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sexta-feira, 9 de julho de 2021

O cerne da questão

Fig.1: Apenas aquele cuja capacidade intuitiva despertou consegue perceber a centralidade 
da questão de nosso mundo. Após o monismo os paradoxos do passado se tornam infantis, 
e trabalha-se com questões muito mais interessantes, com paradoxos elevadíssimos.

No clímax da crise, o desespero domina, e irmão se vê tentado a degolar irmão, numa dança perpétua pela aniquilação. 

A solução egoísta alivia mas não remedia. Satisfaz os instintos e as consciências infantis. A referência é o sofredor, cujas dores devem ser imitadas por todos em prol do benefício coletivo. Igualar-se na miséria material, mental e espiritual. 

Todos produtores digladiam-se, fazendo farto uso de correntes de pensamentos que mais convém ao grupo. Esses pensamentos estão espalhados. Os meios de comunicação preparam o subconsciente, introjetando narrativas superficiais que entram em ressonância com as pessoas, especialmente aquelas imersas em desespero. Inicia-se a caça às bruxas.

Mas quando se trata dos parasitas que tudo controlam, através dos bancos e da grande mídia, seus elementos constitutivos ficam do lado de fora da contagem - uma contagem que, supostamente, visa estabelecer justiça. Assim, os "ricos" são os pobres que podem ( a muito custo) ter um plano de saúde, uma casa própria, dois carros e viagens.

Os pobres na hierarquia financeira (99%) enxergam a riqueza, compreendem a riqueza, apenas no âmbito de seu mundo. Portanto, apenas julgam e combatem aquilo que está ao alcance da sua psique. 

Imaginar o que é 5 mil, 10 mil, 20 mil, 40 mil reais mensais está dentro de seu imaginário. É tangível. No entanto, subindo nessa escala - dos milhões, das dezenas de milhões,  das centenas de milhões e além... - atinge-se uma barreira conceptual: a partir daí não há mais riqueza, pois não é sequer possível imaginar o que é ganhar milhões e ser dono de bilhões. 

Os (verdadeiros) ricos, se inserindo além da capacidade de imaginação da consciência humana, se colocam na segurança: vivem no reino da bonança pérfida, cujas quantias escapam à mente.

A batalha exige clareza moral e simplicidade sintética. O inimigo não é o irmão que tem alguns direitos e produz ideias, teorias, técnica e tecnologia. Não é o irmão que estimula a reflexão. Não é o irmão que fica em casa no "conforto", que em contrapartida, naturalmente, gera ideias, textos, conceitos, palestras, artigos, e, no limite, novas formas de vida. 

O tormento não é apenas físico: é psíquico! Quanto mais se expande a consciência, maior o tormento íntimo. Vê-se o horror do mundo presente e as potencialidades do mundo futuro. Vê-se a cegueira do irmão, que aceita a narrativa pré-fabricada - entregue num pacote elegante - e entoa hinos de ódio ao próximo porque este não está sendo dilacerado com a mesma barbaridade que alguns. Mas quem sustenta essa lógica?  Por qual motivo? E quem realmente está no conforto? (e sempre esteve).

O trágico é que a responsabilidade é de todos. Essa responsabilidade se distribui numa hierarquia que vê quais as potencialidades e condições de cada um, comparado com o que esse ser está fazendo para despertar a si e aos outros.

Para se gerar algo num nível superior é preciso uma certa dose de segurança. Que pessoa pode dar o melhor de si passando necessidades? Sem teto, sem pão e ameaçado de violação (verbal, física, psicológica), qual será o serviço entregue? Qual será a qualidade? 

Quando os 99% se afogam, o instinto de muitos é agarrar-se ao irmão que se sustenta numa tábua, e afogá-lo, subindo nele. Enquanto isso o navio, cheio de víveres e meios, mas apenas com os 1%, se afasta e assiste. Ao mesmo tempo, a grande embarcação depende dos pequeninos (99%), pois são aqueles que tudo produzem. 

O capital se tornou improdutivo. As próprias estatísticas corroboram essa tese. Ele não mais serve a produção e ao desenvolvimento humano. Serve apenas a si mesmo. E a natureza foi distorcida ao seu limite para satisfazer uma lógica ilógica, de crescimento infinito e sem sentido num mundo finito e que aponta para metas superiores.

A mentalidade humana precisa se adequar às necessidades da nova civilização, cujas bases materiais já se encontram em desenvolvimento.

De nada adianta se mover se a trajetória é circular. 
De nada adianta agir se a ação e irrefletida. 
De nada adianta gritar se o conteúdo é vazio.
De nada adianta empobrecer se o coletivo se degrada.

Quem crê que o rebaixamento do servidor público trará o seu sustento se engana. A história, as estatísticas e o bom senso o demonstra. 

Assim o pobre, que vive o drama diuturno de ter seu pão, seu teto e sua dignidade extraídos de si, legalmente (e imoralmente), cai em tentação e combate o outro pobre, que possui um pouco mais do que deveria ser de todos: emprego, teto, pão, saúde, segurança, cultura e previdência.

Quanta dor e necessária?

O que é preciso para que as pessoas enxerguem a realidade mais à fundo?

O mundo é um emaranhado de fenômenos concatenados em que o Homo sapiens é apenas o apêndice final até o momento. A jornada mal começou.

Em nosso mundo, a fase matéria envelhece e já está consolidada;
A fase energia está se doando para formar a vida - expressão do psiquismo;
A vida evolui de espécie em espécie, atingindo o ápice orgânico no ser humano do presente;
Este ser inicia uma nova jornada, no reino do psiquismo.

Para adentrar na próxima fase, imperativo é expandir a consciência. 

Nos afogamos em formalismos engessantes, burocracias inúteis, hábitos corrosivos. 

Não há espaço (ainda) para o homem do espírito. 
Não há momento (ainda) de atenção para as questões metafísicas e suas relações com toda teia da vida.

Se isso persistir por mais tempo o mundo pagará amargamente. 
A evolução se dará, pelo bem ou pelo mal.

Os mais despertos e os menos despertos sofrerão igualmente.
Mas o lugar reservado a cada um após essa transição será diferente. 

Para que o mundo evolua, mister extrair os elementos que persistem nos métodos velhos - eles serão professores de criaturas menos evoluídas, em outros mundos...

É uma questão de enxergar, escutar, pensar e sentir.

Ficar para trabalhar num mundo regenerativo ou ser professor de feras, num mundo primitivo?
Eis a questão...

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