Existem momentos em nossas vidas que são muito difíceis de serem
aceitos e/ou vividos de modo estável. A tendência de nos
inclinarmos para um extremo é fácil quando nos impõem um outro
extremo, de mesma intensidade e sentido oposto. Um caso clássico
seria a quantidade de horas nas quais um indivíduo é obrigado a
ficar preso num ambiente institucionalizado para satisfazer
necessidades mercadológicas e (infelizmente) de subsistência. Como
reação, a grande maioria das pessoas tende, quando chegam as
férias, feriados – ou mesmo fins de semana – a cometer abusos
para “compensar” o excesso de estresse acumulado – inutilmente
– ao longo das semanas. Mas o sistema só ganha com essa reação.
E assim realimentamos um ciclo de destruição interior cujo inimigo
está pulverizado nas mentes e sonhos de muitos e muitas. No entanto,
existem alternativas para fugir pela tangente dessa (e de inúmeras
outras) loucura, e consequentemente se libertar – mesmo que por
algum tempo – do campo de gravidade mercadológico-materialista.
Eu gostaria de falar brevemente sobre duas características
INTRÍNSECAS de toda sociedade e ser humano que podem ser usadas como
ponto de apoio para qualquer pessoa sair desse grande oceano de areia
movediça que nos sufoca intermitentemente. Essas características se
aplicam a todo tipo de gente, independente de sua crença ou etnia ou
classe social ou profissão ou saúde ou ideologia ou etc, de forma
que se tratam de dois aliados importantes, intangíveis (mas
poderosos!), sempre presentes, sempre aplicáveis. Trata-se da
DIVERSIDADE e da MUDANÇA.
Uma das características mais impressionantes do ser humano é sua
capacidade de fazer uso da diversidade, ou melhor, reconhecê-la,
para buscar construir novas relações, descobrir novos lugares,
desenvolver habilidades latentes e encontrar paz interior.
Mas o que significa isso exatamente?
Imagine-se que você está numa escola, e o grupo de pessoas mais
próximas a você não permitem que sua pessoa desenvolva suas
capacidades plenamente. Isso pode se dar por falta de AFINIDADE em
assuntos, modos de se expressar, modo de perceber os acontecimentos
do mundo. Etc. Então, para se manter recolhido e com a mente sã
simultaneamente, é necessário perceber que as pessoas e grupos no
mundo são muito diversos, e com certeza existem pessoas com mesmas
inclinações fundamentais que você. E os modos de escutar e falar
se encaixam de forma muito mais harmoniosa. Portanto, sabendo disso,
é recomendável que a pessoa procure em seu tempo livre se inserir
em outros ambientes, de forma que a PROBABILIDADE de encontrar
pessoas DIFERENTES seja mais alta.
O ato de frequentar ambientes diferentes – ou um mesmo ambiente
que tenha uma circulação de pessoas com diferentes modos de vida –
é saudável para qualquer indivíduo. Abre sua mente. Tranquiliza
sua mente. Corrói preconceitos. Derruba muros e leva a novas formas
de manifestação. É possível encontrar liberdade para falar de
várias ideias que em certos lugares são malvistas. E essa
diversidade sempre irá existir em nossa sociedade. Ou melhor, a
individualidade de cada ser sempre será própria apenas dele. E nada
melhor do que aproveitar esse mundo multifacetado para SE ENCONTRAR
encontrando outros.
Outra particularidade intrínseca de nosso mundo é a dinamicidade
dos seres humanos. Ela é a mudança constante de nós mesmos e das
sociedades. Mudança de conceitos e costumes e hábitos.
Nós humanos, diferentemente das outras espécies desse planeta,
não fomos programados para agir de determinada forma sempre. Estamos
em constante processo de metamorfose – mesmo que nossos costumes
ainda sejam muito primitivos em termos morais.
Se voltarmos três séculos, a sociedade humana tinha costumes
absolutamente diferentes dos atuais. As famílias, a criação dos
filhos, o modo de obtenção de alimentos, as relações, etc. Mas os
animais continuam a agir do mesmo modo.
Se voltarmos mil, dois mil, dez mil anos, observaremos na espécie
humana sociedades completamente diferente em cada época, com modos
de produção diferente, ocupações privadas diferentes e valores
diferentes (entre ouras coisas). Isso não se dá com as formigas, os
cães, os bovinos, os peixes, as aves, os gatos, os
pernilongos,...Eles sempre agiram da mesma forma. Se relacionam,
interagem, buscam alimento, se comportam como sempre fizeram. Não
existe uma diferenciação histórica. Não existe uma construção.
São seres que aparentemente já vem “programados” para executar
suas tarefas. E não nego que muitos fazem de forma impecável e
perfeita. De um modo que um ser humano jamais será capaz de
reproduzir com todo seu conhecimento. Mas é estático.
Agora – e mais fascinante em nossa espécie – é essa
capacidade de nos metamorfosearmos continuamente ao longo das eras,
nos moldando. Tudo em busca de uma maior liberdade. Da felicidade. Do
auto-conhecimento. E isso ocorre em nível individual. Uma pessoa
pode (deve!) se metamorfosear durante sua vida terrena. E com isso
ocorre o milagre de encontrarmos uma outra pessoa na mesma pessoa
(!). Basta darmos alguns anos preenchidos de experiências (boas e
ruins).
Saber que as pessoas mudam é reconfortante porque isso permite
uma renovação da esperança. Aquele que jamais seria seu amigo
agora pode se tornar. Porque ele mudou. Porque você mudou. Porque
ambos mudaram de modo que estabeleceu-se uma proximidade de ideias e
sentimentos com tamanha afinidade que a amizade se inicia
naturalmente.
Se uma pessoa tiver consciência da DIVERSIDADE e da MUDANÇA em
sua vida e na vida das pessoas ao seu redor, e souber fazer uso da
sua liberdade sabiamente, há boas chances dessa pessoa se encontrar
e – quem sabe – um dia poder arranjar uma ocupação que a
permita fazer as coisas NO SEU RITMO, DO SEU JEITO, EM PROL DAQUELES
QUE MAIS PRECISAM, sem precisar passar por privações materiais. E
também encontrar alguém especial para caminhar ao longo dessa longa
e árdua estrada rumo à perfeição espiritual.
Eis os dois fenômenos apresentados.
Resta reconhecê-los e fazer uso sábio dos mesmos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário