No mundo vigora a lei do ut des (dou para que tu me dês) em sua forma mais grosseira. Ela pode ser enunciada de forma mais precisa da seguinte forma: "Eu te dou apenas com o intuito de receber algo em troca, na mesma proporção, de ti." Todas as relações humanas se baseiam nesse princípio. O mundo econômico - que estabelece as relações de troca de bens e serviços, e a atribuição de valores monetários entre as pessoas - apoia todas suas teorias nesse axioma. Parte-se do pressuposto que a intenção humana é governada por essa lógica. Essa é a regra. Regra que não muda e não admite exceções.
Um olhar mais minucioso nos permite ver que a lei pode ser expandida. Conforme nos revelou Pietro Ubaldi em seu volume Ascensões Humanas:
"A nossa economia moderna se baseia inteiramente sobre o “do ut des”. Mas a lei do dar e receber é mais ampla na economia da vida e não se limita apenas a recompensar quem nos deu e na medida em que nos deu. Na divina atmosfera alimentadora de tudo, as trocas são vastas e infinitas, e não nos devemos preocupar se não recebemos de quem foi por nós beneficiado e na proporção do benefício. Dá e te será dado. A compensação não se sabe de quem, nem como nem quando virá, mas virá. É necessário compreender que a divina economia do universo é vasta, sempre comunicante, automática e inevitavelmente compensadora. O benefício realizado por nós a um anônimo, que não se verá mais depois, tanto circulará pelas vias da vida, que deverá voltar a nós. Se nós, contudo, não nos enriquecermos com tais créditos, mas, pelo contrário, acumularmos débitos em face aos equilíbrios da lei de Deus, o que então pretenderemos obter de retorno?" (Grifos meus)
A lei de compensação transcende os limites do nosso concebível. Ela não está interessada num equilíbrio compensador entre dois indivíduos, de modo bidirecional, com uma equivalência na forma do produto ou serviço que se intercambia. Ela se dá numa malha aberta, que se estende ao infinito em termos de possibilidades, albergando toda forma de bem ou mal, em vários níveis, ritmos, intensidades e modos. Ela é uma cadeia entre indivíduos humanos, desenvolvimentos coletivos (que pipocam numa série de eventos elegantemente ordenados) e ritmo sublime que dá tom a cada acontecimento, potenciando-lhe ou diminuindo-lhe em potência, conforme os desígnios da lei divina. Estamos diante de uma nova ciência, cuja essência se relaciona com o fenômeno da mecânica do milagre. Por isso a imensa maioria da humanidade não crê em Deus e (como consequência) no fenômeno do milagre.
Nosso conhecimento atual é incapaz de estabelecer relações compreensíveis entre uma série de acontecimentos banais (mas sinceros) e explosões fantásticas de eventos, que elevam um ser de um lodaçal, alçando-o a regiões seguras onde ele possa trabalhar em paz; ou enchem esse ser inerme de couraças, desbaratando ataques jurídicos, financeiros ou psicológicos vindos do mundo. Quem não usa os métodos do mundo E possui uma alma ardente e sincera, que trabalha sem cessar e busca sempre se superar, destruindo-se sem medo para construir novas formas de vida, com sentimentos sublimados e pensamento orientado, está inconscientemente acionando engrenagens de uma grande máquina. Máquina divina, que opera de forma orgânica e com precisão fora do comum, para garantir que aquele obediente que executa a obra de Deus tenha sempre a seu dispor o mínimo necessário para cumprir sua função.
O bom trabalhador será sempre recompensado por seu mestre, que jamais lhe deixará ser destruído. Pois essa criatura está construindo a verdadeira obra, mesmo sem sabê-lo, que culminará num dos pontos de apoio para uma nova civilização.
Os alicerces deste mundo estão ruindo juntamente com bilhões de personalidades. Pessoas que se apoiam num modo de operar falido devem se desprender de um paradigma superado - que somente causa mais dor à medida que se expande em sua horizontalidade racional. Se livrar dessa forma mental é o desafio dos tempos modernos. A fórmula reside em cada um de nós. Alguns grandes sábios podem dar as orientações.
As grandes escrituras sagradas do passado trouxeram as grandes revelações. Verdades universais, imutáveis devido ao seu contato com o Absoluto. Mas a distância entre o modelo (a linguagem alegórica) e a realidade dos fatos foi incrementando à medida que o progresso científico-tecnológico se deu. Somado à transformação no modo de organização coletiva, cujo marco é a Revolução Francesa, e ao advento da Informatização, da Inteligência Artificial e da Automação, temos diante de nós uma sociedade global que ensaia de modo muito pueril a criação de uma noosfera.
Temos um senso ainda fraco de cooperação e operação sistêmica. Deixamos de captar o sentido imprescindível que determinadas instituições devem possuir numa civilização. Perdemos seu significado substancial em vistas de algumas experiências históricas relativamente trágicas, em que certos sujeitos - com interesses egoístas - elaboraram uma teoria em que grandes conquistas da civilização moderna são no fundo um problema, e que o papel das mesmas é (no fundo) servir à liberdade econômica, sendo o mercado a criatura a ser alimentada às custas de todo resto (leia-se saúde, cultura, educação, espiritualidade, previdência, direitos, igualdade, tributação justa, ciência, tecnologia, natureza, etc.). Assim relações de superfície (fáceis de serem assimiladas pela mentalidade hodierna) são despejadas a todo momento, de toda forma. Filmes, livros, correntes de pensamento e fatos são apresentados de forma convenientemente fragmentada. Às vezes bem construídos. Mas com interior carcomido devido a insustentabilidade substancial, com ideias belas por fora mas intenções diabólicas por dentro. Assim, aquele que faz perquirições e experimentações descobre um monstro conceitual. Um demônio permeado de ideias contraditórias que estão assim dispostas com o único fim de satisfazer o multimilenar subconsciente do homem.
Possuímos inúmeras camadas (como as marioshkas russas). Devemos descascá-las para revelar nosso núcleo central. Lá está a consciência universal que nos anima... |
O Diabo existe e possui seus métodos. Ele joga em todos os campos. Em mim, em ti, nos outros, nas instituições, sejam elas quais forem. A diferença reside no fato de que algumas pessoas (e grupos) tem uma maior ciência desse fenômeno, e às vezes optam por tentar superar esse problema, fazendo o que é certo mesmo sabendo que haverão outros que irão se aproveitar de sua exposição para fincar sua lança e destruí-lo. Mas essa aparente derrota - por vezes dolorosa - abre as portas para uma libertação futura, que inicialmente virá para alguns, depois para outras. E à medida que o tempo passa e os acontecimentos bailam ao redor de um eixo central diretor, que dá tom à dança, surgem atores à altura que sabem dar os passos elegantes desse bailado coletivo. E assim o bumerangue dá um giro virtuoso, abalando os alicerces da podre civilização moderna - prestes a ruir.
Podemos nos aproximar da Lei de Deus através do estudo de sistemas complexos. Esse estudo constitui uma nova visão da realidade. Não dá resposta - apresenta questões intrigantes que fascinam e assombram. Usa novos métodos para trabalhar. Aquele que mergulha em seus detalhes pode se ver diante de dez vezes mais perguntas, com uma proporção menor de geração de respostas. Mas no fundo, o seu conhecimento a respeito do universo, se reforça, ao passo que alguma parte deste se transmuda em sabedoria, dando à criatura paz em meio a tempestade e criatividade ímpar - às vezes jamais esperada pelos outros. O aumento de dúvidas de converte em gênese e potenciação de consciência.
Desse modo o princípio 'do ut des' se revela como a manifestação superficial de uma lei muito mais profunda.
Fazer o bem aos outros desinteressadamente é a melhor forma de garantir crédito no banco de Deus. A forma pode ser destruída - mas a substância progride. O ser, progredindo, renasce numa nova forma, mais bela e potente, capaz de lidar com maior número de contradições e munida de coragem ímpar, tornando a personalidade frouxa que outrora se arrastava na esteira do tempo um indivíduo que volita em torno de uma espiral ascensional.
Referências
[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Noosfera
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