É
incrível como fenômenos aparentemente desconexos de nossa realidade
são ignorados por muitos durante a vida inteira. Mais incrível
ainda é termos pessoas tituladas em áreas específicas que jamais
se encantaram pelas coisas que estudaram, vendo-as apenas como um
obstáculo para atingir fins materiais.
Claro,
não devemos culpar essas pessoas. Afinal de contas, poucos são
suficientemente loucos para deixarem de lado a realidade onipresente,
onipotente e impiedosa, e lançarem todas suas energias em estudos
aparentemente sem finalidade prática. Apenas pelo simples prazer (ou
dever) de compreender a fundo um fenômeno, e assim começar a
estabelecer relações com outros (fenômenos). E até com sua
própria vida! Porque é fato: o modo como a economia, as cidades e –
consequentemente – as relações sociais estão estruturadas
desencoraja qualquer busca pela verdade. E pela ciência. E pela
arte. E pela filosofia. E pela espiritualidade.
Eu
estudei engenharia e portanto tive uma pequena necessidade de estudar
mais a fundo temas correlatos. Muita matemática. Muita lógica.
Muitas ciências naturais. E nesse emaranhado de conceitos e teorias
e experimentos e equacionamentos e simplificações existem fenômenos
tão fundamentais, tão elementares, que nem nos damos conta que
graças a eles muitas outras coisas existem. Um exemplo disso é a
(força da) gravidade.
Antes de
explicar a importância dessa tal de gravidade, vou começar
contextualizando a dita cuja.
A
gravidade é uma das quatro forças fundamentais da natureza* (além
dela temos a força forte, a força fraca e o eletromagnetismo). Ela
define uma relação de atração entre objetos que possuem massa. Ou
seja, trata-se de uma força do mundo material, ditada por Leis
materiais.
A força
gravitacional foi compreendida e documentada matematicamente pela
primeira vez por Isaac Newton, no século XVII. A partir dessa época
veio o Iluminismo (séc. XVIII), a Revolução Industrial (séc.
XVIII – XIX) e a aplicação maçica da tecnologia para diversos
fins (séc. XX e adiante). E todos esses acontecimentos posteriores
fizeram uso dessa documentação (entre outras) para criar diversos
aparatos tecnológicos, dentre os quais os foguetes, responsáveis
por colocar satélites em órbita, que dão uma visão global dos
fenômenos climáticos terrestres e espaciais, permitindo estudos
abrangentes sobre os mais diversos fenômenos naturais, sociais e
(por que não) filosóficos e espirituais.
Mas o
simples fato de passarmos a conhecer essa força, e projetarmos
milhares de aparatos com finalidades diversas (benéficas e
maléficas) baseada nela, não é nada comparado a cadeia de
fenômenos desencadeados pela gravidade.
Vamos
lá...
O fato
de nosso planeta possuir massa numa quantidade adequada permite que
os objetos – tudo...inclusive pessoas como eu e você – caiam no
chão quando sejam soltos. A uma aceleração aproximadamente
constante. E isso permite que fiquemos no chão, caminhando ou
correndo, e que possamos consequentemente construir edifícios e
casas.
Se a
massa da Terra fosse muito maior, a aceleração da gravidade seria
muito maior, e nosso organismo seria presnsado contra o chão, ou as
cargas seriam tão altas que nossa fisologia seria seriamente afetada
em poucos anos. Provavelmente uma forma de vida diferente – se
houvesse – deveria estar em nosso lugar. Mais robusta fisicamente.
Ou menos suscetível às leis da matéria.
Por
outro lado, se a massa da Terra fosse muito pequena, uma série de
consequências impossibilitariam a nossa existência.
Primeiro:
um planeta pequeno e leve não teria força gravitacional suficiente
para reter as moléculas que constituem nossa atmosfera. Como somos
seres dependentes de ar para sobreviver, não haveria uma forma de
vida semelhante à nossa;
Segundo:
a pequena aceleração impossibilitaria a fixação no solo, e (mesmo
sem ar) uma pessoa teria sua estrutura óssea seriamente debilitada;
E outras
vantagens dessa força podem ser sentidas ao longo do ano.
Terceiro:
nosso próprio planeta, e o Sol e todos outros corpos só foram
formados graças a força de atração, que permitiu uma aglutinação
de elementos em diversas medidas;
Quarto:
graças a gravidade nosso planeta (todos planetas) mantêm uma órbita
que permite a existência das estações do ano e dos dias e noites.
Na medida adequada. Porque, sem essa medida – compatível com
nossa fisologia – a vida como conhecemos seria insustentável (dias
seguidos de sol torrencial sobreaqueceriam os oceanos e o solo,
enquanto um frio glacial congelaria outra parte do globo...pura
constância).
Enfim, o
que quero dizer com tudo isso é que aquele gezinho (g) que muitos
estudam e não compreendem e não querem compreender e até mesmo tem
raiva de quem compreende (ou quer compreender)....aquele gezinho tem
um significado Homérico por trás. Um significado que, a meu ver,
deveria ser revelado nas escolas. Porque essa é sem dúvida uma das
causas da vida material nesse mundo. Que desencadeou milhares de
consequências, numa cadeia infindável que ainda está longe de
chegar ao fim. E enquanto esse fim não chega, creio que vale a pena
passar um pouco de tempo filosofando sobre os caminhos da existência.
Uma
introdução adequada num assunto tido como chato ou difícil pode
ser o pontapé inicial para o ser humano encontrar o seu caminho e
desenvolver suas habilidades, sejam elas artísticas, filosóficas,
sociais, religiosas ou científicas.
Pode ser
o início da busca pela Felicidade. E a sala de aula é o campo de
batalha no qual essa verdadeira revolução deve ocorrer.
* Nesse
caso deve-se considerar apenas a natureza exterior ao ser humano.
Porque nós possuimos forças imensuráveis por qualquer instrumento,
como a Esperança e o Desespero, por exemplo.
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