sábado, 19 de julho de 2014

OS QUATRO SABERES E A EVOLUÇÃO

A humanidade, desde que a razão começou a ganhar forma, começou a criar seus sistemas para explicar o mundo, o porquê de tudo e melhorar a qualidade de vida (mesmo que apenas para alguns).

É natural que a RELIGIÃO tenha sido a primeira esfera do saber humano. A falta de explicações racionais para os fenômenos mais admiráveis não poderiam ser atribuídas a outra coisa senão a uma ou várias divindades. Cada deus – o uma deusa – era responsável por um fenômeno natural. Ou um sentimento. Assim atribuímos significados, ou melhor, explicações elementares, para tudo que desconhecíamos – o que era muita coisa.

Com o passar dos séculos o politeísmo foi cedendo lugar ao monoteísmo. Esse passo foi iniciado no povo hebreu (judaísmo) e seguido pelo ocidente (cristianismo) e oriente próximo (islamismo). Em sua essência, essas três grandes religiões tem muito mais em comum do que se imagina. A confusão – que gerou muito derramamento de sangue e infelicidade – tem mais a ver com confusão de palavras e diferenças culturais do que o ideal comum inerente a cada uma delas: a existência de uma inteligência criadora de tudo e todos e a prática do bem.

A arte de representar o contato entre o divino e o humano.
Pintura de Michelangelo na Capela Sistina.
Outras crenças, igualmente centradas em princípios comuns, surgiram e foram criando seus sistemas para explicar o mundo.

Enfim...as religiões foram o primeiro passo para explicar o mundo.

Paralelamente a isso tudo, há 2.500 anos, na Grécia Antiga, começaram a surgir os primeiros pensadores (que conhecemos como tal) preocupados em explicar o mundo de forma racional*. A partir daí surgiu a FILOSOFIA e – na sequência e naturalmente – a CIÊNCIA.

A ARTE, algo comumente tido como supérfluo para uma sociedade, aparece desde tempos imemoriais, quando o ser humano passa a retratar o seu mundo através de pinturas. E desde então, apesar de criticas contra seu utilitarismo, ela nos acompanha e nos deleita nos momentos em que nos sentimos mais perdidos e ávidos por um prazer que (no momento) nenhuma pessoa ou bem material seja capaz de nos dar.

Eis os quatro elementos essenciais para o desenvolvimento da humanidade.

ARTE CIÊNCIA FILOSOFIA RELIGIÃO

Até aqui cada uma dessas esferas do saber se desenvolveram muito. É impressionante ver quantas teorias, histórias, ideias, linhas de pensamento e etc foram e estão sendo criadas. No entanto nós humanidade crescemos muito menos do que esse quatrilho.

Por quê?

Minha explicação é: fomos incapazes de ESTABELECER RELAÇÕES entre elas.
Ao contrário, assim que as criamos, nos unimos a uma delas (ou um par...no máximo) e passamos a ver cada uma delas como a verdade absoluta – e o restante como inimiga do progresso...não apenas o nosso, mas o de tudo e de todos.

Passamos a nos viciar e assim começamos a criar (verdadeiras) superficialidades em cada uma delas. Começamos a gerar sistemas que não tem por objetivo a UNIDADE, mas a SEGREGAÇÃO. Em cada área. Sistematicamente.

"A religião do futuro será unitária e científica" (Pietro Ubaldi).
Duas coisas diferentes não são antagônicas, e sim
complementares. Nada há a segregar. Tudo há de se unificar.
Todos os saberes são verdades incontestáveis. O que gerou separatismo entre nós – não neles, que são o que sempre foram – foi nossa má interpretação e inclinações ao vício, que começaram a gerar ideias que objetivam destruir. E nessa aventura nós humanidade, empunhando nossos escudos e espadas dos saberes, nos digladiamos incessantemente. É por isso que hoje em dia, mais do que nunca, as mentes precisam se abrir.

Eis como eu vejo o papel de cada saber:

Imagine um retângulo que represente todo o Universo do conhecimento e desenvolvimento possível a nós (enorme né?).

Imaginemos que a área escura representa o que desconhecemos – no campo moral, afeitvo, social, científico, filosófico, teológico,... - e a área clara o que conhecemos.

No início, era tudo escuro, e com nosso instinto, criamos pequenos “saberes”. E a partir de um ponto, a razão começou a exercer força (setas) para expandir nossa área de conhecimento. Experimentando, explicando racionalmente e logicamente.

E a religião, sem conhecer racionalmente, mas intuitivamente, nos dizia que existiam coisas elevadas e desconhecidas (área cinza).

Sentimentos e modos de vida e forças inexplicáveis no momento, mas que deveriam servir de Norte para todo nosso desenvolvimento – a seta amarela significa esse ideal a ser atingido. Essa ligação. Essa re-ligação.

E a filosofia?
Ela é aquela inteligência que dá uma orientação adequada às forças (ciências), mantendo-as corretamente orientadas para o desconhecido e organizando o conhecido de uma forma a esclarecê-lo ainda mais.

Em, outras palavras: a ciência conquista efetivamente; a filosofia orienta.

E a arte?
Bom, a Arte é aquilo que nos dá indiretamente aquela energia que nos permite tentar novas coisas através de novos pontos de vista e sensações [ acho que é isso...]. Ela chega a ser inexplicável em alguns momentos. Mas não deixa de ser importante. É como se fosse um tempero. O tempero da vida...

Dessa forma temos estabelecido o grande quatrilho.

As grandes mentes estão na fronteira entre o conhecido e desconhecido, batalhando para incorporar novas verdades para TODOS SERES. Não apenas isso, elas estão orientadas corretamente, sabendo para onde devem ir. E úteis para aqueles próximos ao núcleo original.

O dia em que Arte, Filosofia, Ciência e Religião andarem juntos será o início de uma nova era.

Cabe a nós realizar essa grande unificação.


Observações:

* É uma convenção dizer que Tales de Mileto tenha sido o primeiro filósofo de todos os tempos. Mas trata-se de uma convenção, não querendo dizer que não tenham existido mentes que já pensaram e formularam explicações racionais do mundo, mas que nunca tiveram oportunidade para deixar sua marca.  

Reflexões na natureza (texto para provocar)

Quanto mais se pensa menos se tem certeza sobre qual é o caminho certo para atingir fins que sabemos ser os únicos importantes. Ou...Quanto maior nosso conhecimento, maiores nossas dúvidas.

Um pesquisador fez uma comparação interessante um dia desses. Disse que o conhecimento é como uma esfera: quanto mais sabemos (volume), maior contato temos com o desconhecido (superfície). Parece ser verdade.

Daqui a mil (dois mil, três mil, quatro mil, sei lá quantos...) anos todas essas abstrações filosóficas e espirituais que são levadas pouco a sério hoje serão a regra. E enquanto isso não se concretiza algumas pessoas com concepções diferentes terão de ficar por aqui esperando e suportando e nos distraindo construtivamente - dentro da medida do possível - e tentando fazer algo de realmente útil - que pode ter certeza não será remunerado, ou na melhor das hipóteses será miseravelmente remunerado.

Milhares de anos...(oh!)

A sociedade se dará conta de quanto tempo foi perdido; quanta energia foi desperdiçada; e quantas oportunidades boas jogadas no lixo. E de como havia pouca reflexão apesar de rios de informação.

Muitas pessoas creem saber o que deve ser feito baseando-se apenas na opinião dominante. Melhor dizendo: muitos, por medo de serem taxados de insensatos, adotam as idéias do momento (da moda) e passam a criar todo um sistema de justificativas ao redor dessa opinião. Mas fazendo uma análise profunda percebe-se a fraqueza dessas opiniões.

Julgar X (empresa, partido, governo, pessoa, igreja, etc) e querer puni-lo quando Y, Z, W e etc agiram (ou agem) de modo tão reprovável ou muito pior - só que de do mais astuto, de modo a não gerar desaprovação - é um pensamento que não solucionará NADA. Pior: dará carta branca para que os ASTUTOS pratiquem sua exploração maquiadamente.

Somos uma sociedade que não admite sua própria natureza atual:
punimos quem rouba mas acaba sendo pego pela lei; e admiramos (às escondidas) quem rouba mas sabe escapar dos mecanismos da lei. Ou rouba de um modo tão discreto (mas causa mal MUITO maior) que nossa falta de estudo e reflexão e bom senso vê nesses tipos heróis que deveriam assumir o comando - ou continuar comandando.

Isso me assusta.

Mas...voltando ao futuro...

O progresso científico-tecnológico real não será alcançado enquanto os problemas humanos forem colocados de lado.

A conjuntura política, econômica e social atual CONCENTRA CONHECIMENTO e DESPREZA A SABEDORIA. Ela apenas passa informação. E as pessoas, maravilhadas com ela (informação), recém-adquirida, passam a crer que detêm a chave para o sucesso. De fato teriam - se soubessem fazer uso da mesma. E passam a viver em função desse suposto poder. Usam dela (informação) para obter vantagem individual em todos os campos da vida (social, afetivo, laboral, educacional,...). No entanto, falta lhes uma coisa: ORIENTAÇÃO.

A humanidade parece uma criança de cinco anos. Diante de uma série de brinquedos novos, crê que eles serão a solução definitiva de suas angústias e sofrimentos. As pessoas creem que o objeto em si é a solução, e por isso tendem a viver em função deles [o mesmo vale para idéias e posturas de vida irrefletidas]. E quando os brinquedos já deram tudo que tinham para dar, são descartados. E partimos para uma nova "solução definitiva". Ad infinitum. Em círculos...

A relação de posse é (infelizmente) aplicada às pessoas. Trata-se de uma expansão da mentalidade consumista que o neoliberalismo conseguiu internalizar firmemente na mente dos indivíduos, fazendo as pessoas acreditarem que muitos de seus "sonhos" são pensamentos originais.

Dentro de mil anos o nosso século (talvez) será visto como aquela época de transição. O ponto em que a humanidade se saturou de ciência e tecnologia e velocidade e prazeres imediatos e consumo conspícuo e cultos e busca pelo que nunca será objetivo da existência (imortalidade carnal, posse de matéria, satisfação dos sentidos).

A atuação está chegando ao seu limite. E seus resultados não estão condizendo com a intensidade do esforço.

A sensibilidade vem sendo experimentada discretamente por alguns - pessoas loucas o suficiente para propagarem o bom senso. E trazendo com isso resultados, mesmo que imperceptíveis inicialmente. Mas nesses momentos os pioneiros devem se recordar da máxima (já comprovada pela História) de que grandes feitos tem origens insignificantes.

Viver como será o futuro no presente é um suicídio dependendo da intensidade dessa vivência. Então, para o tipo evoluído conseguir sobreviver neste mundo é preciso saber atuar minimamente. Atuar nos dois sentidos: no de representação e nas ações firmes e concretas.


Quanto mais se sabe como serão (e devem ser) as coisas, mais difícil é a tarefa de ser orientado para o futuro. Atuar será uma tarefa dolorosa. Porque ao mesmo tempo que se garante a sobrevivência aqui e agora, abdica-se de auxiliar seus semelhantes com ações e palavras que podem ativar o processo de descoberta interior.  

quarta-feira, 9 de julho de 2014

COMO NASCEM OS ANJOS

Diferente de um parto, anjos nascem a partir de um longo processo permeado de dor. E quando digo longo, não me refiro a horas, meses ou anos, e sim a séculos e séculos de intensa vivência, estudo e auto-conscientização. E quando digo dor, me refiro a todos tipos de problemas, decepções e desilusões.

As potencialidades que permitem a um ser se tornar angelical se encontram em todos seres do Universo. É intrínseco de toda criatura viva, independentemente de nosso julgamento da mesma. Características divinas em estado latente. E que assim permanecem por um longo período. E enquanto esse – digamos – despertar não se dá, muita coisa ocorre na trajetória de um indivíduo.

“Qual a finalidade da vida?”, muitos se perguntam nos momentos de solidão profunda. Para si mesmos. Em silêncio e timidamente. Alguns buscam durante toda a vida respostas a essa questão simples e profunda. Tão teórica quanto divina e cheia de mistério. 


"Tão Perto, Tão Longe" (Wim Wenders)
Me parece que uma das finalidades da existência nesse mundo – se não a única – é justamente a evolução. É saber dosar o material e o espiritual. É se conscientizar de que, a partir de um ponto, os bens que tantos prezam não adicionarão nada à nossa essência. Bens que antes de atingir uma saturação quantitativa – a ser definida por um bom senso apurado – agregam felicidade e bem-estar, mas que após esse ponto se tornam um entrave no nosso verdadeiro caminho: o espiritual.

Os seres prestes a se tornarem anjos são, em sua essência, conscientes de suas limitações. Conscientes porque sua sensibilidade aos fenômenos naturais e humanos (e divinos!) atingiu um grau de maturação sem precedentes em sua existência: uma série de experiências fragmentadas, aparentemente sem sentido algum vistas no momento e de perto, mas que, com a expansão da mentalidade, – e consequentemente florescimento da compreensão por tudo à sua volta – passam a ser encaradas como apenas um serviço de edificação. Um serviço, ou melhor, uma série de serviços que, somados, começam a moldar uma obra monumental e indestrutível.

Todo momento que antecede o parto divino é permeado de dor intensa. Mas a partir de um momento, quando a dor já atinge um patamar que (aparentemente) levará a pessoa ao colapso, ela passa a ser sentida como um agente construtivo por quem a sofre. E aí as leis mudam. A barreira do som espiritual foi atravessada, e agora as leis para esse ser são completamente diversas.

Com uma percepção inédita dos fenômenos (sociais, afetivos, econômicos, naturais,...) estabelece-se uma nova psicologia de atuação. A lógica adotada é ilógica perante aqueles que estão num regime de vôo espiritual subsônico, mas cheia de embasamento para aquele que passou a adotá-la. Loucura ou Despertar? Queda ou Salvação?

Trata-se de um fenômeno altamente científico que no entanto nossa ciência atual, com todas suas teorias, metodologias e experiências, está começando a desvendar. Timidamente. E por isso muitos classificam o fenômeno como “irrealista”. Ou “bonitos” e (no máximo) “interessantes”, mas longe da realidade concreta. Mas lembremos: a racionalidade está um passo atrás da intuição.

O caminho mais rápido para a evolução não consiste em seguir rituais. Isso é forma. Não se trata nem sequer de leituras elevadas. Ou melhor, elas são importantes, mas devem ser feitas à luz da vivência.

Através de uma série de CONSTATAÇÕES no laboratório da vida é possível que um ser, ao longo de sua existência, encontre exemplos práticos para todas aquelas teorias “irrealistas” e “inaplicáveis” que vinha lendo. E que consequentemente essas teorias encontrem o embasamento de que elas tanto precisam para se perpetuarem – e alçarem o mundo a um novo patamar evolutivo. E com isso vem a APLICAÇÃO de um modo de vida elevado.

Mas as constatações dependem do nosso grau de sensibilidade.
E nosso grau de sensibilidade depende da abertura de nossa mente ao estudo.

E estudo não é apenas ficar sentado lendo pensamentos pré-formatados e parciais.
Estudo é vivência.
Estudo é qualquer atividade que agregue valor aos seres e permita um despertar da consciência.
Estudo é uma atividade interdisciplinar, vasta e não definida pelas aparências.
E estudo aplicado é trabalho.

E trabalho não é ficar trancado horas e horas fazendo uma ÚNICA atividade, e tendo todo seu ser avaliado e julgado unicamente pelo seu desempenho nessa atividade.

Trabalho é ajudar os outros e a si mesmo.
Trabalho é estabelecer relações duradouras e sustentáveis.
Trabalho é fazer analogias entre aquilo que você aprendeu e outras esferas do conhecimento.
Trabalho é se libertar e libertar os outros de prisões que você e eles julgam lares.
Trabalho é ajudar os outros a se tornarem independentes de coisas desnecessárias.
Trabalho é o único meio de evolução.

Como já disse Pietro Ubaldi, "o verdadeiro trabalho é julgado como uma coisa ingênua e sem utilidade nesse mundo."

Os anjos nascem depois de um INTENSO trabalho interior. Tão profundo quanto imperceptível para o meio em quem ele está inserido.

Se eu me esforçar muito, talvez daqui a algumas dezenas de milênios eu possa me tornar anjo (eu já me deparei com alguns prestes a se tornar ao longo da vida).

Mas sabendo o caminho toda batalha da existência se torna empolgante.

Porque as coisas passam a ter sentido.