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terça-feira, 15 de outubro de 2013

A Energia do Problema - o Problema da Energia

Depois de muito refletir sobre esse assunto na vida, me dei conta de que – aparentemente – existe uma semelhança entre os nossos problemas e a energia: ambos conservam sua essência, mas assumem formas diferentes.

Numa central hidroelétrica, por exemplo, existe água acumulada em forma de energia potencial. Essa energia, ao passar pelas comportas e turbinas, fazem estas girarem, se convertendo em energia cinética (de movimento). Essa energia cinética por sua vez acaba se convertendo em energia elétrica, através de um gerador. Mas fazendo os cálculos entre a forma anterior e posterior, percebe-se que a energia final é menor que a inicial. “Mas ela não se conserva?”, você vai perguntar já sentindo uma contradição. E eu digo: sim, ela se conserva. Acontece que parte dessa energia foi perdida para o ambiente. Ou seja, alguma água não passou pela turbina, houveram atritos nos eixos da mesma, a transmissão elétrica possui resistência (que dissipa calor), entre outros fatores.

Mas afinal de contas, o que isso tudo tem a ver com os problemas de nossa vida?
Irei construir uma situação fictícia mas provável para ilustrar a questão.

Imaginemos um jovem estudante no colegial. Ele possivelmente terá alguns problemas como passar nas matérias (ou em alguma delas). Se não, talvez tenha problemas em chegar perto daquela garota para conversar. Ou decidir o que fará futuramente na vida. Ou coisas do tipo.

Após alguns anos esse jovem – já menos jovem – está na faculdade e não precisa mais lidar com algumas coisas mais "chatas" do colegial. Os professores não cobram um desempenho bom, existe mais liberdade com o distanciamento dos pais, e ele passa a fazer seus horários. Porém, esses benefícios requerem uma responsabilidade em se auto-cobrar nos estudos (caso contrário ele será reprovado); em lidar com problemas sócio-afetivos, morais e materiais sem uma orientação (de familiares), que geralmente é muito desafiadora; e em saber o que se quer da vida, a título de buscar fazer atividades que lhe agradem e permitam seu desenvolvimento. Esses são problemas de outra ordem.

Vamos passar mais alguns anos e supor que esse jovem – menos jovem, já adulto – tenha se casado e tenha uma criança. E que soube escolher de forma adequada o que queria fazer da vida como profissional e com quem se relacionar. Agora ele é independente, ganha seu próprio dinheiro – que apesar de não muito, possibilita ter uma vida digna e fazer suas economias e dar conforto a sua prole – e possui uma espécie de sentido para sua existência, pois está acompanhado de alguém. No entanto, em sua profissão ele não pode trabalhar do jeito que deseja e julga mais eficiente (para ele e a sociedade), e a constante ameaça de desemprego o força a se travestir daquilo que não é em diversos ambientes para não sofrer possíveis privações materiais. Além disso ele se dá conta de que o conforto necessário para a família e ele requerem dele uma grande dose de tempo, que o impede de fazer as coisas que ele gostava de fazer quando era mais jovem. Nova troca de problemas.

Passadas umas duas ou três décadas, esse jovem – já idoso – está aposentado (junto com sua esposa). Sua criança – que não é mais criança – já se formou e está trabalhando. Não existem mais os problemas laborais que lhe consumiam tempo e energia, nem de cuidados com o filho, já independente. No entanto, a saúde dele já não é mais como era, impossibilitando-o de certas atividades. Provavelmente nesse ponto ele começa a olhar para o passado e refletir se sua vida foi boa ou não. Se ele criou seu filho certo. Se ele tratou bem a esposa. Se ele poderia ter sido melhor. Se existe ou não algo depois de sua morte. Como ocupar seu tempo de forma útil – já que na vida adulta ele nunca teve muita oportunidade de usar. Etc.

Sendo saudáveis ou não, num momento ele ou ela morrem. Se a conexão desenvolvida durante a vida foi profunda, isso deve abalar a parte que permanece no mundo (e no outro, dependendo da sua crença). Mas as amarguras da vida parecem próximas de acabar, já que a viagem rumo ao desconhecido está próxima. Outros tipos de problemas. O último tipo aqui.

O que eu quero dizer com tudo isso é que, assim que resolvemos um problema na vida, surgem outros. Como se houvesse uma quantidade fixa de problemas (inquietantes) disponível para cada um de nós, só que assumindo formas diferentes em cada momento da vida.

Pode existir gente que se julgue sem problemas. Eu não acredito em pessoas que dizem isso – a não ser que se trata de um ser de ordem celestial em missão neste planeta. O que ocorre é que essa pessoa provavelmente deve ter problemas (quase insolúveis em alguns casos), só que ela sempre se enganou ao longo da vida, mascarando-os e desviando dos mesmos, se revestindo de forma e tomando isso como conteúdo. Em suma, achou que havia atingido o ponto máximo em termos de felicidade. Mas se revestiu de matéria e abraçou-a, ignorando aquelas palpitações espirituais que sempre lhe sondavam a mente periodicamente, forçando-a a repensar seu caminho.

E então, qual a solução?”, você pergunta. Eu repondo o que eu acho, que é: continuar caminhando incessantemente, usando cada tipo de problema para sua evolução interna.

Eu vejo dessa forma: um problema, quando resolvido ou não, se converte em um de ordem mais complexa, adequado à fase de sua vida, que lhe possibilitará desenvolver outras habilidades. É como se caminhássemos em círculos, mas ascendemos a cada volta. Uma espiral que se eleva a cada volta. Se eleva e se expande. Englobando cada vez mais. Sentindo cada vez mais. É a espiral do conhecimento.

Os problemas se comportam como energia. E tem uma espécie de energia – se é que podemos chamar assim. Precisamos convertê-lo em outra forma, resolvendo-o e consequentemente absorvendo-o. 

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