quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

LIBERDADE COM COMPROMISSO. COMPROMISSO COM LIBERDADE.

O século XXI já teve quase 14 anos consumidos. Muitas foram as mudanças tecnológicas. Verdadeiras revoluções se deram no campo virtual. O acesso aos meios de comunicação cresceu exponencialmente. E a informação corre solta. Qualquer pessoa – mesmo sem desejar ou pedir – pode ter acesso a informações prontas, pré-formatadas, prontas para ser utilizada, com apenas alguns aparatos tecnológicos e cliques. As redes sociais tornaram os contatos mais rápidos e práticos. Podemos entrar em contato com amigos de infância que nem sequer sabíamos onde estavam e o que faziam; podemos entrar em grupos de caronas, de trilhas, de filmes e etc; podemos nos manter a par do que está acontecendo em nosso bairro, em nossa cidade, em nosso país e no mundo. No entanto (e paradoxalmente), parece que sabemos cada vez menos sobre o que acontece DENTRO DE NÓS.

Sempre admirei a liberdade. Acredito que a humanidade está num processo de mutação muito interessante. E que o eixo central de mutação se dá justamente nesse campo: a ampliação da liberdade (de escolher diversificar as ocupações, de estudar a fundo coisas diferentes, de tentar viver seguindo outros princípios, de buscar o espiritual mais do que o material, e etc). Essa humanidade nova, encabeçada por pessoas jovens, – em sua maioria – já diz em voz alta e clara, sem vergonha ou medo, que o modelo vigente não é capaz de satisfazer suas necessidades e desejos. Trata-se de um modelo cujo eixo central era o compromisso, caracterizado por um emprego fixo e único, especialização, horários fixos, e modos de comportamentos predeterminados. No entanto, essa mudança natural deve ser dirigida com muito cuidado. 

Liberdade consciente.
Não posso afirmar que o compromisso predominante de ontem é ruim e a liberdade predominante de hoje é boa ou vice-versa. Porque o EQUILÍBRIO deve nortear nosso modo de vida. Sempre. Em todas as frentes. E por diversos motivos. Motivos estes que não posso deixar de citar e explicar.

Como dito anteriormente, as redes sociais – símbolo-mor das mutações atuais – são um dos marcos de liberdade individual contemporânea. Mas o uso que fazemos dessa ferramenta deve ser norteado por objetivos sustentáveis, de longo prazo, que considerem a INTERCONEXÃO entre tudo e todos.

Estou vendo e constatando ao longo dos últimos anos que existe uma sede e energia por mudança sim. Mas paralelamente, – e que mais me preocupa – uma falta de ORIENTAÇÃO domina mentes que se julgam no controle de suas vidas. Ou seja, busca-se a liberdade por maior comodidade ou puro prazer (apesar de muitos afirmarem que não é bem assim, apesar de suas atitudes, na maioria dos casos, contradizerem essa tentativa de defesa), sem pensar nas consequências que algumas atitudes podem ter a longo prazo. “Viver o momento” é a expressão do momento. “Carpe Diem” (Aproveite a Vida). É certo e sensato. No entanto, que esse “viver” não afete, direta ou indiretamente, contatos adjacentes ou estruturas úteis , que podem ser antigas. Porque muitas ideias, inventos, teorias, conceitos antigos são boas e melhores do que outras novas.

Há posturas do passado que devem ser perpetuadas ao invés de apagadas – a sustentabilidade das relações, só para citar um exemplo...das relações que valem a pena, claro. E posturas nascentes que devem ser repensadas – como a incorporação de “amigos” em sua lista de contatos.

Me parece que a busca pela liberdade contemporânea está sendo influenciada pela cultura do consumismo. Não de forma consciente, mas inconsciente. Estamos adotando uma postura que nos leva a aproveitar todos momentos (e pessoas) o máximo possível. Só desejamos o melhor para nós. E qualquer sinal de algo ou alguém que não satisfaça nossos prazeres ou valores nos induzirá a eliminar esse algo ou alguém prontamente, bastando um clique ou apenas um período ignorando esse algo (um sentimento profundo ou ideia) ou alguém. Eis a funcionalidade mais sedutora – embora muitos não admitam – introduzida pelas redes sociais.

Agir de acordo com o que acreditamos não é ruim em essência. O que me preocupa é não refletirmos profundamente antes de tomarmos decisões. Isto é, excluímos algo ou alguém (elegantemente, como a etiqueta atual requer...ou seja, quase imperceptivelmente para os outros) que no fundo, com um pouco mais de observação e vivência, poderia nos enriquecer culturalmente e espiritualmente. E assim exercemos uma pseudo-liberdade. Uma liberdade inconsciente, que não mede consequências a longo prazo e atropela princípios que nós mesmos julgamos essenciais.

A nossa liberdade não é infinita. Ela termina quando se encontra com a liberdade do outro. Caso contrário, a nossa liberdade seria a escravidão do outro (e vice-versa). Não sei se estou certo, mas me parece lógico e sensata essa ideia.

Mas afinal, como estabelecer as fronteiras de liberdade? Para mim um caminho fácil seria avaliar se tomar um espaço que já pertence a outro traz uma real vantagem para você. Ou se estamos usufruindo nossa liberdade de forma útil.

Numa relação afetiva, ou mesmo numa amizade, ambas partes devem ter liberdade. Dificilmente veremos almas tão semelhantes em sentimentos e tendências que possam andar na mesma direção e sentido sempre, no mesmo ritmo. Logo, a título de aumentar a probabilidade de colher frutos futuramente, ambas partes devem assumir um compromisso – com o outro e com ela mesma. Esse compromisso pode parecer ruim à primeira vista, mas não se deve esquecer que o seu compromisso é a liberdade do outro e o compromisso deste a sua liberdade. É, de certa forma, uma maneira de maximizar os benefícios – uma vez que somos diferentes.

A facilidade de “deletar” é cômodo. A miríade de pessoas diferentes e possibilidades nos estimula a descartar movimentos, teorias e pessoas facilmente. A QUANTIDADE oferecida diminui a importância do PENSAR. Trata-se, a meu ver, de uma armadilha. Uma 'arapuca' que só é sentida ao longo dos anos em forma de arrependimentos.

O meu medo é o seguinte: o arrependimento de ontem foi causado pela falta de liberdade das pessoas, e o de amanhã – sendo construído hoje – será a falta de compromisso assumida por todos e todas.

As mutações são comuns, mas respeitam uma dinâmica. Um ciclo de mutações-relâmpago não traz a mudança que julgamos conquistar. Justamente porque a pouca vivência de uma situação (amizade, namoro, estudo, escutar,...) não permite uma avaliação adequada da mesma.

Estaremos sofrendo desnecessariamente?

Aos conservadores digo:
A liberdade é necessária para não engessarmos no caminho da evolução.

Aos libertários digo:
O compromisso é necessário para vivenciarmos as experiências profundas e engrandecedoras da alma, sem as quais não poderemos evoluir.

Em algum ponto todos devemos nos encontrar.


Texto que inspirou este artigo: 
http://www.cartanaescola.com.br/single/show/250/a-ilusao-das-redes-sociais

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