Estou
nesse momento lendo um livro muito interessante de um dos maiores
pensadores de nossos tempos. Este pensador se chama Pietro Ubaldi.
Estudou direito, mas nunca exerceu a profissão, além de música.
Falava fluentemente 6 idiomas e suas obras espiritas/espiritualistas
não se encaixavam necessariamente nessas categorias por falarem de
assuntos ainda em estado de germe em nossa “civilização”.
Assuntos elevados e que exigiram de seu elaborador uma série de
habilidades de vários campos do conhecimento, além da capacidade de
interconectá-las.
Pietro Ubaldi (1886-1972) |
Bom,
quanto ao livro em questão, seu título é “A Civilização do
Terceiro Milênio”. E através desse livro estou começando a
enxergar melhor muitas coisas da minha vida e da sociedade. Problemas
gerais e – aparentemente – infindáveis da humanidade.
Pietro
Ubaldi fala que a humanidade passa por três fases de
desenvolvimento: a de selvagem, a de administrador e a de evoluído.
A primeira delas é caracterizada pelo desejo das necessidades
materiais elementares, instintivas, facilmente observáveis e
sentidas. A obtenção dos recursos é predominantemente feita
através de furto. A segunda, a qual a grande maioria das pessoas no
planeta se encontra, é caracterizada pela racionalidade, uso da
ciência como fim e pelo desenvolvimento material (mas não
espiritual). A forma de aquisição de bens se dá predominantemente
por meio do trabalho. E a terceira é caracterizada pela
sensibilidade, pelo uso da ciência como meio (e não fim) para se
atingir uma melhor compreensão de si mesmo, dos seres à volta e dos
mecanismos – físicos e morais – que regem o funcionamento do
Universo. A forma de aquisição de bens se dá através da justiça.
E cada uma dessas fases trazem problemas que, quando resolvidos,
abrem portas para a entrada de outros. E eu, agora, imagino que eles
sejam os seguintes: ter, dor e ser.
Do meu
ponto de vista a História da humanidade pode ser sintetizada nesses
tipos de seres. Me parece bem lógico. É claro que essa
classificação seria uma simplificação muito grande. Porque as
gradações contínuas – e portanto são infinitas – entre esses
diversos estágios de evolução. Mas com essa simplificação é
possível começar a analisar outras características de cada tipo.
Quanto
aos problemas, eis a minha ideia de ter criado essa classificação:
No
estado selvagem existe uma necessidade de aquisição de recursos
essenciais à sobrevivência: água, comida, calor, abrigo, e outros
instintos naturais. Essa necessidade é justificável e compatível
com o grau de desenvolvimento intelecto-moral dos seres que se
encontram nesse patamar. Eles não são melhores nem piores do que os
outros dois. Apenas estão num estágio evolutivo mais próximo do
inicial. Eles tem o problema do ter.
Com o
advento da agricultura muitos problemas foram resolvidos. Fomos
capazes de formar vilas, aldeias, cidades, metrópoles. Desenvolvemos
as relações sociais, o comércio, as ciências, as religiões,
criamos filosofias, construímos, destruímos, e por aí vai. Mas o
problema material (do ter) ainda persistia).
Há
pouco tempo, – 200 anos – com o advento da indústria, foi
possível finalmente aplicar todas descobertas científicas, todo
capital acumulado e uma população crescente para o desenvolvimento
tecnológico da humanidade. Com isso vem se resolvendo em grande
parte a questão material. No entanto, esse desenvolvimento ainda se
encontra longe de ser concretizado, pois os benefícios dessa
revolução ainda são muito mal distribuídos e – sobretudo –
aplicados de forma errônea por parte de nossos industriais,
governantes e banqueiros: guerras, exploração de seu semelhante,
propaganda enganosa, alienação das massas, consumo, lesão do meio
ambiente (ar, água, terra, seres), entre outras.
Já
produzimos o suficiente para termos conforto material. Ou seja,
criamos a solução para o problema do ter. Apesar disso, a entrada
na próxima etapa está sendo atrasada porque as pessoas que lideram
esse planeta são – em sua maioria creio – seres involuídos, que
pensam na autopromoção e não são capazes de enxergar que estamos
todos interconectados nesse mundo – e Universo. O resultado é que
essas pessoas submetem a maioria a uma condição de vida indigna,
impossibilitando a ascenção material de muita gente, tomando grande
parte do tempo e energia de bilhões de seres. Isso vem gerando
revoltas e revoluções com fortes (justificáveis) argumentos
sócio-culturais, econômicos e políticos. Isso vem gerando problema
da dor.
O
problema da dor só poderá ser superado com a conscientização da
maioria dos seres de que todos nós: humanos, animais, vegetais e
minerais, estamos interconectados e devemos só extrair o necessário
do mundo material para nos desenvolvermos ao máximo (decidi excluir
a energia, porque ela também é uma forma de matéria, como o
próprio Einstein já provou teoricamente). E também com a
conscientização de que todos fenômenos estão igualmente
interconectados: físicos, históricos, químicos, biológicos,
musicais, matemáticos, filosóficos, religiosos, psicológicos,
sociológicos,...Somente com essas duas grandes e fundamentais
conscientizações estaremos aptos a superar o problema da dor.
Problema este gerado pela inabilidade em lidarmos com a resolução
do problema do ter. Pela ganância. Pela fascinação pelas coisas
materiais. Pela ciência e tecnologia como um fim, e não como um
meio.
Já é
possível notar que existem pessoas e até entidades começando a se
preocupar com um novo tipo de problema: do ser. Ainda são raríssimos
e raríssimas. Mas começam a pipocar novos tipos de visões de
mundo, de vida e de objetivos. Algo incompreendido por muitos bem
sucedidos no plano material, que vê nesse tipo de gente fraqueza e
ineficiência. No entanto, sabe-se que a dinâmica de desenvolvimento
da humanidade e do indivíduo é muito lenta. Lenta mas firme. Firme
e focada para o progresso espiritual. Inconsciente ou
conscientemente, todos começam a sentir isso. É a marcha inexorável
rumo ao progresso – no verdadeiro sentido da palavra.
Ainda
somos submetidos a um modo de vida que foca o consumo desmensurado de
recursos. E não vemos opção a não ser seguir as regras do sistema
ou nos sujeitarmos à fome, ao desemprego e à rejeição.
Dificilmente alguém poderá ser astrônomo, físico, filósofo,
historiador, dramaturgo, cineasta, escritor, químico, professor, ou
se ocupar de coisas do tipo sem passar por dificuldades de ordem
material. Apesar disso, são as profissões mais importantes para o
nosso progresso – espiritual e, indiretamente, material – que são
relegadas à humilhação e descaso. Caso típico de uma
“civilização” do tipo administradora. Inteligente, mas com
pouca moral. “Civilização” que só vê aplicação direta das
coisas e foca na forma, não na substância.
Estou na
metade do livro mas já senti muitas verdades no raciocínio desse
ser chamado Pietro Ubaldi, que fez voto de pobreza aos 41 anos e
dedicou mais de metade de sua vida à realização e compilação de
uma série de obras que abordam as questões mais cruciais da
humanidade. Sua escrita é profunda mas é possível captar as ideias
principais. Elas estão lá, pairando em páginas e mais páginas
dedicadas à resolução dos nosso problemas.
O
verdadeiro tesouro está em obras como essa. No entanto, vê-lo,
adquiri-lo e fazer uso benéfico do mesmo exigirá de nós uma boa
dose de sensibilidade.
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