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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

MODERNOS, SIM. EVOLUÍDOS, NÃO.

É difícil – para quem viu – não se lembrar das cenas iniciais de “Tempos Modernos”. Vemos um Chaplin operário na linha de produção de uma fábrica, apertando porcas fervorosamente, regularmente e continuamente. Não por vontade própria, e sim pela necessidade de subsistência. E com todas suas atitudes podemos não apenas observar, mas sentir a vida de uma pessoa desse tipo.

E muitos detalhes contribuem para isso.

Tomemos como exemplo a cena na qual um grupo de inventores apresentam ao diretor da fábrica um novo aparato que permite ao operário se alimentar na própria linha de produção, de forma que este continue produzindo no mesmo ritmo. “Que ótimo!”, diz o dono, através de sua expressão facial (ótimo para quem? e...de que ponto de vista?). E lá vai o grupo para testar o novo e maravilhoso aparato num novo funcionário.

Nos tornamos inconscientemente engrenagens.
Conscientemente devemos resgatar nossa humanidade,
Para daí alçarmos a espiritualidade.
Vê-se que o experimento dá errado, a máquina não funciona, e quem paga o mico é – para variar – o operário. A máquina não funciona conforme planejado. E nesse ponto eu me pergunto se é apenas a máquina que não funciona conforme planejado. Me parece que a mente de algumas pessoas também não opera de forma racional. Pessoas que tem muito poder econômico sobre outras e que julgam que estão na sua posição graças ao seu esforço e mérito. (sim...pode ser verdade que a pessoa tenha conseguido por mérito próprio. mas só de um ponto de vista materialista, que leve em consideração variáveis econômicas e produtivas. em suma: ser bem sucedido num mundo que glorifica prazeres mundanos não significa que a pessoa seja sábia e, muito menos, evoluída) .Claro, também existem pessoas que tem esses pensamentos insensatos e não possuem poder algum – ou muito pouco. Mas o fato é que aqueles que possuem grande poder e pensam dessa forma tendem a causar muito mais estragos que aqueles. A médio e longo prazo.

De qualquer forma, “Tempos Modernos” é impressionante e atual. E continuará sendo, por muitos anos.

Chaplin conseguiu retratar de forma cômica as mais profundas maquinações dos homens de negócio. E a miopia das autoridades. E os mais elevados sonhos daqueles que se veem presos num sistema que inibe qualquer tentativa de busca por algo diferente. Ele conseguiu isso com uma história simples, mostrando acontecimentos típicos na vida de qualquer um, permeados com música e reflexões e reviravoltas.

Simplicidade é se aprofundar na espiritualidade.
O sonho (a obsessão) de algumas pessoas produzir mais é algo presente hoje em dia. Mas para que esse pensamento seja visto como algo positivo para aqueles que devem se submeter a ele fervorosamente, há necessidade de uma boa dose de propaganda (ou, num linguajar mais específico, lavagem cerebral). E com a democratização da informação e o ligeiro aumento do conhecimento – e coragem – de alguns, essa propaganda deve se tornar a cada dia mais sofisticada. Assumir novas formas. Parecer arte, ciência, filosofia de vida. E até mesmo religião! Ela (propaganda), para manter as mentes sedadas, deve se metamorfosear constantemente para que uns poucos possam impor sua vontade a muitos. De forma tão discreta que só mentes muito sensíveis e cientes dos mecanismos humanos podem perceber a grande distorção sendo edificada. Eis o dilema dos tempos atuais. Tão modernos maquinalmente, e tão atrasados moralmente.

Antes das descobertas científicas e da democratização (relativa) de recursos e conhecimento havia uma certa justificativa para que o ser humano agisse estupidamente. Mas não há razão para que daqui pra frente continuemos a agir de forma tão insensata.

Descobrimos muitas das Leis da matéria e soubemos usá-las a nosso favor. No entanto, distribuímos mal esse usar e comumente aplicamos os conhecimentos sem saber a finalidade. Inexiste um horizonte. Alguns dizem que é o lucro. No entanto, quando ele chega, deseja-se mais lucro. E depois mais. E assim sucessivamente. E nesse processo todo, milhões de pessoas abdicam de sua saúde e estudos e viagens e sociabilidade para satisfazer essa “necessidade” mercadológica. Não me parece sensato.

Abrindo os jornais observam-se problemas relacionados à criminalidade, ao trânsito, ao enriquecimento de grandes grupos com crises, aos desentendimentos, às doenças, etc. Ao mesmo tempo, nunca se viu uma sociedade tão orientada para a matéria e (ao mesmo tempo) uma minoria – crescente – de seres cada vez mais determinados a se orientarem para o espiritual.

O trabalho já não é mais o que deveria ser. O trabalho que é imposto à maioria é aquele do século XIX. Institucionalizado, focado para o crescimento de um grupo específico (a qualquer custo, desde que não viole uma Lei....ou a viole de forma que o Estado não identifique essa violação), com controle de tempo e restrições às necessidades fisiológicas e da mente. Hoje em dia isso é feito de forma a parecer que não é imposto, e sim uma escolha da pessoa. A pressão psicológica se pulveriza nas mentes, de forma que cada um se auto-controla em prol do grupo no qual está inserido. Isso evita custos em monitoramento, e consequente aumento de lucro (do grupo, não da pessoa). Além de uma obediência cega. O SER se torna uma FERRAMENTA. A EXECUÇÃO predomina sobre a CRIAÇÃO. Não há espaço para questionamentos, sempre taxados como algo subversivo pela maioria. Algo com o intuito de desestabilizar a “boa situação” do momento (que boa situação é essa? Para quem? Sob que ponto de vista é boa? Para a minha saúde? Para o meu crescimento nos estudos? Para as minhas relações sociais?...) Porque este é motor da evolução.

Sabe-se cada vez mais que os sistemas que adotamos devem se adaptar às nossas necessidades. Jamais o contrário.

O SER evoluiu de um modo geral. Os sistemas antigos aplicados ainda hoje já não se aplicam às necessidades e potencialidades das gerações do século XXI, XXII e além. Eis a causa de tantas doenças, revoltas, rupturas e desejo de escapar da loucura. No entanto, a enorme inércia às mudanças permite apenas a resolução do problema na sua forma individual. São poucas pessoas, cuja condição de vida e evolução permite a elas se colocarem numa situação de relativa invulnerabilidade – à loucura que permeia a maioria dos seres desse planeta. E assim podem contribuir para elas mesmas e para o seu entorno. No entanto, ainda não constituem ameaça para o sistema (que parece até estar criando vida própria). Um sistema ansioso em manter as pessoas operando em prol de objetivos vazios.

A meu ver o problema coletivo só poderá ser resolvido com a persistência dos seres que resolveram seus problemas individuais. O número crescente de pessoas numa condição saudável, com objetivos que visam o bem-estar de tudo e de todos, deve formar uma frente de resistência contra a banalidade que impera neste planeta. E essa resistência deve ser proporcional à sua determinação – em promover o PROGRESSO humano.

O sociólogo Domenico De Masi sintetizou muito bem o nosso mundo. Ele disse algo mais ou menos que segue essa linha:

Este não é o melhor dos mundos. Mas é o melhor dos mundos entre todos que já existiram.”

Continuemos nossa jornada evolutiva, nos despindo dos sistemas arcaicos que já não são capazes de nos conduzir ao Progresso.



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