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domingo, 2 de fevereiro de 2014

SENSIBILIDADE SOCIAL versus SOCIABILIDADE

Há alguns meses escrevi um artigo intitulado “Sensibilidade versus Atuação”. Nele, esbocei as duas formas fundamentais (e distintas) que alguém pode adotar para conduzir sua vida. E destaquei igualmente que essas duas formas estão presentes em todo ser humano, mas uma acaba se apresentando com maior intensidade num indivíduo – ou seja, a característica dominante acaba sendo a locomotiva que conduz a vida da pessoa, enquanto a outra, relegada a cumprir um mero papel de preenchimento, tem pouco peso no destino desse ser.

Neste ensaio pretendo – a partir do conceito fundamental de Sensibilidade e de Atuação já descritos anteriormente – fazer um estudo de um caso particular a título de ilustrar a importância de valorizarmos um novo modo, ainda pouco valorizado (me refiro à sensibilidade), de conduzirmos nossa vida.

Desde minha adolescência, quando tinha 15 ou 16 anos, a questão da sensibilidade vem ocupando um espaço cada vez maior em minha mente e gerando um interesse natural em estudar assuntos que possam me levar a descobrir mais sobre meus semelhantes, os fenômenos, e minha própria pessoa. Isto é, o tema vem crescendo em importância, de modo que quanto mais os anos passam, e consequentemente mais experiências – boas ou ruins – tenham de ser lidadas por minha pessoa, mais importância dou para esse tema.


Sensibilidade social
A causa fundamental desse interesse intenso provavelmente esteja relacionado à falta – ou melhor, dificuldade – de SOCIABILIDADE e, ao mesmo tempo, uma grande dose de SENSIBILIDADE SOCIAL, que venho apresentando desde que adentrei naquela fase conhecida como adolescência.

A única diferença entre o modo como eu percebia as coisas aos 16 anos e como eu as percebo hoje reside unicamente no fato de que atualmente eu disponho de uma série de experiências – obtidas através da observação dos outros, de mim, e de uma reflexão profunda constante ao longo dos anos – e uma visão mais global dos fenômenos, além de um conhecimento (e vocabulário) mais refinado para expor e destrinchar esse tema tão inquietante e importante – para todos, queiram admitir isso ou não.

É comum ouvirmos pessoas falarem ou fazerem apresentações sobre comunicação ou sociabilidade. E destacarem a importância de sermos sociáveis para conseguirmos ter sucesso na vida em todas (ou quase) vertentes da mesma: relacionamentos, família, emprego (busca ou na manutenção), oportunidades, expansão do leque de conhecidos, reconhecimentos nos meios sociais e laborais, entre outros. Isso de fato é verdade. No entanto, trata-se de uma verdade RELATIVA, que se aplica a este mundo nesse instante – ou seja, no grau evolutivo presente, que não está muito longe da animalidade...Com isso quero dizer que existe uma outra verdade, maior, que consequentemente torna essa primeira “verdade” uma mera maquiagem. Ela é mais profunda e eficaz. E portanto mais de acordo com a Lei universal que rege tudo e todos. Explicarei o porquê dessa afirmativa aparentemente (aparentemente) feroz.

Ao longo de minhas observações extensas (na amplitude de casos) e intensas (na busca da intimidade dos significados) fui me apercebendo o que de fato significa ser sociável. E comecei a ter uma visão mais aprofundada – e portanto menos simplória, direta e certa – sobre o tema.


Sociabilidade
Ser sociável com os outros sempre envolve uma certa dose de atuação. E quando digo 'atuação' me refiro aos dois sentidos que essa palavra pode assumir: o de interpretar, agir, de forma não-natural, tendo em vista manter as aparências e evitar qualquer tipo de debate que adentre no campo da polêmica, evitando conflitos físicos ou verbais (mas mantendo as garras prontas para praticar o terrorismo econômico, discreto e lento no “inimigo” ou “diferente”); e no modo de AGIR ao invés de SENTIR para conseguir ganhar algum destaque na ocasião social. Em suma, se trata fundamentalmente de um modo levar a pessoa a obter um sucesso muito mais de FORMA (aparência) do que de CONTEÚDO. Porque o foco da sociabilidade deste mundo não envolve SINCERIDADE.

Explico melhor.

Quando observamos pessoas bem sucedidas (sob o prisma deste mundo) – ou seja, cheias de contatos e oportunidades e bem vistas – um ser inteligente percebe rapidamente que esse tipo de gente comumente não se revela sincera em suas conversas. Até mesmo com familiares e esposa/esposo ou amigos considerados íntimos e de longa data isso é verdade. O que significa que sempre, para obter a vantagem que lhe possibilite ter esse “sucesso”, a pessoa “bem sucedida” [nesse ponto as aspas já tem sua justificativa] deve se encobrir de SEGUNDAS INTENÇÕES. E assim as afirmativas nunca podem ser tomadas literalmente. Mesmo quando se trate de assuntos sérios que envolvam sentimentos ou interesses gerais – o que é muito egoísta do ponto de vista espiritual. Tem-se estabelecido a partir daí um jogo SINUOSO no qual a pessoa inclinada a ele sempre (nesse mundo, nessa vida, pelo menos) pode escapar de reparar o mal que tenha feito para seus semelhantes. Esse escapar, esse ato de fuga, é realizado graças ao jogo de palavras dúbias, que podem assumir uma miríade de significados, o que é muito útil para aqueles que desejam se isentar da responsabilidade*.

Por outro lado existem seres dotados de grande SENSIBILIDADE SOCIAL que possuem dificuldades em expressar seus sentimentos e ideias. E esse tipo biológico tem uma inclinação mais forte para trabalhar – se preocupar – sobre o CONTEÚDO. É alguém que se incomoda com o desconforto dos outros. É alguém que sente o mal estar do semelhante como seu. Ou seja, compartilha, inconscientemente, as sensações de dificuldade material (e às vezes até espiritual) dos outros.

Quem tem sensibilidade para questões sociais geralmente (nem sempre) é alguém que, por dar pouca importância à forma, não consegue se fazer compreendido pela maioria das pessoas, e acaba sendo taxada erroneamente – geralmente por pessoas “bem-sucedidas”, “comunicativas” e populares...neste mundo pelo menos... – de arrogante ou louca ou chata ou uma combinação desses vocábulos, o que é uma tragédia do ponto de vista do Progresso.

Portanto (e para concluir) estamos diante de um GRANDE DESAFIO que só poderá ser resolvido gradativamente e com muito suor.

Devemos deixar de buscar essa pseudo-sociabilidade que busca, a partir dela mesma, passar a imagem (falsa) de que somos seres com sensibilidade social – e que só serve para nos elevarmos à custa dos sentimentos e posses de terceiros, e passarmos a..

Desenvolvermos nossa sensibilidade social arduamente, pouco a pouco, e a partir de nossa indignação com o modo como as (pseudo) relações se edificam e se corroem, nos apoiarmos em nossa VONTADE de construir relações SINCERAS e SÓLIDAS para ganharmos habilidades comunicativas.

Em suma, a SENSIBILIDADE deve servir de ALICERCE para desenvolvermos a SOCIABILIDADE. A verdadeira e única sociabilidade. A sociabilidade sincera, sem jogo de palavras. Sem sinuosidades. Sem segundas e terceiras intenções. Sem equívocos.

Clara, reta e bem intencionada. 


*Gostaria de destacar que existem casos particulares na História – sendo o mais famoso Jesus de Nazaré – no qual a linguagem figurada assume um PAPEL NECESSÁRIO devido à falta de sensibilidade da população deste planeta na época (e mesmo hoje em dia) em assimilar conceitos de vida elevados que visavam o bem-estar de tudo e de todos. No entanto trata-se de casos particulares, no qual a INTENÇÃO era a mais pura e elevado possível.

Um vídeo que ilustra o contraste entre alguém sociável e outro com sensibilidade social.

http://www.youtube.com/watch?v=kbvyzU0Ab-o








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