade racional. Alguns, desejosos de compreender esse ser, fazem esforços intelectuais para conseguir atingir esse tipo de conhecimento. No entanto, por mais que se lancem no turbilhão racional, o máximo que conseguem fazer é se aproximar um pouco mais dessa nova forma de conceber as coisas. Por mais que se caminhe no plano da consciência (racional-analítica), nunca se chega a compreender integralmente os porquês de tais criaturas. Seres envolvidos em mistérios insondáveis, de comportamentos inimagináveis, que revelam, de tempos em tempos, qualidades que surpreendem a todos, assustando os poderosos egoístas - e encantando os simples e inertes idealistas. Trovejam palavras, ações e atitudes visíveis, construindo um todo orgânico. Algo se materializa e é reconhecido - mas não se sabe como se chegou a essa obra acabada. O processo é um mistério...

A vertigem da razão aponta para os mistérios da fé.
A força inesperada, precisa e elegante, com 'timing' perfeito, abala o subconsciente humano.

Estaremos nós diante de uma nova tentativa de operar com outra escala?

Ubaldi nos aponta para o superconsciente (intuição), uma inteligência capaz de perceber coisas imperceptíveis pelos métodos racionais, dos quais a humanidade já se apropriou razoavelmente bem. Uma inteligência simultânea, que capta a essência das coisas, sem se prender a questões analíticas, com excessos de formulações. 

Todos modelos simbólicos e físicos humanos nada mais são do que meios para fazer-nos operar no plano em que nos inserimos. Raríssimos gênios captam conceitos elevados, imprimindo-lhes forma nas palavras, nas partituras, nas películas, nas ideias, nas formas, nos símbolos e nos gestos, de modo que outros, menos capazes mas em busca de vértices supremos, assimilem e trabalhem o grande ideal transformado em conceito palatável. Aí entram os talentos. 

O gênio está para a sabedoria.
O talento está para o conhecimento.

"Vim trazer luz numa forma mais palatável a este mundo.
Luz na forma de conceitos científicos e lógicos, apoiados
no que vocês mais prezam."
A humanidade caminha a passos largos para a conquista de uma nova escala: a da superconsciência. Devemos ser capazes de estabelecer uma ponte entre o grupo dos seres evoluídos (santos, heróis e gênios) e o dos involuídos (o grosso da humanidade). Estes aspiram à evolução, mas ainda não compreendem a técnica evolutiva nem vêem a meta suprema (telefinalismo). Aqueles compreendem o Todo e atuam magistralmente, mas carecem de capacidade de se fazerem compreender. Há um divórcio...uma ausência de escala entre o superconsciente e o consciente. Deve ser criada interiormente, no ser humano. 

Quanto mais se ascende nas escalas, mais imateriais elas se tornam.

A ascensão se dá com a desmaterialização do processo. Isso torna-o mais ágil, por não se prender a dimensões limitadas. Assim, adquire características de instantaneidade. Possui menos medo e esperança - nas coisas ilusórias, deste mundo. Ganha em potência íntima, se manifesta anonimamente, para posteriormente trazer explosões de iluminação que banham a face de toda humanidade, sendo todo esse longo e doloroso ato um hino à glória celestial.

Os tempos são chegados. É hora de tomar rédea do processo evolutivo, se lançando ao vórtice imaterial no qual o imponderável aponta. A salvação reside no absurdo, porque esses temas sempre ressurgem, de tempos em tempos, atordoando a mente e deixando-a perplexa. Mas trata-se de um "absurdo" que oculta um mais. Ele não alardeia um menos, como muitos.

Assim percebemos que a evolução é eterna no relativo e finito - mas terá fim. Esse fim virá quando superarmos a dimensão espaço-tempo-consciência.

Espaço > Tempo > Consciência > Superconsciência >...

Não podemos parar a marcha do progresso.

É muito doloroso ser pioneiro, "criando" os milagres - 
mas eternas e gloriosas são suas conquistas.

É confortável ser inerte, aguardando os milagres - 
mas é deprimente e perigoso ser o último a chegar.

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