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segunda-feira, 22 de abril de 2019

Quem é o Patrão?

Na vida sabe-se que jamais teremos controle sobre tudo. Nem sobre o ambiente externo (sistema), nem sobre nossa própria vida pessoal (indivíduo). Isso pode ser interpretado de uma forma equivocada, abrindo brecha para o desleixo, o existencialismo vazio, a falta do espírito vivificante que anima as obras. No entanto, para aqueles que perseveram na retidão e buscam o esclarecimento, -  às vezes, à custa de sua própria existência - não há nada mais reconfortante do que saber que quem realmente controla tudo é Deus, através de sua Lei. Lei una em seu princípio - e plural em suas manifestações.

Quando se fala em um princípio, a primeira coisa que vêm à mente é a sua imaterialidade - e portanto indestrutibilidade. Não é possível acabar com algo que está situado fora dos limites do espaço (manifestação material), do tempo (devenir energético) e do relativo (razão). Esse "fora", na verdade, é um além. É um englobar, que deixa cada parte agir circunscrita às suas inerentes limitações naturais, justamente porque tem ciência de sua finitude. O que significa que uma dimensão, em sua finitude, jamais pode destruir uma obra que a supera - por estar em nível conceitual (evolutivo) muito superior. Ao compreender essa estranha filosofia abstrata, universal e sem medo de unificar pensamento e sentimento, tornando-os, através de uma maturação interior, em reflexão e contemplação, o processo de ascese tem início.

Perceber que a nossa capacidade de controlar é limitada
é o que nos trará a vitória real e final.
Photo by Benjamin Davies on Unsplash.
O que dá segurança é a firme convicção de estarmos alinhados com uma corrente de pensamento (noúres) superior, mesmo que não tenhamos noção de como se dá isso nem do que se trata.

Aqueles já com certo grau de consciência, antes de reencarnar neste mundo, fazem um roteiro evolutivo. Esse roteiro possui um cronograma, a ser seguido quando estamos encarnados nesse mundo de sofrimento e dores (expiação e provas). O problema é que o processo de 'descida' ao mundo - o nascimento - é algo extremamente limitante para o espírito, que se vê num turbilhão de contração dimensional. A liberdade temporária de outrora passa a ser comprimida em dimensões inferiores, concatenando o que era livre a uma âncora (corpo). Âncora com mil necessidades, sujeitas e inúmeros vícios, que tornam a implementação do trabalho real um verdadeiro desafio. Trabalho titânico. 

Mergulhado numa arena de lutas incessantes, com os semelhantes mascarados, repleto de segundas intenções e comunicação ambígua, observa-se a manifestação dos diversos tipos de egoísmos: desde os mais baixos (tamásicos), até aqueles da modernidade, mais secretamente admirados (rajásicos), e mesmo aqueles 'bonitos' (sáttvicos), mas no fundo inúteis. Sempre uma forma de manifestação do ego. É preciso adquirir a arte de perceber tudo isso. Para evitar as infindáveis armadilhas que o mundo arma, consciente e (principalmente) inconscientemente, devido ao seu baixo grau evolutivo. 

Só vamos readquirindo noção do cronograma à medida que vamos crescendo. O organismo precisa se desenvolver. O corpo deve ter seus sensores e atuadores completos. Atingida a fase de maturidade corporal e psíquico-nervosa, a verdadeira batalha (re)começa. Passada a sonolência da infância e a turbulência da adolescência, na juventude observamos os primeiros ensaios, desorientados mas impetuosos, para dar algum significado à existência. A maioria adquire a consciência e logo retoma seu caminho. Porém, essa retomada é a continuação de uma trajetória suave, mediana, com pequenos declives e muitos cuidados. Receios em se expor e falta de vontade em se consumir - para conquistar uma vida superior. O limite seria morrer para renascer. A famosa ressurreição, tão pobremente interpretada pelo cristianismo eclesiástico.

Alguns, antes de voltar, se propõem acelerar sua evolução pessoal. Ou por já terem iniciado um processo de ascensão um pouco mais íngreme, orientado e potenciado, em vidas pretéritas; ou por decidirem iniciá-lo na próxima (existência), traçando um roteiro ousado, com cronograma a ser cumprido à risca, necessitando para isso uma concatenação de eventos que chacoalhem seu imo, conduzindo-o à  insuportabilidade da dor para, a partir desse ponto, dar o impulso inicial

Terríveis dores temporárias - gloriosas conquistas eternas!

Ir redescobrindo esse roteiro evolutivo, em existência física, é algo muito interessante. À medida que se percebe a própria pequenez perante esquemas superiores, supra-dimensionais, ganha-se em humildade. E em paralelo potencia-se a vontade de fazer as coisas. Parar, nunca mais. Porque algo dentro de nós acordou. Isso foge ao nosso controle. A única coisa que a nossa mente pode fazer é submeter-se ao processo que se manifesta. Daí o motivo de "Logos guia Lúcifer", proferido por Cristo com muita propriedade. O Evangelho traz ensinamentos muito profundos, de forma adaptado à mente mais focada na ação, no concreto, como a ocidental. Muitos princípios do Novo Testamento estão presentes no Tao e na Gita. A diferença reside na forma de apresentar. Mas as três (sublimes) obras são de cunho monista. A interpretação rebaixada (ao nível evolutivo dos seguidores) é que as deixou refém do esquecimento ou da gozação, especialmente por parte da ciência atomista-cartesiana-mecanicista.

O personagem está imerso num mundo de seriedades de superfície. O que é sério o é apenas em função do grau de consciência médio, imposto pela coletividade, cujas derivações são um corpo de legislações (lei civil, formal) e costumes (lei social, informal) que enquadram todos que embarcam nessa nave planetária chamada Terra. Essa percepção limitada acaba por trazer dores e incômodos de tempos em tempos. Trata-se de uma visão míope, de curto prazo e com pouca percepção de relações.

A viagem só começa quando tomamos ciência da
mecânica do processo e da meta final.
 Photo by Benjamin Davies on Unsplash.
Efeitos de segunda ordem tem mais a ver com causas extra-físicas do que sensíveis. O imponderável é a Grande Consciência que conduz o nosso planejamento quando estamos 'do outro lado'. De modo que o S está sempre no domínio, atuando de forma íntima, mais perceptível quando o ser já é mais consciente. O AS, julgando comandar, obedece de modos variados. Sem sabê-lo, cumpre um esquema pré-determinado por forças superiores (S), que arrastam um conjunto de atores para o cumprimento de um destino. A maioria desses atores é completamente alheio a esse jogo de forças embalados por um objetivo supremo. Alguns poucos, já desbastados pelas dores, intuem mais e adequam seus (pequenos) planos humanos a essas finalidades ocultas. Raríssimos seres tem plena noção, agindo com plena consciência como ferramentas de Deus.

"Seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu."
(Jesus, o Cristo)

Conhece a ti mesmo (gnōthi seauton), está escrito no Tempo de Apolo, em Delfos. É a sabedoria oculta, que vêm repassando através de várias religiões e filosofias, ao longo dos milênios. E embalou o espírito dos maiores cientistas e artistas.

Eu diria também:
"Ser de grande envergadura, conheça o teu roteiro cósmico! É ele que te trará libertação."

Quando descobrimos que o acaso é um mero produto de nossa ignorância, ficamos tranquilos. Não ocorre uma queda de folha sem que Deus o permita. Ele é o Patrão que comanda tudo e todos.

Ou seguimos sua Lei, buscando ser 100% fiéis aos princípios (ideal), ou não teremos o auxílio necessário para cumprir nossa missão. Nesse caso, as pessoas fazem bem em se fortalecer com os métodos do mundo, pois quem somente confia em suas forças e só trabalha embasado no real, jamais terá a proteção do Alto - que é reservado àqueles embalados pelo ideal.

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