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segunda-feira, 11 de outubro de 2021

O nascimento de uma ciência qualitativa

A Revolução Científica foi um marco na História recente. Iniciada por Galileu Galilei no século XVII, ela carregou consigo (e carrega até hoje) o método científico, predominantemente indutivo. Um método que se apoia nas quantidades, isto é, em coisas que podem ser mensuradas. Aí temos todo o mundo físico e os domínios que se apoiam nele, como o orgânico, o psíquico e o social. No entanto, à medida que subimos na escala de complexidade, percebemos que esse método vai perdendo força, se tornando uma mera aproximação (e muito ruim) do que se conhece por consciência.

Fig. 1: Não apenas a ciência, mas a religião também sofrerá uma mudança profunda. 
Quem se prende à forma verá nisso a morte de ambas. 
Quem navega na substância e vive o transformismo, verá o nascimento de uma nova civilização.

Para que a ciência moderna nascesse e pudesse dar todo seu rendimento, foi necessário estabelecer alguns pontos. O principal deles foi separar duas coisas: o domínio físico do domínio da consciência. De modo geral:

  • A ciência irá lidar com o mundo físico, composto de propriedades quantitativas
  • A consciência, composta de qualidades, irá ficar fora do domínio da ciência. 

Ou seja, tudo que não é mensurável está fora do âmbito da ciência. Esta só irá se preocupar com quantidades. O reino da qualidade não é objeto de estudo da ciência que nasce. E o próprio Galileu proferiu uma frase que marcou todo o desenvolvimento ulterior da ciência moderna:

"A matemática é o alfabeto que Deus usou para escrever o Universo."

Galileu Galilei

E assim caminhou a ciência, trazendo inúmeros progressos à humanidade no campo do mundo concreto. E com esses sucessos as ciências físicas começaram a galgar degraus, buscando explicar como funcionavam os organismos vivos, as células, os órgãos, os tecidos e os subsistemas do corpo e o corpo como um todo. Mapeamos a botânica e observamos a biosfera. Formulamos teorias para a ciência térmica e eletromagnética. Adentramos no cérebro e buscamos relacionar a origem dos sentimentos e pensamentos - a criatividade - com os impulsos nervosos. Mas justamente aí começamos a falhar, patinando na periferia de um fenômeno que está além dos sentidos e da racionalidade e da objetividade. E assim o método científico começa a derreter em face àquilo que ele pretende desvendar: a natureza da consciência - e a matemática, sua linguagem aliada, se revela impotente, capaz apenas de esboçar aproximações, estabelecendo relações causais.

Isso não significa que a ciência materialista com seus métodos e linguagens não seja capaz de estabelecer aproximações do reino qualitativo. Mas ela por si só não é suficiente. E aí adentramos no que é denominado monismo neutro. O documentário abaixo pode dar uma introdução às questões relacionadas ao estudo da natureza da consciência. 

O monismo neutro afirma que o substrato de toda realidade não é composto nem por mente nem por matéria, mas sim por um terceiro elemento (situado no campo do superpsíquico) que pode ser abordado por abordagens baseadas na mente ou na matéria. Esse elemento desconhecido seria a substância (de Deus).

A teoria integrada da informação da consciência, de Giulio Tononi, propõe que a consciência está correlacionada com a informação integrada ao seu nível máximo, dando uma caracterização matemática à sua teoria. Mas meras correlações não constituem uma teoria da consciência. 

A questão aqui é estabelecer uma ponte entre essa informação integrada ao máximo grau e a manifestação da consciência. E a visão de Galileu não ajuda a avançarmos nesse ponto, já que ela separa ciência de consciência - isto é, uma forma de abordar com o fenômeno em si.

A ciência é hoje materialista. Segundo Ubaldi, amanhã será ciência do espírito. Não no sentido que geralmente nos vem à mente (adivinhações, dogmas, etc.), mas tendo por base de que é necessário transcender os métodos hodiernos através de uma pesquisa que parte do campo interior. Tendo por premissa que a própria ciência é um fenômeno contido no devenir universal, e ela também, para avançar, deve se transformar em algo inteiramente novo, se abrindo para a metamorfose. E para isso é preciso evoluir, ou seja, atingir uma maturação interior capaz de despertar a faculdade intuitiva no ser, e com isso desenvolver um método inteiramente novo - o método intuitivo. 

As correlações podem servir de base. Mas de nada adianta continuar estabelecendo (e reescrevendo) correlações ao infinito, se elas por si só não dão a respostas. No fundo elas são setas que apontam para outro 'lugar'. Setas que apontam para um infinito. 

Se a ciência for se tornar uma ciência do espírito (a ciência da nova civilização), ela deve transcender a ciência de Galileu. A ciência materialista deve se tornar espiritualista. Isso não significa negar todas as leis (descobertas), métodos (desenvolvidos) e ferramentas (usadas) da ciência materialista (séc. XVII a XX), mas a partir de tudo isso e dos paradoxos do nosso século, superar essa forma de ver o mundo, expandindo nossa percepção da realidade. E aí o sentimento, o pensamento sistêmico e a integração tem um papel central. 

Estamos diante de uma era de transformação profunda, cheia de possibilidades se soubermos perceber o que as forças da vida nos apresentam. Devemos avançar com nossa ciência de Galileu, mas desenvolver, sem temor, a ciência de Ubaldi. Um sistema integrado que coloca na vanguarda a ciência do espírito - e na retaguarda a ciência da matéria.

Existe um termo conhecido como panpsiquismo. Ele afirma que tudo que existe é permeado de consciência. Não no sentido tal qual conhecemos no nível humano. E sim no sentido de que tudo obedece a uma lei, em seu nível, e 'busca' cumprir sua função dentro do esquema de nosso Universo. Um cosmos decaído porém em evolução perpétua e incessante. Que segue uma trajetória característica ditada por uma espiral - os movimentos fenomênicos. 

O vídeo (curto) de Russel Brand dá uma ideia desse conceito. Ele explica um pouco sobre a entrevista que ele deu ao Prof. Philip Goff (especialista em panpsiquismo).

A consciência é a raíz de nossa identidade. Sua compreensão pode ser a solução de diversos problemas que afligem nossa sociedade. Essa revolução está em curso e irá não apenas mudar radicalmente nossa compreensão do Universo, mas desvendar nossa própria natureza.

Pietro Ubaldi fala abertamente e com muita propriedade a respeito dessa necessidade da ciência se transformar. Sua Voz, em A Grande Síntese, aponta para essa nova ciência, dizendo que a velha está saturada e não consegue caminhar mais sozinha. É imperativo que surja seu aspecto mais evoluído.

"Vossa ciência lançou-se num beco escuro, sem saída, onde vossa mente não tem amanhã. Que vos deu o último século? Máquinas como jamais o mundo as teve, mas que, no entanto, são apenas máquinas e que, em compensação, ressecaram vossa alma. Essa ciência passou como um furacão destruidor de toda a fé e vos impõe, com a máscara do ceticismo, um rosto sem alma."

AGS, Cap. 1 (grifos meus)

E, mais importante, a ciência sempre teve uma finalidade: tornar-nos melhores. Mesmo sem sabê-lo, essa foi sua função principal. As conquistas de superfície (bem-estar, vencer argumentos, conquistar) são apenas ilusórias que fazem criaturas involuídas se movimentarem em direção à Deus, evoluindo incessantemente através de experiências. 

"A ciência pela ciência não tem valor, vale apenas como meio de ascensão da vida. Vossa ciência tem um pecado original: dirigir-se apenas à conquista do bem-estar material. A verdadeira ciência deve ter como finalidade: tornar melhores os homens. Eis a nova estrada que precisa ser palmilhada. Essa é a minha ciência."

 AGS, Cap. 1 (grifos meus)

Por isso a revelação será redescoberta pela humanidade. Dessa vez a revelação virá através de profetas modernos, como Pietro Ubaldi e tantos outros que já atuam em nosso mundo. Profetas com uma compreensão mais clara, menos presos à forma e à letra. Profetas com astúcia bem usada, força de argumentação, cultura e intelecto, guiados por um senso moral muito sutil que lhes imprime uma trajetória fora do comum. Uma trajetória que revela um destino. Destino glorioso, em que o elemento se destaca e viabiliza a ascensão vertical, isto é, substancial, de nossa espécie. 

"O momento é crítico, mas é necessário avançar. Então – coisa incrível para a construção psicológica que o último século imprimiu em vós – nova verdade vos é comunicada por meios que desconheceis, para que possais descobrir o novo caminho."

AGS, Cap. 1 (grifos meus)

Fig. 2: Não é tempo de esperar. É hora de agir. Tudo que puder ser feito é válido. 
O esforço individual do ser irá atrair outros, que irão se irmanar e crescer, como um único organismo.
Organismo que se tornará a base de uma nova civilização. Civilização do espírito. 

Através de revelações que tocam o íntimo do nervo espiritual humano, a busca será iniciada. É apenas com algo fantástico, incrível, fora de série e inteligentemente ousado que iremos nos sentir estimulados a progredir em nossas vidas. 

Precisamos de um conceito profundo dito da maneira mais poética, científica e musical. Algo expresso através de uma vivência ímpar. Um ato de amor pelo que está para se revelar, para que assim as pessoas fiquem pasmas e façam um novo início - e não continuem a repetir antigos métodos de novos modos. 

Referências:

[1] https://blogs.scientificamerican.com/observations/galileos-big-mistake/

[2] https://medium.com/the-infinite-universe/science-may-not-be-true-dde5e437c303

[3] UBALDI, Pietro. A Grande Síntese.

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