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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

IMPRESSÕES DE "HISTÓRIA DE UM HOMEM"



É tranquilizante e revelador se dar conta de que existiram seres que passaram por este planeta e causaram um abalo profundo na sociedade em que estavam inseridos. Um abalo ofensivo para os que estavam perto do fenômeno em sua gênese, e não souberam reconhecer a transformação que estava se dando no ser que a causou; admirável para os perdidos, que já tentaram todas alternativas para chegar à felicidade (e não conseguiram), mas não estão dispostos a seguir o exemplo; e reveladora para aqueles que, ainda perdidos, já vinham descobrindo e experimentando em escala reduzida os métodos do autor.

O livro História de um Homem já alerta nas primeiras páginas: o relato será realista, descrevendo o árduo caminho seguido pelo autor antes de começar seu verdadeiro trabalho. Uma tarefa de informar o mundo, fazendo uso de todo conhecimento de todos os campos, o seu estado atual, as suas possibilidades e o seu destino. Uma síntese nunca antes feita, integradora e reveladora, partindo dos métodos e ferramentas deste mundo para se atingir uma visão ímpar dos fenômenos do Universo micro e macro; espiritual e material, e assim alçar os seres e induzi-los a uma elevação. Naturalmente, seus primeiros anos já prenunciavam o seu destino: uma infância e adolescência em que o sentimento de deslocamento se tornava mais evidente à medida que os anos passavam; e uma juventude calcada pela busca do sentido de sua vida e do porquê das pessoas tanto pregarem e exigirem o Evangelho dos outros, mas não o praticarem nem sequer no menor grau. Isso levou o autor a fazer uso da escola e universidade como instrumentos dessa busca incessante por respostas. Daí todas áreas do conhecimento foram varridas e assimiladas, sem no entanto fornecerem uma resposta convincente e definitiva. Deus estava além disso.

Ubaldi. Fase de sentir e se descobrir.

Enquanto o mundo colocava à frente o problema econômico como prioridade, o protagonista, após a universidade, priorizou a busca pelo conhecimento. Era esse o início da caminhada que o aproximaria da verdade universal. Mas o saber do mundo continuava não sábio. Após estudar e compreender a fundo a religião, a filosofia e a ciência, e de observar o mundo nos detalhes mais íntimos, concluiu que ele nada sabia. E pior: os sábios igualmente nada sabiam...

Interrogou calmamente os cientistas, que diagnosticavam e davam respostas baseados em suas especializações. Estas consideravam o tangível apenas. Buscou a fé da época. As afirmações, inicialmente convincentes, se depreciavam à medida que os padres revelavam a contradição entre a sua postura e vontades e aquelas pregadas convincentemente. E grande parte dos filósofos, com toda sua potencialidade, eram comummente vítimas de elucubrações acadêmicas que visavam mais enaltecer o próprio ego do que clarear as relações e unir as almas. Eis que, após tentar aplicar o método do mundo para atingir fins mais elevados, o autor percebeu que estava sozinho em sua busca. A batalha estava prestes a começar.

Com o passar dos anos o protagonista iniciou a implementação de um plano diretor, reservado após todos os métodos do mundo dito normal se provarem ineficientes. Para levar à frente esse plano era sabido que não seria possível se despojar das riquezas de súbito, sem causar abalos fortes e repressão impiedosa de tudo e de todos. Assim iniciou-se um processo de transferência de bens e riquezas, que colimou em sua completa expulsão do seio familiar e nenhuma herança. A partir daí ele viveria e sustentaria sua família com seu próprio trabalho. Pela primeira vez surge um homem com família, e portanto responsabilidades além de seu corpo, mente e espírito, com potencial de Santo.

À primeira vista os familiares mais distantes e o meio aristocrático viram sua atitude como uma tentativa de se passar por santo e ganhar vantagens futuras. Mas o tempo mostrou que mo caminho iniciado era o caminho de fato, sem mentiras ou aparências. Era o primeiro passo para aplicar o Evangelho na íntegra. De colocá-lo à prova usando sua existência. Era um passo que requereria uma personalidade fortíssima, um organismo sadio e uma crença profunda e íntima numa lei diretora acima de qualquer lei humana. 

Ubaldi. Fase madura.

 
Desprezo, maledicências, julgamentos, expulsão, rejeição e toda sorte de posturas visando aniquilar o ser que nascia foram adotadas pelos familiares, pelos colegas e pela sociedade que o rodeava. Uma atitude justa do ponto de vista do plano evolutivo contemporâneo, dificilmente questionável pelas pessoas. A sucessão de eventos só piorava a situação do protagonista. Pela sua personalidade espiritual, as rejeições e ataques psicológicos constantes o abalavam, pois espíritos intuitivos levavam em alta conta a fraternidade. Mas o sentimento interior era mais forte do que qualquer ataque externo.

História de um Homem” revela um Ubaldi amadurecido pela dor. Um idealista que se remodelou espiritual e psiquicamente após entrar em choque com um mundo contraditório. Um mundo que foge da travessia das fronteiras espirituais – cada vez mais tangíveis – e condena aqueles que tentam o feito e se esforçam em passar suas valiosas vivências.

Como Ubaldi diz, trata-se, de certa forma, da história de todos nós, já que um dia passaremos pelo mesmo processo, ganhando as mesmas percepções e desejando a mesma evolução. A única – e mais profunda – diferença é que ele foi pioneiro, se mutilando no mundo da matéria (conscientemente e inteligentemente) para ganhar em espírito e assim adentrar na fenda luminosa irradiadora de luz que é a causa e destino de cada ser vivo. Cada um a seu modo. Cada um a seu tempo.

Ninguém foi tão longe quanto Ubaldi em desmistificar os mistérios do todo universal e aproximar todas as verdades relativas que hoje se digladiam. Verdades que se fundirão numa única e absoluta.

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