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domingo, 30 de março de 2014

Trecho do livro "O Elogio ao Ócio"*, de Bertrand Russell**, páginas 29 a 31 (parte 3)


Parte 3
O uso judicioso do lazer, devo admitir, é produto da civilização e da educação. Um homem que toda a sua vida trabalhou longas horas irá se sentir entediado se ficar ocioso de repente. Mas, sem uma quantidade adequada de lazer, a pessoa fica privada de muitas coisas boas. Não há mais nenhum motivo pelo qual a maioria da população deva sofrer tal privação, e só um ascetismo tolo faz com que continuemos a insistir no excesso de trabalho quando não há mais necessidade. Mas o que acontecerá quando se chegar à situação em que o conforto seja acessível a todos sem a necessidade de tantas horas de trabalho?
 
No Ocidente, temos várias formas de lidar com esse problema. Não nos empenhamos nem um pouco na realização da justiça econômica, de modo que a maior parte do produto total fica nas mãos de uma minoria, boa parte da qual simplesmente não trabalha.”

Interpretação
O uso judicioso do lazer, devo admitir, é produto da civilização e da educação.”

Claro, uma pessoa culta e inteligente saberá fazer uso excelente de seu tempo livre. Em alguns casos ela produz muito mais – para si mesma e para a sociedade – do que no trabalho, onde os ganhos geralmente vão para um grupo seleto.

Um homem que toda a sua vida trabalhou longas horas irá se sentir entediado se ficar ocioso de repente.”

Naturalmente. Ao nos conformarmos a uma situação durante anos (ou décadas), desaprendemos a viver a vida. Já assistiram um filme chamado “Um Sonho de Liberdade”, com Morgran Freeman e Tim Robbins? Esse filme retrata bem esse caso quando um detento que ficou 50 anos preso tem sua pena cumprida e retorna para a sociedade. Ele obviamente não se adequa ao novo mundo. A tecnologia mudou, as relações mudaram, os amigos morreram, os amores também..É um mundo que não está pronto para receber os velhos. E como resultado, ele não aguenta a exclusão e se enforca. Eis o dilema do modelo de trabalho atual: prendemos um ser durante 30 anos ou mais, forçando-o a estar disponível 10, 12 horas por dia, e depois de aposentado, pouco resta dele. Fisicamente e mentalmente.

O SER se tornou ferramenta do CAPITAL.
 
Mas é o CAPITAL que deve ser ferramenta do SER.

Como se pode ver, não se trata de acabar com o capital, e sim de colocá-lo em seu devido lugar.

O Ser Humano, como obra de uma inteligência superior não deve se submeter às verdadeiras ferramentas (tecnologia, capital, matéria-prima, energia,...).

O Universo é pavoroso para um ser que se acostumou a ficar dez ou onze horas trancado durante anos. Para esse ser, o mundo fora da empresa é improdutivo e monótono, com seus parques, centros culturais, bibliotecas, concertos, filmes, peças de teatros, debates filosóficos, esportes, interações sociais, viagens, estudos livres e etc.

Claro, existe muitos lugares desagradáveis que não citei. Mas a escolha de que meio frequentar é questão de caráter e bom senso.

O fato de haver coisas ruins fora dos feudos privados não anula a beleza das coisas boas.

 







(continua...)

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