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sábado, 15 de janeiro de 2022

O combustível espiritual

Para quem está em busca, é preciso saber: qual é o seu combustível espiritual? Aquilo que alimenta seu motor criativo. Aquilo que inspira, lhe dá impulso, dá sentido à sua busca, anima sua longa e árdua jornada. Quem está nessa busca infinita - num mundo finito - precisa saber isso porque apenas sendo alimentado continuamente é que se poderá persistir na jornada - e conquistar coisas incríveis. 

Fig.1: O combustível não precisa ser algo muito suntuoso. Aliás, pode e deve ser algo
simples, ao alcance de qualquer um. Simples, não simplório. Algo singelo, isto é, especial.

O autor viveu muitos dramas. Dramas interiores mais do que exteriores. Estes pouco abalam sua pessoa, pois são coisas às quais ele é pouco sensível. Mas aqueles muito o abalam, por serem algo de importância capital em seu sistema de valores. Assim sente-se a inversão de prioridades entre o indivíduo e o mundo: enquanto este deseja o imediato, o sensório, o escapismo ágil, os artificialismos, o gozo imediato, o primeiro busca viver em sintonia com algo muito diferente. Vibra pelos pensamentos abstratos - que vê como causa e diretriz das concretudes dos efeitos; sente o âmago das melodias, das cenas afetivas de personagens históricos ímpares lançados no turbilhão dos interesses dos poderes, dos dramas de quem se vê preso numa forma mental; se entrega de corpo e alma àquilo que ama - como uma mulher que é capaz de amar integralmente um homem, com todas fibras de seu ser. É um ser diferenciado e por isso as circunstâncias exigem uma certa camuflagem e uma alimentação diferenciada. Alimentação espiritual. Via arte, via escritos, via contatos (mínimos, claro), via música, via atividades que pode criar livremente, via tranquilidade junto à natureza, via contemplação.

Quanto mais altas as metas, quanto mais intenso o dinamismo, quanto mais amplos os planos de unificação, maior a necessidade de uma fonte perene. Para acessá-la, é preciso ter a sensibilidade necessária - pré-requisito para a alimentação. 

“Quem não quer trabalhar também não coma. Ora, temos ouvido falar que, entre vós, há alguns vivendo desordenadamente, sem fazer nada, mas intrometendo-se em tudo. A essas pessoas ordenamos e exortamos no Senhor Jesus Cristo que trabalhem tranquilamente e, assim, comam o seu próprio pão.”

2 Ts 3, 10-12

O que é trabalhar? Sempre foi uma curiosidade do autor. Porque de fato não merece ter o alimento quem não trabalha. Mas aqui estamos falando não de bens terrenos ou direitos, mas de um acesso à fonte que permite ao ser realizar milagres. 

Vamos explicar melhor.

Trabalhar é fazer algo que transmita aspectos do infinito em nosso finito. É dar a sensação do eterno (conceitualmente inclusive) às pessoas, usando do restrito tempo que nos é dado numa existência terrena. É executar suas atividades com um senso de infinito e eterno. Ou melhor, com um sentido. É preciso que a vida de uma pessoa tenha um significado profundo. Um significado mais de missão do que de expiação ou prova. Um significado desse tipo, porque nesse caso poderá ser acessada uma fonte que lhe alimenta sempre, da melhor forma, sem que o mundo tenha a mínima noção do fenômeno que está ocorrendo a todo momento. Para acessá-la, maturação interior que leva à sensibilização do ser. O ser passa a ver milagres em tudo - e com isso começa a realizar coisas que antes não saberia como fazer. Passa a ter ânimo sem igual, ímpeto criativo anormal, resiliência formidável. 

Fig.2: Um livro que ajuda na busca pela inspiração que realiza feitos incríveis. Que ajuda o
ser a se equilibrar - e com isso viver na paz e em paz. 

Paulo de Tarso falava sobre coisas profundas. Seus escritos não devem ser levados ao pé da letra. É preciso fazer uma leitura espiritual de cada trecho, pois cada pensamento transcrito em papel traz em seu bojo um conceito que aponta para um princípio de nosso Universo. Um aspecto da Lei. E assim temos uma obra escrita que contém em si os segredos da vida. 

As Escrituras Sagradas devem servir de alimento aos cientistas criativos e trabalhadores de nossos dias - se desejam fazer a ciência avançar. Devem servir de guia aos filósofos munidos de cultura - se  desejam conquistar a sabedoria que tanto amam. Devem ser ponto comum entre as religiões - se elas desejam chegar à Deus. 

Alimento. Guia. Ponto comum.

Combustível. Bússola. Missão.

Fonte. Orientação. Salvação.

"Para quê tudo isso?", pergunta o tipo médio de nosso mundo. Esse blog é inacessível para ele. Está proibido de adentrar em seus textos, conceitos, sistematizações, referências, princípios, sensações, harmonias e buscas. Não por lhe ser negado - mas porque a criatura não atingiu o grau de maturação evolutiva para perceber a grandeza do que lhe é apresentado. 

Atravessamos uma ponte comprida e frágil. Uma ponte que vacila ao menor vento. Uma ponte frágil, porém vital para quem já não vê sentido em permanecer gozando de um lado - quer atingir o outro lado. Uma ponte longa, frágil e estreita. Construída com a fé. Sustentada pela fé. Atravessada pela fé.

Fig.3: A ponte se sustenta pela fé. Fé é sintonizar-se com a fonte. O caminhar depende 
da capacidade de alimentar-se com o combustível espiritual. 
Fonte da imagem: Unsplash.

Estamos nos antípodas do mundo.

O autor, por ter de viver muito com as coisas do mundo, se vê munido de palavras e vontade para expressar da melhor maneira esse sentimento profundo que paira sobre criaturas que começam a enxergar qual é a verdadeira questão de tudo. 

Escreve-se por uma questão de sobrevivência.

Cria-se cursos por uma questão de sobrevivência.

Ministra-se palestras por uma questão de sobrevivência.

Assiste-se a filmes e séries para extrair o aspecto substancial da vida e sentir as forças da história.

Escuta-se música para sofrer e se alegrar com aquele que a criou.

Fazem-se leituras para crescer na compreensão das coisas.

Ousa-se criativamente para adquirir resiliência e experiência.

Trabalha-se apenas como meio de expressar o ideal.

Não há saída a não ser buscar transcender. Num ponto de nossa jornada, o ar será rarefeito. Será impossível continuar sem uma sustentação extrafísica, ou seja, uma fonte sobre-humana. O autor encontra-se nesse ponto e por isso deve investir pesadamente na contemplação

É preciso se desprender de tudo que não é necessário, útil, construtivo. Para que o voo seja ágil e a propulsão poderosa. Poderosa o suficiente para vencer as amarras do campo gravitacional do atual nível evolutivo, que deseja tudo arrastar e atrair para si - a seu favor. Se trata em último caso de se tornar imune a esse campo (de interesses), para assim poder trabalhar em (relativa) paz.

Nova fase virá. Porque a vida, para ter sentido, deve ter uma utilidade profunda. 

Abaixo um dos meus combustíveis espirituais na forma musical.

Ludovico Einaudi - Luminous (live)
Link: [1]

2 comentários:

  1. Parabéns pelo artigo. Impressionante!!!
    Gostei muito: "Nova fase virá. Porque a vida, para ter sentido, deve ter uma utilidade profunda. "

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  2. Gratidão irmão. Estamos juntos em Deus, por Deus e para Deus.
    Traduzindo o Infinito com os finitos; o Eterno com o tempo; o Absoluto com os relativos.

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