É
difícil – para quem viu – não se lembrar das cenas iniciais de
“Tempos Modernos”. Vemos um Chaplin operário na linha de
produção de uma fábrica, apertando porcas fervorosamente,
regularmente e continuamente. Não por vontade própria, e sim pela
necessidade de subsistência. E com todas suas atitudes podemos não
apenas observar, mas sentir a vida de uma pessoa desse tipo.
E muitos
detalhes contribuem para isso.
Tomemos
como exemplo a cena na qual um grupo de inventores apresentam ao
diretor da fábrica um novo aparato que permite ao operário se
alimentar na própria linha de produção, de forma que este continue
produzindo no mesmo ritmo. “Que ótimo!”, diz o dono, através de
sua expressão facial (ótimo para quem? e...de que ponto de vista?).
E lá vai o grupo para testar o novo e maravilhoso aparato num novo
funcionário.
Nos tornamos inconscientemente engrenagens. Conscientemente devemos resgatar nossa humanidade, Para daí alçarmos a espiritualidade. |
Vê-se
que o experimento dá errado, a máquina não funciona, e quem paga
o mico é – para variar – o operário. A máquina não funciona
conforme planejado. E nesse ponto eu me pergunto se é apenas a
máquina que não funciona conforme planejado. Me parece que a mente
de algumas pessoas também não opera de forma racional. Pessoas que
tem muito poder econômico sobre outras e que julgam que estão na
sua posição graças ao seu esforço e mérito. (sim...pode ser
verdade que a pessoa tenha conseguido por mérito próprio. mas só
de um ponto de vista materialista, que leve em consideração
variáveis econômicas e produtivas. em suma: ser bem sucedido num
mundo que glorifica prazeres mundanos não significa que a pessoa
seja sábia e, muito menos, evoluída) .Claro, também existem
pessoas que tem esses pensamentos insensatos e não possuem poder
algum – ou muito pouco. Mas o fato é que aqueles que possuem
grande poder e pensam dessa forma tendem a causar muito mais estragos
que aqueles. A médio e longo prazo.
De
qualquer forma, “Tempos Modernos” é impressionante e atual. E
continuará sendo, por muitos anos.
Chaplin
conseguiu retratar de forma cômica as mais profundas maquinações
dos homens de negócio. E a miopia das autoridades. E os mais
elevados sonhos daqueles que se veem presos num sistema que inibe
qualquer tentativa de busca por algo diferente. Ele conseguiu isso
com uma história simples, mostrando acontecimentos típicos na vida
de qualquer um, permeados com música e reflexões e reviravoltas.
Simplicidade é se aprofundar na espiritualidade. |
O sonho
(a obsessão) de algumas pessoas produzir mais é algo presente hoje
em dia. Mas para que esse pensamento seja visto como algo positivo
para aqueles que devem se submeter a ele fervorosamente, há
necessidade de uma boa dose de propaganda (ou, num linguajar mais
específico, lavagem cerebral). E com a democratização da
informação e o ligeiro aumento do conhecimento – e coragem – de
alguns, essa propaganda deve se tornar a cada dia mais sofisticada.
Assumir novas formas. Parecer arte, ciência, filosofia de vida. E
até mesmo religião! Ela (propaganda), para manter as mentes
sedadas, deve se metamorfosear constantemente para que uns poucos
possam impor sua vontade a muitos. De forma tão discreta que só
mentes muito sensíveis e cientes dos mecanismos humanos podem
perceber a grande distorção sendo edificada. Eis o dilema dos
tempos atuais. Tão modernos maquinalmente, e tão atrasados
moralmente.
Antes
das descobertas científicas e da democratização (relativa) de
recursos e conhecimento havia uma certa justificativa para que o ser
humano agisse estupidamente. Mas não há razão para que daqui pra
frente continuemos a agir de forma tão insensata.
Descobrimos
muitas das Leis da matéria e soubemos usá-las a nosso favor. No
entanto, distribuímos mal esse usar e comumente aplicamos os
conhecimentos sem saber a finalidade. Inexiste um horizonte. Alguns
dizem que é o lucro. No entanto, quando ele chega, deseja-se mais
lucro. E depois mais. E assim sucessivamente. E nesse processo todo,
milhões de pessoas abdicam de sua saúde e estudos e viagens e
sociabilidade para satisfazer essa “necessidade” mercadológica.
Não me parece sensato.
Abrindo
os jornais observam-se problemas relacionados à criminalidade, ao
trânsito, ao enriquecimento de grandes grupos com crises, aos
desentendimentos, às doenças, etc. Ao mesmo tempo, nunca se viu uma
sociedade tão orientada para a matéria e (ao mesmo tempo) uma
minoria – crescente – de seres cada vez mais determinados a se
orientarem para o espiritual.
O
trabalho já não é mais o que deveria ser. O trabalho que é
imposto à maioria é aquele do século XIX. Institucionalizado,
focado para o crescimento de um grupo específico (a qualquer custo,
desde que não viole uma Lei....ou a viole de forma que o Estado não
identifique essa violação), com controle de tempo e restrições às
necessidades fisiológicas e da mente. Hoje em dia isso é feito de
forma a parecer que não é imposto, e sim uma escolha da pessoa. A
pressão psicológica se pulveriza nas mentes, de forma que cada um
se auto-controla em prol do grupo no qual está inserido. Isso evita
custos em monitoramento, e consequente aumento de lucro (do grupo,
não da pessoa). Além de uma obediência cega. O SER se torna uma
FERRAMENTA. A EXECUÇÃO predomina sobre a CRIAÇÃO. Não há espaço
para questionamentos, sempre taxados como algo subversivo pela
maioria. Algo com o intuito de desestabilizar a “boa situação”
do momento (que boa situação é essa? Para quem? Sob que ponto de
vista é boa? Para a minha saúde? Para o meu crescimento nos
estudos? Para as minhas relações sociais?...) Porque este é motor
da evolução.
Sabe-se
cada vez mais que os sistemas que adotamos devem se adaptar às
nossas necessidades. Jamais o contrário.
O SER
evoluiu de um modo geral. Os sistemas antigos aplicados ainda hoje já
não se aplicam às necessidades e potencialidades das gerações do
século XXI, XXII e além. Eis a causa de tantas doenças, revoltas,
rupturas e desejo de escapar da loucura. No entanto, a enorme inércia
às mudanças permite apenas a resolução do problema na sua forma
individual. São poucas pessoas, cuja condição de vida e evolução
permite a elas se colocarem numa situação de relativa
invulnerabilidade – à loucura que permeia a maioria dos seres
desse planeta. E assim podem contribuir para elas mesmas e para o seu
entorno. No entanto, ainda não constituem ameaça para o sistema
(que parece até estar criando vida própria). Um sistema ansioso em
manter as pessoas operando em prol de objetivos vazios.
A meu
ver o problema coletivo só poderá ser resolvido com a persistência
dos seres que resolveram seus problemas individuais. O número
crescente de pessoas numa condição saudável, com objetivos que
visam o bem-estar de tudo e de todos, deve formar uma frente de
resistência contra a banalidade que impera neste planeta. E essa
resistência deve ser proporcional à sua determinação – em
promover o PROGRESSO humano.
O
sociólogo Domenico De Masi sintetizou muito bem o nosso mundo. Ele
disse algo mais ou menos que segue essa linha:
“Este
não é o melhor dos mundos. Mas é o melhor dos mundos entre todos
que já existiram.”
Continuemos
nossa jornada evolutiva, nos despindo dos sistemas arcaicos que já
não são capazes de nos conduzir ao Progresso.
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