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quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Um homem sério

Um certo dia estava um jovem - em aparência e experiência - ouvindo uma preleção num centro de espiritualidade, com muita atenção. O tema era referente a seres adiantados evolutivamente, que vieram a este planeta imprimir impulsos vigorosos a um ou mais vetores do progresso civilizatório. Sua concentração era máxima. Porém seu estado interior não era aquele comum, que domina a maioria de seus semelhantes, dominados pela pressa em entender para a partir daí ignorar, ridicularizar, rejeitar ou questionar. Nada que se assemelhasse a isso. Seu estado era de profunda introspecção. Parara no tempo para adentrar nas divagações íntimas da alma, em que o desligamento exterior fazia os nervos inverterem sua orientação de sensibilidade, tornando as dores e ruídos físicos menos intensos. O trovejar interior do silêncio se fazia. O interior se fazia mais presente do que o exterior.

As melhores sensações se dão no silêncio pleno.
Em meio a profundas reflexões, essa criatura tem uma visão. Constrói-se diante de si uma verdade que passará a orientar o resto de seus dias. Essa verdade diz respeito à seriedade

Findada a preleção, aquele que outrora se dirigira ao público com segurança e determinação ouve uma pergunta simples, porém fora do comum:

"Pode-se concluir, então, que quanto mais sério o espírito, mais evoluído ele é?"

O homem recebe a pergunta de surpresa. Não sabia ao certo a resposta. Nunca havia pensado sobre aquilo. Sua face e seus gestos apontavam para isso. Já seu olhar dava a certeza. Ficou uns bons 5 segundos - que pareceram bem longos para aquele que fizera a pergunta - antes de lançar uma resposta titubeante:

"Sim...podemos dizer isso." 

A resposta não tinha a segurança da certeza nem o ímpeto da paixão. Nem a candente palavra que alegra o coração - nem a cortante racionalidade que demonstra e comprova. Era uma resposta que falava mas não dizia. Uma resposta (infelizmente) vazia. 

Para uma pergunta ainda muito à frente do momento evolutivo, uma resposta que lança o investigador da alma à solidão. O vazio da resposta parece ser um retrocesso doloroso, diante do qual o idealista sonhador, cheio de coragem e criatividade, se vê privado de avançar por falta de caminhos abertos. Diante dele, paredes robustas e um mar de explicações sinuosas que drenam energia e tempo.

Esse jovem percebeu que ele é uma pessoa séria. Muito mais séria do que a média. Para certas questões (verdadeiros pontos nevrálgicos). Esse dia foi o ponto de inflexão em sua vida desorientada. A partir daí ele começaria a se conduzir pautado por orientações diversas. 

Trata-se de um ser invertido neste mundo. O que para ele é sério, para os outros não o é - ou se é, o é para poucos e nem tanto. E o que é sério para os outros para ele não o é. Nem para todos os casos, mas em alguns pontos. E ao que parecia, quanto mais crucial era a questão para os outros, mais idiotice era para ele. E vice-versa.  A questão material fundamental, no entanto, se fazia exceção devido aos férreos e cruéis imperativos do mundo, que esmagavam o ser que ousasse ignorar seus rituais. Então era dada uma certa importância a certas questões. Mas apenas devido às ameaças do mundo (que assumem várias formas, desde as mais belas e atraentes da sedução através dos gozos, até as mais terríveis e cruéis, que lançam o ser ao vazio financeiro, social, profissional e psicológico). Era uma preocupação por precaução. 

Quem está no AS deve cumprir suas leis - mesmo que elas estejam fadadas a falir e causem dores não percebidas por aqueles que se sentem confortáveis no lamaçal terrestre.

Vivemos numa era de profunda transformação. Os limites planetários chegaram ou foram ultrapassados devido à insaciabilidade humana. Não há nem haverá paz num mundo que colocou no pedestal a necessidade da comunicação permanente. Da sociabilidade destituída de sinceridade e seriedade. Da competência em função da aparência. Do gerenciamento da miséria. A fonte dos males está longe de ser percebida. E quem se lança a essas descobertas e propõe novos métodos se vê anatemizado perante a sociedade das aparências e dos confortos. 

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Excessos e carências... Por quê? Para quê?
Quem deseja ser tratado de forma séria deve sê-lo antes de tudo. Mas de nada adianta sê-lo se as questões a serem manuseadas seriamente forem exigir muito do biótipo predominante. Ele então, em  manada, ignorará o problema de todas as formas possíveis - sempre em nome da aparência e sociabilidade

Apenas aquelas pessoas que já possuem em seu imo uma centelha de consciência já realizada irão responder a um chamado de seriedade à altura da fonte emissora. 

Esse espaço virtual não nasceu com o intuito de entregar belas palavras e esperanças cosméticas para agradar a um público que está no conforto do lar em busca de belas palavras para admirar e sonhar. Ele nasce por orientação divina, com a tarefa de levantar com sangue, suor e tensão, um periscópio imponente num oceano de receios, incertezas e falta de verdadeiras iniciativas. A pobre criatura que escreve é uma ferramenta que se sente na obrigação de emitir belos gritos de dor quando o mundo a martela sem sabê-lo. Sim, sem saber. Porque a insensibilidade do conjunto de indivíduos forma uma massa inerte que resiste a qualquer manifestação de introspecção e transformação substancial. 

Você, que lê tudo e sente no íntimo a profundeza das palavras, arregalando os olhos da alma e se enchendo de esperança ao saber de um universo muito "maior" do que este que a ciência nos apresenta. Dê um passo adiante e faça os primeiros ensaios. Em pequenas doses. Na medida do possível.

O autor nunca recomenda algo que jamais praticou. Isso seria se eximir do trabalho evolutivo que arrasta a todos - por bem ou por mal. Já esteve diante de vários precipícios que se revelaram minúsculos buracos. Por quê? Simplesmente porque, quem possui a segurança de ter feito um bom trabalho, seriamente e de forma transparente, se dedicando de corpo e alma ao mesmo, tem sua consciência limpa e sabe que aconteça o que acontecer, está nas mãos de Deus conduzir o processo subsequente. E quando alguém se abre para a Lei de Deus, esta entra em operação de maneira espetacular. Tão espetacular, que apenas quem já percebeu seu caráter real e natureza profundamente lógica (superlógica diante de nossa racionalidade), pode admirá-la na medida que esta merece. Assim que as névoas da incerteza desaparecem, a potência do imponderável atua em prol daquele que está servindo a princípios superiores. 

Se tudo que foi escrito até hoje (mais de 400 ensaios) tem alguma vírgula de aparência ou de interesse pessoal, que a ferramenta seja aniquilada e jogada às trevas! Aqui só se imprime sensações da alma e projeções da intuição. Esboços de novos processos e possibilidades para uma verdadeira civilização.

Ser sério perante questões do sentimento cândido é estar conectado a Deus. Mesmo que se sofra horrivelmente com a falta de inciativa do semelhante - criatura que infelizmente não adquiriu a sensibilidade necessária nem a vontade de agir inesperadamente. 

Falar com o outro até a exaustão da chama finita dos argumentos da mente para, a partir daí, extrair a essência divina que pode renovar as intenções humanas, é uma das construções mais fantásticas que as pessoas podem realizar hoje em dia. A única (e imponente) barreira a isso é o medo e o egoísmo, que estão relacionados e engessam o ser em sua criatividade. São características engessadas no subconsciente que engessam os atos e paralisam a mente na vertical evolutiva. Pensa-se muito, mas apenas em superfície. Andar um passo na profundidade vale mais do que deslizar mil passos na superficialidade que nada resolve. 

Einstein (muito sabiamente) já dizia: "Nós não podemos resolver um problema com o mesmo estado mental que o criou". O que se pode é manipulá-lo, transformando-o num tipo de problema mais sofisticado, apto às novas capacidades das pessoas e dos sistemas que operam a civilização. Mas quando se atinge um limite, em que os artifícios humanos da mente e as capacidades industriais se mostram incapazes, é hora de pensar em novas formas de ser. De ser, de agir, de se relacionar...

A cada acontecimento percebe-se mais claramente como é de fato o mundo. Pancadas incessantes vão convencendo o ser de que existe uma força imensa paralisando as pessoas - e cabe a elas, por si mesmas, acessar esse reino de inércia e transformá-lo num reinado de vida e consciência.

Deve-se respeitar o mundo. Deixá-lo com seus rituais. Isso é respeito. Mesmo que seja equivalente a jogar o outro a misérias que poderiam se resolver de forma mais rápida. 

Huberto Rohden dizia (e diz) algo que parece cada vez mais próximo de ser uma lei universal:

"Nada se pode esperar do homem que algo espera do mundo -
Tudo se pode esperar do homem que nada espera do mundo."

Como as pessoas sempre esperam algo do mundo, nada se pode esperar delas. 

Quanto mais o aspirante a superação avança na senda da intuição, mais solitário se sente. A "barreira do som espiritual" está um pouco mais próxima - a turbulência grita cada vez mais, abalando sua estrutura psíquico nervosa a tal grau que viver em sociedade passa a ser insuportável. Momentos sem sentidos por não se poder ser o que se é. Por não ser permitido avançar em certos pontos. Não há colaboração quando se trata de avanços que se situam em regiões imponderáveis. 

O que fazer então, quando se necessita de um mínimo de colaboração? Onde buscá-la?

No único "lugar" possível...dentro de si!

Deus se fez imanente quando optamos por não seguir sua Lei. É graças a isso que tudo evolui. Que a vida brota em meio à destruição. Que as ideias nascem e se renovam constantemente. Que o mundo arde e sofre, mas assimila às escondidas aquilo que outrora crucificou. 

No aspecto transcendente Deus é potência infinita que opera os milagres.
No aspecto imanente Deus é ímpeto interior que viabiliza a ressurreição.

Se alguém realmente está ciente da realidade de todas essas coisas, irá tratá-las de modo sério e tentar permear as facticidade humanas com um mínimo dessa substância. 

Porque todo o resto irá perecer - por mais numeroso que seja...

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