Parte 3
“O
uso judicioso do lazer, devo admitir, é produto da civilização e
da educação. Um homem que toda a sua vida trabalhou longas horas
irá se sentir entediado se ficar ocioso de repente. Mas, sem uma
quantidade adequada de lazer, a pessoa fica privada de muitas coisas
boas. Não há mais nenhum motivo pelo qual a maioria da população
deva sofrer tal privação, e só um ascetismo tolo faz com que
continuemos a insistir no excesso de trabalho quando não há mais
necessidade. Mas o que acontecerá quando se chegar à situação em
que o conforto seja acessível a todos sem a necessidade de tantas
horas de trabalho?
No
Ocidente, temos várias formas de lidar com esse problema. Não nos
empenhamos nem um pouco na realização da justiça econômica, de
modo que a maior parte do produto total fica nas mãos de uma
minoria, boa parte da qual simplesmente não trabalha.”
Interpretação
“O
uso judicioso do lazer, devo admitir, é produto da civilização e
da educação.”
Claro,
uma pessoa culta e inteligente saberá fazer uso excelente de seu
tempo livre. Em alguns casos ela produz muito mais – para si mesma
e para a sociedade – do que no trabalho, onde os ganhos geralmente
vão para um grupo seleto.
“Um
homem que toda a sua vida trabalhou longas horas irá se sentir
entediado se ficar ocioso de repente.”
Naturalmente.
Ao nos conformarmos a uma situação durante anos (ou décadas),
desaprendemos a viver a vida. Já assistiram um filme chamado “Um
Sonho de Liberdade”, com Morgran Freeman e Tim Robbins? Esse filme
retrata bem esse caso quando um detento que ficou 50 anos preso tem
sua pena cumprida e retorna para a sociedade. Ele obviamente não se
adequa ao novo mundo. A tecnologia mudou, as relações mudaram, os
amigos morreram, os amores também..É um mundo que não está pronto
para receber os velhos. E como resultado, ele não aguenta a exclusão
e se enforca. Eis o dilema do modelo de trabalho atual: prendemos um
ser durante 30 anos ou mais, forçando-o a estar disponível 10, 12
horas por dia, e depois de aposentado, pouco resta dele. Fisicamente
e mentalmente.
O
SER se tornou ferramenta do CAPITAL.
Mas
é o CAPITAL que deve ser ferramenta do SER.
Como
se pode ver, não se trata de acabar com o capital, e sim de
colocá-lo em seu devido lugar.
O
Ser Humano, como obra de uma inteligência superior não deve se
submeter às verdadeiras ferramentas (tecnologia, capital,
matéria-prima, energia,...).
O
Universo é pavoroso para um ser que se acostumou a ficar dez ou onze
horas trancado durante anos. Para esse ser, o mundo fora da empresa é
improdutivo e monótono, com seus parques, centros culturais,
bibliotecas, concertos, filmes, peças de teatros, debates
filosóficos, esportes, interações sociais, viagens, estudos livres
e etc.
Claro,
existe muitos lugares desagradáveis que não citei. Mas a escolha de
que meio frequentar é questão de caráter e bom senso.
O fato de haver coisas ruins fora dos feudos privados não anula a beleza das coisas boas.
(continua...)
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