quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Engenharia: Para quê? Para quem? Para 'onde'? 18.11.2019

Estou disponibilizando a palestra ministrada na segunda-feira para a turma do 3º ano de Eng. de Controle e Automação (ECA) do IFSP, intitulada Engenharia: Para quê? Para quem? Para 'onde'? 

Para quê remete à finalidade do estudo da engenharia - e demais cursos tecnológicos. Qual a finalidade de passar cinco (ou mais) anos estudando exaustivamente disciplinas puxadas, que exige uma rotina de estudo fora do comum? Será que no final conseguirei exercitar plenamente os conteúdos que estudei? Ou devo seguir outros caminhos, que o mercado oferece, por terem mais empregabilidade, remuneração e perspectiva de crescimento na carreira? Essas questões afligem muitos. Mas talvez o mais crítico seja algo que não esteja no rol das preocupações dos estudantes (ou formandos), que é a importância da engenharia para o progresso humano. O que nos leva à segunda pergunta.

Para quem instiga a pessoa. O trabalho do profissional engenheiro se destina a quem exatamente? E serve à que interesses? Deve dar lucro à empresa? Se sim, por quê? Existe casamento perfeito entre lucro corporativo, direitos sociais, desenvolvimento tecnológico, aumento global de eficiência, equilíbrio ecológico e qualidade de vida do funcionário? Se sim, vale sempre? Há incompatibilidades? Esse profissional, que muito estuda, possuidor de um raciocínio lógico muito desenvolvido, com conhecimentos muito específicos, está trabalhando para o progresso no eixo tecnológico. Mas esse progresso visa satisfazer a quê exatamente? A quem? De que forma? E mais: quais as relações entre bem-estar humano, crescimento interior, liberdade e tudo isso? Isso nos leva a outras regiões.

Para 'onde' é uma pergunta que tenta revelar ao aluno que a engenharia - como técnica, como faculdade, como conceito - evolui com o tempo. E como se vê, torna-se cada vez mais integrada ao ambiente onde atua, tendo obrigatoriamente de considerar que outrora julgava irrelevantes.

O engenheiro do século XXI deve ser um profissional com pensamento sistêmico, capacidade de síntese e aberto a vários tipos de experiências e conhecimentos. Gera-se com isso um generalista profundo.

Generalista profundo = 
Especialista + Visão sistêmica + Capacidade de síntese + Conhecimentos gerais

A minha apresentação sobre a Economia Baseada em Recursos na SNCT despertou o interesse de uma professora. Assim, num momento em que eu estava distraído, ela me abordou e começou a conversar sobre aquilo que foi apresentado. A conversa foi agradável e se estendeu ao longo de mais de 1 hora e meia, chegando a extrapolar as fronteiras do assunto (já muito amplo) do meio ambiente. Ficou combinado que numa 2ª feira de novembro eu iria na sua aula para realizar a apresentação de um tema que relacionasse economia com engenharia e outros assuntos. 

Essa pessoa ministra a disciplina de economia para a engenharia. Só que - pelo que ela me repassou - os alunos, infelizmente, não veem uma relação muito forte entre questões econômicas e a sua formação central. A mentalidade dos alunos da engenharia ainda é, em larga medida, refém do pensamento cartesiano, linear, analítico. Imagine o esforço que deve ser convencê-los da intensa relação entre a lógica econômica que impera (na mente), aceita passivamente por uma imensa massa de seres, e da vida cotidiana dos mesmos.

A relação entre a função do Estado, das corporações e da sociedade para o progresso da espécie é incompreendida em sua verdadeira amplitude e significado. As pessoas (os alunos) observam as coisas como tendo funções limitadas e natureza estática. Nada evolui após ter sido concebido. Essa é a percepção que muitos tem das instituições. Mas há outros agravantes.

A opinião de muitos é moldada ao invés de formada. Constantes bombardeios pela mídia levam a pessoa a um caminho único que se consolida através da repetição de eventos e correntes de pensamento (selecionadas à dedo) que levam a pessoa a aderir cada vez mais a um campo de opinião. O espectro se reduz e assim morre o dinamismo. Tem-se o tipo perfeito para atravancar o progresso coletivo.

Não se percebe que a adoção de um modo de vida implica na vida dos outros. E mais: ecoa no tempo. De tal modo a criar um hábito coletivo - tanto do ponto de vista de quem adere ao comportamento 'ideal' quanto àqueles que o combatem e denunciam. Pois os próprios modos de resistir são, astutamente, estabelecidos pela mentalidade dominante. Esta é sustentada pelo grupo do topo, que possui voz, poder e conhecimento - porém não sabedoria.



parte 1

parte 2

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

A Importância da Visão Sistêmica no Mundo Contemporâneo - Palestra SNCT. Out, 2018.

Estou continuando a divulgar as palestras já proferidas. Agora irei disponibilizar a 1ª palestra proferida no IFSP, na SNCT de 2018, cujo tema foi "Ciência para Redução das Desigualdades". Essa palestra visa dar uma ideia da importância do pensamento sistêmico, destacando a nova forma de pensar para que possamos abordar de forma mais inteligente os problemas que se apresentam nesse mundo globalizado, extremamente dinâmico e líquido - parafraseando Bauman.

Cada palestra reflete um momento meu, passado, ainda fresco na memória à época do evento. Daí o motivo da palestra inserida aqui (2018) ter ocorrido naquela época: havia terminado de dar minha 2ª edição do Curso de Extensão ICS (Iniciação à Ciência de Sistemas), em junho de 2018.

Da mesma forma, a palestra envolvendo desenvolvimento colaborativo, que se deu na Semana da Engenharia de 2019 (Maio), foi gestada logo após a defesa de minha tese e retoques finais (Fevereiro / Março do mesmo ano). Assim percebo que tudo segue uma sequência lógica, na qual a difusão ao público se dá após o período de maturação, desenvolvimento e conclusão. São diversas fases de um mesmo fenômeno, cada qual vetorizado para um aspecto da vida - e todos relacionados entre si, direta ou indiretamente. 

O momento atual representa uma segunda fase da difusão, que se dá de forma mais universal, visando atingir todo o mundo, visível a todos momentos, com o intuito de informar e trocar conhecimentos com pessoas que estejam trabalhando com temas relacionados (ou que possuam interesse em algo a mais da vida). Essa etapa é, de certa forma, o coroamento de trabalhos iniciados há tempo. Trabalhos cuja vontade de realização se perde na esteira da minha vida passada, em que eu, ser destituído de conhecimentos, legalidade institucional e coragem inteligente, não me via capaz de iniciar esse tipo de trabalho. Sinto que encontro o rumo de minha personalidade, vendo com mais clareza o porquê de minha vinda neste mundo. Ter a percepção disso é a coisa mais satisfatória que existe!

Da mesma forma que a palestra anterior (EBR), decidi fazer uma separação por tópicos, que já estão com os vídeos logo abaixo dos mesmos:

0. INTRODUÇÃO


1. DA RAZÃO À INTUIÇÃO
  
parte 1

 
parte 2


2. O QUE É UM SISTEMA?
 
parte 1

parte 2


3. MODELAGEM E SIMULAÇÃO


4. SISTEMAS COMPLEXOS
 
parte 1

parte 2

parte 3

parte 4


5. UMA SIMBOLOGIA SIMPLES E GERAL


6. PONTOS DE ALAVANCAGEM

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Um esboço de unificação

Sempre foi do desejo humano unificar corpos (sexo), almas (compreensão), teorias (conhecimento), sistemas (sinergia), ideias e sentimentos. Mas dentre todas essas unificações situadas no relativo, talvez estejamos esquecendo aquela que é a mais importante de todas - e que viabiliza de forma automática, precisa e direta todas as outras, numa orquestração magistral: a unificação com Deus. Trata-se da fenomenologia mística, bem descrita por Ubaldi em seu livro Ascese Mística (1939).

O primeiro passo para ganharmos uma melhor compreensão das manifestações do universo, isto é, seu funcionamento (como), sua razão de ser (seu porquê), sua origem e destino (objetivo) é através da aquisição da experiência com fenômenos e objetos adjacentes. Com pensamentos acessíveis à nossa capacidade cognitiva. Com conceitos acessíveis às nossas parcas capacidades intuitivas. Com dores compatíveis à nossa (in)sensibilidade. Esses experimentos no laboratório da vida duram centenas de milhares de anos, perpassando existências corporais, com muitos costumes e hábitos transportados através de ensinamentos e rituais por gerações e gerações. Cria-se um elo por tempo indeterminado. Eixos de manifestação cultural diversos, adaptados ao ambiente físico e social, e à constituição genética dos povos. 

Não é para o exterior. É para o interior.
Quando se é involuído o grosso do aprendizado se dá através da repetição. Buscamos inconscientemente experiências repetidas em substância - apesar de, muito comumente, diferenciadas na forma. É a necessidade de confirmação, até o esgotamento das possibilidades, de que aquele caminho não é o ideal e nada mais tem de útil. Em boa parte, o involuído se norteia pelo rebanho mais próximo (relacionado) a ele, adotando pesos e medidas semelhantes, com pequenos desvios, adaptados às suas particularidades que o diferenciam muito sutilmente dos outros. 

O(A) leitor(a) não deve se ofender com o uso do termo 'involuído'. O autor utiliza-o baseado na terminologia de Pietro Ubaldi. Não se trata de uma divisão de melhores ou piores. De uns com mais ou menos direitos. Trata-se de uma análise profunda de grau de consciência. Sendo a imensa maioria da humanidade constituída de pessoas cuja consciência é ainda pouco desperta, com um verniz de civilização, isto é, seguidora de uma ética baseada na coerção muito mais do que na convicção, é natural perceber que não evolvemos para um plano de vida mais civilizado.

O evoluído, ao contrário do que o senso comum pode apontar, está imbuído de deveres pesadíssimos e tarefas de cunho dificilmente digerível por um tipo médio. Ele veio para fracassar do ponto de vista das métricas do mundo. Apenas assim ele pode triunfar no reino que almeja, 'situado' no infinito e na eternidade. Um reino inacessível até mesmo conceptualmente à mentalidade hodierna. Algo difícil até de ser conversado. Eis a meta desse ser. 

Outro ponto importante é destacar fatos comuns na vida desse tipo (evoluído), como o não-reconhecimento e o desprezo por diversos grupos humanos. No máximo, se se tratar de um tipo não-agressivo, que evite confrontar as bases de operação desse mundo, essa criatura será deixada em paz. Aqueles bons mas fracos ficarão admirados, mas em segredo. Eles anseiam por um mundo melhor mas não possuem o estofo para realizá-lo, nem em germe, ainda, aqui neste lodaçal de interesses desordenados e conflitantes. Os indiferentes verão apenas mais um caso de anormalidade dentre os muitos que aprenderam a classificar, deixando de perceber as características subjacentes e o desenvolvimento íntimo de um fenômeno manifestado através de uma personalidade que arde e luta pela depuração. Os maus verão um potencial de uso, que poderá servir para realçar a imagem de grupos. Ou, se ameaçados, tentarão eliminar o ser através de suas infindáveis artimanhas. Mas qualquer que seja o tipo humano médio, é impossível ficar indiferente diante de uma criatura dessa natureza.

A humanidade, nesse início de śeculo XXI, está  adentrando numa fase de compreensão mais profunda. A miríade de conhecimentos e experiências acumulados nos últimos milênios, aliados ao amplo acesso (ainda que restrito a muitos) à informação, abre porta para um grupo de seres em busca de realidades diversas perscrutarem de modo mais eficaz as coisas. Assim as pessoas começam a conhecer mais à fundo o que grandes almas trouxeram a este mundo. E retomam as sementes lançadas - muitas delas com grande antecipação - pelos mestres da vida, senhores da evolução e desbravadores do mistério. 

Os verdadeiros gênios não eram apenas especialistas, mas verdadeiros visionários que percebiam o fio condutor que atravessa todos fenômenos [1]. Quem se especializa e estuda à fundo algo começa a perceber a importância de síntese - algo sem a qual seu próprio estudo não é capaz de avançar. Mas síntese não é sinônimo de simplificação:

Simplificar está para amputar um todo em partes, discretizando superficialmente. 

Sintetizar está em reunir o substancial de cada coisa num único sistema, seja fenômeno, indivíduo, ideia, e formar uma soma qualitativa das multiplicidades, criando um núcleo para ser usado de base em outro plano de trabalho - e vivência. 

Assim compreende-se que não se trata aqui de formar uma colcha de retalhos, com acúmulo infindável de facticidades, mas sim de criar valores através da criatividade.

O mundo está permeado de especialistas. Isso é bom até o ponto em que essas especialidades não afetam as outras - e a marcha evolutiva da humanidade. Caso esses especialistas não sejam capazes de perceber as conexões entre as coisas (em forma profunda), a humanidade começa a andar em sentido oposto à Lei de Deus. Rompe-se a trajetória típica dos movimentos fenomênicos (TTMF), e com isso começam a haver problemas dos mais diversos tipos, cujas causas são inacessíveis àqueles com a mentalidade de especialista.É imperativo haver ao menos, dentre aqueles que sabem muito de algo, um senso de unidade em sua mente e coração. Somente assim há chance de evoluir sem tanta dor.

Pode-se falar em unificação a partir do momento em que haja uma massa crítica consciente dessa necessidade (de unificação). E que, por lógica, tenha imbuída em sua personalidade a capacidade de abordar e assimilar áreas distintas do conhecimento, realizando relações e usando uma para reforçar outra. O mesmo vale para a capacidade de experimentar a vida de modos diferentes. Não é necessário viajar muito, mas sim perceber os fatos cotidianos de modos diferentes (ver com outros olhos, como dizem). 

A cosmologia só deve avançar na compreensão do universo quando for capaz de superar o plano de pensamento da qual nasceu. É preciso perceber que ir além não tem sentido espacial, mas evolutivo. Isso aponta para a superação das dimensões com as quais estamos acostumados a trabalhar. O vídeo abaixo dá uma ideia da pequenez de nossa galáxia, tanto em termos de massa, energia e volume, ao passo que revela que o tempo é algo que esconde um princípio mais profundo. 



Nossa galáxia (a Via Láctea) é um ponto num supercluster de galáxias (Laineakea). Um amontoado de galáxias (milhões e milhões) numa região do espaço. Mas quando o mapa do universo conhecido, com suas distâncias incomensuráveis, tornam a velocidade da luz equivalente a um jumento caminhando numa estrada de terra, a luz deixa de ser tão veloz, e o movimento se vê impotente para vencer barreiras. 

Matéria e energia não explicam tudo que ocorre. Muito menos o porquê. É preciso colocar um pé nos princípios e leis. 

Até o momento não há uma teoria quântica da gravidade [2]. Mas tudo indica que, diante da vastidão do espaço e do tempo, tanto materialmente quanto racionalmente inalcançáveis / incompreensíveis, somos impotentes. 

O vídeo abaixo nos leva a uma viagem para o futuro até ao ponto em que o vazio impera, o universo se iguala ao ponto, o tempo perde significado de fluir...


As limitações de deslocamento estão jungidas às restrições biofísicas da vida, da matéria, da energia e de suas leis. Esse conjunto impõe uma barreira intransponível em termos concretos. As leis que impossibilitam as viagens interestelares, com a troca de mercadorias e serviços, o intercâmbio de seres, a colonização e demais interações, apontam para a necessidade premente de iniciarmos de forma sistematizada (e séria) a investigação em outros níveis de consciência.

A superconsciência é a intuição nascente que já se revela em alguns tipos específicos. Ela ainda se dá de forma desordenada. Ubaldi consegui  obter algum progresso nesse terreno ao realizar uma maturação interior (purificação) ao longo de vinte anos. Esse período de aprendizado da vida, aliado a uma cultura de dar inveja a muitos e a um intelecto ágil e potente, conseguiu forjar um protótipo de mentalidade a ser cada vez mais comum nos séculos vindouros. Esse tipo de mentalidade é a única capaz de enfrentar com eficácia as barreiras que se impõem à mais moderna ciência. Aquela que se vê impotente diante da imaterialidade, da vastidão, das origens, das causas e dos objetivos das múltiplas leis que governam os fenômenos do cosmo.

Comecemos pela impossibilidade de colonização biofísica.

O tempo que levaria para realizar a transmissão de informação entre exoplanetas distintos é suficiente para que - nesse intervalo - nasçam e se extinguam civilizações. As ondas eletromagnéticas não são páreo para a incomensurabilidade do Universo. Urge perguntar: que tipo de progresso esperar do século XXI em diante?

Um livro, um princípio.
Devemos ter em mente o seguinte: cada vez mais, a capacidade de mergulhar nos conceitos é sinônimo de competência e independência. Compreender as questões de uma prova (o que é pedido, quais conhecimentos preciso mobilizar, como concatenar os passos de resolução, em que formato trabalhar, etc.), as formas de manifestação de alguém (gestos, olhares, condução da vida, tom de voz, ritmos e timbres, projetos de vida, inovações, etc.) e o desenrolar dos eventos históricos constitui muito mais inteligência do que assimilar infindáveis métodos e conteúdos e reproduzir respostas, de forma gradativa e dentro de certas condições de meio. Basta um sopro de pensamento intuitivo para derrubar todas as certezas...

A partir de um ponto todas as coisas do mundo não conseguem dar o suporte adequado para continuarmos nossa jornada. Nesse momento seria interessante olhar para o Alto, se humilhar e (assim) compreender a necessidade de melhorar nosso íntimo. Essa iniciação trará clareza sobre o verdadeiro significado do milagre, seu mecanismo de funcionamento e, acima de tudo, como devemos construir as condições para sua manifestação.

Em suma: o progresso se dará (pela primeira vez) para dentro. O livro Princípios de uma Nova Ética (de Ubaldi) traz iluminação sobre o tema.

Referências:
[1] RANA, Zat. The Expert Generalist: why the future belongs to the polymaths. Disponível em:  https://medium.com/@ztrana/the-expert-generalist-why-the-future-belongs-to-polymaths-46b0e9edc7bc
[2] CAGLE, Kurt. The end of space and time. https://medium.com/@kurtcagle/the-end-of-space-and-time-9ac6f156001c
[3] SIEGEL, Ethan. The Universe has a Speed Limit, And it Isn't the Speed of Light.  https://medium.com/starts-with-a-bang/the-universe-has-a-speed-limit-and-it-isnt-the-speed-of-light-543b7523b54f

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Tempo

Tu, devorador de matéria, de vidas, de civilizações, de comportamentos e mesmo instintos, arrastas tudo rumo ao destino inexorável. Destino de vazio - mas apenas na superfície. Há algo de misterioso no seu 'ser'. O tempo esfacela aquilo que te mede. Ele transforma o modo como te concebemos. Tudo parece ocorrer 'dentro' de ti, meu caro tempo. Mas 'você', esse próprio 'tempo', tende a ser cada vez mais superável - à medida que se adquire consciência de seu real significado (e origem).

Através de sua atuação tudo se transforma, adquirindo força e vitalidade. Mas como o movimento de um ioiô, tudo retorna à sua origem - o não local - de outra forma, com outra orientação. Os ciclos tem amplitudes diferentes, que atingem picos e vales em função de sua complexidade; os períodos de cada forma (de vida, de povo, de construção,...) variam. Mas todos são finitos. Logo, são igualmente corroíveis pelo efeito de sua existência. Mas tu mesmo, que permites o crescimento e a decadência de tudo e todos, também teve uma origem. Isso nos revelou nossa cosmologia, que através do pontapé inicial de Geoges Lemaître (um padre belga), lançou, consolidou e edificou a teoria do Big Bang, que estima com uma precisão coerente a todas observações e lógica científica a idade de nosso Universo. Parte-se do pressuposto da expansibilidade do cosmos.

Salvador Dalí, numa visão repentina, pinta
A persistência da memória, revelando,
através de relógios murchos, a elasticidade da
dimensão tempo. Einstein dá uma veste científica
a essa visão. Arte e ciência sentem a realidade...
Nosso universo não apenas está se expandindo, mas a taxa de afastamento entre a matéria visível aumenta. Fazendo a regressão desse modelo chega-se a uma origem situada no tempo. Esse ponto recebe o nome de singularidade. Aí pressupõe-se que tudo que existe estava concentrado num único ponto. Densidade tendendo a um valor incomensurável. Temperatura também. Incoerências dos mais variados tipos atormentam os físicos com essa condição inicial desse modelo tão claro e coerente. Quando as variáveis e parâmetros de um sistema tendem ao (que se chama popularmente de) infinito, nada mais vale: nenhuma teoria explica o que ocorreu antes nem a gênese desse estado inicial.

Como todas formas de manifestação estavam em germe - inclusive as partículas fundamentais - nada vinculado ao que conhecemos como matéria e energia existiam anterior ao acontecimento. Com a nulidade da matéria extingue-se o espaço. Com a ausência da energia chega-se à nulidade do tempo. E sendo as leis físicas (pensamento diretor) inválidas nesse ponto misteriosamente especial, - e especialmente misterioso - ficamos completamente desnudados em nossa capacidade de compreender com a mente. Não sabemos lidar com fenômenos que escapam aos métodos racionais.

Com o sequencial inexistente (por compressão de tudo), aliado a ausência de todas possibilidades de manifestação de fenômenos, nada mais podemos fazer a não ser recorrer à filosofia e teologia. Eis que, num espaço de apenas 4 séculos, - do início do antropocentrismo embalado pela razão pura, no século XVI ao fim da primeira metade do século XX - nossa ciência se vê na obrigação de recorrer às esferas da vida que havia ignorado por completo.

A religião (no sentido de nos re-ligar à Fonte universal) dá orientação e reaviva a alma de nós, pobres humanos, em nossos tormentos cotidianos. E a filosofia, sua irmã mais próxima, capacita a mente a especular para além das regiões operadas (habilmente) pela ciência. Ela dá fluidez. Faz perguntas e remodela conceitos. Desenvolve o senso de questionamento. Preenche todas esferas da vida, de várias formas, de tempos em tempos. E assim se relaciona com a ciência e a religião. A primeira veste a ciência de dinamismo questionador, encorajando-a a especular para além de suas fronteiras. A segunda dá um senso de absoluto a todas as ações humanas, orientando os relativos e preenchendo de esperança o coração humano. Não uma expectativa vazia, mas uma utopia realizável que as forças da vida concretizam, quer nós queiramos ou não. Participar desse processo é uma glória sem igual. Mas é preciso perceber a reação entre essas três vertentes! É mister adentrar no reino do imponderável, nem que de forma inconsciente, deixando o motor propulsor da evolução e o leme de coordenação da vida agirem através de seu corpo, sua mente e todas suas habilidades humanas. Habilidades limitadas, mas capazes de ímpetos evolutivos sem igual. Para isso devem se submeter a algo mais poderoso do que suas próprias forças...

Mas voltando ao tempo...

Trata-se de uma ilusão. Ela parece real porque nossa forma de vida se apoia nesse devenir. Ele é volátil por se relacionar com o espaço. As três dimensões espaciais precisam da dimensão tempo (considerada a 4ª) para definirem por completo algo no universo - e vice-versa. Mas essa concatenação, apesar de coerente, não revela o esquema universal em sua essência: A Grande Sìntese (AGS) aponta que o tempo não é exatamente a 4ª dimensão, mas a 1ª dimensão de outro sistema ternário: o consciencial.

A Teoria da Relatividade Especial (1905) se une
à relação de equivalência matéria-energia (E=mc2),
formando a Teoria da Relatividade Geral (1915).
Fonte: [1]
Pensar em 'tempo' como uma 4ª dimensão nos dá uma ideia de continuidade. Faz parecer que a base do tempo é igual aquela das três dimensões espaciais. Mas trata-se de algo diverso. Porque o devenir que permite a transformação dá os fundamentos da vida. Vida que permite a manifestação da consciência em estados cada vez mais elaborados. É o movimento que permite à vida orgânica possuir taxas de intercâmbio tão intensas e com alta variabilidade. Isso torna o ciclo dos seres vivos serem muito mais curtos do que os da matéria, com um aumento de complexidade tanto maior quanto mais curto o ciclo de vida materializada. Isso tudo é muito bem (e muito melhor) descrito por Sua Voz no volume AGS.

Com a junção entre Teoria da Relatividade Especial e a equivalência matéria-energia, Einstein obteve a Teoria da Relatividade Geral, associando assim a gravidade a esse caldo de  formulações.

O próximo passo para compreendermos melhor o conceito de 'tempo' é perceber seu sentido. À primeira vista não há nada no campo da Física que impeça o tempo de fluir ao contrário. Mas não observamos (no nível macroscópico ao menos) balões se restituírem (após explodir) ou ovos se reintegrarem (após cair). É estatisticamente improvável que isso ocorra. E para explicar isso existe a Lei da Entropia, profundamente relacionado à dimensão tempo, que nos leva a um sentido geral de desenvolvimento do mesmo. Digo geral porque a Lei dos Grandes Números (LGN) aponta para uma tendência universal, apesar de que, numa massa imensa em marcha, alguns elementos constituintes podem apresentar momentaneamente um comportamento contrário à tendência média, sem no entanto alterar o curso do movimento do conjunto - que sob uma ótica macro acaba levando cada micropartícula que a constitui, seja molécula, célula, seres ou civilizações, a um destino final. Eis a inexorabilidade do destino atuando sobre o universo.

A entropia indica a tendência para a desordem natural das coisas. Podemos ter diminuição local de entropia, constantemente, ao longo do tempo (por exemplo, a vida de uma criatura). Mas às custas de um aumento de entropia maior do ambiente, de tal modo a causar, no conjunto ser-universo, um aumento de entropia. Ou seja, a complexidade (vida) se elabora às custas de um aumento de entropia para o todo (degradação do meio). Essa conclusão é muito interessante e nos leva a pensar em determinadas questões como: qual o sentido da vida?

A variação de entropia se relaciona à quantidade de calor
trocada e à energia interna de um sistema - que aponta para
a temperatura do mesmo. 
No mundo quântico (ou subatômico) a entropia não faz muito sentido. Logo, a famosa seta do tempo deixa de ter uma relevância, colimando numa outra conclusão, igualmente real, para um outro mundo: de que no mundo quântico a irreversibilidade é uma possibilidade não apenas factível, mas que deve ocorrer a todo momento. Dessa forma, no nível microscópico, tempo é uma ilusão.

Mas seres macroscópicos (como nós) são constituídos de uma miríade de entidades que por sua vez se apoiam em outras (ainda menores), cujo comportamento é regido pelo mundo quântico. O que significa que nós, seres vivos, também devemos ter alguma relação com esse mundo onde o tempo é ilusório. Ou não?

Avancemos para o 'tempo biológico' a título de melhor compreender essa dimensão tão presente e, ao mesmo tempo, tão misteriosa.

A sensação de tempo que nós humanos - e todos seres vivos - possuímos está muito relacionada aos ciclos. O dia e a noite permite nos organizarmos: período de repouso e atividade. Intensidade das atividades. Momento de alimentação. Momento de gasto de energia. Etc. Os dias da semana, os meses e todas atividades que se repetem, de variadas formas, acabam ditando a sensação que temos de tempo. Melhor dizendo: nossa relação com o tempo se torna especial à medida que incorporamos a natureza de nosso corpo, percebendo os ciclos dos sistemas (digestivo, respiratório, circulatório, etc.) e tendo uma ideia de como controlar o organismo para melhor obter certo desempenho. Isso é feito sabiamente pelos automatismos celulares e orgânicos - e de modo incerto pela consciência racional.

Elevando nossas mentes ao psiquismo, sentimos um tempo cujo significado se dá devido à memória. O concatenamento de várias delas nos dão um conceito de tempo. Cada qual possui uma sensação sua, que torna a vida mais ou menos arrastada, com atritos mais ou menos desgastantes, que refletem num fluir de atividades mais ou menos eficiente.

Nesse reino (biológico na forma orgânica) o 'tempo' também pode ser ilusório.

No âmbito psíquico o tempo torna-se verdadeiramente maleável. Não apenas se contrai ou expande, mas ganha significado qualitativo. Isso se deve à mescla mais íntima entre o sentimento que incorporamos em atividades executadas ao longo da esteira do tempo, tornando-nos

É interessante a ideia de tempo prospectivo e retrospectivo, muito bem elaborado por Lenka Otap [1]:

Contagem prospectiva é quando tentamos contar (ou medir) sem instrumentos o tempo. Já a contagem retrospectiva é tentar dizer quanto tempo já se passou. A autora aponta para o fato de que as sensações de uma mesma atividade são tão mais diametralmente opostas quanto mais intensa a experiência. Por exemplo: numa viagem de férias o tempo que aguardamos na fila do voo parecerá longo quando estamos imersos nela - mas será curto (pouco lembrada, sentida) quando olharmos para trás nas memórias, reservando muito mais 'tempo' às experiências que passaram rápido (diversão, momentos bons) quando ocorreram.

O senso subjetivo de tempo é mais elaborado que a mera sistematização objetiva do mesmo. Nesse reino entram o contexto, o estado emocional, os estímulos, entre outros fatores. A compreensão passa a ser mais vasta, com possibilidades que só fazem sentindo na esfera do intangível, em que nem os instrumentos de medição, nem as sistematizações da lógica e teorias científicas, são capazes de abordar satisfatoriamente.

Segundo o ensaio [1], alguns artigos neurocientíficos apontam para o fato de que não teríamos livre-arbítrio.

“What we consciously perceive as free will is presumably preceded by unconscious neural computations that are responsible for making decisions.” — Buonomano, Dean. Your Brain Is a Time Machine.

"O que conscientemente assumimos com livre-arbítrio é presumivelmente precedido de computações neurais do subconsciente que são responsáveis pelas decisões que tomamos"

De fato, estudos comprovam que antes de tomarmos uma decisão conscientemente nossos neurônios e o sistema nervoso começam a se mobilizar para executar a ação que iremos conscientemente tomar - como se soubessem o que faríamos. Desse ponto de vista seríamos meros autômatos. Escravos de nosso organismo biofísico, pois ele age em sintonia com o que faremos, antes. Por outro lado, colocando o fator espiritual, as coisas ficam diferentes.

Se existe um corpo imaterial, não detectado (um corpo quântico), cuja vontade se plasma no momento de mobilização celular inconsciente, estaremos admitindo que não somos escravos da matéria, mas sim senhores da mesma. A questão é que não temos consciência desse domínio espiritual sobre os elementos naturais!

Dessa forma estabelece-se uma camada entre mente consciente (superfície, razão) e espírito (profundidade, intuição), que é dada pelo organismo biofísico (instinto, automatismos), que reflete de modo instantâneo e perfeito a vontade do corpo imaterial. Esse fenômeno ocorreria porque a razão ainda está em construção. O ser humano se encontra em estágio de elaboração de sua psique, ao passo que o espírito - o que realmente somos, nossa essência - já é desperta mas jaz em trevas (corpo físico), e portanto ainda não consegue uma comunicação direta, fluída, cristalina e portanto eficiente com a psique humana.

Orientações podem ser encontradas na obra A Grande Sìntese. O capítulo LXIX, A SABEDORIA DO PSIQUISMO, dá pistas para o avanço da neurociência:

"Nos altos níveis da vida, à sabedoria química do íntimo metabolismo celular acrescentam-se também a sabedoria da técnica de construção de órgãos e a sabedoria da direção de seu funcionamento, para uso das finalidades da vida, internas e externas ao ser. O complexo edifício é um transformismo dirigido para a luminosidade do psiquismo."
(grifos meus)

"Todos os segredos da mecânica, da química e da eletricidade são utilizados: surgem patas, asas, antenas, chifres, tenazes, bicos, presas, ferrões; desenvolve-se a sutil arte dos venenos, da fosforescência, do hipnotismo, das ondas elétricas; o psiquismo retifica no olho as imagens visualizadas; a arte dos sentidos, sempre de atalaia, produz outros cada vez mais refinados e complexos. Não há descoberta humana que não tenha sido antes encontrada e utilizada pela natureza."
(grifos meus)

Mas a partir daqui não ouso avançar. O que não está profundamente assimilado pela mente racional não pode ser transmitido de maneira convincente. É preciso esperar chegar o tempo apropriado.

De degrau em degrau, avançamos no conceito de tempo. O edifício construído se torna mais imponente e menos sujeito às intempéries dos incautos e dos elementos. É cada vez mais imaterial - e portanto resistente ao tempo. É mais completo e assim explica o que outrora era incapaz de abordar. Assim ganha-se potência, e a ascensão, paralelamente, se dá de forma mais intensa e ordenada.

Referências:
[2] UBALDI, Pietro. A Grande Sìntese.