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domingo, 27 de outubro de 2013

Consumo versus Consumismo

Existe uma diferença muito grande entre consumo e consumismo. Enquanto o primeiro é algo natural e necessário não só para a manutenção da vida, mas também um meio eficaz para proporcionar bem-estar ao indivíduo; o segundo se caracteriza quando o primeiro cruza a fronteira do bom senso e passa a se tornar um fim em si. Ele passa a ser o objetivo final. A felicidade em si. Isso desestabiliza o indivíduo e a sociedade, tornando-a dependente de coisas fúteis.

Todos nós consumimos. Em termos naturais ou humanos. Sem esse fenômeno não estaríamos vivos.

Ao respirarmos estamos consumindo oxigênio, vital para nossas células, que o recebem através de nosso pulmão, que se comunica com o sistema circulatório. Assim as células "alimentam" nossos órgãos, e o produto final dessa troca é o dióxido de carbono. Eis uma relação de troca biológica.

Consumimos alimentos para mantermos a energia e nutrientes a título de executarmos atividades vitais. Nosso cérebro é alimentado energeticamente, consumindo a maior parte da energia que adquirimos através dos alimentos (eu por exemplo estou escrevendo esse artigo graças a isso). Isso é bom se aplicarmos todos os ganhos para um fim útil.

Síntese do comportamento humano predominante atual.
Nossas casas e meios de transporte consomem energia. Esta é empregada de forma direta e indireta. Direta porque utiliza-se combustíveis, eletricidade, entre outras formas de energia, para funcionarem adequadamente. E indireta porque é ela (energia, humana ou não-humana) que deve ser aplicada na superfície terrestre para deslocar os recursos naturais, transformá-los, conformá-los, transportá-los e reorganizá-los para a construção dos aparatos. Em suma, a vida é impossível sem o consumo.

Agora, a segunda questão é o consumismo, que é completamente diferente do consumo - apesar de ambos estarem relacionados. Ele é uma extrapolação do consumo. Passa a fronteira que separa o necessário / suficiente do supérfluo. Se seguirmos um modo de vida consumista tendemos a adicionar coisas desnecessárias à nossa vida. E a um custo que tende a se tornar exponencialmente alto. E mudar nossa percepção, pois sempre o mercado imprimirá em nossa mente de que "precisamos" de algo a mais. Nas propagandas o supérfluo se torna necessário. E ficamos presos.

As razões de abraçarmos o consumismo são múltiplas. Se por um lado somos induzidos "naturalmente" a comprar cada vez mais coisas que desconhecemos e não precisamos, por outro nos sentimos pressionados a adquirir bens que toda pessoa "normal" deve ter. Dessa forma temos a questão da inserção social e da criação de um significado para nossa existência através da ocupação de comprar itens ou serviços.

No mundo atual, devemos ter coisas que todo mundo tem para não sermos (ou nos sentirmos) excluídos. Quanto aos bens de luxo, é normal desejarmos eles - mesmo se nunca tenhamos condições de pagar por um décimo deles ao longo de nossas vidas. É uma espécie de ditadura. Só que essa ditadura é difusa. Como neblina. Está lá, mas não conseguimos pegá-la. Mas no entanto sabemos - ou temos uma intuição - que ela está lá. Exercendo sua influência.

Talvez a faceta mais destrutiva do consumismo esteja no fato dele tornar tudo - e todos(as) - consumível(eis). Temos um ótimo exemplo observando o fenômeno da mercantilização dos sistemas de saúde de muitos países. Isso vem gerando conseqüências perversas para o bem-estar da população que habita esses países, comprometendo uma maior parcela de sua (já escassa) renda para adquirir um bem que constitucionalmente deve ser universal, gratuito (considerando que já se paga imposto para isso) e garantido para todos. Para qualquer tipo de caso. Isso abriu portas para a conversão do Direito-Saúde em Mercado-Saúde.

Uma reflexão materializada nas ruas.
Quanto a outros bens (teoricamente) universais como Educação, Segurança Social, Segurança Física e Ciência e Tecnologia, a situação é semelhante. Dessa forma o cidadão comum se tornou um refém completo de grandes corporações.

Com a mercantilização da saúde, da educação e de outros serviços de proteção social, o consumismo passa a se impor para todos. Mesmo quem deseje (ou está) tendo sucesso em levar uma vida simples e sem preocupações materiais, a cada ano que passa - nas últimas 2 ou 3 décadas, pelo menos - seguir esse caminho ou ter esse desejo está se tornando cada vez mais difícil e desanimador, respectivamente. As fendas que possibilitam o crescimento do indivíduo como um ser se estreitam progressivamente, sem dar sinais de desaceleração - até que todas brechas estejam fechadas. O ser humano passa a ser condicionado a uma mera ferramenta de acumulação (trabalho alienado) e gastos (consumo doentio) para a própria subsistência, a título de alimentar um sistema (neoliberalismo) incapaz de gerar nada para o planeta a não ser instabilidade e dor em sua essência.

Num mundo sensato o ideal seria, uma vez atingido um grau de consumo satisfatório, buscar-se desenvolver ao máximo o SER com os recursos disponíveis.

Todo excesso faz mal.
O EQUILÍBRIO é pré-requisito para verdadeiro desenvolvimento do indivíduo e da sociedade. E consumir por consumir não traz esse equilíbrio.

A Humanidade ainda se comporta como uma criança em idade pré-escolar que se recusa a crescer. Uma criança que, não aprendendo a usar brinquedos e fazer brincadeiras mais elaboradas, prefere se manter num nível primário, pois não consegue enxergar sentido em nada além daquele comportamento. Em suma: ela estacionou na existência.

Muitos já estão prontos para seguir adiante. Mas para isso se CONCRETIZAR a maioria deve se CONSCIENTIZAR do fato - cada vez mais visível.

Vamos seguir adiante?

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