Eu
venho observando o mundo. Por muito tempo. E eu aprendi a fazer
associações dos dados coletados com teorias que me foram ensinadas
(na escola e em família) e nos livros lidos. Em ciência, teologia,
filosofia, arte. Essas associações o mundo não nos ensina a fazer.
Ou por não saber fazê-las, ou por temê-las. Devemos buscá-las por
conta própria.
As ideias novas nascem assim. Associações aliadas à noção de
transformismo. Em todas esferas: ética, filosófica, religiosa,
social, econômica, política, biológica, física, química. Do
átomo ao santo existe uma cadeia evolutiva lógica guiada por uma
férrea Lei. Essa Lei se manifesta de várias formas, cada qual
evidente em relação ao nível evolutivo da substância que a
analisa. À medida que a consciência floresce, mais aspectos desse
conjunto de leis vão sendo revelados e aceitos. Partindo do físico
da matéria chegamos ao dinamismo da energia que desemboca na
organicidade da vida que abre as portas para o psiquismo: a última
realidade (razoavelmente) aceita que interfaceia o mundo do espírito.
Essa
evolução é lenta no início e é acelerada à medida que o
Universo progride em seu aspecto estático, dinâmico e mecânico*.
São infindáveis ciclos de vida-morte-...,
destruição-construção-..., no qual nada substancial se perde no
absoluto (só em nosso mundo).
Apenas
no relativo a morte existe. Porque este tem uma visão limitada do
Todo, enquanto o absoluto abarca tudo. Ou seja, o absoluto
engloba todas realidades. Nele a dilatação de consciência é
máxima, sendo esse estado capaz de avaliar todos fenômenos de modo
a compreender o porquê de cada acontecimento, desde os fenômenos
mais simples aos mais complexos.
Altruísmo: dilatação do egoísmo. Quando nossa preocupação envolve o mundo, com todos seus fenômenos, sistemas e seres. |
Do
egoísmo podemos derivar uma série de comportamentos, ideias e
atitudes que provocam cisão em nosso mundo. Essa tríade musical
forma um acorde que opera contrariamente ao caminho ascensional. Mas
devido à inconsciência essa manifestação do egoísmo dá uma
falsa sensação de progresso.
A
humanidade em seu estágio atual tem uma série de artimanhas para
esconder atitudes egoístas. Uma delas consiste em manifestar apoio a
um grupo ou ideia – coincidentemente acatado e louvado pelo
establishment – de forma a ganhar a imagem de bom cidadão
ou trabalhador. No entanto, quando se trata de levantar bandeira a
favor de uma ideia relegada ao esquecimento ou que toca pontos
nevrálgicos do establishment social, econômico, político ou
ético (do presente), raríssimos são os seres atuantes. Será a
ideia deles atrasada? Será egoísta ele insistir numa visão
ultrapassada? Quem garante que essa visão seja ultrapassada?
Um
conceito aplicado e fracassado no passado é o primeiro passo para
garantir um possível sucesso no porvir. A internalização do erro
cria experiência e amadurece as mentes que o almejam mais
fervorosamente. Mentes cujo espírito é cada vez mais criativo em
implantar um ideal rejeitado pelo tipo comum. Mentes que sentem
uma contradição no mundo.
Prega-se
uma liberdade relativa ao ponto de vista da pessoa ou do grupo.
Prega-se uma liberdade relativa ao que é aceito pelo establishment,
que fornece os empregos e status e possibilidades sociais e a
garantia de que você não será preso nem molestado enquanto pensar
“livremente”. Isto é, que suas idéias defendam o que é certo e
não cause desestabilizações.
Ouvi
um filósofo afirmar “democracia é barulho”. E é
exatamente isso.
Quando
os problemas substanciais, as causas mais profundas, os pontos de
vista dos oprimidos e tímidos e segregados começam a vir à tona,
encabeçados por uma mente iluminada capaz de dar voz aos anseios
mais íntimos de uma humanidade subterrânea esquecida mas cheia de
valores e ideias, o establishment aponta o dedo para esses
seres e grita: Agitador! Louco!
Mas
os mártires morrem e suas ideias renascem. Mais fortes, mais
firmes, mais embasadas. Quem vê muito à frente deve pagar o preço
de sofrer. Será incompreendido, atacado e terá suas possibilidades
sociais podadas ao máximo. Mas igualmente terá um inexorável êxito
na escalada evolutiva.
A
democracia, quanto mais próxima de seu ideal, é barulho, é
desordem, justamente porque ela revela todas as facetas e dá voz a
todas elas. Quem não sabe trabalhar com isso se refugia na
autoridade opressora. Aliás, ela é tanto mais desordem quanto maior a incapacidade daqueles que detém o poder (econômico, político, midiático) em aceitá-la e trabalhar com as diferenças.
A
humanidade progride, se sensibiliza. Basta observar a história. Cada
século traz novas possibilidades. Quedas aparentes podem revelar um
estágio de transformação, na qual a oscilação em escala
cósmica pode parecer uma queda num mundo avaliado a todo momento
(semanas, meses, anos). Mas eu acredito que essa sensação apenas é
o prelúdio de um novo ciclo, capaz de trazer novas possibilidades, e
ampliar a concepção que temos da vida e sua finalidade.
Uma
humanidade excluída (por dificuldades no comunicar, no influenciar,
por não ter recursos, cultura, tempo, etc) que clama por voz e não
a possui sempre estará disposta a usar os meios que tem para se
manifestar. Tentam todas possibilidades antes de recorrerem ao grito
desesperado. Um grito de vidas oprimidas por um sistema que se julga
justo. E o é, do ponto de vista de quem só consegue concebê-lo.
Muitos
esmagados gritam porque sentem que há algo errado, mas não sabem o
que fazer após o mundo ouvi-los. Quem domina é tão prisoneiro
quanto quem é dominado. Só que aquele tem uma responsabilidade
maior quanto ao bem estar coletivo, enquanto este ainda está
aprendendo.
Forte é quem tem
condições de vencer no mundo presente e decide levar uma vida àrdua
que conduzirá ao fracasso para vencer num mundo futuro.
Nosso
mundo tem (na maioria) uma visão emborcada.
Quem
escuta seu mais íntimo e defende um ideal, expondo-o e tentando
explicá-lo de mil formas àqueles mais próximos de senti-lo, ao
longo de anos e décadas, tempestade após tempestade, martelada
após martelada (e sobrevivendo! cada vez mais forte e convicto), é
mais altruísta que uma horda de seres que gritam em uníssono algo
que vai na correnteza de pensamento do poder. Um poder aparentemente
justo, invencível e eterno.
Não!,
eu digo. Sigam sua consciência.
Não
finjam segui-lá. Investiguem sua alma e descubram um pouco da
verdade universal antes de proferirem palavras vazias e aparentemente
bonitas.
Mas
a esperança nasce igualmente do egoísmo: é a dilatação deste que
gera o altruísmo. Do indivíduo à família, ao clã, à cidade, ao
grupo, à nação, à raça, à humanidade, às espécies, aos
fenômenos, às humanidades de humanidades e (finalmente) ao
Universo. Sempre dizemos “Eu!”, sempre nos afirmamos. Mas nossa
preocupação – sempre nossa – englobará cada vez mais.
Do
ser ao infinito.
Do
mais óbvio ao mais sublime.
Do
átomo ao anjo.
Vivemos
num mundo emborcado onde atos de coragem são covardia perante o
eterno.
E
atos de loucura podem ser o maior grito de ascensão...
“Quando
o herói morre por sua nação, o mártir pela humanidade, quando o
gênio se desgasta pela ciência, seus egoísmos são tão amplos que
não os concebeis mais. Nesse momento, eles podem dizer: eu sou a
nação, eu sou a humanidade, a ciência, porque sua consciência
unificou-se com isso.”
A
Grande Síntese
Referências:
*
Quem desejar se aporfundar recomendo a leitura do Capitulo 7 de A
Grande Sìntese.
**
Toda teoria a respeito se encontra detalhada nos volumes Queda
e Salvação e O Sistema: Gênese e Estrutura do Universo.
Magnífico!
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