Muita
gente encontra um pouco de felicidade quando menos se espera. São
pessoas que usualmente não se manifestam de acordo com sua natureza
em ambientes onde se espera que ajam naturalmente. Porque são seres
com modos de agir e sentir muito particular e, apesar de serem às
vezes (muitas vezes) forçados a agir "normalmente", porque
"as coisas são desse jeito", das duas uma: ou se conformam
à (triste) realidade, traindo sua essência em detrimento de uma
menor perseguição ou sondagem; ou se adaptam, mudando algumas
coisas ou evitando certos ambientes quando podem, continuando sendo
vistas como estranhas e com alguma patologia. E, o mais triste de
tudo: muitas pessoas assim passam grande parte - ou toda - de suas
vidas sem poderem fazer o que gostam porque nunca tiveram uma
orientação adequada da família ou da sociedade, nem tiveram tempo
suficiente. Mas existem lugares adequados para esses tipos.
Desde
que me formei resido em minha cidade (praticamente) natal, SJC. E por
me encontrar numa situação material relativamente confortável - em
relação a muitas pessoas miseráveis desse mundo - venho tendo uma
certa disponibilidade de tempo. Essa vantagem provou ser
particularmente útil pra mim porque, na minha opinião, esse tempo
foi muito bem empregado. E sem necessidade de grandes gastos.
Venho frequentando espaços abertos como parques e centros culturais. E
posso atestar que, em um período de três anos, conheci e fiz
amizades dos mais diversos tipos nesses lugares. De classes sociais,
raças, faixas etárias, gêneros, escolaridade e gostos de todos
tipos. Ontem mesmo, por exemplo, ao ir ao Parque Vicentina Aranha
fazer exercícios e depois tocar um pouco (do pouco que sei) de
piano, me deparei com um rapaz que estava tocando o instrumento de
forma agradável. "Não sei ler partitura. Aprendi tudo ouvindo
e por meio desses tutoriais na internet.", ele me disse, quando
perguntei sobre sua formação musical. E trocamos idéias sobre
música e outras coisas.
O caso
do parque foi apenas um entre dezenas que ocorreram ao longo dos
últimos meses. E dessas dezenas, uma parte considerável se tornou
mais do que simplesmente um conhecido - ou mesmo um colega. Fiz
verdadeiras amizades. Pessoas igualmente livres, que agiam de acordo
com sua essência, foram aparecendo com o passar dos meses.
Gente
que me escutava, que não tinha preconceitos, me convidava para ir a
lugares e não tinha medo de gritar no meio da rua para me dar um
simples "oi". E que compreendiam e aceitavam o meu jeito de
ser. Para retribuir à altura, eu também procurei escutar, ouvindo
seus problemas e sonhos e idéias; cumprimentar; ajudar e
compartilhar um café de vez em quando.
É claro
que é possível fazer amizades (e grandes) em ambientes
institucionalizados. Eu mesmo consegui fazer muitas e boas. Mas a
questão é que nesses ambientes sempre existe uma pressão invisível
que inibe a manifestação do ser, por motivos materiais. E a
interação entre tipos diferentes sempre fica reduzida por motivos
de obrigações, ou para não desagradar a maioria dominante, que
usualmente (e infelizmente) apresenta um pensamento e comportamento
que em sua essência não tolera o diferente. Ou melhor, que o tolera
até um grau dito aceitável. E não se pode manifestar a sua opinião
abertamente, por mais argumentos e capacidade de sintetizar uma ideia
que você tenha, pois existe o risco de uma espécie de exclusão que
sempre permeia ambientes institucionalizados. Isso felizmente não
existe em espaços públicos. Por que? Porque existe LIBERDADE.
Mas
talvez o mais fascinante em buscar alternativas desse tipo é que
essa própria busca é uma espécie de luta contra o sistema vigente.
Luta pacífica, não-agressiva. E resistência. Resistência
prazerosa para o ser sensível. E imperceptível para os gigantes do
negócio. Muitos ganhos para a alma, pouco gasto e preenchimento do
tempo de forma útil.
Ao
imprimirmos nossa personalidade em espaços abertos descarregamos as
tensões do cotidiano - permeadas por longas e exaustivas jornadas de
trabalho e dívidas infindáveis - de uma forma saudável. E passamos
a existir para alguém. E outros passam a existir para nós. E se
trata de um fenômeno dinâmico, que vai metamorfoseando com o passar
das semanas, meses e anos. Seguimos uma trajetória circular. Mas
ascendente. Como uma mola que, a cada volta em sua trajetória, sobe
um pouco na vertical.
Diversão,
estudo e trabalho não estão necessariamente atrelados a gastos
altos, sofrimento e confinamento, respectivamente. Na verdade, para a
pessoa consciente e com alguma meta firme na vida, essas coisas podem
se manifestar de forma mais construtivas no espaço público. E essas
pessoas, para poderem usufruir desses espaços, necessitam de um
certo tempo para se desenvolverem neles. E energia.
E já
estudei a História humana repetidamente. E pelo que percebo vejo que
a melhor forma de sermos uma sociedade centrada no sócio-cultural e
na democracia (no verdadeiro sentido da palavra) é nos
conscientizando internamente. Trabalho interior antes.
Quem já
sabe, que continue o caminho, dando o exemplo. Não há nada de
atraente no modo de vida material. Por mais que pareça, é tudo mera
ilusão criada por uma elite alienada e poderosa.
Vamos
para as ruas viver e valorizar a vida.
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