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domingo, 28 de dezembro de 2014

CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS

Existem momentos memoráveis de cinema num país, quando verdadeiras jóias são produzidas nas regiões mais áridas e inóspitas. "Cinema, Aspirina e Urubus" é uma dessas jóias do cinema brasileiro que consegue encontrar universalidade na região mais abandonada e seca do país: o sertão nordestino.

Dois homens, duas culturas, uma a antítese da outra pode-se dizer. O ano é 1942. Pronto! Está formada a faísca inicial que irá conduzir a história de Johann (Peter Ketnath) e Ranulpho (João Miguel) por vários quilômetros.

Johann é um alemão que decidiu que a guerra não lhe agradava e fugiu rumo ao Brasil, país que ainda se encontrava neutro. Ranulpho é um brasileiro, e também é um fugitivo. Ele quer escapar da seca que assola a região. O interesse em comum dos dois irá mantê-los numa viagem constante durante todo filme, passando de povoado em povoado para exibir filmes a pessoas que jamais haviam conhecido o cinema, a fim de vender um remédio "milagroso" (aspirina).

Ao mesmo tempo que o espectador vai se defrontando com a crua e sofrida realidade do povo daquela região abandonada pelos políticos, os protagonistas da história começam a desenvolver um forte laço de amizade, apesar de um desconhecer por completo o mundo do outro. O que de início parecia uma barreira cultural com o tempo vai se tornando uma curiosidade, um estímulo para incentivar o diálogo e a troca de idéias. O alemão deseja adentrar no sertão. Apesar da pobreza, para ele tudo aquilo é desconhecido, ou seja, interessante de ser vivido. O brasileiro, por outro lado, deseja ir para o Rio de Janeiro em busca de melhores oportunidades.

A luz é intensa em "Cinema, Aspirina e Urubus", reforçando o clima inóspito do sertão. Além disso deve-se destacar a forte atuação dos dois protagonistas da história, sem a qual o filme conseguiria ser tão singular e próximo do ser humano.

Esse é o longa de estréia do recifense Marcelo Gomes. Nada mal não?

Trailer: 
https://www.youtube.com/watch?v=iruX5aGznlI

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