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segunda-feira, 8 de março de 2021

Queda: criação do evolucionismo

"...nossas buscas espirituais nos têm revelado que há muito mais no nosso mundo do que a ciência possa descobrir, uma vez que ela exclui tudo que não seja mensurável com instrumentos feitos pela mão humana. Uma vez que entendemos o que a ciência pode estudar e o que ela impede a si própria de investigar, ficamos livres para fazer nossa própria pesquisa em mundos interiores."

"É importante entender que não pode mais haver uma única ciência verdadeira, assim como não pode haver só uma religião verdadeira."

"Para mim, a melhor descoberta da física é que este é um cosmos conscientemente autocriado e que a sua criação é contínua – não um Big Bang que se desenrola e acaba como uma bateria, mas um processo interminável de matéria aparecendo dentro de pura energia à medida que se recicla simultaneamente nessa energia, sendo que observadores como nós a vão formando e dando-lhe padrões."

Elisabet Sahtouris, 

São Leopoldo, 28/07/2014, Ed. 448. Revista do Instituto Humanas Unisinos

Fig.1: O Céu ilumina a Terra. A Terra almeja o Céu. Quando o Alto irradia e nós (o mundo) 

nos sentimos irresistivelmente atraídos, a evolução está se dando. Graça e glória!

Fonte: analogicus (Pexels)

Há uma dificuldade tremenda por parte dos especialistas em associar evolucionismo com criacionismo. Isso ocorre porque se tem a ideia de que a criação original é a deste Universo. Mas o que Pietro Ubaldi nos revela na obra O Sistema é algo completamente diferente.

No livro é explicada em pormenores a gênese dos espíritos (isto é, nós humanidade e todas outras formas de vida conhecidas e desconhecidas pela nossa pequena inteligência). Podemos denominar a gênese das criaturas, ou primeira criação. Ela se deu num universo perfeito, imaterial, em que espaço e tempo só existem como potencialidades - isto é, o princípio de manifestação está presente, mas 'encapsulado'. Essa criação se deu "fora" do espaço-tempo. Além de nosso concebível. Foi a criação original, imaterial, perfeita, no infinito e na eternidade.

No entanto há uma questão (não um problema): Deus, que é absolutamente perfeito, criou criaturas relativamente perfeitas. Por quê relativamente, oras? Simples: se Deus criasse seres absolutamente perfeitos (como Ele), deixaria de ser Deus, pois haveriam infinitos deuses (deusinhos), com igual poder (onipresença, onipotência, onisciência). A unidade seria perdida. Não haveria lógica nem sentido em tal criação. Aliás, Deus nem sequer poderia fazer isso, uma vez que vai contra a própria natureza D'Ele. Deus é Um e é simultaneamente algo central (Ele) e periférico (criaturas).

Uma outra questão é: se fomos criados perfeitos, mas relativamente, estamos sujeitos a errar. E erramos (ou pecamos, na terminologia cristã) a partir do momento em que expandimos nossa zona de atuação (influência) para além do campo que nos é próprio (de direito, digamos assim). 

 
Fig. 2: A Baghavad Gita e o Tao Te Ching, no fundo, apontam para o mesmo monismo. 
Igualmente as religiões monoteístas do ocidente (cristianismo, judaísmo e islamismo).
Percebam o aspecto da queda (involução), gerando fragmentação.

Deus, quando nos cria, cria o Sistema, que é heterogêneo. "Antes" não havia o Sistema. Era apenas Deus e Sua perfeição. Absoluto. Indistinto. Era um Todo homogêneo. Ou seja, a criação alterou o estado do Todo (de Deus) de homogêneo para heterogêneo. 

Isso o diminuiu? De modo algum. 

Por quê? Porque como Ele é infinito, ao criar, não extrai a substância de fora de si, mas Dele mesmo. Deus cria de Si mesmo e em nada se diminui, já que Sua substância é infinita e eterna. 

Infinito - n = Infinito

Infinito + n = Infinito

Podemos imaginar qualquer valor de n (você pode ficar milênios escrevendo zeros depois do 1, que jamais chegará a arranhar Deus). Porque o infinito está em outro plano, outra dimensão, que supera o finito, independente das peripécias que possam haver no mundo das medidas, das contagens, dos esquemas, das astúcias, do barulho e de todas coisas que valorizamos e reconhecemos. 

Dito tudo isso, concluímos que as criaturas (nós humanidade & Cia) poderiam cometer um deslize, já que tínhamos uma perfeição relativa à nossa função na hierarquia do Sistema - não se preocupem, estamos reconquistando essa perfeição perdida há 13,7 bilhões de anos. Esse deslize seria extrapolarmos nossos limites de atuação para além de nosso escopo. Em suma: nos metermos no domínio dos espíritos irmãos (inclusive de Deus), querendo ser mais do que aquilo que éramos (e somos).

Pietro Ubaldi explica que há duas forças que mantém o ser em equilíbrio: altruísmo e egocentrismo.

Altruísmo é a capacidade de se doar aos outros, ou irradiar.

Egocentrismo é a capacidade de atrair para si, ou atrair.

Perceba que egocentrismo não é egoísmo. 

Essas duas forças estavam em equilíbrio na criação original, pois Deus "funciona" desse modo. É Sua natureza (de equilíbrio). 

Atrair para si é tão importante quando irradiar para os outros. Quando atraímos nos valorizamos como entidades divinas, damos rumo aos outros, servimos de exemplo, auxiliamos na coesão do cosmos. Quando nos doamos valorizamos os outros, auxiliamos, amamos, despejamos forças e bem.

Fig.3: Nossa origem, nossa queda, nossa responsabilidade, nossa salvação.

No momento em que o egocentrismo supera o altruísmo - ou seja, mais centramos para nós do que doamos ne nós - começa um processo de desequilíbrio. O círculo, com as duas forças equilibradas (simétrico) passa a se deformar, adquirindo excentricidade, revelando uma assimetria de forças. Essa deformação cresce até o ponto em que há uma ruptura da elipse. Ruptura por excesso da razão egocentrismo/altruísmo. Assim o egoísmo passa a ser egoísta, e o altruísmo vai para seu mínimo. Inicia-se então o processo de emborcamento.

No S há apenas o espírito. No entanto, o princípio material está presente (encapsulado). Esse princípio é "acionado" assim que se gera um desequilíbrio - pois é impossível haver desordem no S, perfeito, infinito e eterno. Todas criaturas que embarcaram nessa aventura acabam por manifestar esse princípio, e assim nasce a matéria e a energia, com suas dimensões características, espaço e tempo. A consciência fica latente. O espírito passa a se encapsular na forma de princípio. Inverte-se o funcionamento do cosmos individual da criatura. Gera-se o universo conhecido. A queda é fortíssima, de força incomensurável. É queda do infinito ao finito. Do eterno ao contável. Do ilimitado ao limitado. Do absoluto ao relativo. Queda homérica. Big Bang!

Surge então o Anti-Sistema (AS). Essa é a segunda criação.

Uma dúvida surge então: 

1º) Deus não poderia ter evitado essa catástrofe? 

Não, não poderia.

2º) Mas ele não é Absolutamente perfeito, incluindo aí onipotente e onisciente?

Sim, Ele É.

3º) Então...por quê Ele não impediu?

Porque Ele é absolutamente perfeito.

4º) Você está de brincadeira comigo? 

Jamais brinco com os outros. Sou um homem sério.

Deus ser absolutamente perfeito não significa que Ele pode tudo. Ele possui uma natureza divina. Essa natureza se identifica com uma Lei divina. Essa Lei é a natureza de Deus. Deus segue Sua Lei porque Sua Lei Lhe dá Essência. É isso o que a humanidade ainda não compreende.

A perfeição da criatura consiste em ser livre para obedecer a Lei de Deus. Ou seja, a liberdade suprema é obediência máxima à Lei divina. Não se trata de determinismo inconsciente, mas de livre-arbítrio hiper-consciente. Quanto mais nos tornamos conscientes (e responsáveis), melhor conduzimos nossas vidas e percebemos que seguir as leis (naturais, humanas e além) é a melhor coisa a fazer para crescermos na vida. Ou seja, para evoluir. 

Trata-se de um paradoxo apenas para a mente racional. A mente intuitiva já superou essa contradição e aceita livremente essa realidade profunda. 

Pense o seguinte: você acha que um adulto, por ser mais experiente e sábio do que uma criança, seria melhor se exercesse sua sabedoria e experiência de modo descontrolado, ou seja, ao seu máximo, sem respeitar os limites e o bem-estar da criança?

Voltando ao ponto. Chegamos então ao início do que chamamos real. Nosso Universo e todos seus desenvolvimentos. A partir daí passa a ocorrer um transformismo incessante, gradual, contínuo, sem trégua, para que o que se emborcou torne a seu estado original. Esse transformismo se chama evolução, E aqui neste universo (há outros universos) o espaço e o tempo são as bases para que ocorra esse transformismo.

A partir dessa origem (material) as criaturas decaídas começam a se reconstruir, juntando os pedaços daquele majestoso edifício, agora despedaçado. O desespero máximo se atinge na fase em que o ser se destaca do meio (humanos). Observamos a nós mesmos e à nossa realidade imperfeita e choramos. Choramos com nossa mente racional. Mas nos animamos e glorificamos Deus com a mente intuitiva. Porque é a partir da gênese desse nível de consciência (intuitivo-sintética) que iremos começar a ascender de modo mais suave, com menos atritos e real eficiência. 

Estamos chegando numa nova Era. É momento de celebrar a evolução. Porque ela é muito mais vasta do que a simples mutação orgânica dos seres. Ela é mais do que tudo que percebemos olhando para trás (passado superficial). Ela é fenômeno profundo, íntimo, que se manifesta a partir do pensamento mais profundo e de plasma em vontade (energia), materializando-se em ação (matéria). Assim vamos espiritualizando a matéria. Pensando para atuar. E atuar para gerar novos pensamentos.

Uma questão interessante (mas ainda incompreendida pela nossa mente racional):

No S não há evolução tal qual a gente a concebe. Isto é, a transformação há, mas não na base do tempo. Para nós é um reino estático, perfeito e imutável. Mas isso do ponto de vista de quem está no AS. Parece sem sentido, mas o dinamismo divino não será compreendido a partir de uma extensão ou sofisticação do nosso dinamismo mundano. 

Mas isso fica para outro ensaio.

Deixo o link de um formidável bate-papo entre Maurício Crispim, Jorge Damas e Júlio Damasceno sobre a obra "O Sistema".

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