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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Intouchables

Raros são os filmes de conteúdo (de lazer e intelectual) que tem a oportunidade de serem propagados pelos meios comerciais. Felizmente, existem aqueles que conseguem encontrar fendas no sistema comercial, – não sei exatamente como – trazendo um pouco de diversão e ampliação de horizonte para milhões de pessoas. Um desses filmes é o francês “Intocáveis”.

Bom, a primeira coisa: se trata de um filme sobre uma amizade aparentemente impossível – à primeira vista – que se concretiza e se reforça e encanta e convence cada um de nós (a mim convenceu) de sua real possibilidade. Uma amizade de início inviável. Mas que, ao longo do tempo, se consolida. Justamente devido aos extremos. Extremos....de forma. Mas, por outro lado, de substância idêntica. Essa substância é a busca de preenchimento. De sentido. De emoção. De vida.

Observamos duas pessoas de etnias e meios sociais completamente distintos. E – como é de se esperar – de comportamentos igualmente diferenciados. E adicionando a isso um incidente inesperado, tem-se o pontapé inicial para uma jornada repleta de aventuras e auto-conhecimento. Eis o verdadeiro milagre da vida.

Um ser que aparentemente é a antítese do outro. Um negro. Outro caucasiano. Um muito rico. Outro muito pobre. Um com acesso a toda cultura. O outro com um impedimento a quase toda ela. Um cheio de enfermidades. Outro (apesar de tudo), sadio como um touro. Mas ambos com o desejo de ser alguém e de viver a vida da melhor forma possível. Dois seres em busca de libertação – não se sabe exatamente do que a princípio. Incompreendidos. E frágeis sozinhos. Mas juntos, intocáveis.

Não sou francófilo. Sou internacionalista. Mas devo admitir que o cinema francês é e sempre foi um destaque. Sua capacidade de encantar e fazer a platéia pensar é difícil de ser igualada. Sem atores famosos. Sem recursos fartos. Sem efeitos especiais – exceto a roteiro fantástico.

Por que esse filme me tocou? Simplesmente porque o assunto é o assunto da moda em todos os tempos e lugares: a busca de uma verdadeira amizade. E convenhamos, nos dias atuais, está cada vez mais difícil estabelecer uma amizade verdadeira. E se uma nasce, seu desenvolvimento sempre é dificultado por razões materiais ou críticas infundadas ou incompreensão de um dos dois.

De qualquer forma, desde a cena inicial nos deparamos com uma cena de ação.

Dois caras correndo a alta velocidade num carro possante. O motorista, jovem e saudável. O “co-piloto”, um senhor de idade enfermo. Eles parecem se conhecer. A polícia os persegue – com dificuldade. As manobras e acelerações do jovem são muito elegantes e rápidas. Mas num momento eles são pegos. E...não vou contar o resto (vejam o filme).

Mas a questão é: da primeira à última cena existe uma energia que parece infinita. Ela está lá, na atmosfera, sem necessidade de esforço de ninguém. Só o desenrolar da vida de cada personagem basta para iluminar tudo.

Os dois atores (François Cluzet e Osmar Sy) dão uma performance fora do comum. São realmente seres humanos. Se conhecendo. Graças a um incidente inicial. Contra todas expectativas. Que passam a se completar devido às suas diferenças. Suas realidades radicalmente opostas se equilibram entre si. Pura magia. Puro Cinema. Queremos ver o que vai acontecer com a vida de cada um deles.

Um filme com tanta profundidade deve ter uma música à altura. Com a trilha sonora banhada por um belíssimo piano de Ludovico Einaudi, tem-se um dos filmes mais belos dos últimos tempos.

É uma amizade tão preciosa, tão rara, tão breve, que é intocável.

É divino.

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